Inacreditável

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A noite avançava, envolvendo a floresta em uma escuridão acolhedora. As folhas sussurravam suavemente com a brisa, e o céu, agora limpo, revelava um mar de estrelas cintilantes.

O som dos passos sincronizados de Aery e Leo era o único ruído constante no ambiente, um ritmo tranquilo que contrastava com o turbilhão de pensamentos que passava na mente de cada um.

Aery olhou para cima, fascinada pelo espetáculo celeste. Sentia uma estranha mistura de cansaço e contentamento, como se aquele momento fosse especial de uma forma que ela ainda não sabia explicar.

Leo, ao seu lado, permanecia em silêncio, atento aos arredores, mas ocasionalmente lançava olhares rápidos para a elfa ao seu lado.

Leo estava acostumado a viajar sozinho, a ignorar qualquer presença ao seu lado.

Mas Aery era impossível de ignorar. E ele, mesmo sem querer, notava cada detalhe.

Eles encontraram uma clareira protegida pelas árvores, e Leo rapidamente acendeu uma fogueira.

Aery se sentou perto do fogo, abraçando os joelhos.

Leo, encostado em uma pedra, afiava a lâmina da espada com movimentos precisos. Mas seus olhos escapavam para ela com mais frequência do que ele gostaria.

Ela o observava, hipnotizada.

— Você vai gastar essa espada até virar um graveto — provocou Aery, rindo suavemente.

Leo ergueu uma sobrancelha, sem desviar o olhar da lâmina.

— Pelo menos sei usá-la. Diferente de certos elfos que acham que o mundo é um jardim de flores.

Aery arqueou as sobrancelhas, fingindo indignação.

— Ah, mas as flores são importantes! — Ela se inclinou e arrancou uma pequena margarida do chão. Ergueu-a no alto, avaliando-a, e então olhou diretamente para Leo. — Aposto que até você ficaria melhor com uma dessas no cabelo.

Ele parou de afiar a espada por um segundo e a encarou com uma expressão ilegível. Depois, balançou a cabeça.

— De novo com isso? Já basta a maldita tiara.

Aery riu, jogando a flor na direção dele. Com reflexos rápidos, Leo a pegou no ar sem esforço e girou-a entre os dedos. Seu olhar dourado encontrou o dela, e por um breve momento, o silêncio que se instalou entre os dois foi diferente.

— Você é estranha, branquinha.

O tom carinhoso em sua voz pegou Aery de surpresa. Ela piscou, e sua risada diminuiu aos poucos.

Por um instante, tudo ao redor ficou em segundo plano.

Os olhos de Leo estavam fixos nos dela, e o fogo fazia as sombras em seu rosto parecerem ainda mais marcantes.

O silêncio entre eles ficou denso.

Leo pigarreou, quebrando o momento.

— Devíamos descansar. Ainda temos um longo caminho amanhã.

Aery hesitou antes de assentir. Deitou-se perto do fogo, mas antes de fechar os olhos, olhou mais uma vez para ele.

Ele parecia sempre tão sério... e, no entanto, havia uma gentileza oculta na maneira como a observava.

— Boa noite, Leo.

Ele demorou um pouco antes de responder, sua voz mais rouca do que o normal.

— Boa noite, branquinha.

O silêncio voltou a cair sobre eles, mas a atmosfera continuava carregada.

Pouco antes de adormecer, Aery soltou uma risadinha travessa.

— Sonhe comigo, Leo!

Ele bufou, revirando os olhos.

— Você nunca perde uma oportunidade de me irritar, não é?

Mas, mesmo enquanto tentava ignorá-la, um pequeno sorriso puxava o canto de seus lábios.

Leo demorou a pegar no sono. Ele era um guerreiro, acostumado a dormir sob alerta, pronto para qualquer ameaça.

Mas havia algo mais perturbador do que o perigo ali.

Aery.

Ela dormia tranquilamente ao seu lado, com os cabelos espalhados como um incêndio sobre a manta. Seu rosto parecia tão sereno que chegava a ser irritante.

"Como alguém pode ser tão confiante? Tão... desprotegida?"

Ele franziu o cenho, observando-a. Aery não tinha noção do quão cruel o mundo podia ser.

Se ele não estivesse ali, o que aconteceria com ela?

Sem pensar muito, Leo se levantou e puxou levemente a borda da manta dela.

Arrastou-a para mais perto da sua cama improvisada. Agora, a distância entre eles era de apenas um braço.

Ele se sentou ao lado dela, observando o jeito como seus lábios curvavam-se em um leve sorriso mesmo dormindo.

— Você não faz ideia, não é? — murmurou.

