Em fuga.

...Leo....

Meu objetivo se resumia a evitar o André e o Lyan, mas parecia que um deles havia evaporado. O único que eu encontrava era o André; onde quer que eu fosse. Sempre logo atrás de mim, como uma sombra que não se afastava, sua presença era constante.

Nem sequer almoçava mais no refeitório por causa disso. Não queria ser visto, não queria que nenhum deles me encontrasse. Meus dias estavam ficando extremamente estressantes; a angústia crescia e se intensificava a cada instante, afundando meus pulmões e dificultando minha respiração. A qualquer momento, eu poderia ter um colapso. Tudo o que mais desejava era um pouco de paz.

— Por que eu não aceitei namorar o Lyan? Estaria livre do André... —  resmungo, enquanto volto para o meu apartamento. Ao entrar, encontro o Nathan lá, com a marmita que havia  comprado.

—  E aí, Leo, como você tá? Comprei almoço pra você hoje — Nathan fala mostrando a sacola que exala o cheiro acolhedor de arroz e feijão. O aroma me faz salivar instantaneamente.

— Tô no inferno, cara. O André é pior que o Lyan, acredita?—  respondo, pegando a marmita e me sentando à mesa, já aliviado pela presença familiar do Nathan.— Te devo uma, viu.

—  Não deve nada, amigos são pra isso, Leo. Mas tô vendo que a coisa tá feia mesmo... Você viu o Lyan hoje. Aliás, vi o André no caminho pra cá, mas ele não me viu —  Nathan comenta, dando-me um olhar de canto de olho, tentando medir minha reação.

— Inferno, ele te seguiu? Eu não vi o Lyan. Não sei se isso é bom ou ruim. Ele sumir pode ser pior—  resmunguei , já começando a comer. A comida parecia ser o único refúgio no momento.

—  Bem, ele não me seguiu, mas pela  manhã, bateu na porta. Só que você já tinha ido pra sala de aula . Então acho que pensou que você estava em outro lugar, talvez—  Nathan explica, fazendo uma pausa. Ele estava observando meu rosto enquanto falava, como se tentasse encontrar algo ali.

—  Sinto muito, Nathan, por estar te envolvendo nisso tudo, cara. Não quero te arrastar pra essa bagunça —  digo, o olhar culpado fixado em meu prato, os sentimentos de frustração e cansaço se misturando. Não queria que meu amigo tivesse que lidar com minhas confusões.

—  Tá tudo bem, Leo. Você é meu amigo, e é para isso que amigos servem. Relaxa, tô até animado de ser seguido por um popular. Dá até autoestima, o gordinho aqui tá se dando bem —  ele ri levemente, o tom de voz descontraído como sempre, tentando aliviar a tensão.

— Ah, vá, você tá aproveitando da minha agonia —  respondo, rindo levemente com a maneira única do Nathan de lidar com tudo. Ele sempre tinha essa forma de transformar até as situações mais incômodas em piadas.

—  Só um pouco, Leo —  afirmou , dando de ombros e soltando uma risada.

Meu sorriso se amplia. Mesmo no meio desse caos completo, onde as coisas pareciam estar desmoronando ao meu redor, ele era meu amigo. Nathan me fazia rir, me ouvia e me ajudava, sem pedir nada em troca. Termino de comer, escovo os dentes e, com um suspiro, digo:

— Vamos para a aula. Modo furtivo, viu?

—  Modo furtivo, então — ele afirmou , se esgueirando com um sorriso travesso no rosto.

Dando uma leve risada com o jeito dele, digo: — Você é um palhaço, Nathan. Mas sério, se precisar de qualquer coisa, me diz. Você tá me ajudando muito ultimamente.

— Para de ser sentimental, Leo. Já disse, somos amigos, seu idiota.

Estava prestes a responder, quando a voz insuportável do Lourenço cortou o ar. Achei que, com o Lyan fora do meu radar, ele também iria desaparecer, mas aparentemente  estava errado.

—  Nossa, que cena mais comovente —  comentou, com uma voz sarcástica, a irritação óbvia na sua expressão.

Revirei os olhos e, entre os dentes, respondi:—  O que você quer agora, caramba? O Lyan nem tá me seguindo há um tempo.

