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Aery continuava com sua energia contagiante, pulando de pedra em pedra ao lado do caminho enquanto
Leo mantinha um ritmo constante e silencioso. Sua expressão permanecia fechada, mas seu olhar atento analisava a estrada e os arredores, sempre em alerta para qualquer perigo.
A trilha era traiçoeira, e ele sabia que bandidos ou criaturas poderiam surgir a qualquer momento.
Mas Aery, como sempre, parecia alheia a qualquer preocupação.
Ela começou a cantarolar uma melodia suave e melancólica, deixando o som fluir como se fosse natural.
Leo franziu o cenho.
— Que música é essa?
Aery sorriu sem parar de caminhar.
— Uma canção antiga do meu povo. Minha mãe costumava cantar para mim.
Leo apenas assentiu. Havia algo na voz dela que o fez querer continuar ouvindo, mas ele afastou essa ideia.
Aery, atenta como sempre ao menor traço de emoção nele, estreitou os olhos com um brilho travesso.
— Aposto que você também sabe cantar.
— Não.
— Ah, vamos, Leo! Alguma canção dos elfos negros?
Ele a olhou de relance.
— As canções que conheço não são para diversão, branquinha. E você definitivamente não gostaria delas.
— Que dramático. — Aery riu, saltando de uma pedra e aterrissando ao lado dele. — Um dia, eu vou fazer você cantar.
— Boa sorte com isso.
Aery lançou um olhar desafiador antes de continuar cantarolando, agora mais alto, apenas para provocá-lo.
O dia seguiu sem maiores problemas, até que chegaram a uma bifurcação. De um lado, uma colina coberta por árvores esparsas; do outro, um bosque escuro e sombrio.
— Para onde agora? — Aery perguntou, colocando as mãos nos quadris.
Leo cruzou os braços, analisando o cenário.
— O bosque é mais curto, mas perigoso à noite. A colina leva mais tempo, mas é mais segura.
— Então para o bosque! — Aery decidiu imediatamente, começando a andar.
Leo segurou seu braço antes que ela pudesse dar mais de dois passos.
— Você não aprende?
— O quê? — Ela piscou os olhos, inocente.
— Que lugares assim costumam ter coisas que tentam nos matar.
Aery suspirou dramaticamente.
— Mas olha só! É tão mágico! Aposto que vamos encontrar algo incrível lá dentro!
— Ou algo que vai querer arrancar sua cabeça.
Ela fez um biquinho, mas no fim, cedeu.
— Tudo bem, colina. Mas só porque você está com medo do bosque.
Leo apenas começou a subir sem responder.
— Eu não estou com medo do bosque. Estou com medo das suas escolhas.
— Isso foi muito fofo, Leo.
Ele revirou os olhos, pensando em como diabos essa elfa sobreviveu até agora.
⋅⋆⭑✧⭑⋆⋅
A subida foi tranquila, e as cores do crepúsculo pintavam o céu de tons dourados e avermelhados.
Aery colheu flores pelo caminho, terminando mais uma tiara enquanto saltitava ao lado de Leo.
Quando chegaram ao topo, a vista os fez parar. O horizonte se estendia vasto, o bosque escuro abaixo e, ao longe, as luzes de uma pequena aldeia cintilavam fracamente.
— Uau… — Aery sussurrou. O vento bagunçava seus cabelos, e ela segurava a nova tiara em uma das mãos. — É lindo, não é?
Leo, ligeiramente atrás, apenas observou em silêncio.
Não a vista, mas Aery.
O brilho fascinado em seus olhos, o sorriso suave, o modo como a brisa brincava com seus fios ruivos, e em como a luz do crepúsculo iluminava sua figura.
Ele desviou o olhar antes que ela percebesse.
— Já viu o bastante, branquinha?
— Ainda não! Quero ficar aqui um pouco mais.
Ela se sentou na grama, esticando as pernas e suspirando feliz. Leo revirou os olhos, mas acabou se sentando ao lado dela, sempre atento ao redor.
— Você nunca relaxa, né?
— Alguém tem que ficar alerta.
— E eu fico com a parte de apreciar a vista. — Aery sorriu, e antes que Leo pudesse reagir, colocou a tiara de flores na cabeça dele.
Leo ficou imóvel.
— Sério, Aery?
— Claro! Agora estamos combinando. Não é perfeito?
Ele tirou a tiara imediatamente, mas Aery segurou suas mãos, rindo.
