o aniversário de Ethan

Capítulo 13 – Parte 1: O Aniversário de Ethan (8 de fevereiro de 1991)

O sol estava tímido, ainda se levantando por trás das montanhas, quando Rosângela acordou cedo. Ela estava animada e um pouco nervosa, afinal, aquele era o dia do aniversário de Ethan, e ela queria que tudo saísse perfeito, mesmo sem ele desconfiar. Ela olhou para o relógio — eram apenas 6:30 da manhã. Com uma energia renovada, ela levantou da cama, já com um sorriso de expectativa no rosto.

Depois de tomar um banho rápido, ela se arrumou e, ao olhar para o espelho, deu uma ajeitada no cabelo. Pensava em como seria incrível ver a reação de Ethan quando tudo estivesse pronto. Ela sabia que, mesmo que fosse uma surpresa, ele não gostava de grandes alardes. Por isso, o plano dela era bem pensado, algo simples mas cheio de carinho. Ao sair de casa, ela pegou a lista que havia feito na noite anterior com Dante e partiu para o mercado.

No caminho até a casa de Ethan, Rosângela passou por algumas lojas e comércios locais. A rua estava calma, o som das aves acordando era o único som presente enquanto ela andava. O vento estava leve, e o cheiro de café fresco invadia os pequenos comércios enquanto ela comprava os ingredientes para o bolo, os doces e até algumas bebidas para os convidados que mais tarde chegariam.

A manhã estava corrida para Rosângela, mas ela sabia que valeria a pena. A ideia era simples, mas com o toque de Dante, Isabelle e, até mesmo, Alexander, parecia que a surpresa ficaria ainda mais especial. Enquanto ela passava pelas lojas, seu pensamento estava focado em Ethan. Não era só o aniversário dele que a motivava, mas a oportunidade de mostrar o quanto ela o apreciava e o quanto ela queria que ele tivesse uma lembrança inesquecível daquele dia.

Na casa de Ethan:

Dante estava animado, mas mantinha uma expressão de seriedade no rosto. Ele tinha um plano e não queria que nada saísse errado. Sentado no sofá da sala, ele aguardava ansiosamente o momento de agir. Isabelle, por sua vez, já estava na cozinha preparando o que pudesse para mais tarde, garantindo que tudo ficasse perfeito para o almoço e a festa. A casa estava um pouco mais agitada do que o normal, mas ainda assim o clima era aconchegante e cheio de calor humano.

Alexander, ao contrário do seu usual, parecia mais calmo do que de costume. Ele estava sentado na mesa, tentando organizar os poucos detalhes que ele poderia contribuir. Quando Rosângela finalmente chegou, ele estava no mesmo lugar, com o semblante mais tranquilo, como se tivesse se preparado para o evento de maneira silenciosa, mas com a intenção de ser mais presente do que nunca.

Rosângela entrou na casa, acenando para todos. Dante, que já estava de olhos atentos, correu até ela.

— "Rosângela, vamos logo! O Ethan vai sair logo do trabalho e a surpresa tem que ser impecável!" — Dante disse com pressa, mas ainda com aquele tom adorável, mas sério.

Rosângela apenas sorriu e deixou a sacola com os ingredientes em cima da mesa.

— "Vamos lá, Dante. Isabelle, você está pronta?"

Isabelle estava ao lado da mesa, arrumando os pratos que prepararia mais tarde.

— "Sim, só falta os detalhes finais!" — ela respondeu com um sorriso de cumplicidade, enquanto verificava a comida e os presentes que haviam sido preparados para Ethan.

Alexander, que até então estava quieto, se levantou, indo até a janela e observando o movimento na rua.

— "Eu já dei a minha parte," — disse ele, com um tom mais tranquilo do que o habitual. — "Agora é com vocês."

A tensão no ar era palpável. Todos estavam esperando o momento certo para surpreender Ethan. Rosângela sorriu satisfeita, vendo como tudo estava saindo conforme planejado. Agora só faltava esperar Ethan voltar para casa e, quando ele entrasse, seria surpreendido pelo que seus amigos e família haviam preparado.

