Os olhares no campus.

...Dias depois..........

...Léo....

As notícias sobre meu relacionamento com Lyan se espalharam como fogo em palha seca; parecia que toda a faculdade sabia. No início, os rumores eram vistos como uma piada. Muitos diziam que era pura mentira, um boato que não sobreviveria ao fim de semana.

Mas a verdade sempre encontra uma forma de se impor. Quando começaram a nos ver juntos, mãos entrelaçadas nos corredores ou Lyan inclinando-se casualmente para falar comigo, os olhares confusos se transformaram em suspiros de aceitação e de inveja. Os sorrisos dele, abertos e sinceros, eram um testemunho impossível de ignorar.

Quem poderia imaginar? O garoto popular, atraente e sempre rodeado de pessoas , acabaria com alguém como eu? Um garoto comum, escondido sob um disfarce de nerd, com roupas que mal se destacavam e uma aparência que jamais chamaria atenção em um ambiente tão competitivo.

O que mais desconcertava as pessoas, no entanto, não era apenas o contraste entre nós dois. Era o fato de Lyan nunca ter namorado ninguém na faculdade. Apesar de algumas histórias aqui e ali - pequenos flertes que não duravam mais que um dia -, ele nunca havia levado nada a sério.

Essa informação parecia jogar gasolina no fogo.

Havia aqueles que não sabiam lidar com isso. Alguns me olhavam com desprezo, e, por vezes, os cochichos em voz baixa se tornavam ameaças diretas. Mas, como havia prometido, Lyan estava sempre por perto para me proteger. Seu olhar determinado e postura firme mostravam que não toleraria nenhum tipo de abuso.

Ainda assim, eu não era indefeso. Sabia me defender quando necessário, e perceber o quanto ele se empenhava em manter nosso relacionamento seguro apenas reforçava o quanto Lyan estava levando isso a sério. Essa certeza aquecia meu coração de uma forma que nunca achei possível.

—  Eu deveria estar grato pelo Lyan me defender —  falei, meus olhos seguindo o movimento das pessoas no corredor enquanto caminhava junto com Nathan. A ansiedade apertava meu peito. — Mas a culpa é dele por ser popular e não disfarçar nem um pouco que está comigo.

Nathan olhou para mim com um sorriso descontraído, como se o assunto fosse trivial, e deu de ombros.

— Você deveria se acostumar, Leo. Faz parte afinal você  é o cara que roubou o coração dele.

Soltei um longo  suspiro, sentindo o peso das palavras.

— Não é pra tanto, Nathan. Eu não roubei nada. Só estou agoniado porque a maioria me olha como se quisessem que eu caísse duro e morto no chão, só porque estou namorando ele.

O som de nossos passos ecoava pelo corredor, e minha mente estava ocupada demais com o olhar pesado das pessoas ao redor. Mas Nathan, tentando aliviar a tensão, deu uma risada leve.

—  Cara, só ignora. É inveja. Ria das pessoas que tentaram se aproximar dele. Você foi o único a quem ele deu abertura. Ser o centro das atenções por um tempo é normal.

Observei,ele tentando absorver as palavras, mas a frustração continuava me corroendo por dentro. Nathan, percebendo a mudança no meu semblante, parou de rir e lançou uma olhada rápida para o meu rosto. Sem dizer uma palavra, colocou uma mão firme no meu ombro e suspirou.

—  Tá difícil, Nathan. O Lyan...

Nathan me olhou com seriedade, e pela primeira vez em muito tempo, seu tom de voz mudou. Ele parecia mais sério do que nunca, como se estivesse dando um conselho que não poderia ser ignorado.

— Leonardo, vou falar sério com você agora: ou você aceita que vai ser alvo de inveja e ressentimentos, ou faz o Lyan terminar com você. São suas únicas escolhas.

As palavras dele caíram sobre mim como uma lâmina afiada. Meu coração pareceu dar um salto no peito, apertando-me de forma desconfortável. Uma voz dentro de mim, tão intensa que quase a senti fisicamente, protestava com força, gritava que jamais iria permitir algo assim. A dor dessa possibilidade parecia me sufocar. Queria gritar que não, que não era isso que eu queria, mas, ao invés disso, só tentei ignorar a dor que crescia em meu peito.

