⋅⋆⭑✧⭑⋆⋅
Aery nadava de costas, os braços abertos na água, sentindo o sol esquentar sua pele molhada.
Mas, dessa vez, sua mente estava ocupada com algo diferente.
"Leo me olha quando acha que eu não vejo."
Não era algo óbvio. Ele era discreto. Sempre foi.
Mas agora, Aery sabia.
Ela tinha pego os olhares rápidos dele.
Aquele jeito que ele desviava antes que ela pudesse notar.
"E ele sempre recua quando as coisas ficam intensas..."
Não importava se era uma brincadeira ou não… Se o clima mudava, Leo cortava o momento na hora.
E por quê? Ele não era o tipo de cara que evitava desafios.
Mas, quando se tratava dela… ele evitava.
Aery sorriu sozinha.
"Agora eu quero saber até onde ele aguenta."
Ela se virou na água, deslizando até a parte rasa, onde Leo estava fora do lago, já seco.
Ele ainda parecia irritado com o fato de ter que aguentá-la ali por mais tempo.
— Você já desistiu da diversão? — Aery inclinou a cabeça, nadando até ficar a poucos metros da margem.
Leo cruzou os braços,erguendo uma sobrancelha.
— Eu não chamo isso de diversão.
— Ah, então o que você chamaria? — Ela sorriu, os olhos brilhando de travessura.
Leo bufou e simplesmente não respondeu.
Aery riu, jogando a cabeça para trás.
"Ele já está começou a perder a paciência. Perfeito."
Ela nadou um pouco mais perto. Então, deixou os olhos passearem sem vergonha nenhuma pelo corpo dele.
A postura forte, os braços grossos cruzados sobre o peito largo, a pele bronzeada ainda úmida, marcada por algumas cicatrizes leves e músculos grandes.
O calor do sol fazia cada linha de seu abdômen se destacar, e o cabelo negro caía pesado sobre os ombros largos.
Aery mordeu o lábio só para provocar.
— É uma pena você ter saído tão cedo…
Leo arqueou uma sobrancelha.
— Pena por quê, branquinha?
Aery inclinou a cabeça para o lado, se fingindo de inocente.
— Porque essa vista é muito melhor quando você está molhado.
Ela viu.
Viu o exato momento em que Leo travou a mandíbula.
Aery sorriu sozinha.
"Ah, então você não se importa?"
Aery virou-se e nadou devagar até a margem, onde pequenas flores rosas flutuavam na superfície.
O perfume delas era suave e doce, algo que misturava notas florais e frescor de outras plantas. Eram usadas como perfume natural, dissolvendo-se na água e deixando a pele delicadamente perfumada.
Aery pegou algumas, segurando-as com cuidado entre os dedos. Então, voltou a deslizar pela água, indo até uma parte rasa onde a corrente era calma, a luz do sol brilhando sobre a superfície cristalina. A água batia na altura de sua cintura.
Ela começou a espalhar as flores ao seu redor, deixando-as flutuar como um ritual de beleza.
Depois, pegou uma pétala e passou lentamente pelo próprio ombro molhado.
A textura macia roçou sua pele enquanto ela descia até a clavícula, depois pelo braço, espalhando o perfume sutil.
Aery manteve os movimentos lentos,
como se estivesse completamente imersa no que fazia.
Mas sua mente… Sua mente estava em Leo.
"Ele ainda está me olhando?"
O que ele estava pensando?
Ela mordeu o lábio, fingindo não notar sua presença.
Aery sentiu o movimento da água ao redor mudar, pequenas ondas se espalhando conforme Leo avançava.
Ela manteve o rosto voltado para baixo, fingindo não estar arrepiada.
E isso lhe deu arrepios.
Leo entrou no lago sem pressa, os passos firmes deslocando a água ao redor de seu corpo.
Ele não tirou os olhos dela.
Aery ainda espalhava as flores, deslizando as pétalas perfumadas por sua pele molhada com movimentos suaves, preguiçosos.
Leo parou a poucos passos dela.
O perfume doce misturava-se com o frescor da água, e Aery suspirou em satisfação, passando as pétalas pelos braços e depois pelas clavículas, sem pressa.
Sua expressão era de puro relaxamento, os olhos fechados e os lábios ligeiramente curvados em um sorriso sereno.