A casa de Ethan, normalmente um local silencioso e tranquilo, agora estava tomada por um clima de expectativa e leve agitação. Cada um, em seu próprio ritmo, se preparava para dar início à celebração. E, mal sabiam todos, a surpresa seria mais significativa do que qualquer um imaginava.

Capítulo 13 – Parte 2: A Grande Surpresa e os Presentes

A casa estava perfeitamente arrumada. A pequena sala exalava o cheiro do bolo recém-assado, misturado com o perfume da comida feita por Isabelle. A mesa simples, mas bem posta, carregava uma toalha nova que Rosângela fez questão de comprar. Um bolo modesto, mas bonito, ocupava o centro da mesa, rodeado por doces caseiros e bebidas. A iluminação da casa era aconchegante, e o clima carregava um misto de expectativa e carinho.

Dante, com sua expressão sempre calculista, mas dessa vez contendo um brilho especial nos olhos, checava tudo uma última vez. Ele olhou para Rosângela e Isabelle, certificando-se de que estavam prontas. Até Alexander, sempre tão distante, parecia mais presente do que o habitual.

— "Ele tá chegando!" — sussurrou Dante, espiando pela janela.

Rosângela, de repente, sentiu o coração acelerar. Isabelle limpou as mãos no avental e trocou um olhar cúmplice com o filho mais novo. Alexander apenas cruzou os braços, respirando fundo.

A porta se abriu lentamente. Ethan entrou, cansado do trabalho, com a expressão neutra, sem suspeitar de nada. Mas assim que deu o primeiro passo dentro de casa...

— "SURPRESA!"

As vozes encheram o ambiente, fazendo Ethan dar um pequeno pulo para trás. Seus olhos percorreram a cena — a mesa arrumada, o bolo, sua família e Rosângela sorrindo para ele. Por um momento, ele ficou em silêncio. Não sabia como reagir.

— "Ah, não. Cês tão de sacanagem..." — Ele disse, coçando a nuca, um sorriso discreto começando a se formar.

Dante foi o primeiro a se aproximar, segurando um pacote embrulhado com um papel colorido.

— "Não reclamou ainda, então acho que gostou."

Ethan riu e bagunçou o cabelo do irmão.

— "E o que seria isso, pirralho?"

Dante cruzou os braços, tentando parecer sério.

— "Abre logo, é meu presente pra você."

Ethan rasgou o papel e encontrou um relógio de pulso. Era simples, mas elegante, e pelo brilho no olhar de Dante, era nítido que o garoto havia escolhido com cuidado.

— "Isso aqui foi você que escolheu?" — Ethan perguntou, prendendo o relógio no pulso.

— "É óbvio! Agora você não tem mais desculpa pra chegar atrasado nas coisas."

A risada de Ethan foi sincera. Ele puxou Dante para um abraço, e o pequeno, mesmo não gostando muito de demonstrações de afeto públicas, deixou-se envolver, batendo de leve nas costas do irmão.

Em seguida, Isabelle entregou um pacote bem dobrado. Ethan abriu e encontrou algumas peças de roupa novas, que ela mesma havia costurado com todo o carinho.

— "Eu sei que você não liga muito pra essas coisas, mas achei que tava precisando."

— "Mãe, tá perfeito, sério. Obrigado."

Alexander, por sua vez, pigarreou e, sem muito alarde, puxou algo do bolso da jaqueta.

— "É pouca coisa, mas achei que poderia ser útil."

Ethan pegou o pequeno embrulho e abriu, encontrando um canivete dobrável, com um detalhe em madeira escura no cabo. Ele o abriu, testando a lâmina, antes de olhar para Alexander com um ar de surpresa.

— "Você que escolheu isso?"

— "É. Você tá virando homem, vai precisar de algo assim. Mas usa com responsabilidade."

Havia algo não dito naquele presente. Um reconhecimento, talvez. Ethan assentiu e guardou o canivete no bolso, sem precisar de palavras.

Rosângela foi a última a se aproximar. Diferente dos outros, seu presente não estava embrulhado. Ela simplesmente segurou as mãos de Ethan e sorriu.

