⋅⋆⭑✧⭑⋆⋅
A taverna tinha se acalmado, e o ambiente agora estava envolto em um silêncio tranquilo, interrompido apenas pelo ranger da madeira velha sob seus pés conforme subiam as escadas.
O cheiro de lenha queimada e bebida fermentada ainda pairava no ar, misturado à brisa fria da noite que se infiltrava pelas janelas mal vedadas.
Quando chegaram à porta do quarto, Leo abriu sem cerimônia, entrando primeiro. Aery veio logo atrás, curiosa.
— Só uma cama? — Ela arqueou uma sobrancelha, observando o ambiente modesto.
O cômodo era pequeno e decorado. Havia uma cama de madeira coberta com lençóis de linho branco e um cobertor escuro, mesas com velas acesas, uma estante de livros e algumas plantas.
Leo cruzou os braços, o desconforto evidente.
— Parece que sim.
Aery sorriu de canto, claramente se divertindo.
— Ah, isso vai ser interessante.
Leo lançou-lhe um olhar severo.
— Nem comece.
Ignorando a advertência, Aery caminhou até a cama, sentando-se com um salto leve e tirando os sapatos.
— Bem, eu não me importo de dividir. A menos que você ronque.
— Eu não ronco. — Ele rebateu rápido demais, retirando a capa e jogando-a sobre a cadeira.
Aery riu baixinho e se deitou de lado, esticando os braços e suspirando.
— Parece confortável.
Leo a observou por um momento, depois olhou para o chão.
— Eu fico no chão.
Aery se sentou de imediato, franzindo a testa.
— Não seja bobo. Tem espaço suficiente aqui.
— Não vou discutir isso. — Ele começou a remover a espada, colocando-a ao lado da cadeira, claramente decidido.
Aery cruzou os braços.
— Está com medo de dividir a cama comigo?
Leo a encarou com um olhar sombrio.
— Não é isso.
— Então o que é?
Ele apertou a mandíbula.
— Eu prefiro o chão.
— Claro, claro… — Aery sorriu travessa, puxando os cobertores e se acomodando melhor. — Boa sorte com as tábuas duras.
Leo suspirou pesadamente e se deitou no chão, usando a própria capa como travesseiro.
— Boa noite, Aery.
Ela esperou alguns segundos antes de provocá-lo novamente.
— Você sabe que vai acordar todo dolorido, né?
— Boa noite, Aery.
Ela riu, satisfeita. O silêncio caiu entre eles, mas não durou muito.
Aery virou a cabeça em sua direção e o observou no escuro.
— Leo?
— O que foi agora?
— Você está com frio?
Ele abriu os olhos, desconfiado.
— O que você quer?
Ela se levantou da cama, puxando o cobertor consigo como uma heroína trágica.
— Eu não posso deixar um pobre guerreiro sofrer no chão gelado. Aceite este humilde presente.
Leo arqueou uma sobrancelha quando Aery se ajoelhou ao lado dele segurando o cobertor como uma oferenda sagrada, e dramaticamente o cobriu com o tecido.
— Pronto. Agora você não vai congelar.
Leo segurou o cobertor, meio perplexo.
— Você percebe que agora você está sem cobertor, certo?
— Não se preocupe comigo. — Ela colocou a mão na testa, fingindo fraqueza. — Eu suportarei o frio cruel desta noite por você.
Leo bufou, um sorriso irônico escapando.
— Você é insuportável.
— Obrigada!
Ela se levantou, pronta para voltar para a cama, mas então parou de repente.
— Espera... Será que tem mais cobertores naquele armário?
Leo a observou abrir o pequeno móvel de madeira. Um segundo depois, ela soltou um grito abafado.
— Estamos salvos!
Ela ergueu dois cobertores extras como se tivesse acabado de encontrar um tesouro.
Leo apoiou o braço sobre os olhos.
— Então todo esse drama foi por nada.
— Não foi por nada! Foi uma demonstração de altruísmo!
— Altruísmo exagerado, branquinha.
— Detalhes, detalhes.
Ela jogou um dos cobertores extras para ele e se enrolou no outro.
— Agora sim. Todos quentinhos.
Leo ajeitou o tecido sobre si.
— Boa noite, Aery.
— Boa noite, Leo... Sonhe comigo!
Mesmo sem vê-la, ele soube que ela estava rindo. E, contra seu próprio julgamento, um pequeno sorriso também surgiu em seus lábios.