Leo não conseguiu desviar o olhar. Algo na cena o prendeu, como se estivesse assistindo a uma pintura viva.
— Você faz isso sempre? — perguntou ele, sem perceber que sua voz saíra mais baixa e rouca do que esperava.
Aery abriu os olhos brevemente, sorrindo com malícia.
— Só quando quero impressionar alguém.
Leo balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos que surgiam involuntariamente.
— Impressionar quem? Os peixes? – sua tentativa de sarcasmo saiu menos firme do que gostaria.
— Talvez... — murmurou distraída, continuando seu ritual.
Mesmo irritado consigo mesmo, Leo continuava parado ali, olhando como se estivesse hipnotizado.
Ele não queria admitir, mas aquela visão parecia quase... artística. Cada gesto dela parecia calculado, mas ao mesmo tempo natural, como se pertencesse ao cenário ao redor – o lago, as flores, os reflexos dourados do sol.
Leo abaixou a mão para a água, pegando uma das pequenas flores rosas que flutuavam ao seu redor.
Girou-a entre os dedos, analisando com preguiça.
— Isso é mais um ritual estranho dos elfos brancos?
Aery parou por um segundo. Então, sorriu.
— Se for, você quer participar?
Leo bufou, jogando a flor de volta na água.
— Não.
Aery arqueou uma sobrancelha, fingindo um biquinho.
— Ah, qual é, guerreiro. Nem um pouco curioso?
Leo ergueu os olhos lentamente para ela.
Curioso?
Não. Ele estava intrigado.
O que, francamente, era pior.
— Vai se transformar em uma flor ou algo assim?
— Quieto, Leo. Estou no meio do meu ritual de beleza. — respondeu, gesticulando dramaticamente com a flor na mão, como se fosse uma sacerdotisa no meio de um feitiço.
Leo bufou, cruzando os braços. Mas permaneceu ali, curioso.
Aery virou-se ligeiramente, segurando a flor contra seu peito como se fosse um escudo.
— Isso é um momento pessoal, Leo! Você deveria respeitar. — ela tentou manter a compostura, mas o olhar penetrante dele fazia seu rosto ficar mais quente.
Leo ergueu uma sobrancelha, descrente.
— Talvez eu respeitasse se você não estivesse se exibindo como se fosse uma ninfa tentando encantar algum viajante perdido.
— Ninfa? – Aery deixou escapar uma risada surpresa, que ecoou pelo lago.
— Não sabia que você tinha tanto conhecimento sobre criaturas adoráveis, Leo.
Ele estreitou os olhos para ela, mas não respondeu.
Aery aproveitou a oportunidade para se aproximar mais.
— Ah... nada como um banho floral para renovar a alma... – com um tom teatral, fingindo inocência.
— Você acha mesmo que isso funciona?
Aery abriu um olho e lançou um olhar zombeteiro para ele.
– Está questionando a eficácia do meu ritual, guerreiro? Talvez você precise experimentar para entender.
Ele soltou uma risada curta, cínica.
– Eu não preciso de flores para cheirar bem.
— Ah, claro, o grande Leo, naturalmente perfeito. – Ela ergueu os braços teatralmente, deixando as flores caírem na água ao seu redor. — E eu aqui, uma mera mortal, tentando me embelezar.
Leo deu um passo para frente, seu olhar intenso cravado nela.
— Se você está tentando se embelezar, está perdendo tempo – ele murmurou, sua voz rouca, quase baixa demais para ser ouvida.
Aery congelou por um momento, a provocação na ponta da língua sumindo.
Ela piscou, não sabendo exatamente como interpretar aquelas palavras, até que o rosto dele endureceu, e ele acrescentou:
– Já tem um jeito irritante de atrair atenção demais.
Aery recuperou o fôlego e riu, desviando o olhar.
— Oh, então admitiu que eu atraio sua atenção? Interessante.
Aery sorriu, pegando mais algumas flores. Então, começou a se mover.
Leo viu a intenção no mesmo instante.
Ela nadou devagar na direção dele, os olhos brilhando como se não tivesse nenhuma segunda intenção.
Mas ele sabia que tinha.
E, antes que pudesse impedi-la, ela já estava ali. Aery levantou a mão com as flores, chegando perto do peito dele.