— Nem pense nisso, Leo! Ficou ótimo em você.
Ele bufou, resignado.
— Você é insuportável.
— E você é um ótimo modelo para tiaras de flores.
Um tempo se passou, e um silêncio confortável se instalou. Aery brincava com uma flor, enquanto Leo permanecia em alerta, mas menos tenso.
— Leo… — Aery quebrou o silêncio, mais séria. — Você acha que um dia as pessoas vão parar de se odiar tanto?
Leo demorou para responder.
— Não sei. Mas o mundo não é gentil, Aery. As pessoas só enxergam o que querem.
Ela suspirou, olhando o céu estrelado.
— Talvez seja por isso que eu gosto de flores. Elas não se importam com quem você é. Só florescem.
Leo a olhou, desconfiado.
— Você é cheia de pensamentos estranhos.
Aery riu e o empurrou de leve.
— E você é um resmungão de coração mole.
Ele estreitou os olhos.
— Cuidado com o que diz, branquinha.
Quando o céu escureceu, começaram a descida até a aldeia, e Leo segurava a mão de Aery nos trechos íngremes.
As luzes da aldeia brilhavam à frente. Aery apontava para tudo — as casas charmosas cheias de verde, chaminés soltando fumaça, música ao fundo, uma pequena ponte de madeira.
— Leo, olha! Aposto que tem pão fresco lá dentro!
Ele ignorou seu entusiasmo.
— Nem todos os lugares gostam de estranhos.
Antes de atravessarem a ponte, Leo tirou a tiara e a esmagou com um gesto rápido.
— Ei! — Aery segurou suas mãos. — Era minha melhor obra até agora!
— Não vou entrar com isso. — Ele retrucou.
Um guarda humano os parou.
— Estrangeiros, hein? O que os traz a Ponteria?
Aery abriu um sorriso caloroso.
— Só estamos de passagem. Procurando um lugar para descansar e uma boa refeição.
O homem analisou os dois e, ao notar o sorriso dela, sua expressão suavizou.
— Bem, temos uma taverna com comida que vale a pena. É logo ali. — O homem apontou em uma direção mais iluminada.
Aery agradeceu o homem e puxou Leo na direção indicada.
— Olha, Leo! Que linda! — ela puxou Leo para dentro, sem dar oportunidade de resposta.
Dentro, o ambiente era vibrante e lotado de luzes. O cheiro de comida quente preenchia o ar, e o ambiente era limpo e aconchegante.
Aery puxou Leo para uma mesa no canto.
— Vamos comer primeiro. Você não pode reclamar de barriga cheia.
Ela sentiu o cheiro da comida antes mesmo de vê-la. O aroma quente de pão recém-saído do forno, carne temperada e especiarias adocicadas a fez suspirar de antecipação. Quando a garçonete pousou os pratos na mesa, seus olhos brilharam.
— Isso parece incrível! — exclamou, pegando um pedaço de pão sem esperar.
Leo apenas observou em silêncio, cortando um pedaço da carne com precisão. Ele nunca comia com pressa, diferente de Aery, que já devorava a refeição com entusiasmo.
A movimentação ao redor da taverna era constante. O barulho de risadas, canecas se chocando e conversas animadas preenchia o ambiente, mas algo estava diferente.
Aery percebeu que algumas pessoas lançavam olhares furtivos para sua mesa.
— Acho que estamos chamando atenção — murmurou, dando outra mordida.
Leo nem olhou ao redor.
— Normal.
— Normal? — Ela arqueou uma sobrancelha. — Tem pelo menos cinco pessoas cochichando e nos encarando como se fôssemos um espetáculo.
Leo suspirou.
— Você é uma elfa branca, Aery. E eu sou um elfo negro. Para eles, isso já é estranho o suficiente.
Ela franziu os lábios.
— Mas não estamos fazendo nada de mais.
— O que é exatamente o problema.
Antes que Aery pudesse questionar, um grupo de viajantes na mesa ao lado finalmente criou coragem para se aproximar.
— Desculpem a intromissão… — começou um homem de barba grande, sua expressão carregada de curiosidade. — Mas vocês dois… são companheiros de viagem?
— Depende da definição de “companheiros” — Leo resmungou, ainda cortando sua carne sem olhar para cima.
— Ele quis dizer que sim! — Aery sorriu, ignorando o olhar que Leo lhe lançou.
— Hm… — o homem trocou olhares com seus amigos. — É meio… incomum.
