Superando Barreiras
Leo.
A Combinação de uma manhã como qualquer outra na pequena cidade de Vale Azul, junto com meu pai, esperando em seu carro. O modelo era um BMW preto, e seus ombros tensos, com o olho esquerdo se apertando - um sinal claro que algo não lhe agradava.
Segui seu olhar e entendi o motivo: dois colegas, Stevam e Lucas, saiam de mãos dadas pelo portão. O gesto era natural e livre. Suspirei, desejando ter a mesma liberdade que eles. Mas meu pai, ao contrário, olhava com armagura, quase nojo.
Aos 17 anos, a exaustão de lidar com ele era esmagadora. Enquanto caminhava em direção ao carro, o movimento ao redor era tranquilo: pessoas cruzando a rua, outras conversavam em frente ao colégio - mas para mim, tudo estava envolto em um peso opressivo.
Meu pai nunca escondeu sua intolerância. Desde os nove anos, ouvia suas palavras carregadas de ódio. Para ele qualquer um que fosse diferente era um erro. Tentar mudar sua mente era como bater em parede de concreto. Ele sempre achava que estava certo.
Antes mesmo de abrir a porta do carro, sua voz ecoou, carregada de desprezo:
— Por que sua escola aceita essas criaturas?
Meu estômago se revirou. Eu já sabia o que viria a seguir.
Esperei o sinal verde para me aproximar. Meu pensamento era um só: Por que ele é assim? Já tinha perguntado inúmeras vezes, mas sempre recebia as mesmas respostas:
— Não confie nessas coisas, eles não são normais.
Essas palavras estão gravadas na minha mente, ressoando como um mantra. Quando você escuta coisas negativas sobre um certo tipo de pessoa, é difícil esquecer. Mas, à medida que fui conhecendo amigos gays e lésbicas, percebi que eram apenas pessoas normais, com sonhos e medos. Queria gritar :"Pai, acorde, eles não são monstros cruéis!"
Mas às vezes me pergunto se sou um homem ou um rato. Pode parecer estúpido, mas tenho medo dele.
Entrei no carro, e ele nem sequer olhou para mim, apenas deu partida.
— Para onde estamos indo, pai? — indaguei, jogando minha mochila no assento ao lado.
— Vamos nos encontrar com Otávio Albuquerque.
Meus olhos se arregalaram.
— Você tá falando do homem mais rico do mundo? Aquele da revista Reviera?
— Esse mesmo — afirmou, girando o volante com precisão.
— Uau, você conseguiu uma reunião com ele? — arqueei as sobrancelhas. Não fazia sentido. A empresa do meu pai nem era tão grande para despertar o interesse de um bilionário.
Ele apenas balançou a cabeça antes de responder:
— Ele nem tem noção de que estamos indo ao seu encontro. Recebi uma dica quente de um colega.
Era insanidade. Invadir o horário de almoço de alguém assim, como se fosse algo trivial? Mas permaneci em silêncio, observando pela janela do carro. Afinal, o empresário aqui era ele.
Chegamos ao Metrô Palace, um restaurantee cinco estrelas. O lugar era um espetáculo a parte: árvores imponentes, asfalto impecável e carros de luxo estacionados. A fachada refletia o céu, com colunas de mármore e jardins podados com precisão.
Assim que estacionamos, um homem alto, de pele morena e postura impecável, aproximou-se. Ele vestia um terno cinza-escuro, com traços marcantes e olhar intenso.
— Desculpas, senhores, mas o restaurante está reservado para um evento particular — informou, com uma voz calma, mas firme.
Meu pai suspirou, cerrando os punhos, as veias saltavam em seus braços. Ele estava prestes a explodir.
— Escuta bem... Preciso ver alguém que está aí dentro. Se eu perder essa chance... — Ele fez uma pausa, como juiz se preparando para dar uma sentença. — Será um erro do qual se arrependerá.
O homem suspirou, mas não cedeu. Apenas fez um gesto discreto e outro dois convidados passaram. Um deles era uma mulher trans, impecável, com uma barba bem aparada, vestido vermelho-sangue e saltos agulha. O outro, um homem de roupa casual, exalava confiança.
