⋅⋆⭑✧⭑⋆⋅
O riacho cortava a floresta como uma trilha cristalina, serpenteando entre as pedras escuras e a vegetação. O som da água corrente misturava-se ao canto distante dos pássaros, criando uma melodia suave.
Aery caminhava com passos leves, chegando em uma pedra grande, equilibrando-se no meio da água, enquanto Leo a observava com os braços cruzados, parado na margem.
— Vai ficar só olhando, grandão? — Aery provocou, lançando-lhe um olhar travesso.
Leo arqueou uma sobrancelha, seu olhar dourado fixo nela.
— Estou esperando você cair.
Aery bufou, mas prosseguiu.
As pedras escorregadias eram traiçoeiras, mas ela não daria a Leo o gostinho de vê-la deslizar. Com cuidado, foi pulando de uma para outra, até alcançar uma parte mais funda do riacho, onde a água corria com mais força.
— Esse lugar é lindo! — exclamou, girando nos calcanhares.
— Você fala isso de todo lugar...
Diferente dela, Leo nunca parecia impressionado com a paisagens, apenas mantinha-se atento, como se esperasse problemas a qualquer instante.
— Você é sempre assim, carrancudo?
— E você é sempre tão inconsequente?
Aery revirou os olhos e testou uma pedra maior. Sentia-se confortável ali, rodeada pelo frescor da água e pelo cheiro puro da floresta.
— Relaxa, Leo. Você age como se um monstro fosse pular daqui a qualquer momento.
— Não seria surpresa — ele resmungou.
Antes que ela pudesse responder, um de seus pés deslizou na pedra molhada. O mundo girou, e Aery soltou um gritinho antes de despencar direto na água.
O impacto foi gelado e abrupto. Aery emergiu tossindo, os cabelos encharcados grudando em seu rosto.
— Frio! Frio! Frio! — ela choramingou, abraçando os braços.
Na margem, Leo a observava com a expressão mais impassível do mundo.
— Tão graciosa quanto um goblin.
Aery estreitou os olhos.
— Você não vai me ajudar?!
Ele deu de ombros.
— Você caiu sozinha. Pode sair sozinha.
Ela bufou, tentando alcançar a margem escorregadia. A roupa pesava, grudando-se a seu corpo e dificultando seus movimentos.
— Leo...
— O quê?
Aery lhe lançou o olhar mais adorável possível.
— Você vai ficar me olhando assim mesmo?
Ele soltou um longo suspiro ignorando o pulo no seu coração, finalmente caminhando até a borda do riacho. Agachou-se e estendeu a mão para ela.
Aery sorriu de canto. Agarrou a mão dele... e, com um puxão repentino, tentou arrastá-lo para a água.
Mas Leo não se moveu nem um centímetro.
Ela piscou, surpresa, enquanto ele a encarava com um olhar lento e predatório.
— Você realmente tentou isso? — a voz dele estava carregada de divertimento sombrio.
— …Talvez?
Antes que pudesse reagir, Leo apertou sua mão e, com um único movimento, puxou-a para fora da água como se fosse um galho molhado.
Aery tropeçou para frente, chocando-se contra o peito firme dele.
Ele não se mexeu.
Seu coração disparou.
O calor do corpo de Leo contrastava com o frio em sua pele, e a proximidade repentina a fez prender a respiração. Quando ergueu os olhos, encontrou o olhar dele fixo no seu, intenso, avaliador.
O tempo pareceu desacelerar.
Foi Aery quem se afastou primeiro, cruzando os braços.
— Você é muito forte. Isso é irritante.
Leo soltou um risinho baixo.
— E você é muito fraca. Isso é preocupante.
— Ei!
Ele virou-se, como se já tivesse perdido o interesse, e começou a andar de volta.
Aery ficou parada por um momento, depois correu atrás dele, ainda gotejando.
— Agora eu tô com frio!
— Problema seu.
— Leo!
— Você não se cansa em se meter em problemas?
— ...Bom, pelo menos agora você tem uma boa história para contar.
Leo cruzou os braços, a expressão fechada, mas com um brilho sarcástico nos olhos.
— Sim. A história de como tive que salvar uma elfa branca boba de se afogar em um riacho raso.
Aery riu, espremendo o excesso de água dos cabelos e tirando as flores molhadas presas nos fios.
— Admito, fui um pouquinho impulsiva.
Leo arqueou uma sobrancelha.
Ela suspirou, revirando os olhos.
— Tá bom, talvez muito.
Eles voltaram para a margem, onde Aery se esparramando na grama e espalhando os cabelos ao sol para secar. Leo observava tudo com um olhar cético.
— Viu? No fim, valeu a pena!
Leo suspirou.
— Você é impossível, branquinha.
Aery sorriu, os olhos brilhando.
— Mas você gosta.
Leo balançou a cabeça, mas não negou.
Aery fechou os olhos, relaxando sobre a grama. Sua pele parecia translúcida sob a luz dourada, e as roupas molhadas grudavam ao corpo, revelando mais do que talvez ela percebesse.
Leo, parado a poucos passos, cruzou os braços. Ele queria desviar o olhar.
Deveria.
Mas não o fez.
Havia algo cativante na despreocupação dela, na forma como parecia aproveitar o momento sem peso algum nos ombros.
