⋅⋆⭑✧⭑⋆⋅
A brisa fresca da floresta agitava os fios ruivos de Aery enquanto ela se movimentava ao redor da clareira, inspecionando suas ervas e frutas. O aroma defumado da carne assada preenchia o ar, misturando-se ao cheiro terroso das folhas secas ao redor.
Do outro lado do fogo, Leo girava um coelho no espeto improvisado, a expressão fechada e atenta. Seus olhos dourados refletiam as chamas, e Aery se pegou encarando-o por tempo demais.
Ele parecia sempre tão distante, tão intocável… e, ao mesmo tempo, ali estava ele, dividindo uma fogueira com ela.
— O que foi? — A voz dele cortou o silêncio, sem tirar os olhos da carne assando.
Aery piscou, surpresa por ter sido pega.
— Nada. — Sorriu, tentando soar casual. — Só estava pensando que talvez você não seja tão ruim quanto tenta parecer.
Leo bufou, girando o espeto novamente.
— Você sempre encontra algo para falar, não é?
— E você sempre encontra algo para ignorar. — Ela retrucou, cruzando os braços. — Vamos chamar isso de equilíbrio.
Por um momento, Leo apenas a observou, a chama do fogo tremulando entre eles.
— Como consegue ser tão irritante e intrigante ao mesmo tempo?
— É um talento natural! — Aery ergueu o queixo, satisfeita consigo mesma.
Leo balançou a cabeça, exalando um riso baixo, sem humor.
O silêncio voltou enquanto a carne terminava de assar, e, quando finalmente ficou pronta, Leo cortou alguns pedaços e os entregou a Aery.
Ela aceitou com um pequeno sorriso e estendeu algumas frutas para ele.
— Admito, você não é tão inútil. — Leo murmurou, mordendo uma das frutas.
Aery arregalou os olhos, teatralmente surpresa.
— Uau! Isso foi quase um elogio! Estou impressionada.
Leo revirou os olhos, mas ela percebeu que, por um breve instante, um canto da boca dele se ergueu.
O calor do fogo os envolvia, e Aery sentiu-se… confortável. O silêncio entre eles não era desagradável como antes. Algo estava mudando, e, por mais que Leo tentasse se esconder atrás de sua frieza, Aery sabia que ele também sentia.
Ela só precisava de tempo para fazê-lo admitir.
⋅⋆⭑✧⭑⋆⋅
A estrada de terra se estendia diante deles, ladeada por árvores densas cujas copas filtravam a luz do sol, criando sombras oscilantes sobre o chão. O clima estava agradável, e Aery, em sua empolgação habitual, tagarelava sobre as diferenças entre as florestas de Elinel e aquele novo ambiente.
— E a cor das folhas? Percebeu como são mais escuras? Acho que isso acontece porque—
— Você está muito relaxada. — Leo a cortou, sem olhá-la.
Aery estreitou os olhos.
— E você está sempre tenso.
— Porque sei que o mundo não é feito de flores e borboletas.
— Você não sabe apreciar nada, não é?
Antes que Leo pudesse responder, vozes se ergueram mais à frente.
Ele imediatamente ergueu o braço, parando Aery com um gesto.
— Fique atrás de mim.
Três elfos negros estavam no caminho, conversando entre si. Ao avistarem Leo e Aery, seus olhares se estreitaram, e o ambiente pareceu mudar de temperatura.
O ar ficou mais pesado.
Um deles, de cabelos longos e postura rígida, deu um passo à frente.
— Bem, bem… O que temos aqui?
Os olhos dos três se fixaram em Aery.
Ela sentiu os olhares deslizando por ela, analisando-a como se fosse um animal exótico perdido.
— O que uma elfa branca está fazendo aqui? Se perdeu do seu precioso povo?
Aery franziu o cenho.
— E se eu estiver aqui porque quero?
Os elfos negros riram, mas não havia humor em seus risos.
— Então é ingênua.
Os cochichos entre eles eram carregados de desdém, e Aery sentiu uma pontada de desconforto. Sabia que os elfos negros e brancos não se davam bem, mas nunca se acostumara a ser olhada daquela forma.
Como se não fosse bem-vinda.
Como se fosse inferior.
Leo, até então observando em silêncio, deu um passo à frente.
— Cuidem da própria vida.
Os três hesitaram. Seus olhos se arregalaram por um instante ao reconhecer Leo melhor.
— Você… — Um deles estreitou o olhar. — Não pode ser…
Leo nada disse, apenas os encarou de maneira intimidadora. Seus olhos dourados brilharam como os de um predador.
Aery observou a troca silenciosa, sentindo a tensão aumentar.
Os elfos negros pareciam nervosos, e então, com olhares de desprezo para ela, decidiram seguir caminho.
Aery cruzou os braços.
— Idiotas.
Leo virou-se para ela, irritado.
— Agora você entendeu?
— O quê?
— O mundo não é um campo florido, Aery. Você acha que pode ir onde quiser, falar o que quiser, e tudo vai ficar bem? Não vai. Pessoas como eles não vão te aceitar.
Ela estreitou os olhos.
— E você acha que os elfos brancos aceitariam você?
Leo riu, sem humor.
— Claro que não. Mas eu sei disso. Você, por outro lado, continua achando que pode mudar o mundo com sua teimosia e sorriso bobo.
Ela sentiu uma pontada de irritação.
— E qual é a alternativa, então? Viver como você? Frio, distante, esperando sempre o pior de todo mundo?
