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Aery nadou um pouco mais longe, distraída. Perto demais das cachoeiras.
Leo franziu o cenho.
Ela não percebeu.
Claro que não percebeu.
Aery se ergueu na água, e olhou para ele.
— O que foi? Vai ficar aí me encarando o dia todo?
Leo sorriu de canto.
— Você se incomoda?
Aery piscou.
— Depende do tipo de olhar.
Leo estreitou os olhos. Ele levantou-se da pedra e caminhou de volta para a água.
— Se quer tanto atenção, branquinha…
Aery ergueu uma sobrancelha, mas seu sorriso hesitou.
— …então eu vou te dar.
E, antes que ela pudesse reagir, ele mergulhou na direção dela.
Aery arregalou os olhos e soltou um gritinho exagerado enquanto nadava para longe, se divertindo mais do que deveria.
— O caçador cruel está atrás de mim! Alguém me salve!
Aery estava rápida, leve, brincando, sem perceber que a corrente ao redor estava mudando.
Leo disparou pela água, o coração acelerado.
Ela se virou de costas, ainda rindo, e foi nesse exato momento que ele a agarrou pela cintura.
Firme. Forte.
Aery soltou um pequeno suspiro de surpresa, segurando-se automaticamente nos ombros dele.
— Uau… você realmente me pegou. — sua voz saiu ofegante, mas o sorriso não sumiu.
Leo não disse nada.
Seu peito subia e descia, ainda sentindo a adrenalina do momento.
Ele ia brigar com ela. Dizer que ela era inconsequente, que não percebeu o perigo, que se ele não tivesse sido rápido…
Mas então…
Ela riu.
Os olhos dela estavam tão brilhantes, tão felizes, que as palavras simplesmente morreram na garganta dele.
Aery não estava assustada. Ela estava se divertindo.
E aquilo o desarmou completamente.
Leo suspirou pesado, e segurou Aery com força, o aperto ao redor de sua cintura firme e inegociável.
Aery não teve tempo de reagir.
Num movimento fluido, ele a ergueu da água.
Aery engasgou em um riso surpreso, os braços instintivamente segurando os ombros dele.
— Ei!
Leo não disse nada. Com passos calmos e calculados, ele avançou até uma grande pedra na margem do lago, onde havia uma pequena fonte atrás.
Ele simplesmente a colocou ali.
Sentada, presa, completamente dentro de seu domínio.
Aery piscou, sentindo o calor da pedra sob sua pele fria. Sentindo o peso do olhar dourado sobre ela.
Leo ainda estava na água, ao lado de suas pernas, mas a cercando com seus braços na pedra.
Ela umedeceu os lábios, percebendo o clima.
Ele não se afastou. Ele apenas olhou.
Alto demais, próximo demais.
E Aery sentiu. Sentiu cada gota d’água deslizando pelo pescoço e peito nu dele.
Sentiu o olhar intenso, como se ele estivesse vendo muito mais do que deveria.
Aery engoliu em seco.
— L-Leo…?
Leo não respondeu.
Os dedos dele ainda estavam ao redor de sua cintura, a respiração ainda calma, os olhos dourados analisando cada detalhe de seu rosto.
Aery piscou algumas vezes, tentando recuperar a compostura.
— Bem… Isso foi dramático. Você me carregando assim… quase parece uma história romântica.
Leo arqueou uma sobrancelha, o olhar fixo no dela.
— Você quer um final romântico, Aery?
Aery engoliu em seco.
Seu plano era brincar, fazer piada, reverter a situação como sempre fazia.
Mas a forma como ele disse aquilo…
Baixo. Arrastado. Carregado de algo que a fez esquecer completamente o que ia falar.
Leo percebeu imediatamente.
Ele se inclinou para frente, devagar. O rosto dele ficou perto demais, os olhos analisando cada mínimo detalhe seu.
Os olhos claros que brilhavam com uma mistura irritante de inocência e insolência, os cílios molhados, as gotas d’água descendo lentamente pelo pescoço esguio.