Antes que eu pudesse formular uma resposta que não soasse desesperada, Lyan apareceu de repente ao meu lado, com aquele sorriso de lado que só ele sabia dar. Era como se ele soubesse exatamente o que eu estava pensando, e antes que eu pudesse reagir, se inclinou e me deu um leve beijo nos lábios.

Foi um toque suave, quase etéreo, mas o suficiente para que uma corrente elétrica percorresse meu corpo, aquecendo-me de uma forma inesperada. Meu coração disparou, e a sensação permaneceu vibrando em minha pele.

—  Lyan, a gente não combinou nada de você me obrigar a te beijar —  consegui dizer, tentando esconder o turbilhão de sentimentos que me invadiu, tentando não parecer que estava prestes a perder o controle diante do quanto aquilo me afetava.

Ele apenas riu baixinho, um sorriso de canto de boca que exibia confiança, e respondeu com aquele tom brincalhão que nunca deixava de me deixar confuso.

—  Ah, Leo, não te obriguei a nada —

ele disse, se aproximando mais, se inclinando para mim, como se estivesse tentando me desarmar com cada movimento. — Fui eu que te beijei. E foi só um selinho. Não arrancou pedaço nenhum seu. Além disso, você não resistiu, então é consentimento mútuo de ambas as partes.

Meu coração ainda batia descompassado, como se tivesse acabado de correr uma maratona, enquanto o sorriso vitorioso dele se alastrava pelos lábios. Mesmo que eu não quisesse admitir em voz alta, sabia que Lyan estava certo: eu havia gostado, e ele estava cumprindo sua promessa, mas com uma habilidade impressionante de encontrar brechas sutis no caminho.

—  É a mesma coisa — murmurei, mais para mim mesmo, com um tom suave. Na verdade, não havia raiva. Só... confusão.

— Claro que não, Leo — insistiu, com uma expressão quase desafiadora, enquanto me olhava de relance, seus olhos brilhando com um misto de diversão e algo mais. — É bem diferente.

Ele começou a andar, puxando minha mão sem cerimônia, e eu não tive escolha a não ser acompanhá-lo, como se sua mão tivesse se tornado um imã que me atraía. Olhei para trás, e vi o rosto de Nathan, que agora segurava o riso de forma visível, quase se esforçando para não rir da cena que acabara de presenciar. Parte do riso vinha da maneira como Lyan me tratava, e outra era porque tinha me esquecido completamente de que Nathan estava ali, assistindo tudo sem dizer uma palavra.

Dei um aceno discreto para me despedir, tentando manter a compostura, mas era quase impossível, já que Lyan me puxava praticamente sem esforço. Como pude esquecer o Nathan? Não tinha explicação para isso. Era como se o mundo ao meu redor desaparecesse quando Lyan se aproximava de mim, e seus beijos, por mais simples que fossem, me deixavam com a sensação de que nada mais importava.

— Você quer almoçar comigo no intervalo? — Lyan perguntou, quebrando o silêncio que se formara entre nós, sua voz suave, mas cheia de uma expectativa inconfundível.

Revirei os olhos, fazendo uma careta, e respondi com uma leve dose de sarcasmo.

— Como se eu tivesse escolha. Você faz questão de estar comigo desde que todos souberam sobre a gente.

Lyan sorriu de lado, aquele sorriso que sempre me desarmava, e disse com uma calma inesperada:

— Acho que você me entende mal, Leo. Você tem, sim, uma escolha .

De repente, parei no meio do corredor, puxando-o gentilmente para que ele também parasse. A confusão tomou conta de mim por um momento, mas fui em frente, não conseguindo evitar a curiosidade.

— Sério? — questionei , um sorriso pequeno se formando nos meus lábios, querendo acreditar que ele estava falando sério.

— Super sério. Você tem duas opções: ou você almoça comigo ou eu almoço com você. Viu? Simples. Qual você escolhe hoje? — Lyan respondeu, sua voz se suavizando com uma risada quase inocente, como se fosse a coisa mais natural do mundo fazer essa pergunta.

