Diana Malor
Acordei sentindo o calor do sol em meu rosto. Assim que abri os olhos, analisei melhor o quarto em que estava: uma cama, uma poltrona, um espelho e duas portas. Talvez uma delas fosse um banheiro.
— Melhor que seja...
murmurei, descendo da cama.
Dei meu primeiro passo enquanto ainda bocejava, mas assim que toquei o chão, ouvi um grunhido irritado.
— Ai, mulher! Não olha por onde anda, não?
Olhei para baixo e vi um meio-elfo segurando meus tornozelos.
— Merda!
dei um pulo para trás.
— O que você tá fazendo aí?
Ele me soltou e me encarou com um olhar aborrecido. Estava deitado no chão, sem camisa, usando a própria roupa como travesseiro. Seus cabelos prateados caíam de maneira displicente, emoldurando um rosto bonito e bem desenhado. E o corpo... Santo inferno! Cada músculo parecia esculpido à mão.
— Vai olhar por muito tempo?
zombou ele, passando a mão pelo abdômen definido com um ar convencido.
Meu rosto pegou fogo. Endireitei a postura e, num pulo, fingi desinteresse enquanto caminhava até a porta que parecia ser o banheiro.
— Se eu fosse você, não faria isso...
alertou ele, debochado.
Ignorei e abri.
O que vi fez meu coração quase sair pela boca. O ambiente estava cheio de gente — mulheres, algumas com os seios de fora, e homens rindo, bebendo ao som de uma música abafada. Fechei a porta às pressas, sentindo meu rosto queimar.
— Isso... Isso é uma casa de prazeres?
Eledhor gargalhou, seu peito largo se movendo com a risada.
— Tá rindo do quê, desgraçado?! Saiba que sou uma donzela!
Droga. Eu realmente disse isso?
— De nada, donzela.
Ele riu mais.
— Estamos seguros aqui, mas precisamos esperar até a noite.
Bufei e ignorei o monte de músculos esparramado no chão, que ainda ria de mim. Segui para a outra porta. Dessa vez, acertei: um pequeno banheiro.
O dia se arrastou como uma maldição. ELedhor se exercitou quase o tempo todo, como se precisasse manter cada músculo perfeitamente esculpido. Alguém trouxe comida, mas eu não tinha fome.
— Princesinha, precisa comer. Teremos uma longa jornada.
Ele mordeu um pedaço de pão, largado na poltrona de couro surrada. Revirei os olhos, mas peguei um pêssego e comi.
— Que bom. Não terei que carregar muitos mantimentos, já que a princesinha come feito um passarinho.
Segurei o caroço do pêssego com força, resistindo à tentação de arremessar na cara dele.
— Quando vamos?
perguntei, ignorando o maldito sorriso de canto.
— Paciência é uma virtude, princesa.
Ele ergueu uma caneca e tomou alguns goles.
— É água? Tô com sede!
— Tem ali, sirva-se
Ele apontou para a garrafa de metal ao lado da cama.
Me servi e bebi. Quando terminei, encarei Eledhor com seriedade.
— Pode me chamar de Diana. Você vai me levar até meus guardas? Eles estão na cidade.
Ele apertou os lábios e desviou o olhar. Um mau pressentimento percorreu minha espinha.
— Foram todos mortos, princesa.
Senti o mundo desabar. Meus olhos se encheram de lágrimas.
— Eu os conhecia desde sempre... Não acredito que Anton teve coragem para uma coisa dessas...
Chorei. Não me importei que ele estava ali, me observando.
— Precisamos ir. Anton colocou muitos guardas na cidade. E os orcs... agora estão sob o comando dele.
Minhas lágrimas cessaram na mesma hora.
— Ele matou o rei? Matou o próprio pai?!
Eledhor apenas confirmou com um aceno sutil. Engoli em seco. Ele se levantou e me entregou a capa que Maríli me dera.
Duas batidas soaram na porta.
— Cubra o cabelo. Não solte minha mão.
Ele vestiu uma capa negra com capuz, e saímos do quarto. Seguimos uma mulher de cabelos vermelhos e cintura fina, que nos guiou por corredores movimentados.
Descemos uma escada que levava a uma cozinha. Dois homens trabalhavam ali. A mulher abriu a porta e lançou um sorriso a Tauron.
— Volte sempre, querido.
Ela o beijou. Ele retribuiu com um sorriso presunçoso antes de me puxar em direção aos estábulos.
Andamos na lama, e minha bota afundou na sujeira. Resmunguei baixinho. Fazia muito tempo que eu não me sujava assim.
Ele selou um cavalo e me ajudou a montar.
— Pega outro cavalo pra você!
Ele riu, aproximando o rosto do meu ouvido.
— Não sou tão bom de foda assim, princesa.
Minha boca se abriu em um perfeito "O".
— C-Como ousa dizer isso pra mim?!
— Pode respirar, princesa.
Sua voz era baixa e provocante.
— Não vou te tocar... a menos que peça.
Prendi a respiração sem nem perceber.
Ele conduziu o cavalo pela cidade. Aos poucos, as construções ficaram para trás, dando lugar a campos abertos. Passamos por uma plantação de arroz, mas logo o caminho nos levou à borda da Floresta Amaldiçoada.
O cavalo relinchou, inquieto.
— Não devíamos entrar aí!
protestei.
O animal pareceu entender minhas palavras e tentou recuar. Eledhor puxou as rédeas, fazendo-o parar. Então, desceu e segurou minha cintura, me ajudando a desmontar.
— Agora, caminhamos.
— Você ignorou completamente o que eu disse, não foi?
Ele seguiu em frente, sem se importar com meu protesto. Bufei e o segui.
O silêncio era opressor. Nenhum grilo, nenhuma coruja. Nada.
A luz prateada da lua atravessava a copa das árvores, projetando sombras estranhas no chão. O vento frio acariciava minha pele como mãos invisíveis.
— Isso é uma péssima ideia...
murmurei.
— Fique perto, princesa.
Dessa vez, sua voz soava mais tensa.
Cada passo ecoava como um sussurro de terror. O ar parecia pesado, como se estivéssemos sendo observados. Um arrepio subiu por minha espinha.
Segurei a capa com força e engoli em seco.
Algo estava ali.
Nos esperando.
Estávamos entrando no Reino de Pedra (Antiga Eldoria)
Um reino outrora grandioso, agora amaldiçoado e conhecido como Reino de Pedra. A maldição que assola essas terras transformou não apenas seus habitantes, mas suas cidades e castelos em pedra, mas também sua flora e fauna. Hoje, é um território inóspito, envolto em um silêncio sepulcral e dominado por formações rochosas retorcidas. E dizem que espíritos e criaturas, como os lobos rondam esse território, pois andam entre o reino dos vivos assim como dos mortos.
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Atualizado até capítulo 30
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