Segredos e revelações.

...Lyan....

Depois do incidente de ser beijado pelo nerd, aquele maldito dia não sai da minha cabeça. Já fazem cinco dias, e ainda é como se tivesse acontecido ontem. Tentei de tudo para tirar isso da mente, até beijei um cara aleatório no campus ontem à noite, mas não adiantou. Toda vez que fecho os olhos, só vejo aquele olhar confuso e aqueles óculos tortos. É insuportável. Preciso encontrar aquele cara.

Caminhando até a sala, noto as pessoas se afastando, como sempre. Minha reputação me precede, mas nem ligo. Sim, bati naquele idiota no ano passado e faria de novo. Ele tentou me forçar a algo que eu não queria, como se "não" fosse opcional. Mereceu cada soco que levou. Não perco tempo olhando para ninguém; que se danem. Minha cabeça está ocupada demais pensando naquele nerd que parece ter desaparecido do mapa. É quase como se soubesse que estou procurando por ele. Não é possível alguém ser tão bom em se esconder.

Esse campus é gigantesco, o que não ajuda. Meu curso é Administração, e ele claramente escolheu algo bem longe daqui. Vai ser um pesadelo achá-lo, mas jamais vou desistir.

Quando entro na sala, o barulho diminui imediatamente. Alguns olham para mim com admiração, outros parecem prender a respiração, como se fossem explodir a qualquer momento. Simplesmente ignoro e vou direto para o meu lugar. O silêncio é quase confortável agora, mas minha cabeça não está aqui.

A professora Valéria entra logo em seguida. Como sempre, impecável. Ela é trans, linda e dona da melhor didática que já vi. Se pudesse, anotaria até o jeito como respirava, de tanto que gosto de sua aulas. Assim que ela começa a falar, me perco em suas explicações. Tento manter o foco, rabiscando as anotações, mas meu cérebro insiste em me trair.

A cada pausa, a imagem do nerd volta. E junto com ela, meu meio-irmão James e aquele diretor desgraçado que parece fazer questão de tornar minha vida um inferno.

Preciso resolver isso logo. Esse misto de obsessão e raiva vai acabar comigo.

Finalmente, o sinal toca, praticamente salto da cadeira. Pego um lanche rápido na cantina e saio, decidido a continuar minha busca pelo nerd. Já faz quase meia hora que estou andando pelo campus, mastigando o último pedaço do lanche, quando avisto a área de fumantes. Perfeito. Acendo meu cigarro, respiro fundo e decido usar o tempo para algo útil.

Pego o celular, abro o grupo da faculdade e mando uma mensagem direta. Preciso de um encontro com o diretor Wilhian Sartore. Não demora muito para a supervisora Elaine responder.

Como sempre, ela é direta e cheia de si: — Pode vê-lo depois das aulas da manhã.

"Egocêntrica insuportável", penso, mas respondo com um agradecimento seco. Apago o cigarro, jogo a bituca no cesto e volto para a sala.

As três horas seguintes parecem um castigo. Minha mente está um caos, alternando entre pensamentos e minha própria frustração. Quando o último sinal toca, sou o primeiro a sair. Jogo a mochila nas costas e sigo direto para a sala do diretor.

Ao entrar, ele está concentrado em um documento, mas desvia os olhos brevemente para mim antes de voltar à papelada.

— Pediu para conversar comigo? Que surpresa, Lyan. Imagino que precise de algo — balbuciou, sem tirar os olhos do que está fazendo.

Meu sangue ferve. Esse desgraçado nunca perde a chance de me irritar. Respiro fundo, tentando manter o controle.

— Sim, preciso de informações sobre um estudante.

Ele finalmente levanta a cabeça, me encarando com aquele olhar de superioridade que odeio.

—  Que tipo de informação?

Cruzo os braços, impaciente.

— Sobre um calouro que me beijou no primeiro dia de aula. Tenho certeza de que já sabe sobre isso.

Wilhian sorri de canto, claramente se divertindo com a situação.

— Talvez eu saiba. Mas, como deve imaginar, não posso passar informações de um aluno para outro.

Minha paciência se esgota. Dou um passo à frente, encarando-o. A provocação me escapa sem pensar:

— Pelo amor de Deus! Só o nome e o curso! Preciso resolver isso!