Ela era linda.
Linda demais.
Talvez…
Ela devesse viver em um lugar assim. Separada do mundo.
Onde ninguém pudesse tocá-la.
Onde ninguém pudesse vê-la.
Leo apertou a mandíbula.
O pensamento veio rápido e denso, como uma sombra que ele não deveria alimentar.
“Mas ela me faz pensar assim.
Ela me faz querer—”
Leo sentiu um toque leve contra sua pele.
Ele piscou, trazendo-se de volta à realidade.
Aery, distraída, havia levantado uma das mãos sem perceber, os dedos delicados traçando uma cicatriz discreta em seu ombro.
Foi um toque leve, inocente, mas teve um impacto absurdo nele.
Leo reagiu no mesmo instante. Sua mão subiu rápido e agarrou o pulso dela, segurando-o firme antes que pudesse continuar.
Aery piscou, surpresa, seus olhos subindo para os dele.
Os olhos dourados estavam intensos, sérios demais.
Por um momento, ela pensou em se desculpar.
Mas em vez disso, sorriu travessa.
— Eu te assustei, foi?
Leo bufou uma risada curta.
Ele abaixou o olhar para a mão dela… então a soltou, balançando a cabeça.
— Você realmente não tem medo de nada?
Aery deu um sorrisinho satisfeito.
— Se eu tivesse medo de você, nossa jornada seria muito entediante.
Leo apenas soltou um suspiro cansado, subindo na pedra ao lado dela.
Sentou-se de forma preguiçosa, os braços apoiados atrás do corpo, os cabelos ainda pingando, os músculos bronzeados relaxando contra a superfície da pedra.
Aery observou, sem querer notar o quão confortável ele parecia ali.
Quase… em paz.
Mas será que ele percebia isso?
Ela não perguntou.
Leo fechou os olhos.
Não por cansaço. Mas porque, pela primeira vez em muito tempo, ele sentia que podia simplesmente… parar.
A pedra quente sob si. A brisa úmida do lago. O som da cachoeira ao fundo.
E, ao lado dele… Aery.
Leo percebeu que nunca tinha relaxado assim perto de alguém.
Ele sentiu o olhar dela sobre ele, mas não se incomodou.
Aery o observou, surpresa.
Ela nunca o vira tão tranquilo antes.
Ele sempre estava tenso, atento, pronto para reagir. Mas agora… parecia diferente.
E isso fez um calor estranho crescer em seu peito.
Leo abriu um olho, percebendo o olhar fixo dela.
— Se continuar me encarando assim, branquinha, vou achar que você está apaixonada.
Aery arregalou os olhos no mesmo instante.
— O quê?!
Leo bufou uma risada.
— Se acalme, não precisa surtar. A ideia não é tão absurda assim. — seu olhar e sorriso eram tão insolentes quanto sua voz.
Aery abriu a boca para retrucar, mas ele já estava se divertindo.
— Quero dizer, eu entendo. É difícil resistir a mim.
Aery engasgou no riso.
E então… desatou a gargalhar.
— Meu Deus, Leo!
— Você tem o riso muito fácil. — Leo disse, revirando os olhos, mas seu sorriso o entregava.
Aery se inclinou para frente, ainda rindo, o rosto iluminado pela diversão.
— Ou talvez você seja mais engraçado do que imagina!
Leo apenas sacudiu a cabeça, resmungando algo inaudível.
Aery ainda sorria.
Então, sem pensar muito, ela ergueu uma das mãos curiosas…
E mergulhou os dedos nos cabelos dele.
Leo imediatamente congelou.
Aery sentiu os fios molhados e pesados escorrerem entre seus dedos, espalhando-se em mechas escuras sobre os ombros largos.
Os cabelos de Leo eram lisos, macios… e longos.
Leo abriu os olhos devagar, sem dizer nada.
Ele viu Aery pegando uma mecha do próprio cabelo, e a comparando com o dele.