— Você não está errado — um dos amigos dele comentou. — Todo mundo sabe que suas raças não se dão bem.
— Pois é. Então como vocês…?
Leo finalmente ergueu os olhos, lançando um olhar afiado.
— Qual é a pergunta?
O grupo hesitou. A tensão na voz de Leo fez com que trocassem olhares nervosos.
— Só estamos curiosos, não queremos ofender — disse um deles. — Vocês são mercenários? Ou… um casal?
Aery engasgou com o pedaço de pão.
— O quê?!
Leo a encarou de canto, sua expressão impassível.
— Você tem cinco segundos para sair antes que eu me irrite de verdade.
O grupo riu nervosamente.
— Foi mal, foi mal. Mas olha, admita… vocês realmente não parecem só viajantes.
Aery suspirou, recuperando o fôlego.
— Não somos mercenários, nem casal. Só estamos… juntos.
— Isso não ajudou em nada.
— Então finjam que entenderam e voltem a beber.
O grupo riu, mas obedeceu, ainda lançando olhares intrigados enquanto voltavam para suas cadeiras.
Aery soltou um suspiro, pegando mais um pedaço do pão.
— As pessoas são curiosas, não?
— Elas são irritantes.
— Não foi tão ruim. Eles acharam que somos um casal.
Leo parou por um segundo, os olhos dourados se voltando lentamente para ela.
— E o que tem isso?
Aery deu de ombros, sorrindo.
— Não sei. Achei engraçado.
Leo apenas ficou observando os olhares que recebiam.
O clima relaxado durou pouco. Um grupo de mercenários entrou na taverna, rindo alto e esbarrando nos clientes.
Um deles — um homem robusto de barba escura — lançou um olhar interessado para Aery.
Leo imediatamente ficou tenso.
O homem se aproximou e apoiou a mão na mesa deles.
— Ei, docinho. Que tal deixar ele e vir beber conosco?
Aery piscou, surpresa.
Leo apenas levantou o olhar, mortalmente calmo.
— Saia.
O homem ignorou a ameaça velada, os olhos ainda em Aery.
— Nunca vi uma elfa tão bonita assim. Aposto que tem boas histórias pra contar.
Aery sorriu sem humor.
— E aposto que você não gostaria de ouvir nenhuma delas.
— Ah, eu adoraria. — Ele se inclinou um pouco mais.
Antes que Leo pudesse agir, Aery pegou um dos pedaços grandes de pão e o enfiou na boca do homem sem aviso.
O mercenário engasgou, recuando surpreso, enquanto a mesa ao lado caía na gargalhada.
— Aí está a minha resposta. — Aery sorriu doce.
Leo soltou uma risada baixa e sombria.
O homem, furioso, cuspiu o pedaço de pão e deu um passo à frente, mas antes que pudesse tocar Aery, Leo se moveu.
Em um instante, ele segurou o pulso do mercenário com força.
O homem tentou puxar a mão de volta, mas não conseguiu.
Leo o olhou com frieza.
— Se tentar de novo, vai perder essa mão.
O mercenário hesitou. Algo no olhar de Leo o fez perceber o erro.
Ele se afastou, praguejando, e voltou para sua mesa, sob risos abafados dos outros clientes da taverna.
Aery observou Leo, impressionada.
— Você não ia realmente cortar a mão dele, ia?
Leo apenas tomou outro gole de sua bebida.
— E se eu dissesse que sim?
Aery riu, pegando outro pedaço de pão.
— Então eu diria que você precisa de mais pão de mel na vida.
Leo apenas revirou os olhos.
Aery notou que Leo ficou ainda mais atento ao redor. Como se estivesse pronto para agir a qualquer momento.
Ela sorriu sozinha. Ele nunca admitiria, mas estava sempre cuidando dela.
E ela adorava isso.
A noite seguiu com Aery fazendo amizade com quase todos no salão, desde uma vovó tecelã até o bardo, que, inspirado, improvisou uma canção sobre "a elfa das flores e o guerreiro carrancudo". Aery riu, divertida, enquanto Leo apenas revirava os olhos do canto da taverna.
Mesmo preferindo observar de longe, ele não pôde evitar um pequeno sorriso ao vê-la tão à vontade.
Ela era assim — caótica, falante, impossível de ignorar.
Onde quer que estivesse, Aery iluminava o ambiente, e, apesar de sua relutância, Leo sentia-se arrastado por essa luz.