Meu estômago se revirou, sabendo o que viria em alguns instantes.
— Pai — tentei deter o inevitável. — Vamos embora. Não vale a pena.
— Nem vem, Leonardo! Ele deixa essas aberrações entrarem, enquanto eu, um empresário normal, fico de fora?!
Sua voz ergue-se, chamando a atenção. Algumas pessoas pararam na calçada, enquanto outras saíram do restaurante, provavelmente atraídas pela curiosidade.
Meu rosto queimou de vergonha, só queria sumir, mas sabia que não podia fazer nada. Meu pai estava irredutível, e eu, preso na posição de filho, me sentia impotente diante da situação.
— Do que você me chamou? — perguntou o cara de roupa casual, cruzando os braços, com uma expressão de total desgosto.
— Senhor, me desculpe, meu pai não quis dizer isso. — tentei intervir, puxando meu pai para longe.
Mas ele se soltou, arrogante como sempre.
— Eu quis dizer cada palavra. Esse tipo de gente deveria queimar viva.
O soco do homem de roupa casual foi rápido e certeiro fazendo meu pai cair alguns metros para trás. Meu corpo reagiu antes da, minha mente. Corri para socorrê-lo, mesmo sabendo que ele havia provocado aquilo.
— Você procurou por isso — murmurei, mais para mim mesmo do que para qualquer outra pessoa.
O homem de roupa casual o olhava sério.
— Pode me ofender o quanto quiser, mas ofender minha mãe... é inaceitável.
Meu pai se levantou cambaleante, mas ainda arrogante.
— Já chega, pai — tentei intervir, frustrado.
Ele ignorou completamente minha súplica.
— Seu desgraçado, quem você pensa que é para me bater?
Senti o sangue ferver, mas permaneci calado. O olhar do cara se estreitou, e a mulher ao lado dele ficou tensa.
— Pai, para!
Mas ele continuou:
— Você, por acaso, sabe quem eu sou?
— Não me importo com quem você é — o homem rebateu com calma, mas a tensão em sua voz era clara. — Mas, se ofender minha mãe de novo, o farei pagar caro.
Meu pai sorriu com arrogância, como se estivesse se impondo:
— Tô morrendo de medo de você, garotinho. Se acha tanto... espera só o Otávio Albuquerque aparecer para te colocar no seu lugar!
O nome de Otávio fez o homem demonstrar uma reação quase imperceptível de choque, mas não parecia realmente intimidado.
Foi então que uma voz grave cortou o ar.
— Já estou aqui e vi tudo.
Quando me virei, vi Otávio Albuquerque. Ele era ainda mais impressionante do que nas revistas. Alto, olhos castanho-escuros profundos, cabelo negro impecável. Usava uma polo justa que moldava bem o corpo, calça jeans cáqui. O tênis que usava, certamente de uma marca de luxo, parecia custar mais do que o valor de uma mensalidade de faculdade de alguém comum.
Meu pai endireitou-se ainda tentando se impor.
— Que bom, que precisou tudo, como esse cara e a mãe dele me trataram. Sou Alan Montenegro e gostaria de falar com o senhor.
Como ele podia culpabilizar outras pessoas por algo tão evidente? Aquela cena era um reflexo direto da sua falta de autocrítica e vergonha.
Em um sussurro baixo, mal consegui segurar minha frustração:
— Que grande exemplo você tá dando.
Ele respondeu com um resmungo, tentando se manter firme diante do que estava acontecendo.
— Fica quieto, Leo.
Otávio permaneceu impassível. Caminhou lentamente até o homem de roupa casual.
Tentando manter algum controle da situação, puxei o braço de meu pai.
— Acho melhor irmos embora, pai.
Mas ele se manteve firme, teimoso como sempre.
— Otávio está aí, Leo; é a minha chance! O que tá fazendo me puxando? Não posso sair antes de falar com ele.
Mas antes que pudesse explicar, a resposta veio de Otávio. Que puxou o homem de roupa casual e, sem hesitação, beijo-o nos lábios.
Foi um beijo simples, mas repleto de significado. Meu pai ficou atônito. A arrogância desapareceu em segundos.