Lourenço dá de ombros, como se a minha resposta não fosse sequer digna de atenção.

— Na verdade, só estou surpreso com o quanto seu gosto por homens diminuiu ultimamente. Primeiro o Lyan, depois o André, e agora esse gordo ridículo.

— Ele não é ridículo, dá de dez a zero em você, seu mané idiota. E, aliás, minha vida não é da sua conta, sabia?

—  respondo, a raiva começando a ferver dentro de mim. Lourenço sempre tinha essa habilidade de me tirar do sério com sua boca venenosa.

— Olha só, defendendo o gordinho. Até combina: um feioso e um gordo, um belo par —  ele sorri, seus olhos cheios de desprezo enquanto nos olha, com uma expressão de nojo. Filho da puta.

— Seu desgraçado, como ousa ofender meu amigo! — já estava a ponto de bater nele quando Nathan, com uma expressão séria, segurou meu braço.

—  Não faz isso, Leo, por favor, esquece! — Nathan implora, os olhos dele suplicando, o tom de voz preocupado. Aquelas palavras me pararam no meio do movimento, e minha confusão fez meu braço relaxar. A tensão ainda estava ali, mas algo no jeito dele me fez baixar a raiva, ainda que difícil.

E como se tivesse um timing perfeito, no exato momento em que eu me acalmava, o professor Igor apareceu na porta da sala, interrompendo tudo.

—  O que vocês estão fazendo aqui fora? - Igor diz, cruzando os braços com um olhar de desaprovação. — Já para a sala, todos vocês.

Nathan me deu um leve aceno de cabeça e, sem dizer mais nada, se afastou. Aproveitei o instante para me aproximar de Lourenço e, com a voz baixa, sibilante, murmurei:

—  Um dia eu vou te bater até arrancar sangue, você tá abusando.

Ele sorriu, aquele sorriso arrogante que me tirava do sério, e respondeu com ironia:

— Tenta, Montenegro, tenta!—  E, com um olhar desdenhoso, entrou na sala, se afastando de mim com aquele sorriso de quem sabia que, por enquanto, tinha vencido.

Estava furioso, mas não por mim. A raiva vinha de ver Nathan sendo desrespeitado por Lourenço, sendo que ele era a única pessoa que estava ao meu lado naquela faculdade.

A aula de arte até passou rápido, com muitas explicações teóricas que eu mal prestei atenção. Quando finalmente acabou,fui o último a sair, apreensivo, com medo de encontrar o André me esperando ou de o Lyan aparecer do nada. Eu só queria ir para o meu apartamento em paz. Para me distrair, comecei a caminhar devagar, tentando adiar o inevitável. Olhava várias vezes para os lados, me certificando de que ninguém estava por perto.

Decidi pegar uma rota diferente, mais cansativa, só para evitar qualquer um dos dois. Mas, no fundo, eu sabia que a decisão era arriscada. Quando cheguei no apartamento, fui surpreendido.

—  Você acredita, Nathan, .... — meu sorriso morre. A frase fica presa na garganta quando vejo aqueles olhos cor de avelã me observando do sofá. - André...—  sussurro incrédulo.

Nathan, que tinha acabado de sair do quarto, me olha com uma expressão de desculpas.

—  Sinto muito, Leo, mas...— ele tenta explicar, mas não consegue terminar. Ele faz menção de sair, mas o André já está ali, esperando, e Nathan parece meio perdido, sem saber o que fazer.

—  Você poderia ter me avisado antes, Nathan! Fiz um percurso maior hoje só para evitar ele, poxa! — Reclamo, cansado dessa situação. Sinto que essa poderia ser a solução para me livrar dele de vez.

Nathan parece envergonhado. —Sinto muito, Leo, não tinha como... Eu teria avisado, mas... já foi.

—  Onde você vai?—Falo mais alto do que planejava, a ansiedade tomando conta de mim. Não estava no meus planos ficar sozinho com o André.

—  Olha, Leo, eu lamento, mas esse papo é entre vocês dois, cara.Não vou ficar aqui. O André pediu um momento a sós com você.— Nathan faz uma pausa e, antes que eu pudesse implorar para ele ficar, Nathan já estava saindo, escuto a porta bater mais forte do que o normal.

