capítulo 2

— Elise não! Deixe-a fora disso Edgar — dessa vez, foi sua mãe que protestou em um tom de voz fervoroso. Elise ficou em silêncio, encarando a face risonha de Edgar que a observava analiticamente.

— Tudo isso pode ser resolvido de maneira rápida. Só depende de uma pessoa — ele lançou um olhar sugestivo para George, que tinha o rosto virado para o chão. Ele estava envergonhado o suficiente para não encarar o peso dos olhares que pousavam sobre si.

— George… — a mãe de Elise pediu, num tom suplicante. Ele não atendeu ao seu chamado, saindo do recinto, deixando a todos em estado de estupor.

— Que pena — Edgar murmurou em descontentamento.

— O que você está fazendo…

— Eu estou no meu direito, Georgina. Eu darei ao seu filho o prazo de um ano para reconsiderar. Uma pena que não posso retirar todos os títulos e terras a que têm direito.

— Está sendo irracional — a rainha esbravejou.

— Pelo contrário, fosse qualquer um e você e sua família estariam em ruínas — Edgar se virou para a princesa que assistia o desenrolar dos acontecimentos em espanto e disse num tom de voz muito natural como se todas as ações recentes não tivessem significado algum — Elise, me prepare um banho, toda essa agitação me deixou exausto.

— O quê? — a moça exclamou, atônita.

— Não escutou o que disse? Prepare um banho para mim e seja rápida — Elise olhou para as duas mulheres, pedindo ajuda sobre o que deveria fazer.

— Vá, Elise — Georgina pediu. Elise obedeceu deixando o recinto. Ela sabia que suas mães tentariam convencer aquele homem de temperamento difícil, o fariam reconsiderar toda a situação. Estava certa disso.

A caminho dos aposentos reais, seu coração tremeu por alguns instantes. Estava com medo do que a esperava, seria mesmo uma criada ou era apenas brincadeira de Edgar? Ela esperava que sim, era injusto o que fazia, ela nada tinha a ver com toda a situação, era apenas irmã do príncipe herdeiro, somente isso. O que ele planejava com tudo aquilo?

Sem muita dificuldade, Elise chegou ao mais novo quarto de Edgar. Ela suspirou profundamente antes de abrir a porta e se deparar com um cenário completamente diferente ao que estava acostumada.

As cortinas cor sangue e com bordados das iniciais do nome de seu pai haviam sido trocadas. Não estavam mais decoradas com o PJ de seu pai e sim com o EH. Edgar Hundemberg, O novo rei de Lindore. Ela acariciou o tecido pesado, sentindo a aspereza dos bordados. Elise observou o restante da decoração, os móveis foram trocados, as cadeiras estofadas de vermelho se tornaram azuis, sofás, mesas, cadeiras, até mesmo a cama. Parecia estar em outro quarto, completamente diferente do que frequentava quando menina.

Ela fechou os olhos momentaneamente, tentando conter as dolorosas lembranças que a inundaram naquele momento. Uma sensação terrível invadiu o seu peito, como se repentinamente, o ar que sugava não lhe fosse suficiente. Ela precisava sair dali, era cedo demais para estar naquele lugar, para ficar imersa em tantas lembranças.

Elise se virou repentinamente, seu corpo se trombou com o de outro. Sem erguer o olhar, já sabia de quem se tratava.

— Meu banho já está pronto?

— É claro que não. Agora que estamos só nós dois, Edgar, diga sinceramente, isso é uma brincadeira, não é? Não está falando sério em me tornar sua criada? — suas palavras eram ásperas e proferidas de maneira rápida denotando o seu desespero.

— E isso é um problema para você? — retornou calmamente, procurando pela jarra de vinho na mesa redonda de alabastro e goleando da taça.

— É claro que é! Imagine o que todos devem estar dizendo? Uma mulher da nobreza, solteira, servindo ao mais novo rei, o que lhe parece?

— Muito melhor do que imaginei — comentou pensativamente.

— O quê? — Elise o indagou, estupefata.

— Sei que isso afetará George. Nenhum irmão mais velho que se preze aguentaria ver a irmã mais nova envolta de tais rumores, servindo um homem que poderia ser potencialmente seu marido. Sei que tão logo ele reconsiderará a ideia e retrocederá.