Eu o olhei, sem conseguir esconder a irritação misturada com diversão. Ele era irritante, mas de uma forma que me deixava mais confuso do que realmente chateado. Um leve sorriso escapou dos meus lábios, estava ciente que, até o final da faculdade, ele provavelmente me faria ter um infarto com esse jeito dele.

Quem diria que um cara que você olha e pensa "nossa, presunçoso" seria, às vezes, tão infantil? Com ele, até falar sério sobre as coisas mais simples parecia impossível. Lyan  tinha esse dom de tornar até os momentos mais banais algo que mexia comigo.

Lyan começou a andar de novo, me puxando suavemente para acompanhá-lo, e me perguntou novamente, com um toque de brincadeira na voz:

—  E aí, quem é sua escolha para hoje?

Soltei leve suspiro, me rendendo àquele sorriso irresistível, e disse, sem pensar muito: — Almoço com você.

Ele parou de repente ao lado de uma porta, próxima à minha ala, mas algo em sua postura fez meu olhar se prender ali. Parecia que algo o impedia de entrar naquele lugar. Fiquei intrigado, tentando entender o que estava acontecendo, mas não tive coragem de perguntar. Lyan não era o tipo de pessoa que se deixava incomodar facilmente, mas aquele desconforto era evidente. Algo não estava certo.

— Te vejo no intervalo — disse, soltando minha mão lentamente, como se quisesse ficar mais um pouco, mas algo o impelia a seguir em frente. A maneira como se afastou deixou claro que havia algo mais, algo que não estava pronto para dividir naquele momento.

Fiquei parado ali por um momento, observando ele desaparecer ao virar a esquina do campus. Quando não pude mais vê-lo, soltei um longo suspiro. Era estranho. Eu queria estar perto dele, mas de alguma forma me recusava a admitir isso. Era aquela sensação de precisar de alguém sem querer admitir que precisava. E agora, mais do que nunca, estava sentindo isso com força.

Caminhei até minha sala, os passos ecoando levemente no corredor vazio. Ao entrar, percebi que ela estava um pouco mais vazia do que o normal. Algumas pessoas me lançaram olhares curiosos, mas ninguém disse nada. A conversa continuava a todo vapor, como se nada de diferente estivesse acontecendo.

Me sentei rapidamente, aliviado por ver que Lourenço Marques e seus amigos ainda não haviam chegado. Se havia alguém que adorava provocar sobre meu relacionamento com Lyan, esse alguém era ele. E, como sempre, piorava tudo com suas piadas e brincadeiras sem graça. A última coisa que eu queria naquele momento era me envolver em mais uma de suas piadinhas.

Mas o alívio não durou muito. Em menos de cinco minutos, a porta da sala se abriu e lá estava ele. Lourenço. Eu nunca soubera como ele podia ser considerado um dos cinco mais bonitos da faculdade. Para mim, era só mais um cara sem graça, cheio de arrogância. Quando me viu, seu olhar de desgosto foi instantâneo, como se já estivesse esperando por esse momento.

O ignorei, tentando não dar a mínima para o que ele pudesse pensar ou falar. Mas isso, claro, não o impediu. Ele e seus amigos caminharam até a minha mesa, e o som das conversas ao redor de nós começou a diminuir conforme ele se aproximava.

— Pelo visto, é real mesmo,essa relação — Lourenço disse, com aquele tom de desdém que já conhecia muito bem. — Vejo e não acredito.

Eu comecei a mexendo no meu celular, deliberadamente ignorando suas palavras. Não estava com paciência para as provocações dele.

—  Anda, me diga, que tipo de bruxaria você fez para ele te namorar? — Lourenço gritou, tentando claramente irritar-me.

Nada. Nenhuma reação. Continuei me concentrando na tela do meu celular, fazendo de conta que não estava ouvindo nada.