Ele ajeitou o cobertor sobre seus ombros e, depois de alguns segundos de hesitação, deitou-se novamente, dessa vez tão próximo que podia ouvir a respiração leve dela.

Quando o sono finalmente começou a vencê-lo, Aery se mexeu.

No meio do sono, virou-se na direção dele, e seu braço deslizou sobre a cama improvisada, sua mão encostando na dele.

Leo ficou imóvel. Seu olhar foi até o braço dela, tão pequeno e delicado.

— Até dormindo você invade meu espaço — murmurou, exasperado.

Mas não afastou o braço dela.

Antes que percebesse, seus dedos moveram-se por conta própria, puxando levemente o cobertor dela para mais perto. Apenas para garantir que ela não sentisse frio, justificou para si mesmo.

Ele sabia que não deveria permitir essa proximidade, mas também não conseguia se afastar.

Aery era como uma chama brilhante que atraía mariposas – perigosa e impossível de ignorar.

⋅⋆⭑✧⭑⋆⋅

Perto do amanhecer, Leo ainda estava acordado. O céu começava a clarear, tingindo o horizonte com tons de laranja e rosa.

Ele se pegou observando o modo como a luz suave tocava o rosto de Aery, destacando cada detalhe.

Quando ela começou a se mexer, ele rapidamente fechou os olhos, fingindo estar dormindo.

Aery abriu os olhos devagar e piscou algumas vezes.

Um sorriso preguiçoso surgiu em seus lábios ao ver o elfo.

— Bom dia, Leo... Dormiu bem?

Ele abriu os olhos e a encarou.

— Melhor do que você, pelo visto. Você ronca.

Ela arregalou os olhos, indignada.

— Eu não ronco!

— Ronca sim. Parece um gnomo resfriado.

— Mentiroso!

Ela pegou o travesseiro e jogou nele, rindo.

Leo o agarrou facilmente.

— Vamos. Levanta logo.

— Mas tá tão bom aqui... — Aery se espreguiçou, sorrindo para ele.

Leo jogou o travesseiro improvisado na cara dela.

— Nossa! Pra quê tanta violência contra uma dama?

Leo riu baixo, com um tom sombrio.

— Eu vou comer o doce que você escondeu na mochila. — disse, caminhando até as coisas dela.

Aery não precisou ouvir duas vezes para levantar em um pulo.

⋅⋆⭑✧⭑⋆⋅

O ar era fresco, carregado pelo perfume das flores silvestres e do musgo úmido. Era uma manhã pacífica... ou pelo menos teria sido, se Leo não estivesse andando como um predador à espreita e Aery não estivesse distraída com qualquer coisa que se movesse.

— Olha essas borboletas! — Aery apontou, maravilhada.

Eram pequenas e delicadas, de um azul brilhante, elas dançavam ao seu redor, pousando brevemente na ponta de seus dedos antes de voarem novamente.

— Eu sei o que são borboletas, branquinha — Leo resmungou sem nem olhar.

Aery revirou os olhos, ignorando o mau humor habitual dele.

— Elas são lindas, parecem mágicas!

— Qualquer coisa parece mágica para você.

— Claro! O mundo é cheio de mistérios e beleza, mas você só enxerga perigo e tragédia — ela disse teatralmente, colocando uma mão sobre o peito.

Leo soltou um som baixo de divertimento, mas não respondeu.

Ele já estava acostumado com os surtos dramáticos de Aery, e gostava de irritá-la.

A elfa voltou a focar na floresta, distraída com os pequenos detalhes ao redor. Mas no instante em que deu mais um passo, sentiu um leve estalo sob os pés.

Houve um silêncio de meio segundo.

Então, o chão sumiu.

— Aaaah!

Aery sentiu seu corpo ser puxado bruscamente para o alto. O mundo girou, e antes que pudesse entender o que acontecia, estava suspensa em uma rede, balançando feito um peixe preso no anzol.

O silêncio se estendeu.

Então, uma risada baixa e grave.

— Hah... — Leo soltou, observando a cena.

Aery abriu os olhos, atordoada, e encontrou Leo parado logo abaixo, braços cruzados, olhando para ela com aquele maldito meio sorriso.

— Você está rindo?! — ela protestou, se debatendo dentro da rede.

— Um pouco.

— Me tira daqui, agora!

— Hmm... não sei — ele inclinou a cabeça, fingindo ponderar. — Talvez eu devesse deixar você aí por um tempo. Quem sabe assim aprende a olhar por onde pisa.

— Leo!

Ele suspirou dramaticamente.

— Ok, Ok. Fica parada e pare de gritar.

— Eu não estou gri— aaah!