Quando Aery voltou para a mesa, trazendo mais dois pedaços de pão de mel em um prato, ela se jogou no banco à frente dele, ignorando os olhares que ainda pairavam sobre os dois.
— Você deveria provar mais disso, Leo. Está incrível! — Ela estendeu um pedaço para ele, animada.
Leo aceitou, mas não tirou os olhos do salão.
— Eles ainda estão olhando. — Sua voz soou baixa e tensa.
— Claro que estão. — Aery deu de ombros, mordendo um pedaço do pão. — Nunca viram alguém tão lindo como você antes.
Leo arqueou uma sobrancelha, lançando-lhe um olhar longo e avaliador.
— Você acha que isso é engraçado?
Aery sorriu, inclinando-se sobre a mesa.
— Acho que eles só estão curiosos.
Leo bufou, cruzando os braços.
— Curiosidade pode ser perigosa, branquinha.
— Ou pode ser o começo de algo bom.
Ela sustentou o olhar dele sem hesitação.
Leo poderia discutir, poderia rebatê-la com seu sarcasmo habitual, mas algo naquela convicção o fez apenas desviar os olhos, mordendo o pedaço de pão sem outro comentário.
Com o tempo, o burburinho na taverna tornou-se menos tenso. Algumas pessoas se aproximaram, puxando conversa com Aery sobre as terras além da aldeia.
Leo, embora ainda atento, deixou-se levar minimamente pelo calor daquela interação improvável.
Uma senhora idosa, de lenço colorido na cabeça, aproximou-se trazendo duas tigelas de sopa quente e colocou-a sobre a mesa.
— Para vocês. Parece que não comeram direito.
Aery sorriu, pegando uma colher sem hesitar.
— Uau! Obrigada! Está com um cheiro maravilhoso!
A velha sorriu, mas seus olhos curiosos pousaram em Leo.
— E você, elfo? Não vai comer?
Leo arqueou uma sobrancelha, mas antes que pudesse responder, Aery cutucou seu braço.
— Prove. Está muito bom.
Ele suspirou, pegou a colher e tomou um gole.
De fato, era saborosa.
Mas ele não admitiria isso tão fácil.
— Comível.
Aery revirou os olhos, voltando-se para a idosa.
— Não ligue para ele, ele é assim mesmo.
A mulher riu, balançando a cabeça antes de se afastar.
Pouco a pouco, a resistência ao redor se dissolveu. Alguns aldeões puxaram bancos próximos, curiosos sobre as histórias que Leo poderia contar sobre Ark ou as terras que Aery já havia visto.
Leo manteve-se reservado, mas quando um homem alto, de cabeça raspada e avental sujo de farinha, perguntou sobre sua espada, ele finalmente falou.
— Forjada em Durgrum. — Sua voz firme fez os outros se calarem. — Corta através das armaduras mais resistentes.
O padeiro assobiou, impressionado.
— Já precisou usá-la por aqui?
Leo ergueu um canto dos lábios em um sorriso seco.
— Se tivesse, vocês saberiam.
Aery reprimiu uma risada e inclinou-se na direção dele.
— Não precisa assustá-los, sabe?
— Só estou sendo honesto.
Havia um leve traço de humor em sua voz, o que a fez sorrir.
A noite avançou, o ambiente tornou-se mais caloroso, e as risadas foram preenchendo os espaços antes ocupados pela desconfiança.
Aery e Leo permaneceram um pouco mais, aceitando a hospitalidade inesperada daquele lugar.
Quando enfim decidiram se retirar para os aposentos no andar de cima, Aery virou-se para Leo enquanto subiam as escadas.
— Viu? Nem todo mundo é hostil.
Ele olhou para ela de soslaio, exausto, mas com um pequeno sorriso no canto dos lábios.
— Talvez você esteja certa desta vez, branquinha.
— Estou sempre certa. — Ela ergueu o queixo com um ar triunfante e subiu os degraus com um saltinho leve nos passos, deixando Leo para trás, balançando a cabeça com um suspiro.
Mesmo que ele nunca admitisse em voz alta, Aery tinha conseguido, de novo, iluminar um lugar que antes parecia sombrio.
E, por mais que ele se negasse a acreditar, talvez — apenas talvez — o mundo não fosse tão frio e cruel quanto sempre achou.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
Aline C
a esse ponto eu já dou like antes de começar a ler
2025-03-24
0
tuktuk
esse é o maior mistério da novel
2025-04-15
0
tuktuk
kkkkkkkkkkk
2025-04-15
0