— Bem, já que está aqui…
Ela avançou.
Leo recuou um passo.
— Aery.
Ela sorriu travessa.
— Fica parado, você vai gostar.
Leo arqueou uma sobrancelha.
Aery riu baixinho, vendo Leo dar mais um passo para trás.
Ele fingia indiferença, o rosto neutro como sempre. Mas ela sabia.
Ele não queria fugir.
E isso a deixou ainda mais animada.
— Ah, qual é, grandão! Você não precisa ter medo de uma florzinha. — Aery girou a flor entre os dedos, fingindo inocência.
Leo arqueou uma sobrancelha.
— Só acho inútil.
Aery arqueou uma sobrancelha também.
— Então você está dizendo que prefere continuar fedendo a sangue e suor?
Leo estreitou os olhos.
— Eu n—
Antes que ele terminasse, Aery avançou.
Rápida. Travessa. De repente.
Ela pressionou a flor contra o peito dele, deslizando-a devagar sobre a pele quente e bronzeada.
— Pronto! Agora você já está no ritual!
Leo retesou os músculos na mesma hora. Aery mordeu o lábio para não rir.
Pegou mais flores e começou a esfregar deliberadamente contra os ombros dele.
Depois, pelos braços.
Depois, descendo pelo peito.
Leo não se mexeu. Mas os olhos dourados estavam intensos demais.
— Aí está, guerreiro. Agora você vai ficar cheirosinho. — Ela dramatizou, espalhando as pétalas com exagero. — Como um príncipe dos contos!
Leo revirou os olhos.
— Branquinha, eu preferiria cheirar a sangue e morte.
Aery gargalhou e continuou esfregando as pétalas com mais empenho, os dedos deslizando por cada linha da pele dele sem perceber que já não estava apenas brincando.
Leo sentiu.
Sentiu os dedos delicados dela espalhadas por ele.
Sentiu o toque quente contra sua pele.
Aery percebeu um espasmo quando tocou em um lugar específico no peito dele.
— Sensível aqui, Leo? — com um sorriso inocente demais para ser real.
Ele sentiu a paciência estalar.
Bruscamente, ele a agarrou.
Aery engasgou um gritinho de surpresa.
As pétalas perfumadas caíram na pele úmida de ambos, espalhando-se entre os dois corpos colados.
O peito dela subia e descia rápido, sentindo cada centímetro do corpo de Leo pressionado contra o seu.
Mas não foi isso que a deixou sem reação.
Foi o jeito que ele a segurava.
As mãos dele estavam firmes em sua cintura, os dedos longos e fortes se fechando ao redor da curva de seus quadris.
O aperto não era gentil. Era possessivo.
E ele não afrouxou.
Aery tentou falar, dizer qualquer coisa para aliviar a tensão absurda entre eles.
Mas, quando abriu a boca, sua voz saiu fraca.
— O-o quê…?
Leo não respondeu.
Os olhos dourados deslizaram devagar pelo rosto dela, como se estivesse gravando cada detalhe.
As pétalas grudadas na clavícula, descendo suavemente pelo vale dos seios.
Ele não devia ter olhado.
Mas olhou.
E, antes que pudesse controlar, os dedos dele se moveram.
Leo deslizou os dedos pela pele dela, sem perceber, trilhando um caminho lento pelo seu quadril.
Aery se arrepiou inteira. Ela não conseguiu se mover.
Leo apertou os olhos.
E então, soltou um suspiro longo, forçado.
Bruscamente, ele a soltou. Como se precisasse se afastar antes que algo irreversível acontecesse.
Aery quase tropeçou na água, sentindo o lugar onde as mãos dele a seguraram ainda queimando.
O silêncio entre eles foi cortante.
Leo passou a língua pelos dentes, sem olhar diretamente para ela.
— Pronto. Já se divertiu? — A voz dele soou rouca, irritada.
Aery piscou rápido, tentando recuperar o ar.
Então, forçou um sorriso.
— Se eu disser que ainda não, você vai fugir de novo?
Leo arqueou uma sobrancelha. E não respondeu.
Aery soube a resposta no mesmo instante.
Leo não disse nada. Mas, no instante em que ela sorriu satisfeita, ele soube que precisava sair dali.
