Jogos do coração.

...Lyan ....

Fazia alguns dias desde que Leonardo  gritou comigo no corredor, despejando aquelas palavras que ainda ecoavam na minha mente: que nunca ficaria comigo e que eu podia fazer o que quisesse com o que sabia sobre ele.

Não foi exatamente humilhação que senti. Era algo mais profundo, quase como se meu coração tivesse se partido. E pensar que eu acreditava que só queria sexo com ele.

Decidi me afastar por um tempo. Tudo o que antes parecia tão claro na minha vida agora estava turvo, quase irreconhecível. Mas, no fundo, eu sabia o que causava esse vazio estranho. Ele tinha nome e sobrenome: Leonardo Montenegro. Era ele que faltava. Como dois beijos e alguns segredos podem bagunçar tanto alguém? Isso não pode ser amor... ou pode? Não sei exatamente o que sinto, mas sei que dói estar distante.

Resolvi tentar algo diferente. Falar com ele, mesmo que fosse confuso. Devolver a foto seria uma boa desculpa. Talvez uma abordagem mais direta ajudasse. Enchi-me de uma determinação nervosa e fui até ele.

Assim que Leonardo abriu a porta, disparei: — Léo, eu trouxe sua foto, cara. Não me parece...

Antes que eu pudesse terminar, ele aguarrou meu braço com força inesperada, entrelaçando ao dele. A urgência no olhar dele era clara.

— O que tá fazendo? — resmunguei, desconfortável e sem entender nada. Depois do fora em  público, essa atitude só deixava tudo ainda mais confuso.

— Fica quieto e me ajuda, por favor, pelo amor de Deus!  — ele sussurrou no meu ouvido, praticamente implorando.

— Suspeito... — resmunguei pra mim mesmo, minha mente ainda em um turbilhão de perguntas. Foi então que meus olhos se fixaram em André Lacerda, sentado no sofá como se fosse parte da mobília. Meu cérebro demorou alguns segundos para processar a cena. O que diabos estava acontecendo ali? Que bagunça era aquela?

Mas o olhar de alívio de Leonardo ao me ver disse tudo. Ele precisava de mim ali, mesmo eu sendo o "encrenqueiro" que estava enchendo ele.

André me encarou com um desafio silencioso, como se estivesse medindo forças. Seu olhar se fixou nos nossos braços entrelaçados, e naquele instante soube que algo importante estava acontecendo. Meu coração martelava no peito, e a visão ao redor parecia embaçada. Só consegui ouvir Leo dizer, como se estivesse selando algo:

— Ele é meu namorado.

Aquelas palavras ressoaram dentro de mim como uma explosão. Eu só tinha vindo entregar a foto, mas ouvir aquilo da boca dele...

— Né, amor? — Leonardo  continuou, me puxando de volta dos meus devaneios.

— Sim, amor, sou seu namorado — respondi, o veneno no olhar. — Mas você vai pagar por tudo isso depois.

Não se iluda, estava gostando disso, mas ainda assim era irritante saber que ele estava me usando para sair dessa situação. Que ironia: preferir fingir um namoro comigo a dizer a verdade. Mas, de algum jeito, eu faria isso virar algo real.

André finalmente saiu do estado de choque.

— Como isso é possível? O Leo sempre foi hétero, pelo menos foi o que me lembro. Na época, eu até o deixei em paz por isso. Mas ver ele aqui... isso me deu esperança.

— E, cara... — interrompi, puxando Leonardo ainda mais para perto de mim, aproveitando a chance para provocar. — Ele percebeu a verdade quando me conheceu, sabe.

— Que coisa... Como o Leo pode ser gay? Mas, e esse disfarce? — André perguntou, estreitando os olhos, claramente intrigado.

Já tinha notado que ele parecia conhecer Leonardo de algum lugar, talvez da época de colégio. Mas o que importava agora era o óbvio: Leonardo não me contou tudo. Ele tinha segredos, e isso explicava por que estava me usando assim.

— Porque sou possessivo e ciumento, sabe? Leo é tão lindo que pedi para fazer isso por mim... — respondi, olhando diretamente para ele , que soltou um suspiro de alívio.

André se levantou rapidamente do sofá e, antes de sair batendo a porta, disparou: — Tô com inveja de você, Sales. Cuida dele como se fosse sua vida, então.

