A missão.

...Léo ...

Na manhã seguinte, acordei com o som do celular tocando insistentemente, e minha barriga, parecia estar em greve, protestava com uma fome avassaladora. Não tinha comido na noite anterior, o único alimento que ingeri foi o café da manhã rápido na minha casa, todo este caos e tensão me deixaram com um nó no estômago. Meu corpo pedia algo, e minha mente, ainda atordoada pela ansiedade do dia anterior, conseguia pensar somente  em saciar essa necessidade urgente.

Levantei da cama com preguiça. Corri para o banheiro, tomei um banho rápido, sem me preocupar com os detalhes, apenas sentindo a água quente batendo na pele. Após me vestir, peguei as malas que estavam jogadas no canto do quarto. Cada item que  arrumava parecia mais um lembrete de que me encontrava em um lugar novo, que tudo havia mudando, e, mesmo assim, ainda sentia um grande vazio.

Fui até a área de refeições do hotel , onde o cheiro de comida no ar me fez acelerar o passo. Peguei uma fruta na mesa e comecei a morder enquanto caminhava.

Corri até a praça, com o coração acelerado, temendo me atrasar. Quando cheguei, avistei um ônibus de modelo luxuoso parado. O veículo brilhava sob o sol da manhã, com detalhes dourados nas laterais e vidros escuros que davam um ar misterioso ao interior.

"Como pode?", pensei, impressionado.Esse veículo deve ter custado uma fortuna. A carroceria reluzente parecia um convite para entrar e descobrir o que havia por dentro.

Ao meu redor, a praça estava relativamente tranquila. O som suave das folhas das árvores balançando com a brisa se misturava com o zumbido distante de conversas e o som das calçadas sendo pisadas por pedestres apressados. O burburinho da cidade parecia distante aqui, como se aquele pequeno pedaço de mundo tivesse um ritmo diferente, mais calmo.

Me aproximei do motorista, que estava parado ao lado da porta do ônibus. Ele se vestia como um chofer chique: terno escuro impecável, gravata preta bem ajustada e um chapéu clássico que parecia de outra época. Sua postura ereta e seu olhar atento davam-lhe uma aparência ainda mais austera. Quando ele me viu se aproximando, fazendo um leve aceno com a cabeça, mas sem sorrir. A elegância do homem parecia combinar perfeitamente com o veículo ao qual estava associado, criando uma cena que, para mim, parecia saída de um filme antigo.

— Senhor, este ônibus vai para Abradaque?

— Sim, senhor. Este mesmo. Ele logo partirá para faculdade Raiwbow, só  me deixa ver sua carta de admissão.

Peguei o documento que estava na minha mochila e estendi  em sua direção, ele avaliou rapidamente antes de devolver.

— Tá tudo certo, senhor. Pode entrar. Partiremos em quinze minutos. Ache um lugar.

Subi no ônibus, a porta fechando atrás de mim com um estalo que soou alto no silêncio momentâneo. O som das conversas ao redor me envolveu rapidamente — várias pessoas falavam alto, com risadas, palavras desconexas, mas não dei atenção. Apenas procurei um lugar que não  tivesse um banco ao lado, onde eu pudesse me acomodar sem ser incomodado. Alguns passageiros olhavam pela janela, outros mexiam no celular, mas nada disso me interessava agora.

Enquanto passava por um corredor estreito entre as fileiras de cadeiras, escutei, baixinho, dois rapazes comentando sobre a minha aparência . A voz deles, apesar de baixa, cortou o barulho das conversas em volta.

— Você viu que nerd feioso esse aqui atrás? Espero que a faculdade tenha caras bonitos.

— Eu vi, bicha. Cruzes, não sabe se vestir.

Fiquei em silêncio e dei de ombros, tentando ignorar o comentário. Sentei e me acomodei, fechando os olhos por um momento. Não queria que se interessassem por mim. Minha cabeça estava cheia de pensamentos e a última coisa que precisava era disso.

