Montepulciano

Montepulciano

Capítulo 1

...Capítulo 1...

 

Ao descer do táxi Christopher Pellegrini ainda estava meio que atordoado por tanta informação em tão pouco tempo. Ainda não havia caído a ficha de que estava realmente pisando em Montepulciano, Itália. Sabia que seus pais eram dali, mas não achou que iria conhecer o lugar de origem de seus pais um dia.

Em todos esses anos seus pais haviam escondido dele sobretudo. Sobre a família, sobre as intrigas que vinham enfrentado todos esses anos e sobre quem ele realmente era. Era curioso, o tanto que a única coisa que ele sabia era que vieram de uma cidadezinha da Itália para viverem melhor, mas sempre perceberá que seus pais não haviam contado a verdadeira história.

Há duas semanas havia recebido uma carta do advogado do seu avô que nem ele mesmo sabia que tinha um, e que só agora soube que nunca iria conhecê-lo já que havia falecido uma semana atrás da carta aparecer. No primeiro momento achou que fosse brincadeira, mas depois de ter perguntado há sua mãe sobre o pai dela, ela havia ficado em choque ao saber que o pai tinha falecido.

Tudo era novidade, saber que tinha algo mais do que a vida que levava era ótima demais. Seus pais haviam saído de Montepulciano para irem viverem em Londres, não era tão longe assim, mas já era o suficiente para se esconder da família.

Montepulciano é uma cidadezinha medieval erguida toda em pedra no alto da colina (uma das mais altas de toda a Toscana), com um belo centro histórico caracterizado por uma sucessão de vielas imperfeitas e fachadas irregulares, cercado por muralhas e fortalezas. Suba, desça, perca-se. E, na saída, uma parada estratégica no acostamento da estrada para dar uma espiada do alto da igreja Templo di San Biaggio, um belo exemplar da arquitetura renascentista, construído no século 16 no caminho que leva a Pienza.

Da estação ferroviária local saem poucos trens regionais. Muitas vezes, é melhor ir até Chiusi-Chianciano, a 18 quilômetros, de onde saem trens diretos para Florença e Roma. Há ônibus de meia em meia hora com destino à estação.

Ainda bem que o advogado tinha um escritório em Florença e não precisou alugar nenhum carro, o que era um alívio. Não poderia ficar muito tempo por ali, só estava ali porque havia um testamento do seu avô e claro que sua mãe estava furiosa com ele por ter aceitado em ir até ali para saber o que o seu avô havia deixado. Estava torcendo para que não fosse nenhuma dívida ou algo inusitado, afinal não sabia nada sobre o seu avô. Assim que conseguiu achar o escritório numa rua bem pequena e estreita sentiu-se mal por não ter se vestido tão apropriadamente para uma ocasião como aquela.

Havia optado por um look despojado, calça jogger preta, camiseta cinza e tênis. Tirou os óculos escuros assim que entrou no local e se deparou com uma senhora sentada atrás de uma mesinha.

Sorriu e se apresentou há ela em italiano, que simplesmente disse para aguardar que o Sr. De Santis iria atendê-lo logo. Pelo menos alguma coisa seus pais o ensinaram muito bem, a falar o italiano. E não demorou muito, quando um senhor gordo e de bigode engraçado apareceu, entrou na sala pequena e viu que não estaria sozinho com o Sr. De Santis. Tinha um senhor magro e pelo que percebeu o olhava da cabeça aos pés, sabia que não estava apropriadamente vestido para uma ocasião mais formal, mas o calor ali era grande, estava tão acostumado com o tempo de Londres que achou meio estranho.

- Esse é o Sr. Marcello Vasconcellos.

Christopher assentiu em cumprimento e sentou-se em seguida.

- Antes de começar, quero dizer que fico muito grato que tenha vindo até aqui. Seus pais e irmã não vieram por quê?