Ela sentiu a tensão no ar, o jeito que os olhos dourados de Leo a observavam…
E não se intimidou nem um pouco.
Em vez de recuar, seus dedos continuaram nos cabelos dele, deslizando levemente pelos fios pretos.
— Sabe, Leo… seu cabelo é muito bonito.
Leo arqueou uma sobrancelha, desconfiado.
— Hm. Você já disse isso antes.
Aery sorriu.
— Sério. Longo, liso, sedoso… — ela disse e, sem vergonha nenhuma, cheirou a mecha grande que segurava. — Cheiroso também...
Leo riu baixinho.
— Você não é um pouco obcecada demais por cabelos?
Aery o ignorou e girou uma mecha entre os dedos, os fios negros escorrendo como seda por sua pele, totalmente imersa.
— Tão macio… — murmurou para si mesma.
Leo a observava, os olhos dourados semicerrados.
E então, de súbito, sua mão grande se moveu.
Antes que Aery percebesse, ele agarrou uma mecha do cabelo dela.
Ela piscou, surpresa, sentindo os dedos dele enroscarem nos fios ainda úmidos.
— Você tem essa fixação pelo meu cabelo… — Leo murmurou, puxando a mecha com lentidão entre os dedos, observando o brilho diferente no sol. — Mas já parou pra pensar no seu? É parecido com a cor dos humanos, mas de algum jeito parece...
Ele levantou o olhar para ver sua expressão.
—Você sabe por que é dessa cor?
Ela arqueou uma sobrancelha e cruzou os braços.
— Ora, Leo… É óbvio! — ergueu o queixo com um sorriso convencido. — Para demonstrar minha grandiosidade.
Leo riu baixinho, um som rouco e incrédulo.
— Claro. Como eu não pensei nisso antes?
Ele continuou segurando os fios ruivos, os olhos fixos neles, como se tentasse decifrar algo.
— Isso não te faz pensar? — sua voz soou diferente agora, mais baixa, mais pensativa.
Aery hesitou.
— Bom… Talvez eu seja uma mestiça?
Leo a olhou de lado, desconfiado.
— Você sabe que isso não faz sentido. Mestiços entre elfos e outras raças nunca herdam os traços e a magia dos elfos puros. Você não só parece uma elfa, como é uma.
Aery sustentou o olhar dele por um momento, pensativa, mas depois deu de ombros.
— Talvez eu seja especial.
Leo estreitou os olhos.
— Isso eu não duvido, branquinha. Mas você realmente nunca questionou? — insistiu.
Aery desviou o olhar suspirando, fitando a superfície tranquila do lago.
— Claro que já… — admitiu, seu tom mais suave. — Mas toda vez que fazia perguntas, só recebia olhares esquisitos.
Leo a estudou em silêncio, ainda brincando distraidamente com os fios flamejantes entre os dedos.
Aery soltou um suspiro, relaxando os ombros.
— Seja lá o que for… Não é como se isso fosse mudar alguma coisa agora.
Leo não respondeu de imediato. Seus olhos ainda estavam fixos nela, intensos e analíticos.
Mas então, ele soltou o cabelo dela com um último deslizar de dedos lento e se recostou contra a pedra novamente.
— Hm.
Só isso.
Aery franziu o cenho.
— O que foi esse “hm”?
Leo fechou os olhos como se estivesse prestes a cochilar.
— Bom… já que estamos falando sobre traços élficos… os olhos também são bem diferentes, né?
— Hm. Os brancos sempre têm olhos mais frios.
Aery assentiu.
— Azuis, pratas… às vezes violetas.
Ela se inclinou de repente.
Leo arqueou uma sobrancelha.
Ela estava perto demais.
Aery estreitou os olhos, analisando os dele como se procurasse algo escondido.
— Os negros têm olhos mais fortes. Dourados, vermelhos, verdes… Você já percebeu que os seus brilham quando está irritado?
Leo segurou um sorriso.
