— Vamos acampar aqui.
Eledhor jogou a bolsa no chão, encostando-se a uma das árvores colossais. As raízes se entrelaçavam como se formassem um único organismo, pulsando com energia antiga.
Ele começou a recolher alguns galhos e pedras, preparando-se para acender uma fogueira.
Sentei-me num tronco caído, os braços cruzados.
— Isso é seguro?
questionei, desconfiada. As histórias de pessoas que nunca mais saíram dessa floresta eram muitas.
Ele lançou-me um olhar divertido, soprando uma mecha de cabelo prateado para longe dos olhos.
— Melhor do que não ver o que nos espreita...
murmurou, e eu quis socá-lo por essa frase dramática.
Meu coração acelerou enquanto eu espiava ao redor, vendo apenas sombras. Ele então murmurou algo e soprou. Aquela sensação de algo me chamando ainda estava comigo, e isso era difícil de ignorar.
— Lume suu...
Faíscas saíram de seus lábios, e o fogo tomou vida como se tivesse vontade própria.
— O que foi isso?
perguntei, franzindo o cenho.
— Galego antigo. Uma magia simples.
Sorriu, presunçoso, como se eu devesse ficar impressionada. Claro que fiquei. Mas eu não daria esse gostinho para ele.
Aproximei-me do fogo, estendendo as mãos para me aquecer. As sombras dançavam nas chamas, retorcidas e inquietas.
E eu pensava se aqueles lycanos ainda estavam à espreita. Já não ouvia mais som algum ao nosso redor, há um tempo.
— Descanse.
Sua voz firme cortou o silêncio.
Deitei-me e puxei a capa ao redor do corpo, tentando ignorar os estalos da madeira em chamas. Meu coração batia forte, tão alto que parecia ecoar na noite silenciosa.
— Princesa...
O ouvi suspirar, impaciente, e o vi trincar os dentes.
— O seu coração está me atrapalhando, preciso me concentrar em tudo ao nosso redor. Feche os olhos, respire fundo. Estou aqui.
Minha cabeça se ergueu no mesmo instante.
— Você ouve meu coração?
Ele deu de ombros, como se fosse óbvio.
— Fique perto do fogo.
Ele se levantou de um salto, desembainhando suas armas.
Seus movimentos eram precisos, ágeis. Com uma mão, empunhava uma Claymore enorme, com uma pedra roxa incrustada no cabo. Símbolos ao longo da lâmina brilharam assim que ele a ergueu. Na outra, uma adaga dourada, cravejada com um diamante azul.
— E-ei! Não me deixa aqui sozinha, porra!
O olhar dele se suavizou por um instante, ele se divertia com a minha cara
— Tem a boca suja, princesa!
Droga, não uso palavras assim. Isso é culpa da Malu.
— Eledhor, você não pode simplesmente me deixar aqui!
protestei, levantando-me rapidamente, a capa caindo dos meus ombros. Meu coração batia tão forte que parecia querer escapar do meu peito.
A sensação de que algo me chamava, algo além das sombras da floresta, era quase insuportável, agora. Era como se uma voz sussurrasse no fundo da minha mente, puxando-me para dentro da escuridão.
Ele virou-se rapidamente, os olhos estreitados, a Claymore ainda brilhando com os símbolos antigos.
— Diana, fique onde está!
Disse se afastando, e sim, me deixando sozinha.
Eu me levantei devagar, tentando não fazer barulho. Eledhor estava distraído, seus olhos fixos nas sombras ao redor, suas armas brilhando sob a luz bruxuleante do fogo. Aquele puxão no meu peito, aquela sensação de ser chamada, estava mais forte agora, como se algo, ou alguém, estivesse sussurrando meu nome nas profundezas da floresta. Era difícil ignorar. Quase impossível.
Eu hesitei, mas o chamado era insistente, como se uma corda invisível estivesse amarrada ao meu coração, puxando-me para dentro da escuridão.
Meus pés se moveram quase por vontade própria, afastando-se do círculo de luz da fogueira. Olhei para trás uma última vez.
Eledhor estava longe, agora, completamente focado na ameaça que ele sentia, mas não via. Ele não perceberia que eu estava indo embora. Não tão cedo.
A floresta agora, parecia respirar ao meu redor, os galhos se entrelaçando como dedos ossudos acima de mim. O ar estava pesado, carregado de um cheiro doce, como flores que não existiam aqui e terra úmida.