— Isso é péssimo...—  resmungo para mim mesmo.

Agora, sozinho, com o André ali, o desconforto só aumentava. Me mantenho estático no lugar, esperando que ele falasse alguma coisa. Sinto meu coração acelerar, uma mistura de medo e ansiedade me consome.

— O que você quer de mim, afinal? —  Pergunto, a voz baixa, tremendo por dentro.

—  Então, Leo, como você tá? Me explica... Seu pai não é muito fã das pessoas que estudam aqui, não é?—

Ele me encara com uma expressão de curiosidade.

André sabia sobre meu pai, e isso me fazia me sentir vulnerável. Até um gato na rua em Vale Azul sabe o quão complicado é ser filho dele, e o fato de eu estudar aqui parecia ser um choque para quem soubesse do meu passado.

— André, eu...

—  Ah, você lembra de mim, então? —  André sorri de forma irônica.

— Claro que lembro— respondi hesitante. — Você me deixou sem graça naquele dia no jogo, quando se declarou.

— Hum, você lembra mesmo? —  Ele faz uma pausa, me observando com um olhar mais atento. —  Me diz, o que você faz aqui? Pelo que me lembro, você se dizia hétero até a morte. E outra, porque esse disfarce todo?

Eu podia contar meu segredo, mas sabia que ele tinha uma obsessão por mim. Isso não era amor, não tinha como ser. Tentei formular uma resposta, mas a pressão aumentava, e eu só queria sair dali. A salvação veio de um lugar quando escutei alguém bater a porta .

— Com licença, André, preciso atender , pode ser algo importante, talvez o Nathan tenha esquecido alguma coisa.— Falei rápido, tentando me desvencilhar da conversa, correndo até a porta.

No exato momento que abro, ouço a voz de Lyan do outro lado.

—  Leo, eu trouxe sua foto, cara. Não me parece...— Ele começa a falar, mas não dou tempo dele terminar.

O puxo para dentro, sem nem deixar ele responder.

—  O que tá fazendo? —  Lyan resmunga, desconfortável.

—  Fica quieto e me ajuda, por favor, pelo amor de Deus! —  Imploro, sentindo que era minha última chance.

Ele me olha com desconfiança, mas acaba cedendo, andando comigo até a sala. André, ao ver a cena, franze a testa e pergunta:

— O que significa isso aí?

Me vi preso em outra confusão, mas essa, pelo menos, sabia como lidar. Lyan, ao meu lado, lança um olhar rápido e sussurra algo incompreensível, enquanto aproveito a oportunidade para explicar:

—  Então, tô aqui por causa do Lyan —  digo, tentando manter a calma, mas sentindo o peso da situação. —  Ele me entende, e não vai me atracar como você André.

—  Que... —  André está atônito, sem acreditar no que ouve. — O que você quer dizer com isso?

— Quero dizer que vim para cá por causa do meu namorado. — Olho de relance para Lyan, nervoso, e espero que ele não me desminta.

Lyan, como se não houvesse mais volta, me dá um olhar ameaçador.

—  Seu namorado?— repete André, incrédulo, como se tentasse processar a informação.

Lyan, ao meu lado, suspira profundamente, claramente não muito satisfeito com a situação, mas mantendo a fachada. Ele segura meu braço de leve, talvez para me lembrar de que, depois disso, eu teria que dar muitas explicações.

— Sim, o Lyan é meu namorado, né, amor? — Respondo, dando o melhor sorriso.

Lyan dá um leve empurrão no meu braço, sua expressão de quem claramente não está nada feliz com a situação. Ele me encara com um olhar que poderia perfurar até uma parede.

— E sim, amor, você é meu namorado.

— Ele diz com uma calma que esconde ameaça. —  Mas vai pagar por tudo isso depois.

Engulo em seco, sentindo meu corpo inteiro pesar. Estava morto; tinha sido um tiro à queima-roupa. Ou, pelo menos, era assim que me sentia. Tudo bem, o André estava claramente derrotado por enquanto, mas a confusão não parecia nem perto de acabar.

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Elza Lima

Elza Lima

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2025-02-07

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