⋅⋆⭑✧⭑⋆⋅
O silêncio pairava sobre as ruínas, quebrado apenas pelo sussurro do vento entre as pedras desgastadas pelo tempo.
Aery abaixou os olhos para o símbolo esculpido no altar antigo, sentindo a dor oculta por trás da lenda.
Aquilo não era apenas um mito — era a história do povo de Leo, gravada em marcas de sofrimento e resistência.
— Vocês ainda acreditam que o equilíbrio pode ser restaurado? — sua voz saiu hesitante, mas carregada de esperança.
Leo manteve o olhar fixo no símbolo, um músculo em sua mandíbula se contraindo antes de responder.
— Alguns acreditam. Mas a maioria já desistiu há muito tempo.
Aery ergueu o rosto para ele, determinada.
— Então eu vou provar que ainda há esperança.
Leo virou-se devagar, os olhos dourados brilhando na penumbra das ruínas. A incredulidade misturava-se com uma ponta de admiração silenciosa.
— Você é tão ingênua.
Aery sorriu, inclinando a cabeça de lado.
— Ingênua ou corajosa?
Ele riu — um som baixo e raro, mas genuíno.
— Talvez um pouco dos dois.
Leo deu um passo à frente, os olhos fixos nos dela.
— Mas cuidado, branquinha. Se você mexer muito na sombra, ela pode te engolir.
Aery ergueu o queixo, desafiadora.
— E se eu não tiver medo da sombra?
Por um momento, Leo permaneceu em silêncio, observando-a.
Então, sua mão tocou suavemente o rosto dela, os dedos traçando um caminho sutil sobre sua pele fria.
— Então talvez… você seja a única que pode realmente me entender.
Aery sentiu o calor subir até suas bochechas, o coração tropeçando no peito. Leo nunca falava tão abertamente.
"O que ele esconde? O que carrega dentro de si que o assombra tanto?"
A tensão pairou entre eles por mais alguns instantes, até Aery finalmente se afastar, sacudindo a poeira da saia e estendendo a mão para ele.
— Vamos, sombrio. Ainda temos um longo caminho pela frente.
Leo segurou a mão dela por um segundo antes de se erguer com facilidade.
— Sombrio? E você seria o quê? Luz radiante? — sua voz carregava um tom zombeteiro, mas os olhos não escondiam o brilho divertido.
Aery riu, começando a caminhar.
— Exatamente! Pode me chamar de Aery, a Brilhante.
Leo bufou, balançando a cabeça.
— Brilhante ou irritante? Às vezes, não sei a diferença.
Aery piscou para ele.
— E também Aery, a Persistente! Porque eu vou continuar perguntando até você me contar tudo.
Leo passou a mão pelos cabelos negros, soltando um suspiro exagerado.
Eles continuaram caminhando, o som de suas botas abafado pelo solo coberto de folhas.
A floresta densa ao redor parecia menos ameaçadora do que antes, mas Leo sabia que a tranquilidade era sempre traiçoeira.
— Você realmente quer saber? Mesmo sabendo que algumas histórias não são fáceis de ouvir? — ele perguntou, erguendo uma sobrancelha.
Aery assentiu, séria.
— Quero saber tudo. Quero entender o que fez de você quem é.
Leo prendeu a respiração por um instante. Aery não era como os outros.
Ela não queria apenas respostas — queria enxergá-lo de verdade.
Ele soltou o ar lentamente.
— Tudo bem. Vou te contar mais. Mas com uma condição.
Aery cruzou os braços.
— Qual?
O sorriso sarcástico retornou aos lábios dele.
— Tente não tropeçar nas raízes dessa vez.
Aery empurrou seu ombro, rindo.
— Ei! Não foi culpa minha! A floresta se moveu!
— Claro. A floresta conspirou contra você.
— Exato! Está vendo? Até as árvores me adoram!
Leo riu baixo, balançando a cabeça. Por mais que carregasse sombras dentro de si, ao lado dela, o peso parecia um pouco menor.
⋅⋆⭑✧⭑⋆⋅
Aery se sentou na pedra, observando Leo afiar sua espada com precisão letal.
O brilho da lâmina refletia o fogo da fogueira, e os músculos dele se contraíam a cada movimento.
Ela apoiou o queixo nas mãos, pensativa.
— Leo…
— Hm.
— Você acha que eu poderia ser uma grande estrategista?
Ele parou por um segundo, franzindo o cenho.
— Você?
— Sim!
Leo voltou a afiar a lâmina, sem pressa.
— Com que base está dizendo isso?
— Bom… Eu sou inteligente. Criativa. Boa em improviso. — disse jogando os cabelos para trás.
Leo ergueu os olhos.