Leo não respondeu de imediato. Apenas a encarou, e, por um momento, Aery pensou ver algo diferente em seu olhar. Algo além da irritação.
Mas então ele virou as costas.
— Vamos. O vilarejo ainda está longe.
Aery respirou fundo, segurando a vontade de discutir mais.
Ainda assim, algo na maneira como ele a protegeu — como tomou sua defesa sem hesitar — a fez sorrir um pouco.
Ela apertou o passo para alcançá-lo.
— Ei, Leo.
Ele não respondeu, apenas lançou-lhe um olhar de canto.
— Obrigada.
Leo franziu o cenho, confuso.
— Pelo quê?
— Por não deixar que me tratassem como lixo.
Ele soltou um suspiro exasperado.
— Não foi por você, branquinha. Foi porque não tenho paciência para idiotas.
Aery sorriu, sabendo que era mentira.
E então os dois seguiram em frente, lado a lado, sem perceber que, passo a passo, algo entre eles mudava.
⋅⋆⭑✧⭑⋆⋅
O céu começava a tingir-se de laranja quando Aery e Leo chegaram à ponte suspensa que atravessava um estreito desfiladeiro.
A estrutura parecia antiga, com tábuas gastas pelo tempo e cordas desgastadas pelo clima. O vento assobiava entre as frestas, criando um ranger ameaçador.
Aery engoliu em seco.
— Você tem certeza de que essa ponte não vai desmoronar assim que eu pisar nela?
Leo, que já testava a firmeza com um pé, lançou-lhe um olhar impaciente.
— Ou você quer atravessar ou quer voltar e dar a volta no desfiladeiro.
Aery franziu os lábios.
— Atravessar, claro.
— Então pare de reclamar e venha logo.
Ele seguiu à frente, caminhando com passos firmes e confiantes. As tábuas rangiam sob seu peso, mas a ponte parecia aguentar.
Aery soltou um suspiro, tentando ignorar o fato de que estava a metros de altura sobre um abismo profundo. Com cuidado, começou a atravessar.
O vento soprou mais forte, e a ponte balançou.
— Ah, ótimo. — Ela murmurou, agarrando-se às cordas laterais.
Leo já havia avançado metade do caminho, mas parou para olhar para trás.
— Você parece um filhote de cervo tentando andar.
Aery lançou-lhe um olhar irritado.
— Isso se chama cautela. Diferente de você, eu gosto de manter meus ossos intactos.
Ele apenas bufou, continuando a atravessar.
Aery tentou se concentrar, mas então ouviu um estalo seco.
Seu coração disparou.
— O quê foi isso?
Leo parou novamente, agora mais alerta.
— Continue andando.
— Acho que algo que—
Antes que pudesse terminar a frase, um som mais alto de madeira partindo se fez ouvir, e a ponte tremeu violentamente. Uma das cordas laterais se rompeu.
Aery gritou, sentindo o chão sumir sob seus pés.
O mundo girou, e, num instante, ela estava caindo.
Mas algo quente e forte a agarrou.
Leo.
Ele a segurou com uma das mãos, seus dedos agarrando seu pulso antes que ela fosse completamente engolida pelo vazio.
Aery sentiu a respiração falhar. O vento frio batia em seu rosto, e o desfiladeiro abaixo parecia um abismo sem fim.
— Leo!
Ele rosnou, cerrando os dentes, puxando-a para cima com um único impulso.
Quando conseguiu firmá-la sobre a madeira da ponte, ela caiu sobre ele, ofegante, seus corpos colidindo.
O coração de Aery batia acelerado contra ele, e a sensação do corpo forte de Leo debaixo do seu a deixou momentaneamente sem palavras.
Ela sentiu o cheiro dele — uma mistura de terra e ferro — e percebeu o quanto estava perto.
Seu rosto pairava a poucos centímetros do dele.
Leo respirava com força, seus olhos dourados intensos cravados nos dela.
Por um longo momento, nenhum dos dois se moveu.
Aery percebeu que sua perna estava entre as coxas dele, e que suas mãos estavam apoiadas sobre o peito. A pele quente sob seus dedos era uma lembrança intensa da força dele.
E então Leo falou, a voz rouca e baixa:
— Você precisa parar de se colocar em situações idiotas, branquinha.
Aery piscou, ainda ofegante.
— Eu não fiz de propósito.
Leo segurou sua cintura com força, como se a necessidade de tê-la segura ainda estivesse queimando em seus músculos.
— Eu sei. — Ele murmurou.
Aery sentiu um arrepio percorrer seu corpo.
Por um instante, ela jurou que ele a olhava de um jeito diferente.
Mas então ele soltou sua cintura abruptamente.
— Saia de cima de mim.
O tom frio e ríspido foi um choque.
Aery se afastou de repente, sentindo o rosto quente.
— Eu... não me joguei em você de propósito!
Leo se levantou de um salto, ajeitando as roupas, claramente irritado.
— Vamos. Antes que essa ponte resolva nos derrubar de vez.
Aery sentiu uma pontada de frustração.
O que foi aquilo?
Por um momento, ela realmente achou que ele fosse fazer alguma coisa.
Ela balançou a cabeça, afastando os pensamentos.
Mas não podia negar que algo estava mudando entre eles.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 45
Comments
Webcomics fan #2
Eu já li tudo que você postou! Mais agora, por favor!
2025-01-07
1
Silvia Helena
obrigada pelo livro maravilhoso
2025-01-26
1