Ainda estava tentando processar tudo o que tinha acontecido. O beijo, a humilhação que meu pai tinha feito - tudo isso se misturava em minha mente, deixando-me atordoado. Mas foi a voz suave, porém mortal, de Otávio que me trouxe de volta à realidade.
— Desculpa a demora, amor, me atrasei um pouco — ele disse, olhando fixamente para o cara de roupa casual.
O silêncio que se seguiu foi absoluto. Eu sabia que estávamos na boca da serpente.
Meu pai finalmente percebeu que a situação havia saído do controle. Com um suspiro pesado, se virou para mim e disse:
— Vamos embora, Leo.
Mas Otávio não parecia disposto a deixar aquilo passar tão facilmente. Seu olhar, calmo e penetrante, carregava uma ameaça silenciosa, e por um instante, o ar ao nosso redor pareceu ficar mais denso, como se faíscas de fogo estivessem prestes a saltar de seus olhos.
Com uma voz doce, mas perigosamente afiada, ele respondeu:
— Ah, mas tão cedo você não queria falar comigo.
"Vish," pensei.
Otávio não parecia ser o tipo de homem que deixaria uma ofensa passar em branco. A tensão no ar se intensificou, e naquele momento, percebi que talvez tivéssemos metidos em um tipo de problema que meu pai não poderia resolver com sua arrogância.
Meu pai, desconfortável, tentou dar um passo para trás.
— Tudo bem, Otávio. Esqueça isso, devemos ir — sua voz carregava uma inquietação incomum.
Mas já era tarde demais.
De repente, cinco seguranças de terno surgiram ao nosso redor, bloqueando qualquer tentativa de fuga. Era como se tivessem brotado do chão.
"Merda," pensei. Isso é coisa de segurança VIP, claro.
Aquele era o tipo de gente que meu pai, com toda sua bravata, não sabia lidar. Já conseguia prever o desfecho: ele acabaria no hospital ou, pior ainda, no necrotério, se continuasse com esse comportamento. Não consegui ficar quieto. Precisava tentar salvar o que fosse possível.
— Senhor Albuquerque, lamento muito pelo meu pai e peço desculpas em nome dele pela ofensa ao seu companheiro e à mãe dele — falei, tentando soar o mais sincero possível.
Meu pai, engoliu o orgulho, percebendo que estava encurralado. Os seguranças o pressionavam, sufocando sua soberba em menos de dois segundos. Sem saída, foi forçado a dizer, com dificuldade:
— Lamento minhas palavras, senhor Albuquerque.
Otávio manteve a calma. Seu olhar frio perfurava meu pai como uma lâmina afiada.
— Não fui eu quem foi insultado, ou fui?
Ele não desviou os olhos, esperando que meu pai se desculpasse corretamente. A humilhação estava estampada no rosto dele. Mesmo sem dizer nada, seu corpo tremia sob o peso daquilo.
— Peço que me desculpem pela ofensa, tanto o senhor quanto sua mãe — murmurou, sem conseguir encarar o homem de roupa casual ou a mulher ao seu lado.
A jovem mãe, até então em silêncio, pronunciou-se com suavidade impressionante:
— Tudo bem. Aceito suas desculpas.
Aquelas palavras caíram como uma cortina de alívio, mas eu sabia que aquilo não significava o fim. Meu pai estava engolindo veneno das próprias palavras, e eu sentia o peso disso. Respirei fundo, percebendo que estava segurado ar sem querer.
Os seguranças finalmente abriram passagem, mas o olhar de Otávio continuava queimando em nossas costas.
Quando estávamos prestes a sair, ele disse, sua voz ainda calma, mas agora carregada de uma ameaça sutil:
— Alan Montenegro, né? Vou me certificar de lembrar seu nome.
Meu pai ficou tenso. Não respondeu. Apenas acelerou o passo.
Otávio manteve a mesma serenidade do início, como um lago tranquilo que escondia perigosas profundezas.
Fui rápido em pegar meu pai pelo braço e guiá-lo até o carro. Mas antes que pudéssemos sair completamente, a voz de Otávio ecoou atrás de nós, implacável:
— Isso ainda não acabou.
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Atualizado até capítulo 52
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