— Você achou que um javali falante era um espírito sagrado e tentou conversar com ele.
— Era um javali muito carismático!
Leo bufou, voltando à espada.
— Você não é estrategista, branquinha.
Aery fez um beicinho.
— Mas e se eu fosse? Eu poderia ser sua comandante e te dar ordens no campo de batalha.
Leo soltou um riso baixo.
— Você me dando ordens?
— Exatamente!
Ele olhou para ela com um brilho divertido nos olhos.
— Certo. Diga-me o que fazer, O' grande estrategista.
Aery pigarreou, assumindo sua melhor postura de comandante.
— Você, soldado! Vá até aquele rio e traga água fresca!
Leo não se moveu.
— Continue sonhando.
— O exército precisa de disciplina, Leo!
Ele sorriu de lado.
— E você precisa aceitar que jamais terá autoridade sobre mim.
Aery cruzou os braços, fingindo estar ofendida.
— Isso é motim.
— Isso é realidade.
Ela o observou por um instante antes de sorrir e murmurar:
— Mas você me obedeceria se fosse algo sério.
Leo parou.
Aery sentiu o coração acelerar.
Mas antes que pudesse dizer algo, Leo voltou a afiar a espada, cortando o assunto ali.
Mesmo negando, ele sempre a escutava.
⋅⋆⭑✧⭑⋆⋅
Aery observava sua presa com olhos calculistas.
Seu alvo: Leo.
Seu crime: ter roubado seu pão no café da manhã.
Ele estava sentado perto da fogueira, afundado na leitura de um mapa, completamente alheio ao perigo iminente.
Aery se aproximou sorrateiramente, cada passo preciso, silencioso.
O plano era simples: pegá-lo desprevenido e recuperar sua honra.
Com um movimento ágil, ela estendeu a mão e—
Em um piscar de olhos, Leo agarrou seu pulso no ar, sem nem desviar o olhar do mapa.
— Você realmente achou que ia funcionar?
Aery congelou.
— Eu… eu posso explicar. — ela soltou uma risadinha nervosa.
Ele finalmente ergueu os olhos dourados, entediado.
— Vai dizer que veio me atacar por outro motivo?
Ela forçou um sorriso inocente.
— Era um abraço surpresa.
Leo arqueou a sobrancelha.
— Um abraço que mirava a minha comida?
Aery suspirou, derrotada.
— Você roubou meu pão, Leo. Eu só queria justiça.
Ele deu um pequeno sorriso satisfeito, puxando-a levemente para mais perto.
— Justiça? O mundo não é justo, branquinha.
— Mas eu sou! Então devolva.
— Não sobrou nada.
Ela arregalou os olhos.
— Você comeu tudo?!
Leo deu de ombros.
— Você demora demais pra comer. Isso é culpa sua.
Aery bufou, cruzando os braços.
— Eu devia te amaldiçoar.
Leo riu.
— Você é incapaz de me amaldiçoar.
Aery estreitou os olhos.
Ela ergueu as mãos, murmurando palavras indecifráveis e girando os dedos no ar.
Leo apenas observou, impassível.
— O que você está fazendo?
— Lançando uma maldição terrível. — Ela abriu os olhos, dramática. — A partir de agora, toda comida que você tentar pegar cairá no chão antes de chegar à sua boca.
Leo piscou.
— Você acabou de me amaldiçoar com descoordenação motora?
— Sim!
Ele bufou, balançando a cabeça.
— Você é ridícula.
Aery sorriu.
— Ridiculamente poderosa.
Ele riu baixo, sem conseguir evitar.
E, para a surpresa de Aery, ele pegou o último pedaço de pão que tinha guardado e entregou a ela.
— Toma. Antes que tente algo ainda mais idiota.
Ela pegou o pão, vitoriosa, e piscou para ele.
— A justiça sempre vence.
Leo apenas revirou os olhos, mas havia um leve sorriso em seu rosto.
⋅⋆⭑✧⭑⋆⋅
Depois de mais uma hora caminhando, a floresta começou a se abrir, revelando um pequeno riacho de águas cristalinas. O som da correnteza misturava-se ao canto dos pássaros, criando uma atmosfera pacífica — mas Leo nunca baixava a guarda.
Aery, no entanto, parecia ter esquecido todos os perigos recentes. Com um brilho nos olhos, correu até o riacho, abaixando-se para encher as mãos com água fria.
— Isso é maravilhoso! — ela exclamou, jogando um pouco no rosto e rindo.
Leo encostou-se a uma árvore próxima, os braços cruzados.
— Não se esqueça, branquinha. Lugares assim costumam atrair caçadores.
— Sempre tão otimista. — Aery revirou os olhos. — Devia experimentar isso. É relaxante.