⋅⋆⭑✧⭑⋆⋅
O primeiro raio de sol atravessou a janela, iluminando o quarto de forma suave. Aery foi a primeira a despertar, espreguiçando-se preguiçosamente sob o cobertor.
Quando virou a cabeça, viu Leo ainda no chão, os braços cruzados sobre o peito, dormindo como se estivesse pronto para lutar até mesmo inconsciente.
Ela mordeu o lábio para conter a vontade de rir.
— Leo, hora de acordar!
Ele resmungou e puxou o cobertor sobre o rosto.
Aery ergueu uma sobrancelha.
— Ah, não! Você não vai continuar aí dormindo!
Descalça, ela se levantou e cutucou o ombro dele.
— Temos um dia cheio pela frente!
Leo abriu um olho dourado, o olhar mortal de sempre, mas Aery apenas riu.
— Você é a personificação da energia matinal irritante.
— E você é a personificação de alguém que precisa de um banho urgente! — Ela respondeu apertando o nariz dramaticamente.
Ele fechou os olhos novamente.
— Muito engraçado.
— Mas é verdade. Além disso… seu cabelo está uma bagunça.
Leo abriu os olhos de novo, estreitando-os.
— Você quer mesmo começar o dia me irritando?
Aery sorriu inocente.
— É um dos meus maiores talentos.
A taverna possuía um espaço simples para banho, separado por uma divisória de madeira. Aery ocupou o lado direito, e Leo, o esquerdo.
— Não espie, Leo! — Aery provocou.
— Quem diabos iria querer espiar?
Ela riu.
Enquanto lavava os cabelos, começou a cantarolar uma melodia suave.
Leo suspirou.
— Você não para nem debaixo d’água.
— Claro que não! Eu sou um poço de alegria!
Leo revirou os olhos e resmungou:
— Ou uma fonte de dor de cabeça.
Quando Aery terminou, envolveu-se em uma toalha e voltou para o quarto.
Sentada na cama, tentou desembaraçar os cabelos, mas logo percebeu que seria um trabalho demorado.
Então, sorriu com uma ideia.
— Leo… pode me ajudar a secar meu cabelo?
Ele surgiu na porta, ainda pingando, já vestido.
— O quê? Nem pensar!
— Por favoor!
Ele passou a mão no rosto, exasperado.
— Isso vai ser rápido, certo?
— Talvez… — Ela sorriu travessa, estendendo a escova. — Depende do quanto você é bom nisso.
Leo pegou o objeto, olhando para os fios ruivos como se estivesse prestes a enfrentar uma besta mágica.
— Certo… como exatamente eu faço isso? Porque, honestamente, minha primeira ideia foi jogá-lo na lareira.
Aery engasgou de tanto rir, jogando a cabeça para trás para encará-lo.
— Na lareira?! — Ela repetiu, ainda rindo. — Eu sabia que você não entendia nada, mas isso já é demais!
Leo revirou os olhos, segurando uma mecha de cabelo úmido entre os dedos como se fosse algum tipo de relíquia desconhecida.
— Olha, eu sou um guerreiro, não um cabeleireiro. Mas você insiste em me fazer passar por essas coisas ridículas.
— Não é ridículo, é útil! — Aery o corrigiu com um sorriso. — Vamos lá, pense em algo. Use o cérebro, grande guerreiro.
— ...Magia?
— Fica horrível! — respondeu automaticamente.
Leo olhou para a lareira acesa no canto. A ideia voltou à sua mente, e ele abriu a boca para falar, mas Aery o interrompeu com um olhar de advertência.
— Nem tente.
Ele suspirou.
— Então, o que sugere, ó grande especialista?
Aery pegou uma toalha seca e a entregou a ele.
— Vamos esfregar suavemente e depois usar o calor da lareira, mas de uma distância segura.
— Esfregar suavemente. Entendi. — Leo disse com sarcasmo, começando a passar o pano no cabelo dela com mais força do que deveria.
— Ei, calma aí, Leo! — Aery protestou, rindo. — Isso é meu cabelo, não uma armadura suja!
Leo bufou, tentando ser mais cuidadoso.
— Isso está me matando mais do que qualquer batalha.
Aery virou o rosto para ele, seus olhos brilhando com diversão.
— Mas olha só, você está fazendo um ótimo trabalho. Vou te contratar como meu ajudante pessoal!
— Não se empolgue, branquinha. — Ele resmungou, mas havia um sorriso quase imperceptível em seus lábios.
Leo segurava a escova com hesitação, deslizando-a pelos fios ainda úmidos de Aery.
Os cabelos dela eram pesados e sedosos, caindo como um rio de chamas reluzentes sobre suas costas.