Antes da viagem começar de fato, o motorista se levantou da sua cabine e se dirigiu à frente do ônibus, colocando a mão na parte superior do banco, como um comando. A voz dele, firme e clara, cortou o zumbido das conversas.

— A viagem é de uma hora no mínimo. Só paramos em um restaurante que fica meia hora da faculdade. Então relaxem e usem o cinto.

Com isso, o som do ônibus começando a roncar, os motores se aquecendo, e a sensação de movimento começou a me envolver. As palavras do motorista ficaram no ar por um momento enquanto todos procuravam ajustar os cintos de segurança, e logo o ônibus começou a seguir seu caminho, deixando para trás a praça rumo para um novo destino.

Quanto mais me aproximo de Abradraque , mais o medo ia  crescendo dentro de mim. O tempo parece passar rápidamente , e logo chegamos ao restaurante. O motorista para o ônibus com um estrondo e se vira para nos falar, com voz autoritária.

— Meia hora para comer, usar o banheiro e voltar para o ônibus, sem desculpas. Se não voltarem a tempo, garanto que a viagem será longa, com floresta no caminho. Sem ajuda, se perderão, então cumpram o horário.

A pressão de suas palavras faz com que o nervosismo se intensifique. Pego apenas minha mochila e sigo para o restaurante, tentando me manter focado. Escolho um lanche natural e um refrigerante, e me sento sozinho, longe do resto da turma. O silêncio me ajuda a processar os pensamentos, mas logo sou interrompido.

Um rapaz se aproxima e se senta à minha mesa, jogando um olhar de desdém. Ele usava uma camisa amarrada até a barriga, calças amarelo mostarda e batom vermelho nos lábios.

— Tô passada. Como um cara ridículo como você passou na faculdade? — diz, rindo levemente. — Os padrões... soa baixo.

Meu estômago se aperta, mas tento me manter calmo.

— Você é ridículo — falo, me levantando e mordendo meu lanche com mais força do que o normal. — Estou aqui porque sou inteligente, não por ter um rosto bonito.

Sinto a tensão aumentar enquanto ele faz uma careta e se recosta na cadeira. Meus olhos não conseguem esconder a frustração, mas dou as costas saindo   da mesa, nem ligo para aquelas palavras.

Antes de sair, o escuto comentar baixinho com um cara que se senta ao lado dele:

— Nossa, que cara honroso, dá até medo de olhar.

Sigo para fora e volto para o ônibus com o estômago pesado, tentando ignorar a sensação de estar sendo observado. Tento terminar o lanche antes de entrar, mas a agitação da conversa anterior ainda ecoa na minha mente.

Caraca, isso porque Otávio se vangloria sem preconceitos. Imagina se tivesse isso aqui. A ironia de tudo aquilo não me escapa.

Entro no ônibus e me sento no meu lugar, de volta ao meu canto. Me sinto desconfortável com a comparação, mas sei que, no fundo, isso não me define.

Nem estou tão feio. Só me vesti de forma desleixada, com óculos ultrapassados. Mas, no fundo, sou o mesmo de sempre. Encosto a cabeça no vidro e, finalmente, deixo o cansaço me dominar. Fecho os olhos e logo adormeço.

Só acordei horas depois, com o motorista me chacoalhando.

— Rapaz, já chegamos. Só falta você descer.

Abri os olhos  ainda sonolento, sentindo o peso nas pálpebras, e olhei em volta. O ônibus  estava estacionado em frente a um enorme portão de ferro.

— Ah, sinto muito, acabei dormindo. — Me levantei lentamente, tentando organizar minhas malas e sacudir a sonolência.

Ele sorriu com um gesto breve, como se já estivesse acostumado com esse tipo de situação.

— Tudo bem, senhor. Só vá para a diretoria e apresente sua carta lá. Eles te darão as orientações.

