Capítulo 05

Saí da delegacia do aeroporto pisando firme, cada passo ecoando minha raiva. Meus ombros estavam tensos, meus pulsos ainda marcados pelas algemas, e minha paciência? Inexistente.

Depois de horas sendo tratada como criminosa, tudo que eu queria era um banho quente e um bom advogado para processar aquele idiota do Arthur De Angelis.

Arthur De Angelis.

O nome soava formal demais para alguém tão grosseiro, prepotente e... desgraçadamente bonito.

Balancei a cabeça, irritada comigo mesma por sequer pensar nisso. Foco, Bianca! Você foi humilhada, injustiçada e detida sem provas.

Parei na porta do aeroporto, puxando o celular da bolsa para chamar um carro. O calor da madrugada carioca me envolveu, e eu soltei um suspiro longo.

Foi quando percebi o real estrago daquela noite.

Eu estava de volta ao Brasil.

Sozinha.

Com uma mala trocada e um trauma recém-adquirido de agentes da Receita Federal.

Ótimo começo.

Minha mente voltou para os últimos meses, tudo que eu queria esquecer. A confusão com meu ex na Europa, a necessidade de recomeçar longe daquela bagunça. E agora isso.

A notificação do aplicativo indicou que meu carro estava chegando. Antes de guardar o celular, abri a câmera frontal e olhei para meu reflexo.

O rímel estava intacto, o batom ainda perfeito, mas havia algo diferente.

Fúria.

Eu estava furiosa. E eu não era do tipo que deixava barato.

Passei a língua pelos dentes e sorri sozinha.

— Se prepara, Arthur De Angelis. Você mexeu com a mulher errada.

E entrei no carro, já traçando meu plano de vingança.

O motorista seguiu pelas ruas do Rio enquanto eu me recostava no banco, tentando acalmar minha mente. Mas era impossível. Cada vez que fechava os olhos, tudo voltava: o olhar cético de Arthur, a forma como ele deu de ombros quando me algemou, o tom de voz condescendente.

Desgraçado.

Respirei fundo e peguei o celular para avisar ao meu irmão que estava chegando.

Eu: Aterrissei no Brasil. Longa história, mas já estou indo para sua casa.

Dante: O que você aprontou, Bianca?

Eu: Fui injustiçada. Mas te conto pessoalmente.

Ele mandou um emoji de cara desconfiada, e eu revirei os olhos.

Dante era mais velho que eu cinco anos e sempre teve essa mania de bancar o irmão responsável. Oficialmente, ele era policial civil, mas, na prática, agia como um agente secreto da minha vida, sempre querendo saber onde eu estava e com quem.

O carro parou em frente ao prédio dele, e eu desci, sentindo o calor da madrugada pesar.

Assim que toquei a campainha, Dante abriu a porta com uma sobrancelha arqueada.

— Injustiçada, é? Que tipo de confusão você se meteu dessa vez?

— Não foi minha culpa. — Entrei, largando minha bolsa no sofá. — A Receita Federal me prendeu.

Os olhos dele se arregalaram.

— O quê?!

Joguei meu corpo no sofá e suspirei.

— Mala trocada. Droga dentro. Me algemaram. Foi um inferno.

Dante passou a mão no rosto, exasperado.

— E quem foi o gênio que te prendeu?

Apertei os olhos, sentindo a irritação voltar.

— Arthur De Angelis. Auditor da Receita Federal. Grosso, prepotente e me deve um belo processo.

Dante congelou por um segundo, depois soltou uma risada baixa e desacreditada.

— Arthur De Angelis? O mesmo Arthur que eu conheço?

Minha testa franziu.

— Você conhece ele?!

— Claro que conheço. Já trabalhei com ele algumas vezes. E somos do mesmo ciclo de amigos. Cara sério, faz tudo certo...

Cruzei os braços, emburrada.

— Fez tudo errado comigo.

Dante riu mais alto e balançou a cabeça.

— Isso vai ser divertido.

Eu não achei graça nenhuma. Mas uma coisa era certa: Arthur De Angelis ainda ia se arrepender de ter cruzado meu caminho.

Entrei no quarto de hóspedes e joguei minha bolsa na poltrona antes de ir direto para o banheiro. Eu precisava de um banho urgente, tanto para tirar o peso daquela noite insuportável quanto para esfriar a cabeça.