Não eram lisos nem cacheados, mas ondulados, volumosos, selvagens.
Como ela.
Ele nunca tinha parado para analisar cabelos antes. Para ele, eram apenas... cabelos. Mas os de Aery chamavam atenção, não só pela cor, mas pela forma como se moviam, como pareciam ganhar vida própria quando ela se mexia.
Eram rebeldes, mas macios. Exatamente como ela: difícil de controlar, impossível de ignorar.
Ele soltou um suspiro baixo, sentindo a textura entre os dedos. Era estranho fazer aquilo, mas estranhamente satisfatório.
Seus pensamentos foram interrompidos quando Aery inclinou a cabeça para trás, olhando para ele com os olhos brilhantes de diversão.
— Está tudo bem aí atrás, grande guerreiro? — ela provocou, um sorriso brincando nos lábios.
Leo revirou os olhos e continuou a tarefa com mais firmeza.
— Apenas tentando entender como você consegue sobreviver com essa coisa gigantesca na cabeça.
Ela riu, e ele sentiu uma estranha satisfação ao ouvir o som.
Talvez cuidar dos cabelos dela não fosse a pior coisa do mundo.
Quando terminaram, os cabelos de Aery estavam quase secos. Ela os balançou alegremente.
— Viu só? Você tem talento para isso.
— Se você disser isso mais uma vez, talvez eu realmente jogue seu cabelo na lareira.
Aery cruzou os braços, observando os fios negros de Leo ainda úmidos enquanto ele terminava de ajeitar as armas e o cinto.
— Agora é a minha vez! — Ela anunciou, aproximando-se com uma toalha.
Leo arqueou uma sobrancelha.
— Sua vez de quê?
— De cuidar do seu cabelo, é claro!
— Nem pensar. — Ele recuou um passo, franzindo a testa. — Meu cabelo está bom.
— Está molhado, Leo. — Aery insistiu, colocando as mãos na cintura. — Vai acabar pegando um resfriado.
— Elfos negros não pegam resfriados, branquinha.
— Ah, que bom! — Ela sorriu, puxando o braço dele com firmeza antes que ele escapasse.
Leo bufou, mas cedeu, sentando-se na cadeira ao lado da janela.
Aery começou a secar seus cabelos com cuidado, os dedos deslizando pelos fios lisos.
— Você tem um cabelo bonito, sabia, Leo?
Ele franziu o cenho.
— Eu nunca pensei nisso.
— É porque nunca cuidou direito. — Ela brincou, terminando de secá-lo. — Nunca cuidou e tá melhor que o meu… Que injusto!!
Mas quando tocou seus próprios fios, Aery arregalou os olhos.
— Ah, não! Meu cabelo tá parecendo uma nuvem!
Leo a observou com um meio sorriso.
— Você é a especialista em cabelos. Resolva isso.
— E eu vou! — Ela disse com convicção, puxando um pequeno frasco da bolsa. — Este é o meu segredo: mix de óleos de flores. É perfeito para cabelos rebeldes.
Ela derramou algumas gotas na palma da mão, esfregou giolentamente para aquecê-lo e começou a aplicar cuidadosamente nos fios.
— Viu? Fácil assim.
Leo a observou, intrigado.
— Parece... eficiente.
Aery estreitou os olhos e segurou o frasco com um sorriso travesso.
— Está na hora de experimentar no seu cabelo também, Leo.
— Não.
— Tarde demais! — Ela riu, espalhando uma pequena quantidade nas mãos antes que ele pudesse escapar e deslizando os dedos pelos fios negros dele.
Leo resmungou, mas não a afastou.
— Está melhor assim. — Aery disse com orgulho.
Ele passou a mão pelos cabelos, sentindo a textura mais suave.
— Você realmente gosta de exagerar, não é?
— Eu gosto de fazer as coisas bem feitas. — Ela ergueu o queixo com um sorriso satisfeito. — Se bem que... seu cabelo bagunçado combina com você.
Leo balançou a cabeça, mas havia um leve sorriso escondido.
— Vamos sair logo, antes que você invente outra coisa.
— Outra coisa? — Aery provocou. — Talvez eu deva começar a trançar seu cabelo!
— Nem tente, branquinha.
Rindo, os dois saíram do quarto, prontos para enfrentar o dia com seus cabelos impecáveis.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
Ana Beatriz Souza
ate o momento os dois são fofos juntos kk
2025-03-27
0
Aline C
kakakaka
2025-03-24
0
Aline C
lindos
2025-03-24
0