Imprudente

⋅⋆⭑✧⭑⋆⋅

Ela se esparramou na pedra quente, de braços abertos, sem vergonha nenhuma.

O calor do sol contra a pele molhada era delicioso.

As gotículas d’água escorriam devagar por seu corpo, o contraste perfeito entre o frescor do lago e o calor da rocha.

Ela sorriu para si mesma, completamente relaxada.

Se Leo demorasse… tudo bem. Ela estava muito confortável para se preocupar.

Leo se afastou da margem do lago, os passos silenciosos sobre a terra úmida.

Ele não precisava olhar para trás para saber que Aery estava completamente relaxada sobre a pedra, aproveitando o calor do sol como se não houvesse um único perigo no mundo.

"Imprudente."

Ele sentiu antes mesmo de ver.

Aquela sensação sutil. Um peso na atmosfera. Alguém estava perto.

Leo parou.

Seus olhos dourados varreram a floresta ao redor, atenção máxima a qualquer movimento.

E então, ele viu.

Uma silhueta escura escondida entre as árvores, um reflexo metálico denunciando uma lâmina parcialmente desembainhada.

Leo não hesitou.

Moveu-se rápido. Veloz e letal como uma sombra.

O espião não teve chance.

Antes que pudesse reagir, Leo já estava atrás dele.

Uma única mão se fechou ao redor de sua garganta, cortando qualquer tentativa de grito.

Os olhos do homem se arregalaram, aterrorizados.

Leo o arrastou para longe, a força absurda de seus braços suficiente para levantá-lo do chão sem esforço.

— Quem te enviou? — sua voz saiu baixa, perigosa.

O homem tentou lutar, arranhando os pulsos de Leo, mas era inútil.

Leo apertou mais.

O homem engasgou, sufocando.

— E-eu…

— Você a viu? — sua voz saiu mais grave, seus olhos escureceram.

Os olhos do espião humano tremiam, desesperados, procurando uma saída.

Ele sabia que ia morrer.

E sabia que nada do que dissesse o impediria.

Leo percebeu isso. E não se importou.

Seus dedos se contraíram mais um pouco…

Um estalo seco ecoou pela floresta.

O corpo do espião ficou mole em seus braços. O cadáver caiu entre as folhas, a lâmina do homem ainda brilhando sob a luz do sol filtrada.

Leo analisou, procurando qualquer prova, mas não encontrou.

Ele não olhou para trás. Ele já tinha esquecido o rosto do homem antes mesmo de ele tocar o chão.

Leo voltou ao lago poucos minutos depois.

E parou no mesmo instante. O ar travou em seus pulmões.

Aery ainda estava sobre a pedra. Mas agora… Ela estava dormindo.

O corpo delicado estava esparramado sobre a superfície quente, os cabelos ruivos espalhados ao redor como um manto de fogo.

A anágua molhada grudava em cada curva, delineando sua pele alva, os seios subindo e descendo suavemente a cada respiração tranquila.

Leo sentiu os músculos do maxilar se contraírem.

"Ela é idiota?"

Qualquer um poderia ter chegado ali e feito o que quisesse.

Ela não se preocupou em se cobrir.

Não se preocupava com nada.

A perna dobrada de um jeito preguiçoso, os braços jogados acima da cabeça, a expressão tão inocente…

E ela não fazia ideia do efeito que tinha.

Leo ficou irritado.

Irritado porque ela baixava a guarda demais.

Irritado porque ele não deveria estar olhando assim.

Irritado porque não conseguia parar.

Ele fechou as mãos em punhos, o peito subindo e descendo devagar.

Se Aery soubesse o que ele acabou de fazer…

Se soubesse o quão fácil era matar alguém…

Se soubesse que suas mãos ainda formigavam do último pescoço que esmagou…

Ela o olharia diferente? Continuaria ali assim?

Leo passou a língua pelos dentes, os olhos ainda presos naquela visão perigosa e tentadora à sua frente.

Aery gemeu baixinho no sono, se espreguiçando um pouco, a curva da cintura esticando suavemente.

Leo não se mexeu. A respiração ficou mais lenta.

Ele não deveria se aproximar.

Mas se aproximou.

Seus passos foram silenciosos, sua respiração ainda controlada.

Se estivesse diante de um inimigo, teria cravado a lâmina na garganta antes mesmo de ser notado.

Mas ali… Aery dormia.

Indefesa. Vulnerável. Exposta.

E ele não conseguia ignorar isso. Leo se agachou ao lado da pedra, os olhos dourados analisando cada detalhe dela.

Mas não do jeito que Aery provavelmente esperaria.

Dessa vez, ele olhou diferente.

Tentando entender.

Tentando encontrar um padrão.

Porque nada nela fazia sentido.

"Por que diabos você é assim?"

Tão livre. Tão despreocupada. Tão estúpida.

Mas, ao mesmo tempo… tão absurdamente viva.

O que ela esconde?

O que fez com que uma elfa branca deixasse sua terra sem olhar para trás?

Leo listou as possibilidades em sua mente, uma por uma.

Foi banida?

Foi rejeitada pela própria família?

Ou pior… Fugiu de algo que não quer que a alcance?

Leo apertou a mandíbula.

Porque, se alguém a descartou…

Então essa pessoa merecia morrer.