Isso, claro, só fez com que ele ficasse ainda mais irritado. Lourenço deu um passo em direção à minha carteira, e por um momento, imaginei que ele pudesse fazer algo mais, mas, naquele instante, a porta da sala se abriu. O professor Igor entrou, como sempre na hora exata, como se tivesse o dom de aparecer no momento mais necessário.

—  Podemos começar a aula de hoje? Todos em seus lugares. —  A voz do professor ecoou pela sala, e Lourenço não teve outra escolha a não ser se afastar e se sentar, claramente contrariado.

Antes de se sentar, ele ainda soltou, entre dentes, uma ameaça baixa, mas não menos clara:

—  Aguarde, Leonardo. Quero ver até onde vai sua sorte.

Senti um leve arrepio passar pela espinha, mas logo me concentrei em algo mais importante. A pintura. O desconforto foi rapidamente substituído pela absorção no trabalho, enquanto meu pincel deslizava pela tela. Havia algo relaxante em pintar. Algo que me permitia esquecer, por alguns instantes, as provocações e o mal-estar.

Eu já estava mais focado, mais maduro nas minhas técnicas, e não pude deixar de perceber o quanto evoluí desde que o professor Igor começou a me orientar. Antes, minhas pinturas pareciam secas, sem tanta expressão ou profundidade. Agora, as cores fluíam mais naturalmente, os detalhes vinham com mais facilidade.

Enquanto me concentrava na pintura, vi um olhar de raiva vindo de Lourenço, que parecia incapaz de tirar os olhos de mim. Dei de ombros, sem me importar, e continuei a pintar, ignorando completamente sua presença. O que mais eu poderia fazer? Já estava cansado das suas provocações. Tinha algo muito mais importante para me preocupar: o que eu estava criando na tela.

Fiquei tão concentrado na pintura que, mais uma vez, perdi a noção do tempo. O ambiente ao meu redor parecia desaparecer, absorvido pela tela à minha frente. Me imergia tanto naquilo que nem percebia o sinal do intervalo. Só saí desse estado de imersão quando a voz do professor Igor me trouxe de volta à realidade:

—  Tudo bem, turma, vocês podem terminar isso depois. É hora do almoço, não quero ninguém desmaiando de fome na sala. Melhor dar essa pausa. —  Ele falou com um sorriso descontraído, quase como se estivesse compartilhando um segredo com a turma.

Todos saíram apressados da sala, exceto eu e o Igor. Eu, sempre cuidadoso, continuei arrumando meus materiais. Não gostava de deixar minhas coisas espalhadas ou desorganizadas. Uma pequena obsessão, talvez, mas fazia parte de como eu me mantinha centrado.

Foi quando ouvi a voz de Igor, mais baixa, quebrando o silêncio enquanto ele se aproximava:

— Ouvi dizer que você já tem namorado, Leo. E que é o Lyan Sales.

Fiquei surpreso, ao ouvir aquela pergunta. Não esperava que ele tocasse nesse assunto, especialmente assim, com aquele sorriso curioso nos lábios.

Sorri sem jeito, sentindo o calor subir às minhas bochechas.

— Humm... Sim, estou namorando ele.

Quando confirmei, os olhos dele brilharam, e eu não consegui deixar de notar o brilho genuíno na sua expressão. Não achei estranho, já que éramos amigos, e conversávamos sobre relacionamentos e outros assuntos pessoais com bastante naturalidade.

— Por que não almoçamos juntos? Quero conhecer o namorado do meu melhor aluno. — Igor sugeriu com um sorriso mais largo, e eu, meio sem saber como recusar, acabei balançando a cabeça timidamente, concordando.

Já tínhamos almoçado juntos algumas vezes antes, então não era algo completamente fora do comum. No entanto, a ideia de almoçar com Igor e James me deixava um pouco nervoso. Eu não sabia bem o que esperar. Mesmo assim, segui com a conversa.

Ao sair da sala, recebi uma mensagem de Lyan. O som do meu celular vibrando me trouxe de volta ao momento presente:

— Leo, estou na lanchonete italiana. Tô aguardando pra comer macarrão quem eles tem . Te espero aqui dentro pra guardar a mesa. Não demora, tá bom?

