O grito no silêncio.

...Leo....

Assim que Lyan saiu, fiquei imóvel contra a parede, quase como se o tempo tivesse congelado junto com o nó na minha garganta. O som dos passos dele ainda ecoava na minha mente, e, por um instante, a sensação de vazio tomou conta de mim. Ele sabia demais, tinha minha foto. Como eu fui burro em deixá-lo descobrir. Nunca, nem nos meus piores pesadelos, imaginei que fosse me meter nesse tipo de conversa, falar sobre sexo ou sobre namoro. Só queria que ele fosse embora.

A ansiedade me consumia, e a necessidade de fazer algo me empurrava para a cozinha . Fiz chá para tentar acalmar meu nervosismo, mas a vontade de contar tudo para Nathan, de confessar o que estava acontecendo, me engolia por dentro. A culpa era dele, sabia disso, por ter deixado a porta aberta. Estava dormindo quando o imbecil saiu. E agora, toda aquela bagunça estava em cima de mim por isso estava com meu disfarce de novo.

Enquanto mexia na xícara de chá, a porta se abriu, e os passos de Nathan, sempre discretos, quebraram o silêncio. Ele estava tentando ser silencioso, se aproximando da sala sem fazer barulho. Peguei o chá, entre os dedos é com uma tosse forçada, chamei sua atenção.

- Onde você estava, porra, e por que não trancou a porta, Nathan? Não é a primeira vez que você chega tarde da noite... ou melhor dizendo da madrugada, né?

- Eu... eu saí e te acordei por acaso ,esqueci de trancar a porta -

ele disse, com um tom culpado na voz.

- De novo, Nathan? Não me acordou, já estava acordado mas, poxa, cuidado com a porta. Hoje o Lyan entrou aqui e me pegou dormindo.

Ele levantou uma sobrancelha, um brilho curioso nos olhos.

- Lyan? O que aconteceu? O que vocês dois fizeram, hein? - perguntou, com uma risada de canto.

Eu sabia o que ele estava insinuando sexo. Aquele ordinário...

- Não fiz nada com aquele tapado do Lyan. Mas, cara, tô em apuros. Não tô afim de te contar tudo agora, mas... - minha voz vacilou, e eu fiz uma pausa, tentando não mostrar o quanto aquilo me incomodava.

Nathan me olhou com mais atenção, a expressão se suavizando.

- E você? Tá transando, Nathan? Por acaso...

- Bem, eu... tô sim - afirmou , quase sem jeito, com o rosto tingido de vermelho.- Com alguém... mas segredo de estado, nem sob tortura vou contar quem é.

Ri sem humor, mexendo a colher no chá. O que estava fazendo da minha vida? Até Nathan estava se divertindo mais com a própria vida do que eu.

- Seja como for, Nathan, o corpo é seu, mas... me preocupo com você. Sei lá, me incomoda ver você se metendo em situações assim, sabe? Você merece mais.

- Leo, eu sei que você se importa. E agradeço. Mas não é da sua conta, cara. Eu tô bem. Eu sou... eu sou feliz assim.- respondeu olhando meio de lado , dando um sorriso forçado, mas não agressivo.

- Você não liga, Nathan? De ser segredo, de manter tudo nas sombras... não devia ser assim. Eu... eu me importo com você. Isso pode te machucar, e você não vê. - franzi a testa, incomodado com o modo como ele tentava se esconder atrás desse segredo.

Ele suspirou, os ombros relaxando.

- Eu sei que você se importa. Mas, sério, Leo, por favor, não tenta me proteger de tudo. Às vezes, a gente só precisa fazer o que nos deixa feliz. E me deixa em paz com isso, tá?-Nathan suspirou, relaxando os ombros a gentileza em sua voz me fez perceber que, apesar de tudo, ele estava tentando me proteger também.

Soltei uma risada nervosa, me sentindo perdido.

- Tá bom, Nathan. Vai descansar falta menos de três horas para aula. Só... por favor, fecha a porta da próxima vez , ok?

- Fechado.- respondeu, e antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, ele já estava indo para o quarto.

Fiquei ali, parado, com o chá esquecido na mão. Não sabia mais o que fazer, como lidar com tudo aquilo. Eu só queria resolver as coisas, mas parecia que tudo só estava se complicando ainda mais.

Não vou me meter. Não vou. Mal consigo resolver os meus próprios problemas. Eu... meu tem nome, sobrenome e uma marra infinita: Lyan Sales.

Fiquei ali no sofá, terminando meu chá enquanto respondia algumas mensagens. A primeira era do Ruan, meu amigo.

"Cara, tô saindo com uma gatinha mega linda. Acho que vai rolar beijo no fim de semana. Meu primeiro na faculdade. E você? Já beijou? Largou de ser BV?"

Revirei os olhos. Já tinha beijado, mas não ia contar que foi com um cara, muito menos por mensagem.

"Que legal, Ruan. Não surta. Tô de boa com beijos por enquanto."

Ele respondeu com uma gracinha, algo sobre eu acabar encalhado, mesmo sendo "mega gato". Nem dei moral. Já estava acostumado com as piadinhas dele.