— Passo.
Mas seus olhos não deixaram de segui-la, atentos como sempre.
Foi então que algo chamou sua atenção. Um movimento sutil nos arbustos próximos.
Em um instante, Leo se colocou entre Aery e a fonte do som, puxando-a para trás de si enquanto sacava a espada.
— O que foi? — ela sussurrou.
— Silêncio.
O arbusto se mexeu novamente. Leo firmou os pés, pronto para atacar…
Mas, em vez de uma fera ou criatura sombria, um pequeno animal saltou para fora.
Sua pelagem dourada brilhava à luz do sol, e seus grandes olhos azuis observavam os dois com uma curiosidade inocente.
Aery arregalou os olhos, maravilhada.
— Aaaah! Olha só pra você!
Leo abaixou a espada, franzindo o cenho.
— É só um bicho qualquer.
— Ele não é qualquer um! Olha essa cor!
Aery se abaixou lentamente, estendendo a mão.
Para sua surpresa, o pequeno animal não recuou. Ao contrário, aproximou-se hesitante, farejando seus dedos antes de encostar o focinho em sua palma.
— Ooh! Ele gostou de mim! — exclamou, quase chorando.
— Claro, branquinha. Porque até os animais mágicos caem no seu feitiço.
— Talvez ele possa ser nosso companheiro de viagem.
Leo suspirou, massageando as têmporas.
— Já temos problemas o suficiente.
O animal, no entanto, decidiu por conta própria. Com um salto ágil, subiu no colo de Aery e se aninhou confortavelmente.
— Acho que ele já escolheu. — ela disse, rindo.
Leo revirou os olhos.
— Isso vai ser um problema.
Aery ignorou seu mau humor, examinando o pequeno animal com carinho.
— Ele precisa de um nome. Algo especial.
Leo arqueou uma sobrancelha.
— Nome?
— Sim! Algo que combine com ele.
Ela observou o bichinho por alguns segundos e então sorriu.
— Que tal Lumir?
O pequeno animal inclinou a cabeça e piscou para ela.
— Lumir, hein? — Leo coçou o queixo. — Pelo menos não é algo ridículo.
— Você gostou! — Aery comemorou.
— Eu não disse isso.
— Bom, Lumir agora é parte da nossa equipe! — Aery ergueu o pequeno animal no ar como se fosse um troféu.
Lumir soltou um som misto de ronronado e assobio, claramente satisfeito com sua nova posição.
— Ótimo. Agora somos uma trupe. — Leo ajustou a espada nas costas. — Vamos ver quanto tempo ele aguenta antes de fugir da sua loucura.
— Ele vai adorar viajar com a gente! — Aery rebateu, abraçando Lumir com carinho. — Não é?
O pequeno animal lambeu seu nariz em resposta, arrancando uma risada dela.
Leo suspirou, começando a andar na frente. Fingiu ignorar a cena adorável, mas no fundo não pôde deixar de admitir que o bichinho talvez fosse um bom acréscimo.
— Acho que agora ele é oficialmente da família. — Aery sorriu, afagando a pelagem macia.
— Família? — Leo arqueou uma sobrancelha. — Ele só está te seguindo porque é tão distraído quanto você.
— Isso foi ciúme que eu ouvi? — Aery provocou, divertida.
— Nem um pouco. — Ele resmungou, mas não conseguiu impedir o pequeno sorriso quando Lumir começou a mordiscar sua bota.
Aery observou o bichinho, que já parecia confortável com eles, e declarou com orgulho:
— Lumizinho, você é nosso companheiro de aventura agora!
O animal soltou um som animado e pulou para o colo dela.
— Vamos ver quanto tempo ele aguenta com você o mimando desse jeito. — Ele disse, retomando o caminho.
— Ele vai ser um herói também! — Aery exclamou, segurando o bichinho como se ele fosse uma relíquia rara.
O pequeno animal balançou a cauda entusiasmado, enquanto a floresta ao redor se estendia à frente deles.
As árvores altas e os campos de flores silvestres os acompanhavam conforme avançavam pela trilha.
Aery, completamente encantada por ele, segurava uma pequena sacola de frutas que havia recolhido mais cedo, oferecendo pedacinhos ao bichinho, que os devorava sem hesitação.
— Você gosta de maçã, Lumy? Aqui, experimente esta! — Aery cortou um pedaço e entregou ao animalzinho, que mastigou com um ruído satisfeito.
Leo, caminhando um pouco à frente, lançou um olhar por cima do ombro.
— Se continuar alimentando ele assim, vai acabar estragando o bicho.
— Ele precisa de energia! É nosso pequeno aventureiro! — Aery respondeu, indignada.
— Aventureiro? — Leo riu, cético. — Ele mal consegue andar sem tropeçar.