Mesmo depois de quase se machucar, Aery sorria, como se estar viva fosse o suficiente para deixá-la feliz.
O silêncio entre eles se alongou, carregado de algo indefinível.
— Vai ficar me olhando a tarde toda? — A voz dela veio suave, mas carregada de diversão.
Leo ergueu as sobrancelhas, disfarçando.
— Não estava te olhando. Estava... pensando.
Aery abriu um olho, piscando para ele com provocação.
— Ah, claro. Pensando. E no que exatamente?
Ele cruzou os braços mais firmemente, tentando soar indiferente.
— Pensando que você devia trocar essas roupas antes de pegar um resfriado.
Aery suspirou dramaticamente.
— Ah, mas o sol está tão bom... Aposto que vai secar rapidinho.
Leo bufou, mas seus olhos voltaram a desviar para ela.
"Ela nem percebe o impacto que causa."
— E você? Vai ficar aí todo sério ou vai relaxar um pouco?
— Alguém tem que ficar alerta, caso você decida se jogar na água de novo.
Ela riu, e o som suave e cristalino fez algo apertar no peito dele.
— Você é um protetor muito dedicado, Leo. Estou em boas mãos.
Ele desviou o olhar, desconfortável com o jeito natural que ela dizia essas coisas.
— Só não quero ter que te puxar de outro problema.
— Claro, claro... — Aery sorriu, inclinando a cabeça. — Mas sabe, você devia se dar um descanso. Vem aqui.
Leo hesitou, mas acabou se sentando ao lado dela, ainda mantendo a postura rígida.
— Às vezes você devia aproveitar o momento, sabia? — Aery disse suavemente, fechando os olhos de novo.
Leo não respondeu de imediato, apenas a observou.
As bochechas dela estavam mais coradas que o normal, e o coração dele batia um pouco mais forte do que ele estava disposto a admitir.
— Sabe, se continuar aí assim, vai acabar virando um tomate.
Aery abriu um olho, encarando-o com uma expressão desconfiada.
— Um tomate?
Leo deu de ombros, apontando para ela.
— Mais uns minutos nesse sol e você vai estar tão vermelha quanto uma fruta madura.
Ela sentou-se, fingindo indignação, os lábios formando um beicinho dramático.
— Um tomate, Leo? É assim que você me vê?
— Só estou dizendo a verdade, branquinha. Vai ser difícil te levar a sério em uma batalha se eu tiver que proteger uma elfa-tomate.
— Ah, é? — Aery se levantou em um pulo, cruzando os braços. — Pois saiba que eu ficaria muito elegante como um tomate. O mais majestoso de Odeon!
Leo riu. Um som baixo, mas genuíno.
— Majestoso, é? Imagino você liderando um exército de vegetais.
Ela estreitou os olhos, mas seu sorriso traiu a falsa irritação.
— Pelo menos eu teria um exército. E você? Ficaria sozinho, resmungando com uma espada.
Ele pegou um pequeno galho do chão e jogou na direção dela como um desafio brincalhão.
— Melhor do que virar salada.
Aery riu alto, pegando o galho e apontando para ele como se fosse uma espada.
— Isso é uma declaração de guerra? Porque eu nunca perco uma batalha.
O riso deles ecoou entre as árvores.
Havia certo conforto nas provocações e conversas bobas.
Como se, por um instante, o mundo lá fora não existisse.
Depois, Aery voltou a se deitar na grama, enquanto Leo ficou sentado ao lado, observando o riacho correr preguiçosamente.
— Tá vendo? Eu sou ótima em melhorar o seu humor, rabugento.
Leo bufou, mas o canto de seus lábios ameaçou se curvar em um sorriso.
— Melhorar meu humor? Você mais me cansa do que qualquer coisa.
— Claro, claro — zombou ela. — Admitir que sou divertida seria muito difícil para você, né?
Ele não respondeu de imediato, apenas a observou. Ela parecia inofensiva, em paz... como se o peso do mundo não a alcançasse.
— Você devia se cobrir um pouco — disse ele, desviando o olhar. — Está molhada e essa brisa vai te fazer pegar um resfriado.
— Ah, não se preocupe comigo. O sol já está secando tudo.
— Você tá mesmo contando com o sol para fazer todo o trabalho?
— Claro! — Ela estendeu os braços, absorvendo a luz. — É como uma bênção natural!
Leo balançou a cabeça.
— Um dia essa sua fé no mundo vai te colocar em apuros.
— Por enquanto, funciona muito bem.
Ele suspirou, tirando a capa das costas. Sem dizer nada, jogou sobre ela.
Aery olhou surpresa.
— Só use isso até secar de vez. Não preciso de você espirrando depois.
Ela riu, puxando o tecido para si.
— Quem diria que o rabugento tem um coração?
— Não se empolgue. Só não quero carregar você se ficar doente.
Ela riu novamente, mas seu olhar suavizou.
— Obrigada, Leo.
Ele não respondeu, apenas fitou o riacho. Mas Aery percebeu o leve sorriso em seus lábios.
E isso foi o suficiente para aquecer seu coração.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 45
Comments
Gelcinete J. Rebouças
Será que os homens estão os seguindo?
2025-02-20
0