Agradeci com um aceno distraído e, ao virar os olhos para a faculdade à minha frente, senti uma onda de admiração. Era colossal, com prédios imponentes e uma arquitetura imaculada. Devia ter uma ou três  quadras de extensão, pelo menos . Percebi que seria fácil se perder naquele labirinto de corredores e passagens. O luxo do lugar era inegável, desde os jardins bem cuidados até os detalhes dourados que emolduravam a entrada principal. Na fachada, letras elegantes formavam o nome da instituição, e dois seguranças estavam posicionados em cada lado do portão, parecendo atentos a qualquer movimento.

— Senhor, boa tarde. Como posso te ajudar?

O segurança estava parado à porta, com um sorriso protocolar, sua postura impecável. Já estendi a carta que foi pega com eficiência .Ele a analisou  por um momento antes de me dar as instruções.

— Você segue reto aqui e conta cinco pavilhões, então vira à direita, na segunda porta.

— Valeu, — murmuro, tentando gravar cada detalhe. O número de pavilhões parecia confuso, mas a forma como ele falou me deu uma certa confiança de que conseguiria. Comecei a contar mentalmente enquanto caminhava, os passos ecoando na calçada impecável. Quando cheguei ao local, a visão do corredor amplo e silencioso. O aroma do lugar, era uma mistura sutil de madeira polida e ar fresco, que me convidava a seguir em frente.

Cheguei à porta de madeira escura e uma placa metalizada em seu exterior: Diretor Wilhian Sartore bato e espero em silêncio,a insegurança volta a me açoitar.

Escuto uma voz grossa e firme atrás da porta.

— Entre.

Abri a porta lentamente, sentindo o peso do momento, e adentrei na sala. O diretor estava sentado atrás da mesa olhou para cima, seus olhos fixos nos meus enquanto me avaliava com uma expressão séria.

— Senhor, é Wilhan Sartore, não é mesmo? — Perguntei, tentando controlar minha ansiedade.

— Isso mesmo. Posso ver sua carta, por gentileza? — Ele respondeu, sua voz tinha um tom autoritário, mas ao mesmo tempo tranquilo. Era um homem de barba bem feita, que contrastava com sua camisa social branca impecável, calça jeans e sapatos pretos, tudo muito alinhado, como se estivesse sempre pronto para qualquer situação. A sala tinha uma decoração minimalista, mas ao mesmo tempo acolhedora, com uma estante de livros discretamente iluminada e uma janela grande que deixava a luz natural entrar.

Ele pegou os documentos e os observou por alguns segundos, alternando o olhar entre mim e o papel, como se me estudasse. Não disfarçou o leve espanto que supus ser causado pelo fato de eu estar disfarçado e o documento conter uma foto minha.

— Você é acaso especial do senhor Abulquerque? — questionou, os olhos ficando um pouco mais atentos.

— O quê? — Perguntei, surpreso apertado levemente a alça da mochila na minha mão . Meu coração acelerou. Será que ele sabia? Ah, provavelmente Otávio Abulquerque não soube guardar segredo. Ele me pediu tanto para manter aquilo em sigilo, e agora estava vendo as consequências. Não podia acreditar que aquele bastardo tivesse aberto a boca.

— Por que você tá com esse visual tão peculiar, Leonardo? Tá no mínimo estranho. Fiquei curioso. — disse, seus olhos observando cada detalhe do meu traje.

— Olha, senhor, acho que você está ciente do meu acordo com Abulquerque e das condições que me trouxeram aqui, — falei, a tensão aumentando em meu peito.

— Disso eu sei, mas tem a ver com sua aparência. Afinal de contas... — questionou, arqueando uma sobrancelha, sua expressão curiosa e descontraída, como se a situação fosse apenas uma brincadeira.

— Fiz isso porque queria sair daqui sem ninguém me reconhecer lá fora e também para não envolver possíveis interesses românticos. Não estou afim, entende? Não é minha praia ficar com homens, — respondi com sinceridade, o tom direto e sem rodeios. Não queria que houvesse mal-entendidos.