- Minha mãe não queria que eu viesse. Mas sei que não seria sensato deixar o senhor esperando. – Ele tentou usar um tom de brincadeira, mas viu que nenhum dos dois gostaram. – Bem, vim pela minha mãe e irmã se não se importar.

O Sr. De Santis assentiu e retirou um envelope de dentro da gaveta.

- Bem, então vamos ver. Pelo que estou vendo você nem sabia que tinha um avô.

- Não.

- Muito bem. Aqui seu avô está lhe deixando a casa dele, a propriedade toda na verdade. – Suspirou e o encarou. – É uma vinícola.

Será que havia escutado direito. Ele tinha uma vinícola e uma propriedade na Itália. E pensar que poderia ser uma dívida, isso se aquele negócio todo estivesse à beira da falência aí sim seria uma perda de tempo ter saído de Londres para ver um testamento.

- Ele me deixou uma vinícola?

- Sim.

- É da família a gerações. – O velho magro se intrometeu.

- Eu não faço ideia...

- É por isso que estou aqui.

Christopher franziu o cenho e assentiu.

- Ok. Tem mais alguma coisa?

- Sim. Nessa propriedade tem mais uma casa que é aonde o Sr. Vasconcellos mora com a família e de hipótese alguma você pode tirá-lo de lá a não ser que o senhor venda toda a propriedade.

- Entendi.

- Quer conhecer a propriedade?

- Seria ótimo você conhecer tudo antes de tomar qualquer decisão. – O advogado falou. – Depende do senhor agora.

- Não sei nada sobre vinhos.

- É por isso que terá o Sr. Vasconcellos como o seu braço direito.

Christopher olhou para o velho e forçou um sorriso.

- Estou aqui para isso, Sr. Pellegrini. Se quiser posso te levar até a propriedade, mostrar a plantação e a fábrica.

Christopher engoliu em seco e hesitou.

- Certo.

Se despediu do advogado e seguiu o velho magro até o lado de fora. Sua única mala estava no hotel onde estava hospedado assim que chegou naquela manhã e como já era quase três horas da tarde não iria ser um incômodo em ir até a sua herança e conhecer.

E o pior de tudo era que não tinha ideia do que iria fazer com tudo aquilo, não sabia absolutamente nada sobre como era a plantação de uvas e muito menos sobre a produção. Ele só conhecia os melhores vinhos para beber, já que no restaurante de seus pais era o que mais tinha.

Seus pais tinham conseguido se erguer sem ajuda de ninguém. Haviam trabalhado muito para chegarem onde estavam. Eram muito bem reconhecidos em Londres pelo restaurante Italiano que tinham, e nem sabia que tudo isso iria levá-lo até ali. Crescerá com o seu pai na cozinha e acabara seguindo os mesmos passos dele.

Há cinco anos que vinha ajudando o seu pai no restaurante. Era o braço direito do seu pai nos negócios. Amava demais estar dentro de uma cozinha e preparar maravilhosos pratos e agora teria que pensar sobre o que seria da sua vida com aquela herança surpresa. Nunca imaginaria que receberia algo daquele tipo, ele poderia ter deixado só a casa que já estava bom, não era ganancioso e nos seus vinte e nove anos ele já era bem-sucedido. Tinha um belo apartamento e um emprego mais do que maravilhoso, e com certeza não gostaria de deixar de lado.

Claro que teria que pensar muito sobre tudo aquilo que havia ganhado. Havia pessoas que precisavam do emprego e por mais que não soubesse de nada sobre aquele tipo de negócio, era algo que precisava pensar muito antes de tomar qualquer decisão.

Assim que o Sr. Vasconcellos parou em frente a uma caminhonete para lá de velha, ficou meio que indeciso sobre em ir até a sua herança.

- Quer busca suas coisas no hotel?

- Seria ótimo.

Não levou nem meia hora, e já estava dentro daquela caminhonete velha novamente.

- Sua mãe está bem?

- Sim.

