JADE.

Desço do carro, um peso no peito me fazendo desejar que o chão se abra e me engula. Para meu azar, todos os moradores da casa estão presentes. Benjamim vem correndo ao meu encontro, seus olhos brilhando de alegria. Eu me agacho, giro com ele no colo e um beijo suave é depositado em minha bochecha. Recompenso-o com um abraço apertado antes de colocá-lo de volta no chão.

As outras estão jogadas no sofá, os olhares curiosos fixos em mim.

— Por que vocês mandaram o Robert atrás de mim? — pergunto, sentindo meus punhos se cerrando involuntariamente.

— Não fique brava! — diz Victoria, a voz trêmula. — Não sabíamos que você ia beijar Zach Miller na frente das câmeras!

— Eu… não planejei! Foi um daqueles meus impulsos idiotas.

Elas se entreolham, a tensão pairando no ar enquanto Brenda limpa a garganta.

— O Robert entendeu?

— Sim, não achou que fosse real — respondo, e um coro de suspiros de alívio orquestrados ecoa pela sala.

— Mas, mesmo assim, ele terminou comigo — acrescento, enquanto um coro de “o, o, o” se segue como um lamento coletivo.

— Amiga, nos perdoa! — Jaqueline se levanta e se abaixa na frente da minha poltrona, o olhar suplicante.

— Jade, todos os amantes do futebol americano no país estão falando de vocês. Vice está famosa! — Brenda estica a mão e me entrega o celular com minha foto. “Estagiária do Filadélfia POST ataca o capitão dos Eagles.”

— Minha carreira está destruída! Quem vai dar trabalho para uma louca que ataca jogadores no meio da coletiva?

As meninas abaixam a cabeça.

— Falem logo.

— No YouTube, acabaram de postar uma reportagem na página do Filadélfia POST e você não vai gostar de saber quem fez!

— Emma Stoker?

— A própria!

A tela brilha com as palavras dela: “O domingo começou agitadíssimo no mundo dos esportes. Zach Miller, o capitão dos Eagles, estava no meio de uma coletiva de imprensa quando foi atacado por uma ex-estagiária do Filadélfia POST, Jade Peterson, que ousou beijá-lo diante de todos.”

A cena do beijo, seguida por Zach me puxando para fora, é cortada abruptamente; parece violenta. Mas ele não se zangou com o beijo; isso não era o que o corte queria mostrar.

“Ao meu lado está o capitão do time e também o pai do quarterback; ele está aqui para explicar tudo.” Emma faz uma pausa dramática antes de deixar Maicon começar a falar.

— Bom dia! Obrigado por me conceder essa entrevista.

Maicon Miller: — Eu que agradeço o convite.

Emma Stoker: — Senhor Miller, quem é Jade Peterson para Zach Miller?

Maicon Miller: — Uma stalker que cismou com o Zach e o está perseguindo já faz um mês.

Emma Stoker: — O que vocês pretendem fazer?

Maicon Miller: — Tomar as medidas cabíveis junto às autoridades; uma medida cautelar restritiva. Imagina o que essa louca pode fazer?

Eles discutem possíveis desfechos macabros até que Emma Stoker resolve mudar o foco.

Emma Stoker: — E como será a nova escalação para a próxima temporada?

Desligo o aparelho e devolvo para Jaque, a frustração borbulhando dentro de mim.

— Que merda! Peguei uma almofada e me encolhi na poltrona. Benjamim veio correndo.

— O que foi, se machucou? Vou dar um beijinho para curar, está bom? — A inocência do menino me faz sorrir. Eu o abraço, aceitando o beijo.

— Não foi nada, amor, a tia Jade só está triste por perder o emprego — Jaque o retira de cima de mim. — Vá brincar com a bola. — Ele obedece e vai correndo para o solário.

— Vamos ter calma — disse Brenda.

— Ainda bem que o Robert não se ofendeu — Jaqueline se senta no tapete. — Aí, sim, seria uma tragédia louca e traiçoeira.

— E a namorada do Zach havia terminado com ele; imagina a confusão se eles tivessem uma crise de ciúmes? — Brenda se perde nos próprios pensamentos.

— A editora conseguiu o que queria — disse Victoria.

A proposta de Zach ecoava na minha mente como um canto sedutor: fingir sermos um casal, limpar meu nome e então Lucy voltaria para ele. Uma história de conto de fadas com um final feliz. Mas a realidade era bem diferente. 

As fake news se multiplicavam como ervas daninhas, e eu sabia que, ao colocar o pé na rua, poderia ser atacada por um fã enlouquecido.

No final da tarde, após um banho revigorante, espalhei meu body splash favorito da Victoria's Secret, Amber Romance. O aroma era suavemente adocicado e me envolveu. Vesti uma calça legging preta justinha, um camisão branco de botões que caía levemente sobre os quadris, e botas que estalavam no chão a cada passo. Com uma maquiagem discreta e os cabelos presos em um rabo de cavalo alto, olhei-me no espelho e pensei: “Pronto! Estou limpa, cheirosa e arrumada.” 

Mas a raiva que pulsava dentro de mim no final da manhã me fez esquecer até de perguntar a que horas ele viria me buscar.

Dei uma última olhada nas redes sociais antes de desligar o celular. “Amanhã preciso comprar um filho novo”, suspirei com pena de mim mesma.

Dois minutos depois, a campainha tocou. Um alvoroço tomou conta da sala e uma voz grossa fez um arrepio percorrer meu corpo. Levantei-me, caminhando lentamente em direção à porta.

Victoria estava em êxtase, implorando por fotos e autógrafos. “Sou sua fã!” gritou ela. Brenda e Jaqueline não ficaram atrás.

 O tempo corria e eu tinha que me apressar ou ficaria sem a chance de contar minha própria história ao lado de Zach.

Ele estava encantador com sua jaqueta de couro preta, sorrindo enquanto posava para as fotos. Benjamim pulava de alegria em seus braços quando fez um gol improvisado no jardim de inverno.

As meninas me avistaram e seus olhares eram uma mistura de surpresa e curiosidade ao me ver arrumada para sair.

— Aonde você vai? — indagou Victoria, os olhos brilhando.

— Depois conto — respondi evasiva.

— Estávamos prestes a te chamar — Jaqueline lançou um olhar desconfiado.

— Vamos te esperar chegar — anunciou Brenda, mas seu olhar dizia tudo: “Por que não sabíamos que você ia sair com o Zach?”

— Está bom, até mais tarde! — disse eu, ciente do tom ameaçador na sua voz.

— Meninas, foi um prazer conhecer vocês! — Zach segurou as mãos delas e deu beijinhos no rosto delas. Por um instante, elas suspiraram como se estivessem em um sonho. Balancei a cabeça enquanto caminhava para a porta e abri espaço para ele passar.

— Para onde nós vamos? — perguntei.

— Para minha casa — respondeu ele sem hesitar.

— Não vou para sua casa; quero um lugar público — retorqui rapidamente.

— Fala sério! Jade, você já entrou no meu carro duas vezes. Se quisesse tirar vantagem por estarmos sozinhos, já teria feito isso — disse com uma confiança que me fez hesitar.

Ele tinha razão; mas ir para sua casa parecia dar a ele uma vantagem nas negociações que eu não queria permitir.

— É diferente — foi tudo o que consegui dizer.

— Tem uma equipe de repórteres atrás de nós lá fora. Um lugar seguro é o que precisamos — insistiu-o.

O peso do meu fracasso apertou meu peito enquanto eu cedia à sua lógica implacável.

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