Ele soltou uma leve risada, o som era quase inesperado, vindo de alguém tão sério.

— Você tem uma autoestima grande, senhor Montenegro. Que diabos você achou que ia acontecer, que ia ser forçado? Se alguém gostar de você? Que coisa maluca!

— Ei pare de rir. Essa opção é minha, viu? — Falei, cruzando os braços, minha voz se tornando mais firme.

Wilhan limpou uma lágrima dos olhos  de tanto rir, mas então parou, seu olhar agora mais sério.

— Você tem a cabeça meio maluca. Te garanto, ninguém iria te atacar aqui. Não tem nenhum predador sexual na faculdade. As relações aqui são de comum acordo, — explicou, sua expressão agora mais relaxada.

— Eu... bem, não é isso. Só...

— Que seja, Leonardo. Quer ficar assim por mim, tanto faz. — afirmou

, me olhando com uma expressão de  desinteresse .

A última coisa que eu queria era prolongar aquela conversa. Já estava me virando, convencido de que o assunto tinha chegado ao fim, quando, antes de dar um passo, ele me chama.

— Onde você pensa que está indo, Leonardo?

— Ué, não acabamos a conversa ainda? — Perguntei, surpreso.

— E óbvio que não. Seus papéis estão certinhos, tudo no conforme, mas você tem que fazer mais uma coisa ainda. — Ele me olhou com um sorriso  de lado, algo que me fez engolir em seco.

Eu congelei. Aquele sorriso... sabe quando a expressão de uma pessoa te arrepia até a alma? Era isso que ele me dava naquele momento.

Quando Wilhian começou a caminhar em minha direção, dei um passo involuntário para trás. O que ele estava fazendo? O ambiente ao meu redor parecia ter diminuído de tamanho, como se sua presença fosse ainda maior, mais dominante. Cada passo dele soava alto no piso de madeira da sala.

Ele parou na minha frente, tão perto que podia sentir sua respiração, e disse de maneira sarcástica:

— Agora, Leonardo, você terá sua iniciação nesta faculdade.

— Iniciação? — Perguntei, meu rosto quente de vergonha e um frio na espinha. Ele estava tão próximo. Eu mal consegui formar uma palavra, então só balancei a cabeça, sentindo um nó se formar no meu estômago.

Wilhian deu um passo atrás, rindo de forma irônica, como se fosse algo incrivelmente engraçado.

— Sua iniciação será... — Ele fez uma pausa dramática. O silêncio parecia ter ficado mais pesado. Engoli em seco, o medo e a confusão tomando conta . — Será beijar um homem aleatório neste campus. Aí, e só aí, você será completamente aceito.

Fiquei em choque, meus olhos se arregalando enquanto a mente tentava processar as palavras.

— Eu ouvi bem? Beijar um cara? — Falei, a voz saindo fraca, cheia de incredulidade.

— Ouviu super bem, e você tem até às 6. Já são quatro horas, e com essa sua aparência, melhor começar agora. — comentou desdenhoso, como se fosse o mais simples dos requisitos.

— Que diabos é isso? — reclamei , incrédulo. — Você tá zoando com a minha cara. Eu beijar um cara? Achei que fosse, sei lá, correr pelo campus ou algo assim.

— Tô falando super sério. Se quer estudar aqui, é isso. Sua iniciação. — respondeu, sem vacilar.

Queria dizer algo, protestar, mas as palavras simplesmente não saíam. O que ele estava pedindo era absurdo, mas ao mesmo tempo, uma exigência cruel e concreta.

— Mas eu... eu...

— Sem mais, senhor Montenegro. Ou você faz isso, ou vai embora. E, pelo que sei, seu acordo vai por água abaixo. E você não quer saber as consequências disso, não é? — retrucou com uma frieza assustadora.