A água quente desceu pelos meus ombros, e eu fechei os olhos, tentando afastar o rosto de Arthur De Angelis da minha mente. Mas era inútil.

O maldito tinha aquele tipo de presença que grudava na pele, irritante e impossível de ignorar.

Saí do banho enrolada na toalha e peguei o celular para ver as mensagens. Minha melhor amiga, Manu, tinha mandado várias.

Manu: Mulher, cadê você?! Era para ter chegado há horas.

Manu: Se não responder em 10 minutos, vou considerar sequestro e chamar o Dante.

Manu: Na verdade, esquece. Tô indo praí.

Soltei um suspiro e respondi antes que ela realmente aparecesse aqui no meio da madrugada.

Eu: Calma, louca. Já cheguei. Depois te conto.

Manu: O que aconteceu?

Eu: Longa história. Receita Federal. Algemas. Um babaca de 1,90 achando que manda no mundo.

Em segundos, ela estava me ligando.

— Que história é essa de algemas, Bianca?! — Manu quase gritou do outro lado da linha.

— Calma, já resolvi. Mas eu vou processar esse desgraçado.

— Dante já sabe?

— Sim, e adivinha? Ele conhece o idiota que me prendeu!

Ela ficou em silêncio por um momento antes de soltar um riso baixo.

— Ah, isso vai ser bom.

— Não vejo nada de bom nisso. — Resmunguei, me jogando na cama. — Agora me conta, como foi a semana com meu irmão?

Manu riu do outro lado da linha.

— A mesma coisa de sempre. Ele fingindo que a gente não tem nada, e eu fingindo que me importo.

— E você se importa?

— Óbvio que não. Mas gosto de ver ele se remoendo.

Revirei os olhos, mas sorri. Dante e Manu tinham essa coisa estranha entre eles. Não assumiam nada, mas também não largavam.

— Então amanhã você vem aqui pra gente fofocar pessoalmente? — perguntei.

— Óbvio. E quero todos os detalhes desse auditor babaca.

— Você vai ouvir cada um deles.

Desliguei o telefone e suspirei, me aninhando no travesseiro.

Amanhã eu ia descansar, me preparar e, principalmente, planejar como fazer Arthur De Angelis se arrepender amargamente de ter cruzado meu caminho largando um bom processo no rabo dele.

Levantei da cama e fui até a cozinha, ainda com a toalha enrolada no corpo e os cabelos pingando. Dante estava sentado à mesa, mexendo no celular, e ergueu uma sobrancelha quando me viu.

— Se você tá pensando em dormir de estômago vazio depois de tudo que passou, já aviso que não vou deixar.

Revirei os olhos e abri a geladeira.

— Não enche, Dante. Só quero alguma coisa leve.

Ele riu baixo.

— Fiz um sanduíche de frango com queijo. Tá ali no balcão.

Olhei para ele com desconfiança.

— Você cozinhou?

— Claro que não. Peguei pronto no mercado.

Soltei uma risada e peguei o sanduíche, sentando-me à mesa. Dei a primeira mordida e fechei os olhos. Eu nem sabia que estava com tanta fome.

Dante me observava, como sempre.

— Agora sério, Bianca. Você tá bem?

Mastiguei devagar, pensando na resposta.

— Tô. Quer dizer, não completamente, mas vou ficar.

Ele assentiu, aceitando minha resposta. Dante sabia que eu falaria quando estivesse pronta.

Comi o sanduíche em silêncio, bebendo um copo de suco que ele colocou na minha frente sem nem perguntar. Depois, levantei e dei um beijo rápido no topo da cabeça dele.

— Valeu, maninho.

— Vai descansar, Bianca. Amanhã você pensa em vingança.

— Eu sempre penso em vingança.

Ele riu e voltou a mexer no celular enquanto eu seguia para o quarto.

Deitei na cama e puxei o lençol sobre o corpo. O cansaço finalmente me atingiu de verdade, e antes que eu pudesse continuar remoendo o que aconteceu, o sono me venceu.

.........

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Comments

Dulce Gama

Dulce Gama

Nossa que sufoco que ela passou tá doido já pensou sair de um país decepcionada e chegar no país de origem e ser recebida com a política na sua cola é muito complicado viu 🎁🎁🎁🎁🎁🌹🌹🌹🌹🌹👍👍👍👍👍

2025-02-12

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