Ele ergue as sobrancelhas, claramente não intimidado, e diz com uma calma exagerada:

—  Garoto, se fosse você, abaixava o tom comigo. A hierarquia nesta faculdade é levada muito a sério.

Engulo a raiva e me lembro das cláusulas do testamento. Se eu ofendesse esse homem, adeus à herança.

—  Peço desculpas pelo meu tom, diretor Wilhian Sartore. Mas isso é importante para mim —  apresso-me a dizer, num tom acuado. Desviando  o olhar para meu tênis preto.

Fito-o novamente ,mas Wilhian  balança a cabeça, sem se importar.

— Como eu disse, não posso ajudar. Tenho mais o que fazer. Com licença.

Ele começa a sair, e eu fico ali, mexendo nos meus cabelos negros , frustrado.

— Maldito filho da puta—  murmuro, irritado.

Quando vou me virar para sair, noto algo no chão. Uma foto caída. Parece ter escapado da pasta que ele segurava. Normalmente, não me importaria, mas algo na foto me chama atenção. Pego-a e olho com cuidado.

Meu coração acelera. É o nerd! Mas... sem os óculos ou todo aquele disfarce. Fixo melhor o olhar. Como ele conseguiu ficar tão diferente? Ele é muito mais atraente do que parecia.

Sinto um frio na barriga e penso: O que está acontecendo aqui? Por que esconder isso? Qual segredo obscuro ele esconde por trás de tudo isso? Aí tem coisa.

— Isso vai ficar comigo — afirmo , guardando a foto no bolso preciso de uma prova.

Antes que pudesse sair, o diretor entra novamente, provavelmente para buscar algo. Ele para na porta, me encarando.

—  O que faz aqui ainda, Sales?

Forcei um sorriso que não alcançou meus olhos .

— Nada. Já estava de saída.

Saio rapidamente, sem dar chance para mais perguntas. A foto agora é minha arma secreta. Algo não se encaixa, e vou descobrir o que é.

Mais tarde, me escondo atrás de uma árvore no campus, observando o movimento. Pego a foto do bolso e olho novamente. Nerd, você é um mistério ambulante. O que está tentando esconder?

Enquanto estou perdido nos pensamentos, dois caras se aproximam, sem notar minha presença.

— Finalmente um respiro pra gente —  diz um deles, o gordinho.

— Verdade, um descanso to morto —  comenta o outro, rindo.

Meus olhos focam no segundo rapaz. É ele! O nerd. Tento controlar o entusiasmo, mas minha mente já está no modo detetive.

Espero até ele se afastar e começo a segui-lo discretamente. Ele caminha para a ala norte do campus. Agora tudo faz sentido. É por isso que não o encontrava antes. Meu curso fica na ala sul.

Sorrio, determinado.— Me aguarde, nerd misterioso. Mais tarde, vou desvendar isso tudo, nem que tenha que fazer alguma loucura.

E assim, começa meu jogo.

Volto para meu apartamento , como sempre, não tenho que dividir com um colega. Nenhum cara que se preze aceitaria morar comigo.

Me jogo no sofá da sala. Quando entro em casa, a primeira coisa que faço é olhar novamente para a foto, passando o dedo pela imagem.

"Ah, você é definitivamente intrigante..."

Acabo adormecendo com a foto ainda nas mãos. Quando acordo, já está completamente escuro.

— Merda!— resmungo, me levantando rápido.

"Sera que nerd saiu." Tomo um banho rápido, me recompenso com a torta de frango que fiz ontem e sigo, discretamente, para a ala dele . Ao chegar lá, fico escondido atrás de uma pilastra. Vejo um cara gordinho que estava com ele mais cedo sair, todo arrumado. Como hoje é sexta, provavelmente está indo para a balada. Ele se afasta, e então bato na porta do apartamento do nerd. Meu coração dispara por uma razão que não entendo completamente. Vou dar um susto nele e investigar por que  esta disfarçado. Na foto, parecia ser ele. Não sou burro.

— Esqueceu a chave de novo? —  Ele para a frase no meio quando me vê. Sua expressão é de dúvida, não de medo.— Quem é você, afinal de contas?

— Uau, assim você parte o meu coração. Nem mesmo me reconheceu? — Falo com um sorriso debochado, tentando brincar com a situação.

— Desculpa, mas acho que você está me confundindo com alguém. Não te conheço.

