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O ambiente no escritório estava mais calmo naquela manhã, e eu já estava sentada à minha mesa, tentando encontrar alguma paz depois da última interação com Paulo. Minha mente ainda estava ocupada com a maneira como ele me havia tratado, a frieza com que me despediu e a intensidade do olhar dele. Mas eu não podia me dar ao luxo de ficar perdida nessas reflexões. Ele era meu chefe, e eu precisava focar no trabalho, não em suas atitudes.

A manhã passou lentamente, com as tarefas fluindo sem grandes surpresas. Mesmo assim, não consegui tirar Paulo da minha cabeça. Era como se ele estivesse sempre por perto, não fisicamente, mas de alguma forma ele estava ali, em cada canto da minha mente. Eu me perguntava se ele sabia o quanto me afetava, ou se ele apenas se divertia com isso, como um jogo. Mas isso não importava. Eu precisava continuar minha rotina, fazer meu trabalho e não me deixar ser consumida pela tensão que ele criava.

No início da tarde, recebi uma mensagem de Celeste, uma das minhas amigas mais próximas. Ela me convidava para sair mais tarde, sugerindo que fosse um bom momento para uma distração. Eu hesitei por um momento, considerando o quanto eu precisava de uma pausa, algo para me aliviar da pressão constante no escritório. Aceitei o convite, pensando que, talvez, uma noite fora seria exatamente o que eu precisava para recarregar as energias.

Quando o expediente finalmente acabou, saí do escritório com uma sensação estranha de leveza, mas também de apreensão. Eu sabia que, ao me afastar de Paulo por algumas horas, estaria deixando para trás uma parte importante do meu mundo, e não estava certa se isso era uma boa ideia. Mas, ao mesmo tempo, a ideia de passar a noite em boa companhia me atraiu demais. Eu merecia isso, certo?

Cheguei ao bar onde Celeste e as outras amigas já estavam esperando. O ambiente estava animado, com risadas e conversas ao fundo, música suave tocando nos alto-falantes. Eu me sentei à mesa com elas, tentando me deixar envolver pela atmosfera descontraída. Celeste, como sempre, estava cheia de energia, e logo fomos envolvidas por conversas descontraídas sobre trabalho, relacionamentos e outros temas leves.

Enquanto eu tentava me enturmar, a porta do bar se abriu e um grupo de homens entrou, todos de terno, parecendo figuras imponentes. Meu coração deu um salto ao ver que Paulo estava entre eles, como se tivesse saído diretamente do meu pensamento. Ele não me viu de imediato, pois estava ocupado conversando com um de seus colegas de trabalho. Mas eu sabia que a presença dele naquele lugar não era uma coincidência.

Celeste percebeu minha reação e, com um sorriso travesso, comentou: “Olha, quem diria que você iria encontrar seu chefe aqui, hein?”

Eu tentei disfarçar a surpresa e disse, rindo um pouco: “Acho que ele está aqui por motivos de trabalho. Mas isso não é da minha conta, não é?”

Mas meu sorriso não durou muito, porque vi Paulo me observando agora, seus olhos fixos em mim com a mesma intensidade de sempre. Ele estava acompanhado de alguns homens mais velhos, e eu percebi, com um certo desconforto, que todos estavam me analisando com um olhar de interesse. Eles falavam em tom baixo, mas não consegui ignorar os elogios que estavam fazendo. “Ela é realmente bonita, não é?”, disse um deles, dirigindo-se a Paulo.

Paulo permaneceu em silêncio, mas sua postura rígida e o ligeiro endurecer de seu maxilar me diziam tudo. Ele não gostava de ser comentado dessa maneira, e muito menos de ser lembrado de que eu, uma funcionária, estava no centro das atenções. Ele parecia desconfortável, como se não soubesse como reagir a esse tipo de situação. A tensão era palpável.

Enquanto os homens conversavam, eu tentava me manter alheia, mas não conseguia evitar sentir a pressão de ser observada por aqueles olhos que, agora, estavam focados em mim. O que deveria ser um simples encontro social estava se transformando em um campo minado, e a presença de Paulo estava tornando tudo ainda mais difícil. A energia ao nosso redor mudou. Eu não estava mais apenas me divertindo com minhas amigas; agora, havia um peso nas palavras de cada um ao meu redor. Os olhares me faziam sentir como se eu estivesse sendo avaliada, e Paulo, como sempre, não fazia nada para aliviar a situação.

O que mais me incomodava era o fato de que Paulo estava tão claramente irritado. Eu não sabia como lidar com isso. Normalmente, ele era imbatível, difícil de ler, mas agora, sua frustração era visível. Ele estava ali, mas ao mesmo tempo distante, tentando manter uma fachada de controle. Mas, como sempre, era difícil esconder seus sentimentos quando estava em minha presença.

Fiquei por mais algum tempo, tentando conversar com minhas amigas, mas a constante presença de Paulo me fazia sentir desconfortável. Cada vez que olhava para ele, seu olhar encontrava o meu, e eu podia sentir a tensão aumentar entre nós dois. Ele não estava dizendo nada, mas sua irritação era evidente, e de alguma forma, eu sabia que ele não estava gostando do que estava acontecendo.

Quando a noite avançou, Paulo se levantou com os outros homens e se dirigiu à saída do bar. Eu, por minha vez, não conseguia mais me concentrar na conversa com minhas amigas. Minha cabeça estava cheia de perguntas e inseguranças. O que ele queria de mim? Por que sempre que eu tentava me distanciar dele, ele parecia me puxar de volta para o seu universo?

Celeste percebeu minha inquietação e perguntou, com um sorriso travesso: “Aconteceu alguma coisa entre você e o Paulo, Fernanda?”

Eu balancei a cabeça, forçando um sorriso. “Nada demais. Só que, aparentemente, ele não gosta de ver a sua secretária recebendo elogios.”

Ela riu, mas eu sabia que, por dentro, minha mente estava em outro lugar. Onde exatamente eu estava me metendo? E por que Paulo parecia ter o poder de me tirar do meu eixo tão facilmente?

Quando finalmente voltei para o meu apartamento naquela noite, a sensação de desconforto só aumentava. Eu sabia que o que acontecera no bar não era um simples encontro de trabalho. A linha entre a profissão e algo mais estava cada vez mais turva, e eu não sabia até onde isso poderia me levar.

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