— Você só está com ciúmes porque ele é adorável e ama frutas. — Ela o cutucou, oferecendo um pedaço.
— Não, obrigado. Prefiro comida de verdade.
— Que chato. — Ela revirou os olhos, mas logo voltou a atenção para Lumy, que se enrolava confortavelmente nos braços dela.
Leo a observava de soslaio. A felicidade dela era inegável.
— Só não espere que eu carregue ele quando engordar de tanto comer.
— Eu carrego! — Aery respondeu prontamente, sorrindo.
Lumy soltou um som alegre, como se estivesse confirmando. Leo suspirou.
No fundo, talvez aquele bichinho não fosse tão inútil assim.
⋅⋆⭑✧⭑⋆⋅
O vilarejo era pequeno e rústico, com casas de madeira e telhados de palha cercados por plantações que balançavam com o vento. Crianças brincavam pelas ruas de terra, enquanto comerciantes chamavam clientes para suas bancas improvisadas.
Quando chegaram à entrada, Aery percebeu que Lumy se encolhia inquieto.
— O que foi, Lumy? Está tudo bem. — Ela o acariciou, mas ele soltou um som baixo de alerta e rapidamente pulou para dentro da bolsa dela, escondendo-se entre suas coisas.
— Parece que ele não gosta de multidões. — Leo observou, cruzando os braços.
— Ele só é tímido, coitadinho. — Aery ajeitou a bolsa. — Fique aí, Lumy. Eu cuido de você.
Leo logo notou um homem acenando de uma varanda próxima.
— Precisam de um lugar para descansar? Temos um quarto livre! — O estalajadeiro, um humano de sorriso amigável, chamou.
— Melhor do que dormir ao relento de novo. — Leo murmurou, inclinando-se para Aery.
Quando entraram na estalagem, os aldeões os encararam com curiosidade. Uma elfa branca de cabelos flamejantes e um elfo negro grande e com uma espada gigante não eram uma visão comum.
— Não esperava ver um par como vocês por aqui. — Comentou o estalajadeiro, servindo uma caneca a um cliente.
— Nem nós esperávamos vir. — Leo respondeu, seco.
Aery sorriu, tentando amenizar a tensão.
— Só estamos de passagem. Prometemos não causar problemas.
O homem assentiu, mas lançou um olhar significativo para alguns aldeões que cochichavam.
— Gente diferente sempre atrai atenção. Cuidado.
Eles subiram para o quarto, um espaço simples, mas confortável. Duas camas pequenas estavam alinhadas contra paredes opostas, separadas por uma janela que deixava entrar a luz suave do fim da tarde.
Aery abriu a bolsa, e Lumy espiou com olhos brilhantes.
— Pronto, estamos sozinhos. — Ela o colocou sobre a cama. — Você pode sair, está seguro.
Leo observou de canto, contendo um sorriso. Aery tratava Lumy como um tesouro, e a lealdade do pequeno animal a ela era quase cômica.
— Espero que ele não decida roubar comida da cozinha.
— Ele nunca faria isso! — Aery levou uma mão ao peito, fingindo indignação.
Lumy soltou um som baixinho, como se concordasse.
Leo sentou-se na cama mais próxima da porta.
— Finalmente, uma cama pra cada um. Nada de chão duro dessa vez.
— Vai sentir falta do chão, Senhor Guerreiro Durão?
— Nem um pouco. Minhas costas agradecem.
Aery riu, acomodando-se na beira da cama. Lumy já estava deitado, completamente relaxado.
— Você realmente estraga esse bicho.
— Não estou estragando, estou cuidando! Ele é meu bebê!
— Seu bebê que tentou roubar meu pão.
Ela gargalhou.
— E quem acabou dividindo com ele no final?
Leo não respondeu, apenas balançou a cabeça.
— Certo, "mamãe". Só não deixe ele roubar minha comida de novo.
Aery se espreguiçou e olhou pela janela.
— Esse lugar é tão tranquilo... Mas percebeu como nos olhavam?
— Difícil não perceber.
— Queria que isso fosse menos estranho... Mas não vou deixar isso nos impedir de explorar o mundo.
Leo ficou em silêncio por um momento, então murmurou:
— Vamos lidar com isso do nosso jeito, branquinha.
Aery sorriu, aquecida pelo apelido.
Quando a noite caiu, ela se aconchegou sob as cobertas, colocando Lumy em um canto macio.
— Boa noite, Lumy. Boa noite, Leo... Sonhem comigo.
Leo resmungou algo que soava como um "boa noite", mas sua expressão tranquila denunciava o alívio de terem encontrado paz.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
Aline C
e muito modesta kkkk
2025-03-25
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