— Então é isso? Pouco importa para você o que acontecerá comigo, portanto que consiga atingir seus objetivos? — Edgar deixou a taça de lado e se aproximou lentamente de Elise e então segurou o seu queixo delicadamente, erguendo o seu olhar.

— Você é muito bonita, tem uma boa linhagem, riqueza… Assim que tudo se resolver, arranjar um pretendente para você não será um problema — Elise sentiu que os dedos do novo rei deslizavam por sua pele em uma carícia suave. Os olhos azuis de Edgar a fitavam intensamente. Elise sentiu seu coração se acelerar. Repentinamente, ele soltou o seu queixo, tomando certa distância — mas, eu não sou tão mal quanto pensa. A minha intenção é que de fato pensem que estou sendo um tirano com você, contudo, não terá de fazer papel de criada, ao menos não em meus aposentos.

— Está dizendo que faremos um teatro?

— Precisamente — respondeu de imediato.

— E se não quiser fazer parte? — novamente os olhos de Edgar estavam pousados nela. Por alguma razão, sentiu calafrios.

 — Como rei, tenho a liberdade de exilar quem quiser e quando quiser, suponho eu que não queira ver sua mãe exilada para terras distantes, ou quer? — Elise engoliu em seco e negou com a cabeça. Edgar encheu a segunda taça de vinho e ofereceu a Elise.

— Então você será a minha parceira de negócios. Um brinde a nós — disse erguendo as taça e depois a levando aos seus lábios — Essa noite haverá um banquete, você me servirá como uma boa empregada e eu serei um homem de temperamento terrível, espero que consiga deixar algumas lágrimas cair durante o evento — acrescentou. Elise arqueou uma de suas sobrancelhas.

— Imagino que tenha me passado todas as instruções possíveis, sendo assim estarei me retirando — Elise deixou a taça de vinho intocada sobre a mesa. Ela virou-se em direção à porta, mas antes que pudesse concluir seus objetivos e deixar o cômodo, Edgar a segurou.

— Não tão rápido. Devo lembrá-la de que uma empregada não tem acesso aos aposentos de uma princesa, somente quando para servi-la — as sobrancelhas de Elise se uniram ao compreender suas palavras.

— Não está dizendo que…

— Sim. Como sou um bom parceiro de negócios, disponibilizei para você um dos aposentos de acesso ao rei. Somente eu e você saberemos disso.

— Espere, terei que usar os aposentos da rainha!? Isso é um escândalo — exclamou horrorizada. A última coisa que queria naquele momento era dormir tão perto de Edgar.

— Prefere dormir como as outras empregadas? Em um cômodo minúsculo com camas atrás de camas? Não diga nada, apenas aceite o que estou te oferecendo, sim? Se não, poderei reconsiderar minha gentileza — Elise fechou seus lábios. Sabia que qualquer intenção em fazê-lo mudar de ideia havia sido anulada a partir daquele momento. Era impossível convencer Edgar naquela altura — por ali — ele indicou o caminho em que dava para a porta de acesso ao seu mais novo aposento. Era terrível pensar que teria de compartilhar um quarto tão próximo daquele homem estupido.

Elise fechou a porta atrás de si e então deixou-se cair sobre uma cadeira qualquer.

 Ela nunca foi próxima de seu primo, não tinha razão para ser. Quando frequentava a sua residência, era raro vê-lo alguma vez, o que para ela não era um problema, estava sempre ocupada por Pearl ou então brincando com seu amigo Godfrey…

Oh Godfrey, quando será que iria vê-lo? Estava tão ansiosa para encontrá-lo, imaginou que estaria ao lado de Edgar… E se ele não tivesse vindo? Não, seria terrível! Tanto tempo esperando para revê-lo….

Ela levantou-se e espiou pela janela. Não encontrou nada de interessante, no fundo, pensou que o avistaria na sua armadura reluzente atravessando os jardins graciosos do palácio, mas não foi esse o caso. Talvez devesse esperar pelo momento em que o encontraria no banquete daquela noite.

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Comments

Kell Duarte

Kell Duarte

já estou na expectativa de nos capítulos /Drool/

2025-02-19

3

Paola

Paola

gente, esse cara parece ser meio sádico

2025-03-10

0

Paola

Paola

eu senti um clima 😶‍🌫️

2025-03-10

0

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