- Me lembro bem dela, toda graciosa. Seu avô tinha um amor muito grande por ela, fazia tudo por ela. – Ele suspirou. – Espero em vê-la novamente um dia.

- Acho que seria meio que difícil. Ela não queria que eu viesse.

Marcello sorriu.

- Pelo jeito continua a mesma, era bem perspicaz e admiro muito isso nela. E sua irmã é mais nova que você?

‐ Sim. Ela está no último ano do colégio.

- E você tem namorada ou é casado?

- Nenhum e nem outro.

Marcello sorriu sem tirar os olhos da estrada.

- Eu tenho duas filhas, uma está também terminado o colégio e a outra trabalha no barracão, você vai conhecê-la.

- Hum, tem muita gente trabalhando nesse barracão?

- Mais ou menos. Tem mais gente na colheita... minha filha ajudava muito o seu avô nos negócios.

- Eu não entendo disso.

- Você trabalha com quê?

- Sou cozinheiro. Meus pais têm um restaurante em Londres e ajudo o meu pai com os negócios.

- Uau! Espero que goste daqui, é um lugar bem sossegado.

- Acho que é cedo para planejar as coisas. Quero apenas conhecer o local primeiro antes de tomar qualquer decisão.

- Sim, com certeza. – Marcello disse entrando na estrada.

A viagem levou cerca de quase uma hora e meia e já estava cansado, não via hora de sair de dentro daquele carro.

– Já estamos chegando. Logo você vê a casa é bem mais para frente tem a plantação e o barracão.

- Tudo é feito aqui?

- Sim, seu avô gostava de estar a par de tudo. Ele não confiava em muitas pessoas, tem gente que trabalha aqui que com certeza lembra da sua mãe.

- O senhor sempre trabalhou aqui?

- Vim para cá quando tinha dezenove anos, seu avô me contratou para ser jardineiro apenas e acabei sendo seu braço direito. Sou grato há ele por tudo o que fez por mim e minha família. – Contou ao passarem por um portão e logo viu a casa. – Bem, chegamos. Isso tudo é seu agora.

Chris hesitou confuso. O acesso à propriedade é feito através de duas avenidas ladeadas por portão automático, localizado nos dois lados da colina. 

Marcello mostrou a casa e ficou encantado com o lugar. Para enriquecer a esplêndida propriedade, uma dependência com quarto, cozinha e banheiro. O edifício principal, medindo cerca de 300 m², tem dois andares acima do solo e é caracterizado por um grande pátio, usado como um gazebo na varanda, de onde há acesso direto ao forno a lenha. No térreo há um pequeno escritório, um quarto de casal, uma grande área de relaxamento, onde há uma escada para subir, uma grande sala de estar com área de estar com sofás e lareira; para completar os quartos do térreo há uma cozinha e banheiro, ao lado da sala de estar. No andar de cima, que pode ser acessado externamente através de uma escada externa, localizada na fachada sul do construtor de Pietra serena, e internamente através de uma escada de terracota. 

A chegada de ambas as escadas, no primeiro andar, está localizada em uma área de relaxamento, caracterizada por uma grande lareira; a partir daqui é possível acessar um corredor que leva aos cinco quartos e os dois banheiros no andar.

- Então, o que achou? – Marcello perguntou assim que voltaram para a sala de estar.

- É grande. Sua casa fica longe daqui?

- Não. É apenas um chalé.

Chris balançou a cabeça.

- Se quiser conhecer o resto da propriedade ainda dá tempo, o pessoal ainda não foi embora.

- Acho melhor deixar isso para amanhã.

- Certo.

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Comments

Benedita Lourdes

Benedita Lourdes

já estou gostando da história li apenas o primeiro capítulo más tem um ótimo conteúdo.... parabéns

2025-01-14

1

Leide Andrade

Leide Andrade

começando agora essa leitura, vamos que vamos 🌻

2024-12-28

1

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