Respondi rapidamente: — Tô indo, apressadinho.

Igor me olhou enquanto eu guardava o telefone no bolso, e com um sorriso, disse:

—  Vamos. O James já está nos esperando do lado de fora da ala.

Fomos em direção à porta, onde James estava, sorrindo amplamente ao me ver.

—  Oi, Leo! — James disse, seu tom animado e quase efusivo me pegando de surpresa.

— Oi... — respondi, timidamente, tentando me adaptar à energia positiva dele, que contrastava com meu próprio nervosismo.

— O Leo e o namorado dele vão almoçar com a gente hoje, amor.—

Igor comentou com carinho, olhando para James. Eu pude ver a cumplicidade entre eles, algo que me fazia sentir um pouco fora do lugar.

—  Que bom, Igor! Estou curioso para conhecer o famoso "coringa". —  James respondeu com um sorriso ainda mais largo, como se estivesse empolgado demais com a ideia. Havia algo de exagerado demais na sua animação, como se estivesse forçando um entusiasmo que não parecia tão genuíno.

Por um momento, uma sensação estranha se instalou em mim. Era como se uma voz interna, silenciosa, estivesse gritando que havia algo errado naquela animação toda.Senti um desconforto, uma sensação de estar sendo usado, de ser parte de algo maior do que eu entendia.

Por mais que tentasse racionalizar, não conseguia afastar aquele sentimento. Resolvi ignorar, apenas encolhi os ombros e tentei afastar os pensamentos enquanto começava a caminhar ao lado de Igor e James. Não queria ficar preso àquela sensação, então apenas segui o fluxo, tentando manter a calma e o foco no presente.

Levamos cerca de dez minutos para chegar à lanchonete onde Lyan nos esperava. Assim que entrei, meu olhar encontrou o dele, e seu sorriso acolhedor imediatamente aqueceu meu coração. Porém, o momento durou pouco. Quase instantaneamente, seu semblante mudou, endurecendo como se uma sombra tivesse ofuscado sua luz.

— Ali está o Lyan.— disse James, apontando para a mesa, embora eu já tivesse notado sua presença.

— Lyan, sinto muito por ter demorado. —  Justifiquei-me, acreditando que o atraso era a razão de sua expressão tão fechada.

Ele não respondeu de imediato. Levantou-se de repente, a cadeira raspando no chão, interrompendo qualquer tentativa de me acomodar à mesa.

— Estamos de saída.—  anunciou com firmeza, o tom seco pegando-me de surpresa.

—  Como assim? Acabamos de chegar! O Igor e o James vão almoçar com a gente...

— Não.—  Ele me cortou, sem hesitar, a voz carregada de um peso incomum.

— Eu e você estamos de saída.

Olhei para ele, confuso e desconcertado. Não entendia o que estava acontecendo. Talvez eu devesse ter mencionado antes que Igor e James estariam conosco, mas não parecia motivo suficiente para tanta irritação.

—  Qual é o seu problema, Lyan? —  perguntei, tentando conter minha impaciência, mas achando sua atitude completamente desproporcional. Ele nunca havia agido assim antes.

—  Não é nada, Leonardo. —

murmurou, desviando o olhar, como se evitar meus olhos fosse a única maneira de manter sua compostura. Após uma pausa tensa, acrescentou:

— Só... por favor, podemos ir para outro lugar?

Antes que eu pudesse responder, James interveio, sua voz amigável mas cautelosa.

—  Tudo bem, Leo. Eu e Igor podemos ir.

Foi quando senti a mão de Lyan em meu pulso. O toque era suave, quase um pedido silencioso, mas a insistência em seu gesto apenas alimentou minha irritação. Afastei seu toque com um puxão brusco, minha paciência se esgotando. Seu comportamento não fazia sentido; ele sequer conhecia Igor e James para agir daquela forma.

—  Eu vou ficar com eles. Se você quiser ir embora, Lyan, vá sozinho. —  retruquei, minha voz carregada de frustração.