— Vou cuidar — respondi com sinceridade. Apesar de toda a confusão que esse rolo trouxe, era a mais pura verdade: eu cuidaria dele, sim. Mas ao ouvir a porta bater com força, não consegui evitar o sarcasmo:

— Vish, o André não curtiu muito ser rejeitado por você, né, Leonardo? Foi épico! — falei, soltando uma risada irônica.

Assim que André saiu, Leonardo me empurrou levemente, o gesto cheio de impaciência.

— Já chega! Sai de perto de mim, Lyan.

— Opa, querido, quem me agarrou foi você. Acha que as coisas funcionam assim? Me usa e agora me descarta? Nada disso, tá ouvindo? Não sou seu objeto! Que palhaçada é essa agora? E, só pra sua informação, vai ter que continuar fingindo que é meu namorado ou ele volta. Como você mesmo disse antes, amor.

— Olha, Lyan, eu não quis te usar, tá legal? Só que você apareceu na hora em que eu estava apavorado e foi a desculpa perfeita. Já sabem que te roubei um beijo há um tempo. Não te vejo como um objeto, me desculpa. Mas não me chama de amor ou namorado, ou te mando calar a boca, tá ouvindo? Vai embora.

— Hum... — murmurei, chateado. Ele tinha me usado, sim, mas, admito, até tinha gostado um pouquinho. Era minha chance de ficar perto dele. Tá, me julga, eu sei, tenho dependência emocional, gosto de quem me despreza. — Sabe, não foi isso que ouvi um minuto atrás. Quer saber? Vou embora e conto pro André a verdade sobre o que rolou aqui.

Virei para sair, mas ele me puxou pelo braço, com uma urgência que me surpreendeu.

— Não faz isso, por favor.

— Nossa, que brutalidade. Não sabia que você curtia uma relação assim, Leonardo.

Ele ficou vermelho como um tomate, os olhos arregalados. Era tão safado, mas havia  insinuado mesmo.

— Você realmente é meu azar, né? Que merda. — Ele resmungou, me soltando.

— Hmm... azar que você segue até a morte porque gosta, querido.

— Poxa, Lyan, eu não tive escolha, entendeu? Você poderia ser mais legal comigo. — André é maluco por mim desde o colégio. Isso não é normal pra mim. — Leonardo completou.

— Deixa eu ver se entendi. Ele é meio doido por você, né? E o que eu tenho com isso, Leonardo? Por acaso, você achou que podia me usar só porque sou um valentão? Não passou pela sua cabeça, loira, que eu sou um ser humano e também tenho sentimentos? E agora quer que eu seja legal depois de me usar e me descartar? Meu caro, não sou conhecido por ser gentil, e você sabe muito bem da minha fama. — Falei, indignado.

— Eu... eu sei, Lyan.Não quis te usar, poxa, me entende! Eu te expliquei! — Respondeu, quase implorando.

— Que pena. Já que você disse que sou seu... — falei, beijando a ponta do nariz dele com um sorriso irônico. — Se você não ficar comigo, ele vai perceber que é mentira, querido.

Ele corou imediatamente, murmurando:— Tá bom. Você tem razão, seremos namorados. Mas...

Me afastei e arqueei as sobrancelhas, já antecipando que ele não ia deixar de ser complicado.

— Sempre tem um "mas", né, Leonardo? Qual é o seu? Se for razoável, talvez eu ature.

— Que você não me force a te beijar ou ir pra cama com você... —  disse, completamente vermelho, sem saber onde se esconder.

— Claro, Leonardo. Seus termos são aceitáveis. Nada de forçar. — Sorri de maneira divertida, já imaginando que, no fim das contas, ele mesmo ia querer meus beijos e tudo acabaria rolando de forma bem natural.

Ele me acompanhou até a porta em silêncio, claramente irritado com a bagunça que tinha criado, mas eu estava feliz pra caramba. Ao chegar na porta, dei um passo "por acaso" e fui beijá-lo. Claro que não perderia a oportunidade de provocar. Ele recuou levemente.

— Que peninha... — ri suavemente, vendo ele bater a porta nas minhas costas.

Saí dali com um sorriso no rosto. Quem diria que eu, Lyan Sales, teria uma relação um dia? Porra, vou proteger isso, mesmo que me custe a vida. Que ano maluco esse meu.

Capítulos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!