— "Meu presente... não dá pra entregar numa embalagem."

Ethan arqueou a sobrancelha.

— "Ah, é? E o que seria?"

Ela se aproximou, subiu na ponta dos pés e o beijou, um beijo lento, demorado, que carregava todas as palavras que ela não precisava dizer.

Dante, ao lado, fez uma careta exagerada.

— "Ah, pronto. O presente meloso."

Todos riram. O clima era leve, quase irreconhecível dentro daquela casa que tantas vezes foi palco de momentos difíceis. Mas naquela noite, tudo parecia diferente.

Ethan olhou ao redor e percebeu algo que nunca admitiria em voz alta, mas que sabia no fundo do coração: ele era amado. E, pela primeira vez em muito tempo, sentia-se verdadeiramente feliz.

Capítulo 13 – Parte 3: A Festa na Vizinhança

A noite estava quente, e o céu limpo exibia um mar de estrelas. O cheiro de churrasco tomava conta da rua, misturado ao som animado do pagode e das risadas que ecoavam entre as casas simples do bairro. A frente da casa de Isabelle e Alexander estava tomada pelos vizinhos — homens reunidos perto da churrasqueira, virando as carnes com espetos improvisados, enquanto as mulheres ajudavam a organizar as mesas e serviam os pratos.

As crianças corriam de um lado para o outro, brincando de pega-pega e bola de gude, aproveitando o clima de festa. Havia caixas de som improvisadas tocando um samba animado, e alguns já arriscavam passos de dança.

Ethan, parado na soleira da porta, observava tudo aquilo com uma expressão meio incrédula. Ele não esperava nada disso. Uma coisa era sua família preparar algo, mas ver toda a vizinhança reunida para comemorar seu aniversário? Aquilo pegou ele de surpresa.

Rosângela se aproximou, cutucando seu braço.

— "Vai ficar aí parado, besta? Bora aproveitar a festa!"

— "Mas... Como assim? Quem organizou isso tudo?" — Ele perguntou, olhando ao redor.

Foi quando a Dona Sônia, a senhora do mercadinho, veio até ele, segurando uma cerveja na mão e sorrindo.

— "Fomos todos nós, Ethan. Você passa o ano inteiro ajudando todo mundo, e nunca pede nada em troca. Achamos que tava na hora de retribuir um pouco."

Ethan piscou algumas vezes, sem saber o que dizer. Ele olhou para os rostos das pessoas ao redor — o senhor que tinha uma pequena oficina onde Ethan já ajudou a carregar peças, a moça da padaria que sempre ganhava um reforço nas entregas, o dono do bar que Ethan ajudava quando o movimento ficava pesado… Todos ali tinham sido ajudados por ele de alguma forma.

Dante, sentado no degrau da casa, olhava a cena com um meio sorriso no rosto.

— "Tá famoso, hein? Olha só, virou o queridinho da vizinhança."

Ethan bufou e bagunçou o cabelo do irmão.

— "Cala a boca, moleque."

Mas, por dentro, ele sentia algo diferente. Um calor no peito que não tinha nada a ver com o clima quente da noite. Era gratidão.

Isabelle veio até ele, segurando um prato de churrasco.

— "Vai comer ou vai ficar aí olhando?"

Ele pegou o prato e sorriu.

— "Valeu, mãe. Por tudo."

Ela apenas bagunçou os cabelos dele de leve e voltou a conversar com os vizinhos.

A noite seguiu com muita música, risadas e comida boa. Em algum momento, alguém puxou Ethan para dançar um samba no meio da roda, e ele, depois de muita insistência (e algumas provocações de Rosângela), acabou cedendo. O bairro todo parecia iluminado pela alegria daquele momento.

Naquele instante, Ethan percebeu que, apesar de todas as dificuldades, tinha algo precioso que dinheiro nenhum poderia comprar: pessoas que se importavam com ele.

E, pela primeira vez em muito tempo, ele se permitiu aproveitar aquele momento sem se preocupar com o amanhã.

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