Aery balançou a rede mais do que deveria e sentiu seu corpo girar de cabeça para baixo. Agora sua saia pendia desajeitadamente, e seu cabelo estava preso entre as cordas.

Leo soltou um assobio baixo.

— Bonita visão daqui.

Aery ficou vermelha.

— Você é—!

Ele caminhou até a base da armadilha e estudou a corda principal presa a uma árvore, deduzindo rapidamente como desativá-la.

— Parece coisa de goblins vermelhos.— ele murmurou.

Aery ficou imóvel.

— …Goblins vermelho s?

— Sim. Eles usam esse tipo de armadilha para capturar viajantes distraídos.

Ela arregalou os olhos.

— E o que eles fazem depois?!

Leo olhou para ela com um brilho maldoso nos olhos dourados.

— Você quer mesmo saber?

Aery arregalou os olhos.

— Me solta agora!!

— O problema é que se eu cortar a corda, você vai cair.

— Eu não me importo!

Leo ergueu uma sobrancelha, divertido.

— Tem certeza?

— Sim!

Antes que Aery pudesse mudar de ideia, ele ergueu a adaga de seu cinto, e, com um único golpe preciso, cortou a corda.

Aery soltou um gritinho quando sentiu a gravidade puxá-la para baixo. Mas antes que pudesse atingir o chão, braços fortes a envolveram, interrompendo a queda com um impacto controlado.

Seu rosto ficou a poucos centímetros do de Leo.

O silêncio se prolongou. O coração dela ainda estava acelerado pelo susto, mas agora um calor inesperado tomou conta do seu corpo.

Leo segurava sua cintura com firmeza, a respiração quente roçando sua pele.

— Peguei você — ele murmurou, os olhos fixos nos dela.

Aery piscou algumas vezes, sentindo o rosto esquentar.

— M-Me coloca no chão. — ela gaguejou.

— Hm... Não sei. Você parece confortável aí. Está até virando um hábito.

— Leo!

Ele riu baixinho e, com relutância, a colocou no chão.

— Da próxima vez, tenta não cair em armadilhas óbvias.

— Da próxima vez, tenta me salvar antes de eu ter um colapso nervoso! — respondeu, cruzando os braços e com as bochechas coradas.

Leo deu de ombros.

— Poderia ter te deixado lá só para ver você balançando um pouco mais...

Aery arregalou os olhos, indignada.

— Você é a pior pessoa que eu já conheci!

Leo abriu um sorriso preguiçoso.

— Eu me esforço.

Ela bufou, ajeitando a roupa e tentando controlar a vontade de socá-lo.

— Você está muito engraçadinho hoje... — ela resmungou.

De repente, um som pesado ecoou pela clareira.

Leo ficou tenso no mesmo instante.

O solo tremeu.

O barulho ritmado de passos se aproximava, sacudindo as árvores.

Aery engoliu em seco.

— …Isso é um goblin muito grande?

— Sshh.

O som ficou mais alto, acompanhado por um grunhido grave. Leo avançou silenciosamente, escondendo-se atrás de uma árvore.

E então, uma criatura emergiu da floresta.

Era um troll das colinas, com pele acinzentada e três metros de altura. Mas o detalhe mais estranho era a corda em seu pescoço, onde baldes estavam pendurados.

— Ele está... carregando baldes? — Aery perguntou, confusa.

— Não importa. É um troll. E trolls não negociam. — respondeu atento.

— Mas ele não parece agressivo...

Aery se aproximou casualmente da criatura, falando com um tom mais alto.

— Ei, senhor troll! Nós só estamos de passagem, não queremos atrapalhar!

Leo quase caiu para trás.

O troll a olhou e soltou um grunhido.

— Le...ti. — A criatura murmurou.

Aery sorriu.

— Aah! Ele está procurando leite! — disse, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Leo a olhou, incrédulo.

E, para sua surpresa, Aery abriu sua bolsa, vasculhando até achar uma garrafa de leite, entregando ao troll.

O troll pegou a pequena garrafa com as grandes mãos.

Ele bebeu, satisfeito, e em troca, entregou a ela um balde cheio de frutas silvestres.

Leo estava atônito.

— ...Você acabou de negociar com um troll.

— Sim! E ele foi muito educado, não acha?

Leo balançou a cabeça, exasperado.

— Você é inacreditável.

— Obrigada! — respondeu, feliz.

                 

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Comments

tuktuk

tuktuk

/CoolGuy//Proud/

2025-04-16

0

tuktuk

tuktuk

nem queira saber...

2025-04-16

0

Aline C

Aline C

eles têm a química muito boa

2025-03-25

1

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