Meu coração batia tão forte que eu quase conseguia ouvi-lo, ecoando no silêncio opressivo. Cada passo que eu dava parecia errado e certo ao mesmo tempo.
Errado porque eu sabia que não deveria estar fazendo isso. Certo porque aquela sensação... era como se eu finalmente estivesse indo na direção que deveria.
— Diana...
O sussurro veio de longe, mas também de dentro de mim. Era suave, quase maternal, mas havia uma frieza por trás, algo que me fez estremecer.
Ainda assim, continuei andando. As árvores pareciam se fechar atrás de mim, como se a floresta estivesse me engolindo. A luz da fogueira já havia desaparecido, e a escuridão era quase completa, apenas cortada por raios de luar que filtravam através das copas das árvores.
— Onde você está?
murmurei, mais para mim mesma do que para qualquer outra coisa.
— Aqui...
A voz era mais clara agora, e eu a segui, quase correndo, tropeçando em raízes e galhos caídos. Meus pés afundavam na folhagem úmida, e o ar estava cada vez mais frio. Eu não sabia para onde estava indo, mas sabia que precisava chegar lá. Era como se algo dentro de mim estivesse despertando, algo que eu nem sabia que existia.
De repente, cheguei a uma clareira. No centro, havia uma árvore antiga, tão grande que parecia tocar o céu. Suas raízes se espalhavam como tentáculos, e seu tronco era marcado por runas que brilhavam fracamente. No chão, ao redor da árvore, havia círculos desenhados com pedras brancas, e no centro deles, uma figura estava agachada, de costas para mim.
— Quem... quem é você?
minha voz saiu trêmula, quase um sussurro.
A figura se levantou devagar, e eu senti um frio percorrer minha espinha. Ela era alta, magra, vestida com trapos escuros que pareciam fundir-se com a escuridão. Quando ela se virou, eu não consegui ver seu rosto, apenas uma sombra, como se o próprio vazio estivesse olhando para mim.
— Diana...
a voz dela era doce, mas havia algo nela que me fez tremer.
— Finalmente. Eu estava esperando por você.
— O que você quer de mim?
perguntei, tentando manter a calma, mas meu coração estava prestes a explodir.
Ela riu, um som baixo e rouco que ecoou pela clareira.
— Você não sente? Você não ouve? A floresta te chama, princesa. E você veio. Eu sabia que viria.
Eu dei um passo para trás, mas algo me segurou no lugar. Não fisicamente, mas como se minhas próprias pernas se recusassem a me obedecer.
— Eu... eu não sei do que você está falando.
— Claro que sabe.
Ela estendeu uma mão, e eu vi que seus dedos eram longos demais, quase como garras.
— Você sempre soube, que era diferente. Desde o momento em que entrou nesta floresta, você sentiu. A magia dela. O poder. E ele está dentro de você.
— Não!
gritei, sacudindo a cabeça.
— Você está mentindo!
Ela riu de novo, e desta vez o som foi tão agudo que eu cobri meus ouvidos.
— Mentira? Oh, querida. Você realmente acha que é apenas uma princesa humana? Uma garotinha perdida no meio de uma floresta amaldiçoada? Você é mais do que isso. Muito mais. E está aqui para quebrar a maldição.
Eu senti algo quente escorrer do meu nariz e levei a mão ao rosto. Sangue. Meu sangue. E então, algo dentro de mim estremeceu, como se uma porta estivesse se abrindo, liberando algo que eu nem sabia que estava trancado.
— Não...
sussurrei, mas minha voz estava sumindo, como se a floresta estivesse sugando-a.
— Sim.
Ela se aproximou, e eu vi que seus olhos brilhavam como brasas no escuro.
— Você é dela agora. Da floresta. E logo, você será minha.
Eu fechei os olhos, tentando me concentrar, tentando lutar contra aquela sensação de desespero que estava tomando conta de mim. E então, ouvi algo. Um rugido distante, seguido por um grito familiar.
— Diana!
Eledhor.
Abri os olhos e vi que a figura havia desaparecido. A clareira estava vazia, exceto por mim e a árvore antiga. As runas no tronco pararam de brilhar, e o silêncio voltou a pairar no ar.
— Diana! Onde você está?
A voz dele estava mais perto agora, e eu senti um alívio tão grande que quase caí no chão. Mas antes que eu pudesse responder, braços me envolveram, eu sabia que era Eledhor. Então me permiti ser engolida pela escuridão. E, tudo ficou preto.
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Atualizado até capítulo 30
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