Depois disso, fui checar as mensagens do meu pai. Como sempre, era mais do mesmo: preconceito puro, disfarçado de "conselhos".

"Espero que você esteja focado nos estudos. Nada de ideias tortas ou influências ruins. Não quero ouvir que está se desviando do caminho certo."

Suspirei, balançando a cabeça. Se ele soubesse que eu estava mexido por um cara, estaria ferrado.

Coloquei o celular de lado, tentando não pensar muito nisso. Tudo parecia mais complicado do que deveria ser.

...

...

Alguns dias haviam se passado desde a invasão de Lyan ao meu quarto. Desde então, ele estava grudado em mim como chiclete. Sempre com as mesmas provocações.

- E aí, Leonardo? Já decidiu? Sexo ou namoro? Porque, sabe, fotos às vezes... acidentalmente... acabam vazando.

Ele sorria como se tudo fosse uma brincadeira, mas eu sentia cada palavra como um soco. Não era só uma ameaça; era um jeito de me prender, de me fazer reagir.

- Dá um tempo, carrapato!- retrucava, acelerando o passo e tentando ignorar a raiva que queimava no meu peito.

Estava ciente que precisava me controlar. Qualquer outra reação só alimentaria o ego dele.

Enquanto acelerava o passo em direção à minha sala, Nathan apareceu, me alcançando. Ele tinha um sorriso debochado estampado no rosto.

- Pelo visto, seu pretendente voltou! Quem diria, hein? O coração do famigerado Coringa tá nas suas mãos, Leo. Tá arrasando, hein?

O fuzilei com o olhar, sentindo o sangue ferver.

- Não começa, Nathan. Já tô no limite com esse pé no saco!

- Relaxa, Leo. Tá na cara que ele tá só brincando. Você precisa aprender a curtir o flerte.

- Isso não é flerte, Nathan! - respondi entre dentes. - Isso é chantagem!

Nathan apenas deu de ombros e apontou para trás. Quando olhei, vi Lyan vindo na nossa direção. Ele tinha aquele andar confiante, quase teatral, como se fosse dono do corredor e de todos ao redor.

Soltei um longo supiro , parando no meio do caminho.

- Quer saber? - gritei, sem conseguir me conter. - Nunca, nem em mil anos, eu aceitaria nenhuma das suas condições, Lyan! Faz o que quiser com as informações que tem! Dane-se!

O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor. As pessoas ao redor pararam para assistir, e o sorriso habitual dele desapareceu. Pela primeira vez, vi ele abaixar o olhar. A confiança desapareceu, e no lugar dela surgiu algo que parecia... vergonha?

- Tá tudo bem, Leonardo. Esquece isso.- Sua voz saiu baixa, como um sussurro, antes de se virar e sair andando.

Eu não sabia o que sentir. Parte de mim se sentia aliviado por ele finalmente recuar, mas outra parte... outra parte não conseguia ignorar a expressão em seu rosto .

Puxei Nathan pelo braço, querendo sair dali o mais rápido possível, ele no entanto, não deixou passar.

- Caramba, Leo. Você humilhou o cara na frente de todo mundo.

- E daí? Ele mereceu.

- Será?- Nathan arqueou uma sobrancelha. - Nunca vi o Lyan abaixar a cabeça assim.

Mais comentários começaram a surgir ao nosso redor:

- Caraca, nunca vi o Coringa perder a pose. - Alguém murmurou.

- Acho que ele tava com lágrimas nos olhos.- Outra pessoa sussurrou.

Uma sensação de culpa começou a se instalar no meu peito, mas ignorei. Continuei andando, tentando afastar qualquer pensamento. Nathan, no entanto, quebrou o silêncio:

- Leo, você podia ter feito diferente, sabia?

- Ele me ameaçou, Nathan. Tava brincando com minha vida! Queria o quê? Que eu fosse gentil?

- Será? Porque, até agora, Lyan nunca fez nada público. E mesmo com tudo isso, ele só te provocava, Leo. Talvez ele não soubesse como lidar com o que sente. Você foi longe demais.

- Eu...

- Você nada , Leo. Todo mundo tá falando, mas a verdade é que ele nunca te tratou mal de verdade. Só estava chamando sua atenção. Você humilhou um cara que, talvez, gostasse de você de verdade.

Ele se afastou, deixando-me parado ali, com as palavras dele ecoando na minha cabeça.

Nathan sabia o que era ser tratado mal. Ele sempre enfrentou olhares e comentários por causa do peso. E ele tinha razão. Lyan nunca gritou comigo. Nunca tornou nada público. Apesar das ameaças, sempre foi cuidadoso deixado tudo no off.

Será que ele realmente gostava de mim?

- Merda.- Murmurei, enquanto me dirigia para a sala, um peso estranho no peito.

Agora, além de lidar com a culpa de ter machucado alguém, tinha que aceitar que Nathan, minha única constante ali, também estava decepcionado comigo.E eu... não sabia mais como consertar nada.

"Porra", murmurei, seguindo em direção à sala, com um peso no peito que não sabia como aliviar.

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