Por um breve instante, ele me encarou, seus olhos revelando um conflito interno que parecia maior do que qualquer coisa que eu pudesse compreender naquele momento. O silêncio entre nós foi cortante, mas, em vez de responder, ele virou-se abruptamente e saiu, os passos apressados ecoando sua confusão e talvez... sua dor.

— Sinto muito.—  murmurei para Igor e James antes de sair correndo atrás dele.

O ar fresco do campus parecia carregar minha urgência. Quando finalmente o alcancei, já um pouco afastado da lanchonete, segurei seu braço com firmeza, forçando-o a parar.

—  Lyan, me fala qual é o problema. Nunca vi você fugir assim. — questionei , minha voz oscilando entre dúvida e raiva.

Ele evitou meu olhar, puxando o braço para longe de mim, como se quisesse criar uma barreira.

— Não é nada.— respondeu, num tom que parecia mais uma tentativa de me afastar do que uma explicação. Seus olhos, por mais tristes que estivessem, estavam protegidos por uma máscara fria. Respirou fundo, o som pesado do ar escapando por entre os dentes enquanto tentava manter a calma. — Vamos esquecer isso e almoçar em outro lugar, Leo.

— Não. — retruquei, mantendo minha posição.— Você acha que eu não percebi? Está agindo assim por causa do James e do Igor. Então, me diz: qual é o problema com eles?

O silêncio dele foi como um golpe no estômago, irritante e ensurdecedor. Lyan desviou o olhar, os ombros tensos.

—  Anda, Lyan. Me fala o que realmente está te incomodando neles. —  insisti, encarando-o como se pudesse arrancar a verdade à força.

— Já disse que nada, Leonardo! —

Ele murmurou, mas a hesitação em sua voz entregava mais do que ele queria.

Seu silêncio prolongado só confirmava o que eu já sabia: ele estava escondendo algo.

— Do que você tem medo? Está agindo como um covarde, e isso não é seu estilo.— provoquei, tentando fazê-lo reagir.

— Cala a boca, Leonardo Montenegro! Se você não vai comigo, vou sozinho! —  gritou, sua paciência se esgotando, o tom ecoando no campus quase vazio.

—  Então vai, Lyan! Vou

ficar com eles, e pronto.—  afirmei  , cruzando os braços, tentando manter a firmeza enquanto meu coração acelerava.

— Que seja! Fique aí então. —  respondeu, a frustração evidente em sua voz. Ele se virou rapidamente, os passos decididos, como se não quisesse dar chance para eu o impedir novamente.

Por um instante, acreditei que ele estava blefando. Mas não. Suas palavras carregavam um peso que eu não esperava. Lyan realmente estava disposto a ir embora.

— Se você for embora, Lyan, vamos terminar. — ameacei, sem pensar nas consequências das minhas palavras.

Lyan parou, o corpo congelado por um segundo. Quando se virou, o que vi me atingiu como um soco. Seu rosto estava marcado por uma dor que ele claramente lutava para esconder. Seus olhos brilhavam com lágrimas contidas, e sua voz, embargada, saiu num sussurro:

—  Se é isso que você quer, Leonardo... ok para mim.

Meu mundo desabou naquele instante. Não esperava que ele aceitasse tão facilmente acabar com o que tínhamos por algo aparentemente tão trivial. Fiquei parado, sem reação, enquanto o via desaparecer ao virar a esquina, cada passo dele levando um pedaço de mim.

Senti uma mão pousar em meu ombro. Ao virar o rosto, vi o olhar preocupado de Igor. Ele não disse nada, apenas tirou um lenço do bolso e o estendeu para mim, apontando discretamente para meu rosto.

Foi só então que percebi: eu estava chorando. Peguei o lenço com as mãos trêmulas, murmurando um fraco:

—  Obrigado...

Enquanto limpava minhas lágrimas, a dor no peito crescia como uma onda implacável. Não queria admitir para mim mesmo, mas sabia que o que eu sentia por Lyan já havia se tornado algo muito maior do que apenas carinho. E agora, parecia que tinha perdido isso para sempre.

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Comments

Monica Souza

Monica Souza

Autora, por favor, estou amando a história, posta mais capítulos.

2025-02-08

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