Sem pressa, ele se virou e saiu do lago.
Aery o observou de canto de olho, ainda fingindo estar imersa em seu banho.
Leo caminhou até a árvore, pegando suas coisas sem realmente prestar atenção nelas.
Mas, mesmo longe do lago, ele ainda sentia o perfume no ar.
E, pior… Sentia o toque fantasma das mãos dela em sua pele.
“Merda.”
Ele tentou focar em outra coisa, em qualquer outra lembrança que não envolvesse aquele sorriso travesso ou a curva de seu corpo.
Mas era inútil.
Aery não era apenas mais uma mulher.
Ela era um misto de caos e encanto, um enigma que ele sabia que deveria evitar, mas que o atraía como um imã.
Leo cerrou os punhos, irritado.
Ainda assim, se forçou a respirar fundo, a endurecer sua expressão e lembrar quem ele era.
Um guerreiro. Um elfo negro acostumado a enfrentar adversidades muito maiores do que uma garota cheia de teimosia e curvas perigosas.
Mas, naquele momento, até mesmo a batalha mais sangrenta parecia fácil comparada à tarefa de ignorá-la.
⋅⋆⭑✧⭑⋆⋅
Leo continuava encostado na árvore, os músculos tensos enquanto os olhos dourados seguiam Aery à distância.
Ela estava de costas, brincando com Lumy, o pequeno animal correndo ao redor dela com graciosidade.
Ela se abaixou para pegar algo no chão, os cabelos caindo para frente, o sol dançando sobre sua pele exposta.
Leo cerrou os punhos, tentando ignorar o calor crescente que o irritava tanto quanto o desconcertava.
Era frustrante, essa mistura de emoções que ele não queria e não deveria sentir.
— Ela não tem noção nenhuma… — murmurou entre dentes.
Por fim, ele empurrou o corpo para longe da árvore e caminhou em direção a ela, os passos firmes e determinados.
— Aery, você está longe demais. — A voz grave cortou o ar como uma ordem.
Aery ergueu a cabeça e virou-se na direção dele, o rosto iluminado pelo riso que brincava em seus lábios.
— E o que tem demais? — perguntou, com um tom provocador e despreocupado. — Não é como se eu fosse correr de volta só porque você quer.
Leo estreitou os olhos.
A frustração queimava ainda mais.
— Você não entende o que estou dizendo? Não é seguro.
Ela riu, um som leve desafiador.
— Ah, claro. O grande Leo está preocupado comigo agora. Que fofo.
Leo deu um passo à frente. A sombra de um rosnado baixo escapou de seus lábios.
— Não se trata disso, Aery. — A voz dele estava mais grave, mais ameaçadora. — Se alguém aparecer e te ver assim, vai ser problema.
Aery colocou as mãos nos quadris, um sorriso dançando em seu rosto.
— Então por que não vira as costas e deixa que eu me preocupe com isso? — Ela ergueu a sobrancelha. — Não preciso de uma babá, sabe.
Leo trincou o maxilar.
Ela o estava testando. Como sempre.
Mas dessa vez era pior.
Dessa vez, ele estava no limite entre preocupação genuína e algo que ele não queria admitir nem para si mesmo.
Algo que o fazia querer puxá-la contra si e lembrá-la, de uma vez por todas, quem ela estava provocando.
Ele inspirou fundo, tentando recuperar a paciência.
— Aery, isso não é um pedido. — A voz saiu baixa.
Aery inclinou a cabeça, os olhos brilhando.
Então… deu um passo para trás.
Depois outro.
E depois mais um.
— Então venha me buscar, grandão. — provocou. — Porque eu não vou a lugar nenhum.
Leo sentiu o sangue ferver.
Uma mistura de irritação, desejo e algo muito próximo de desespero.
Leo não pensou duas vezes.
No instante em que as palavras saíram da boca de Aery, ele avançou.
Mas ela já esperava por isso.
Aery soltou uma risada animada e girou nos calcanhares, fugindo.
A água espirrou ao seu redor quando correu para a margem, os pés descalços tocando a terra úmida enquanto disparava em direção às árvores.
Leo não diminuiu o ritmo.
Ele não ligava se ela queria brincar. Ele ia pegá-la.
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Atualizado até capítulo 45
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