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A notícia que o médico trouxe para mim foi como um soco no estômago. Ele entrou no quarto de minha avó, parecendo mais exausto do que o normal, como se o peso das palavras que tinha que dizer estivesse prestes a esmagá-lo. Quando ele abriu a porta, minha avó estava ainda em sua cama, frágil e com os olhos fechados, mas com a respiração ofegante, como se cada suspiro fosse um esforço.

— Fernanda — disse ele, com a voz tensa e grave. — Precisamos fazer uma cirurgia urgente na sua avó. Ela está com uma condição que exige atenção imediata, e, se não fizermos isso logo, a situação pode piorar rapidamente.

Eu senti meu estômago revirar, e as palavras dele passaram a ecoar na minha cabeça enquanto eu olhava para minha avó. Mas o que ele disse a seguir foi ainda mais aterrador.

— O problema é que não temos mais médicos suficientes para fazer a cirurgia. O hospital está sem recursos devido a pagamentos pendentes. Não podemos contar com os profissionais aqui para a emergência. Precisamos transferi-la para outro hospital.

Eu tentei absorver aquelas palavras, mas elas não faziam sentido. Como isso era possível? Como um hospital poderia deixar um paciente morrer por falta de um médico? Como isso foi acontecer com a minha avó?

— Não temos médicos aqui para fazer a cirurgia — ele repetiu, visivelmente incomodado. — Eu vou tentar ver se conseguimos transferência para outro hospital. Mas o que temos no momento é limitado.

As lágrimas começaram a encher meus olhos, mas eu me segurei. Não podia chorar agora. Não podia me permitir ser fraca. Eu precisava de uma solução, e rapidamente. Saí do quarto e fui para o corredor, minha cabeça girando. Eu olhava para os lados, desesperada, sem saber o que fazer. Como encontrar a solução para salvar minha avó, se o hospital em que ela estava não tinha nem mesmo os recursos para ajudá-la?

Com a pressão crescendo, peguei meu celular e comecei a fazer chamadas frenéticas. Liguei para outros hospitais, um após o outro. Mas o que eu ouvia era sempre a mesma resposta: "Desculpe, estamos sem vagas. Temos uma longa lista de espera." Nenhuma ajuda, nenhuma solução. O desespero começou a tomar conta de mim. O que eu faria? Como poderia salvar minha avó?

Então, em um momento de pura angústia, uma ideia impensável surgiu em minha mente. Eu hesitei, olhei para a tela do meu celular e, antes que a razão pudesse me parar, eu encontrei o número de Paulo. Ele não seria a pessoa com quem eu imaginaria pedir ajuda, mas a situação era desesperadora. Se ele realmente tivesse o que eu precisava, talvez fosse a única chance.

Com o coração batendo forte, discquei o número e aguardei. Ele atendeu rapidamente, como se estivesse esperando uma ligação.

— Paulo? — minha voz soou instável, quase desesperada. — Eu... eu preciso da sua ajuda. Minha avó está gravemente doente, e os médicos disseram que ela precisa de uma cirurgia urgente. Não temos médicos aqui, o hospital não tem mais recursos. Não sei o que fazer.

Eu podia sentir o peso da situação em minha voz. Eu nunca tinha soado tão vulnerável, tão frágil, e, apesar de tudo o que havia acontecido, eu estava sendo sincera. A necessidade era real.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos, e eu podia ouvir o som de sua respiração do outro lado da linha. Não sabia o que ele estava pensando, se ele estava surpreso, ou se já esperava algo assim de mim. No fundo, eu sabia que ele nunca imaginaria que eu pediria algo tão direto. Mas não importava. Eu precisava da ajuda dele.

— O que você precisa de mim, Fernanda? — a voz dele veio baixa e calma, mas também mais dura, como sempre. Ele não demonstrou nenhuma emoção, mas havia algo na sua resposta que me fez sentir que ele estava ali, ouvindo. Estava prestando atenção.

Eu respirei fundo, tentando manter a calma, mesmo que estivesse perdendo a paciência com tudo ao meu redor.

— Eu... preciso que você me envie o dinheiro. Para a cirurgia. Eles... eles só aceitam um pagamento imediato, e eu não tenho como arcar com isso sozinha. Se você puder me ajudar com isso, eu... eu aceito. Eu aceito o casamento de contrato. Vou fazer o que for preciso para salvar minha avó. Por favor, me ajude.

Eu fechei os olhos, sentindo um nó na garganta. Era difícil. Eu me sentia péssima, como se tivesse perdido toda a dignidade, mas não havia mais escolha. Eu sabia que Paulo tinha o que eu precisava. E ele sabia disso também.

Houve um momento de silêncio, e então, sua voz veio novamente, mais firme do que antes.

— Tudo bem. Vou providenciar o pagamento agora. Você não vai precisar se preocupar com isso.

Eu quase não conseguia acreditar nas palavras dele. Havia um tom de segurança na voz dele, como se ele já tivesse se decidido. Ele fez a oferta, e eu sabia que ele não estava falando apenas de dinheiro. Ele estava oferecendo mais do que isso, algo que eu não podia simplesmente ignorar. Mas, naquele momento, o que importava era minha avó, e eu precisava dessa ajuda.

— Obrigada, Paulo — eu disse, minha voz quase inaudível. Eu não sabia o que mais dizer. Não sabia se ele sentia algum tipo de compaixão ou se ele estava fazendo isso apenas por uma questão de obrigação. Não importava. Eu tinha o que precisava.

Eu desliguei o telefone e fiquei ali por um momento, tentando processar tudo o que tinha acontecido. A oferta dele... o dinheiro... o casamento de contrato... Era como se minha vida tivesse tomado um rumo que eu nunca poderia ter imaginado. Mas, no fundo, eu sabia que isso era o que eu precisava fazer.

Quando o celular de Paulo tocou novamente, ele me avisou que o pagamento já tinha sido transferido para a conta do hospital. Ele cumpriu sua palavra.

Com a notícia de que o dinheiro estava a caminho, eu me senti aliviada, mas ainda com um peso imenso sobre meus ombros. Eu estava fazendo um acordo que mudaria minha vida. Mas, naquele momento, não importava o que isso significava para o meu futuro. O que importava era salvar minha avó, e eu faria qualquer coisa para garantir que ela tivesse uma chance.

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bete 💗

bete 💗

❤️❤️❤️❤️❤️

2025-01-09

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