Capítulo 15

Olhei para meu reflexo no espelho e sorri satisfeita. Perfeito.

Escolhi um vestido preto justo, de alças finas, que valorizava minhas curvas sem parecer exagerado. O tecido fluía até a altura dos joelhos, com uma fenda lateral discreta. Combinei com um salto elegante e finalizei o look com um batom vermelho clássico.

Eu queria que Arthur entendesse que, se ele estava pensando que esse jantar era um pedido de desculpas, ele estava certo. Mas se achava que sairia barato, estava muito enganado.

Peguei minha clutch e dei uma última conferida no celular. Nenhuma mensagem dele desde que confirmou o jantar. Ótimo.

Manuela apareceu na porta do meu quarto, cruzando os braços e me analisando de cima a baixo.

— Uau. — Ela assobiou. — Pra quem não queria jantar com ele, você tá se arrumando como se fosse um encontro.

Revirei os olhos e passei o perfume no pescoço.

— Isso não é um encontro, Manu. É um ajuste de contas.

Ela arqueou a sobrancelha.

— Ajuste de contas num restaurante cinco estrelas? Com esse vestido e esse batom? Sei. Se precisar de um álibi, já sabe onde me encontrar.

Soltei uma risada e balancei a cabeça.

— Vai se ferrar.

Ela riu junto, mas depois ficou séria.

— Agora falando sério, Bia… Você tem certeza disso? O cara te prendeu sem motivo, e agora você vai jantar com ele?

Peguei minha bolsa e caminhei até a porta, jogando os cabelos para o lado.

— Exatamente. Ele precisa sentir o peso do erro dele. E eu vou ter o prazer de ver a cara dele quando chegar a conta.

Manu me observou por um momento antes de abrir um sorriso travesso.

— Só não deixa ele virar o jogo, hein? O Arthur é mais esperto do que parece.

Parei na porta e a encarei com um olhar afiado.

— Eu sou mais esperta do que ele imagina.

Com isso, saí do apartamento determinada. Hoje à noite, Arthur aprenderia que comigo, ele não brincava.

Cheguei ao restaurante pouco depois das nove, exatamente no horário combinado. Segui para a entrada, sendo recebida pelo maître que, assim que ouviu meu nome, sorriu e me guiou até a mesa onde Arthur já estava esperando.

Ele levantou assim que me viu, e por um segundo, percebi seu olhar percorrer meu corpo de cima a baixo. Ótimo, que veja bem.

— Boa noite, Bianca. — Sua voz soou educada, mas havia algo nos olhos dele, como se estivesse tentando decifrar minhas intenções.

Sentei-me com um sorriso contido.

— Boa noite, Arthur.

Ele esperou que eu me acomodasse antes de fazer o mesmo. O garçom apareceu quase que imediatamente, oferecendo o menu, mas eu já sabia exatamente o que queria.

— Um Château Margaux 2005, por favor.

O garçom assentiu e se retirou, enquanto Arthur arqueava uma sobrancelha.

— Vinho francês, um dos mais caros da casa. Veio determinada a me fazer gastar uma fortuna?

Inclinei a cabeça, segurando o sorriso.

— Considerando que você me prendeu sem motivo e fez eu passar uma noite infernal na delegacia, acho que é o mínimo, não?

Ele soltou uma risada baixa, balançando a cabeça.

— Ok, justo. Mas vou te dizer uma coisa, Bianca, você não é do tipo que se faz de vítima.

Apoiei os cotovelos na mesa, olhando para ele com um ar divertido.

— Porque eu não sou uma. Eu sou a mulher que vai te lembrar do seu erro sempre que possível.

Arthur me olhou por um instante, como se estivesse absorvendo cada palavra. Então, um sorriso apareceu no canto de seus lábios.

— Então que comece a tortura.

O garçom retornou, servindo o vinho, e eu ergui minha taça para um brinde.

— Aos erros cometidos.

Arthur acompanhou o gesto, encostando sua taça na minha. Tomamos um gole ao mesmo tempo. Ele acha que pode transformar isso em um jogo? Pois bem. Eu adorava vencer.

Estava tudo indo conforme o planejado: jantar no restaurante mais caro, vinho da melhor safra e algumas alfinetadas bem direcionadas. Eu estava no controle… até que, num movimento desastrado, minha taça virou direto no meu vestido.

O líquido vermelho escorreu pelo tecido claro, manchando-o de imediato. Ótimo. Simplesmente ótimo.

Arthur arregalou os olhos por um segundo, mas logo um sorriso divertido surgiu em seus lábios.

— Isso que eu chamo de brindar com estilo.

Revirei os olhos, segurando a vontade de xingá-lo. Levantei-me com pressa, pegando a clutch da mesa.

— Vou ao banheiro.

— Quer ajuda? — Ele perguntou, claramente se divertindo às minhas custas.

Lancei-lhe um olhar antes de me afastar. Caminhei até o banheiro feminino e me tranquei em uma das cabines, tirando a blusa molhada e tentando secá-la com papel. Ótima ideia escolher vinho tinto, Bianca. Parabéns.

Depois de alguns minutos, suspirei, desistindo da tentativa. A mancha não ia sair agora, e eu teria que dar um jeito de ir embora sem parecer uma completa desastrada.

Ao sair do banheiro, pronta para inventar uma desculpa qualquer e sumir dali, encontrei Arthur encostado na parede ao lado da porta, de braços cruzados, esperando por mim.

— Acho que você tem um sexto sentido para constrangimento. — resmunguei.

Ele apenas sorriu e, sem dizer nada, tirou o blazer que usava e colocou sobre meus ombros.

— Pronto, agora ninguém vai saber que você é uma completa desastrada.

Fitei-o, desconfiada.

— E o que você ganha com isso?

Ele inclinou ligeiramente a cabeça, como se estivesse analisando a pergunta. Então, sorriu de canto.

— Talvez só um pouco da sua gratidão.

Cruzei os braços por cima do blazer dele, sentindo o cheiro amadeirado da sua colônia no tecido.

— Bem, obrigada. Agora vou pra casa, já tive humilhação suficiente por uma noite.

Ele riu baixo e indicou a saída com um gesto de cabeça.

— Vamos, Desastrada.

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