Antes que o pensamento se aprofundasse demais, Aery se mexeu.

Leo se preparou para se afastar. Mas ela não acordou. Em vez disso, soltou uma risadinha baixa, sonolenta.

O som foi suave, doce.

E Leo sentiu o peito apertar de um jeito que odiou.

"Branquinha… até dormindo você me irrita."

Aery soltou outra risadinha baixa, como se respondesse seus pensamentos. O som suave vibrando entre os lábios entreabertos.

Os cílios longos tremiam levemente, a pele rosada pelo calor do sol…

Ela parecia absurdamente confortável.

Como se o mundo não pudesse tocá-la.

Como se nada pudesse alcançá-la ali.

Leo estreitou os olhos.

"Com o que você está sonhando, branquinha?"

E, sem perceber, Leo ergueu a mão. Os dedos se moveram por instinto, roçando de leve contra seu rosto.

Aery franziu o cenho, ainda dormindo.

Leo deslizou os dedos devagar, testando a textura quente de sua pele sob a ponta deles.

Macia. delicada. Quase irreal.

Mas, antes que pudesse afastar a mão, Aery murmurou algo.

Baixo. Quase um sussurro.

— Hmm… mais…

Leo esticou a coluna no mesmo instante. Os olhos dele se afiaram.

— Mais o quê?

Aery virou o rosto para o lado, os lábios se movendo outra vez.

Dessa vez, as palavras saíram mais claras.

— Só mais um pouco… por favor…

Leo segurou a respiração.

"Que diabos você está sonhando?"

Ele não gostou do que sentiu.

Aery parecia… pedir por algo. Algo que a confortava. Algo que ela queria muito.

Mas o quê?

E por quê?

Leo apertou os punhos.

Se fosse algo que a fazia feliz…

Ou se fosse alguém.

Ele queria saber.

E queria destruir.

Ele recuou a mão lentamente.

Aery ainda murmurava coisas no sono, perdida em algum sonho que ele não fazia ideia do que era.

E isso o irritou. Ele não gostava de não saber.

E gostava ainda menos da sensação estranha que isso provocava nele.

Aery queria "mais". Mas mais do quê?

Mais tempo?

Mais calor?

Mais… alguém?

Leo sentiu um gosto amargo na boca.

Ele não perguntaria. Mas descobriria.

De um jeito ou de outro.

Ele se afastou da pedra, indo até suas coisas.

Enquanto verificava as bainhas de suas lâminas, os olhos ainda estavam atentos a ela.

Enquanto ajustava os fechos da armadura, ele ouvia cada respiração dela.

Mesmo quando tentou se concentrar em outra coisa, uma parte dele continuava esperando.

E então, finalmente… Aery se mexeu.

Leo se virou no mesmo instante.

Os cílios dela tremularam levemente, os lábios soltaram um pequeno suspiro, e então…

Os olhos turquesa se abriram. Por um segundo, ela pareceu confusa. E então sorriu preguiçosamente.

— Hmmm… acho que tirei um cochilo.

Leo apenas cruzou os braços.

— É mesmo?

Aery esticou os braços acima da cabeça, se espreguiçando sobre a pedra quente.

Leo não olhou.

Ou, pelo menos, tentou não olhar.

Mas os olhos dele foram direto para a curva suave da cintura dela.

Para a forma como o tecido fino subiu um pouco com o movimento.

Para a forma como a luz do sol beijava sua pele úmida.

Aery nem fazia ideia do que causava. E isso o irritou ainda mais.

— Dormiu bem? — Ele perguntou, seco.

Aery piscou algumas vezes, ainda meio sonolenta.

— Muito. O sol estava tão quentinho… parecia um abraço.

Leo apertou a mandíbula.

"Um abraço."

Que abraço, branquinha?

De quem?

Aery bocejou, completamente alheia ao que se passava na cabeça dele.

E Leo só podia contar isso como sorte dela.

Ela se sentou e piscou algumas vezes, a expressão sonolenta e relaxada, antes de virar o rosto para Leo.

— No que você está pensando?

Leo continuou onde estava, os braços cruzados, a expressão neutra demais.

— Nada que te interesse.

Aery estreitou os olhos.

— Então estava pensando em mim. — uma expressão maliciosa surgiu em seu rosto.

Leo arqueou uma sobrancelha.

— Isso é o que você quer acreditar.

Ela sorriu preguiçosa, inclinando o corpo para o lado para se espreguiçar… mas calculou errado.

Muito errado.

Seu quadril escorregou um pouco da pedra, os pés desajeitados tentando recuperar o equilíbrio.

— Opa—

E então, ela caiu.

O som do mergulho foi alto, ecoando pelo lago.

Leo não se moveu. Não por preocupação.

Mas porque ele realmente não conseguia acreditar no que tinha acabado de ver.

Ele apertou os olhos, segurando a ponte do nariz enquanto Aery emergia rindo.

— Ai, ai… eu estava tão sequinha.

Ela suspirou, jogando a cabeça para trás e passando as mãos pelos cabelos molhados.

— Bom, agora que já estou aqui… acho que vou nadar mais um pouco.

Leo sentiu o olho quase tremer.

Deuses… Ele ia ter que aguentar mais?

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!