Estava ciente da verdade em suas palavras. Otávio tinha sido claro: eu precisava estar naquela faculdade. Mas, porra, meu dia estava indo para o fundo do poço. Não queria fazer aquilo,muito menos beijar um homem.

— Tic tac, Leonardo —  disse de forma sarcástica interrompendo meus pensamentos. — É melhor correr, o tempo está contra você.

Saí da sala batendo os pés, cada passo ecoando minha frustração e raiva. Que loucura era aquela? Encostei na parede do corredor, tentando juntar meus pensamentos. E se eu fingisse que beijei? Olhei para o lado e vi as várias câmeras de segurança espalhadas pelo campus. Era impossível escapar. Não tinha solução.

— São somente lábios. Só lábios,— repeti , tentando me convencer enquanto me preparava para sair. Era melhor fazer logo, acabar com esse martírio e toda essa palhaçada. Se eu não sobrevivesse a uma porcaria dessas, que tipo de fracassado seria? A ideia de falhar aqui me apertava o peito, mas não tinha volta. Precisava fazer isso.

— Larga de ser bunda-mole, Leo,—  falo para mim mesmo, tentando ganhar coragem. E com um suspiro pesado, começo a caminhar em direção à área central da faculdade. Ali seria o cenário da minha "iniciação", e eu nem tinha ideia de como faria.

Quando chego na parte mais movimentada do campus, olho para o relógio no pulso. Tenho mesmo duas horas para fazer isso?

— Você consegue, Leo,— resmungo para mim mesmo, mas quanto mais ando, mais percebo que estou cercado por grupos de pessoas. Todos parecem estar em conversa animada, só consigo pensar no quão horrível seria beijar um homem diante de uma plateia.

Procuro por um solitário, alguém que fosse minha chance de fazer isso sem chamar muita atenção. Mas, por mais que eu ande, não encontro nenhum. "Que porra," penso, já começando a perder a paciência depois de uma hora procurando. Ok, então vai ser em um grande grupo. Não tinha escolha. Alguns metros à frente, vejo um grupo de homens vestidos de mulheres, conhecidos como crossdressers, por gostarem deste estilo.

Eles parecem estar se divertindo, e a ideia de que seriam mais fáceis de abordar me passa pela cabeça. Afinal, se  pareciam com mulheres, não será tão impossível, certo?

Caminho até eles, com uma coragem que dura poucos segundos. Meu cérebro tenta me convencer de que vai ser rápido, apenas uma etapa a ser cumprida. Já não tinha muito controle sobre o que estava acontecendo. Não pode ser o meu primeiro beijo, não pode.

Chego perto, mas fico ali, estático, como um poste. Minha determinação simplesmente evaporou. Não sei como pedir aquilo. Meu rosto está ardendo de vergonha.

Eles me notam, começam a me olhar fixamente sinto o peso da atenção. Respiro fundo e tento falar:

— Com licença, será que posso pedir algo?

Um deles, que estava de saia rodada vermelha, olha para mim e responde com uma voz divertida:

— Sim,o que seria.

Eu gaguejo, tentando juntar as palavras.

— Eu... eu... bem,... eu queria perguntar se... ah... se...

— Vish o cara de nerd, também está deslocado ,—  responde, claramente impaciente.

Passo a mão nos cabelos, bagunçando mais do que já estava, tentando me acalmar, mas tudo que consigo fazer é falar rápidamente , de uma vez, para acabar logo com aquilo.

— Posso te dar um beijo? —  Falo, alto demais, e imediatamente percebo o olhar de surpresa e as risadas ao meu redor.

Eles riem alto, como se eu fosse um espetáculo, e isso me faz sentir a humilhação de uma forma que jamais imaginei. Nunca presumi que pedir um beijo — principalmente de um homem — fosse me fazer sentir tanto nojo de mim mesmo. Eles riem, como se fosse a maior piada. Queria que um buraco se abrisse e me engolisse ali.