— E você já percebeu que se aproxima demais quando está curiosa?
Aery ignorou o comentário.
Ela continuou inclinada, as mãos apoiadas na pedra ao lado dele.
— Eu gosto dos seus olhos.
Leo parou.
— Sério! Eu nunca vi olhos assim antes. — Ela estreitou os seus, girando levemente a cabeça. — São mais quentes do que os de qualquer elfo que já vi. Mas às vezes… parecem frios.
Ela estava tão perto que ele podia ver os próprios olhos refletidos nos dela.
E isso o incomodou.
"Não gosto de ser analisado assim."
Mas, ao mesmo tempo…
Ele não queria que ela se afastasse.
Aery não percebeu o clima pesado que criou.
Ou, se percebeu, simplesmente continuou.
Seus olhos se moveram lentamente, analisando cada detalhe dos dele.
— Dizem que os olhos de vocês enxergam melhor na escuridão. É verdade?
Leo piscou devagar.
— É.
Aery sorriu.
— Eu sabia. Seus olhos sempre parecem mais vivos à noite.
Leo a observou em silêncio.
Ela falava com naturalidade, distraída demais em sua própria análise.
E, sem perceber, deu mais um elogio.
Leo arqueou uma sobrancelha.
— Você realmente gosta dos meus olhos, hein?
Aery parou.
Foi rápido, mas ele percebeu o pequeno vacilo dela.
Mas, antes que ela pudesse inventar outra desculpa, ele contra-atacou.
— Os seus também são bonitos.
Aery piscou.
— O quê?
Leo deu de ombros.
— São azuis, mas ao mesmo tempo, verdes. São como pedras turquesa.
Aery adorou o elogio, mas então, tentou rir e desconversar.
— Se continuar assim, vamos acabar competindo pra ver quem tem os olhos mais bonitos.
Leo sorriu de canto.
— Se for uma competição, eu ganho.
Aery arregalou os olhos, indignada.
— Quanta modéstia!
Leo apenas inclinou a cabeça, provocador.
— Estou errado?
Aery abriu a boca, mas nada saiu.
Ele se inclinou um pouco mais.
O bastante para que Aery sentisse o calor do corpo dele.
O bastante para que ela prendesse a respiração sem perceber.
Os olhos dourados estavam brilhantes, carregados de algo que ela não conseguia decifrar.
E então, ele falou baixo, rouco:
— Não respondeu, Aery.
Aery sentiu um arrepio subir pela nuca.
— O-o quê?
Leo sorriu de canto.
— Estou errado?
Aery engoliu em seco.
Seus pensamentos embaralharam-se por um momento.
"Eu deveria dizer que sim. Que ele está errado. Que não é tão bonito assim. Que—"
Aery abriu a boca para responder qualquer coisa… qualquer coisa mesmo.
Mas não teve chance.
Porque, de repente, Leo levantou a cabeça rápido, a expressão mudando no mesmo instante.
Os olhos dele se desviaram para a floresta ao redor do lago, seu corpo tenso em alerta.
Aery franziu a testa.
— O que foi?
Leo não respondeu de imediato.
Ele se levantou da pedra, os músculos contraídos e prontos para agir.
Ela olhou ao redor, mas não viu nada.
Leo estreitou os olhos, ainda analisando o ambiente.
— Volto logo.
Sem mais explicações, ele se afastou do lago.
Aery ainda queria perguntar, mas…
— Ah, quer saber?
Se fosse algo realmente perigoso, ele já teria falado.
Então, decidiu aproveitar a oportunidade.
Ela se esparramou na pedra quente, de braços abertos, sem vergonha nenhuma.
O calor do sol contra a pele molhada era delicioso.
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Atualizado até capítulo 45
Comments
Maria Eduarda
Parece que tá um pouco repetitivo essa brincadeira deles...nunca chega há algo concreto.Tipo,só brincam na água e isso deixa alguns leitores desinteressados,mesmo a história sendo boa.
2025-01-28
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