— Talvez isso ajude a refrescar sua memória...— digo, interrompendo-o com um beijo nos lábios. Ele fica em choque, mas minhas mãos vão até sua  camisa o puxando para mais perto. O beijo é tão intenso que me sinto completamente tomado pela emoção, como se algo despertasse dentro de mim. Ele inicialmente congela, mas depois me corresponde. Me empolgo ainda mais, como um reflexo, minha língua invade sua boca .

— Sai de perto de mim! — Ele grita, me empurrando levemente. Fico surpreso pela intensidade do momento, mas uma parte de mim ainda quer mais.

Deveria estar irritado ou, pelo menos, ameaçar com a foto que encontrei, mas o choque do beijo ainda me toma. Tento me recompor, mas algo dentro de mim não consegue. Mesmo com a raiva, um sentimento diferente está surgindo.

— Ah, então você agora se lembra de mim?— questiono, com uma voz mais zombeteira, tentando mascarar o que sinto.

Ele parece confuso, e eu também estou. Mas o mistério que o envolve é ainda mais forte.

—Você é o cara que eu beijou no primeiro dia? O Lyan Sales? — respondeu, balançando a cabeça em descrença, tentando processar o que aconteceu.

— Esse mesmo.— afirmo dando um passo à frente. Ele recua imediatamente. — Você foi o cara que me humilhou na frente de todo mundo na faculdade.

— Não foi bem assim. Foi só um beijo. Eu não queria te humilhar.Não tive escolha! — balbuciou, quase em um sussurro colocando a mão no meu peito.

Sinto um arrepio com o toque e dou um passo para trás para me afastar.

— O que você quer dizer com "não teve escolha"?

Ele respira fundo, tentando se acalmar, e diz: — O diretor Wilhian me enganou. Disse que eu precisava beijar alguém para permanecer na faculdade.

— O diretor...? — repito, confuso. Meus pensamentos se embaralham.

— Sim, cara. Você estava sozinho, eu sem tempo e opções. Juro, nada pessoal.

Ele parece genuíno, mas há algo na maneira como fala me deixa com uma pulga atrás da orelha. Fico em silêncio por um instante, tentando digerir tudo. Uma parte de mim acredita que ele está sendo sincero , mas a outra parte não consegue evitar a sensação de que algo não está certo.

— Então... você não esta afim de mim?

— Pergunto, com receio de ouvir a resposta.

— Não! — confimou rápidamente , sem hesitar. — Por que eu gostaria de te beijar quando...

— Quando o quê?

— Quando você não faz meu tipo. Não gosto nem um pouco de você.

O observo, estudando sua expressão encarro seus lábios levemente abertos, tentando entender da onde vem esse incômodo . Algo nele parece desconfortável, mas não consigo entender completamente.

— Interessante...— Comento, tentando esconder a frustração que sinto. Parte de mim, no fundo, está machucado, não sei se é pela rejeição ou por outra razão. Tento disfarçar e me recompor.

— Essa é a primeira vez que ouço algo assim.

De repente, me viro, sentindo a necessidade de sair dali, meu coração dói. Deve ser porque é a primeira vez que sou rejeitado de forma tão direta.

— Então, você me perdoa? — perguntou, com uma leve hesitação na voz.

Penso por um momento, lembrando da foto no meu bolso. Não posso deixar isso passar. Vou descobrir tudo sobre ele, nem que seja a última coisa que faça.

— Eu ia apenas te dar uns tapas, mas...

— Respondo, a voz mais baixa e cheia de tensão.

— Mas o quê?— Ele parece nervoso.

— Você está escondendo algo, e eu não vou descansar até descobrir o que é. Custando o que custar.

— Não estou escondendo nada! —  comenta ,irritado.

— Ah, está sim. E não vou parar de te atormentar até que me conte a verdade.— Digo, com um tom mais decidido.

Saio do apartamento dele e volto para o meu. Jogo-me na cama, exausto e ainda confuso. Inferno, estou mexido com aquele segundo beijo. Talvez seja por causa da rejeição ou pela foto ou, ainda, pela curiosidade que se tornou algo mais profundo.

Murmuro para mim mesmo enquanto olho para o teto:— Isso é culpa do maldito diretor. Não minha. Aposto que armou tudo, e agora estou no meio dessa bagunça.

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