Tento sair rapidamente , mas ouço uma risada sarcástica do garoto de saia:

— Você não tem espelho em casa, né, cara? Nunca beijaria um homem horrível como você na vida.

— Que seja,— murmuro, sentindo um nó no estômago, e saio de perto. Nem queria aquele beijo.

Continuo meu caminho. Não tenho tempo para brigar ou a perder . Ainda tenho  uma missão para cumprir. O tempo está se esgotando e a pressão só aumenta.

Finalmente, encontrei algo que me fez respirar aliviado: um cara sozinho, encostado em uma árvore, olhando para o céu. Ele estava com a aparência de um bad boy, o tipo de cara que talvez me ajudasse a sair dessa loucura.

Nem olhei muito para seu rosto , só vi que ele tinha acabado de apagar um cigarro. Seus olhos verdes pareciam me chamar, como um ímã, mas não dei muita atenção. A única coisa que me importava era que ele parecia o tipo que não se importaria muito. Seria meu 'salvador', por assim dizer.

Me aproximei com a mesma sensação de desespero que me acompanhava. Nunca, Leo, não vai dar certo.

Quando cheguei perto o suficiente, sem pensar direito, o puxei pela gola da jaqueta de couro e o trouxe para mais perto de mim. Ele era mais alto, mas o gesto foi simples, direto.

— O que...? — Ele tenta dizer, com a voz rouca, claramente surpreso.

Eu não deixei ele terminar a frase. O beijei, e a sensação foi completamente diferente da minha imaginação. Ele ficou em choque, mas logo correspondeu ao beijo, de uma maneira que nunca esperei. O gosto do cigarro misturado com algo doce e... inesperadamente agradável. Meu coração bateu mais rápido.

Quando terminei o beijo , murmurei, ainda tentando processar o que acabara de acontecer:

— Obrigado pelo beijo.

E, sem esperar qualquer reação, saí a passos largos, sentindo os olhares de quem passava. Eles estavam em choque. Eu estava em choque.

Ouvi ele resmungando:

— Que foi isso, caraca?

Eu não tinha nem ideia de como aquilo poderia ser visto, mas... era só um beijo. Um beijo roubado, ok, mas nada demais, certo? Ou será que não?

Voltei para a diretoria e olhei para o diretor, sentindo uma raiva crescente. Ele agora era o meu novo ódio mortal.

— Pronto, senhor Wilhan, fiz o que me pediu.

— Bom trabalho, Leonardo,— respondeu, olhando para as câmeras.

—Vi tudo. Está certo. Sua chave está aqui. Fica na ala norte. Você terá um colega de apartamento, mas cada um tem seu próprio quarto e banheiro. Bem-vindo à faculdade Rainbow.

— Bem-vindo, —murmurei, pegando a chave com um misto de desgosto e cansaço. — Não parece, né?

Terminei de assinar os papéis e saí da sala dele, batendo a porta com mais força do que o necessário, como se isso fosse me dar algum alívio. Mas não dava.

Era um péssimo primeiro dia. Eu sabia disso, mas não conseguia me livrar da sensação de que tudo estava errado.

Cheguei à minha ala e abri a porta do meu novo apartamento , encontrando-o vazio.

Tomei um banho rápido, tentando me limpar do dia inteiro. Me vesti mecanicamente, sem nem pensar no que estava fazendo. Preparei um pão com ovo na pequena cozinha bem equipada, algo simples, que não exigia pensar. Depois de comer, fui para o meu quarto, tranquei a porta e caí na cama.

Hoje, eu não queria ver mais ninguém. Só precisava de um pouco de paz, de silêncio, de um descanso mental que não chegava. O peso da canseira mental foi mais rápido que qualquer pensamento. Eu só queria apagar tudo, esquecer.

E assim, naquele quarto vazio, sem ninguém para me dar qualquer tipo de conforto, finalmente desabei, esperando que o sono me levasse para um lugar mais tranquilo.

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