Fazia mais ou menos uma semana e meia em que não aparecia no barracão e muito menos saia para fora de casa. Estava magoada por tudo que havia acontecido. Seu pai havia trazido um papel com a demissão dela para assinar, já que não quisera colocar os pés novamente naquele lugar.
Chris tentara falar com ela várias vezes, mas não queria falar com ele, mesmo que seu coração falasse que deveria ir vê-lo, porem sabia que se o fizesse acabaria se rendendo há ele.
Naquela quarta-feira, estava exatamente terminando de fazer um café quando alguém bateu na porta. Foi dar uma olhada pela janela e viu que era a sra. Pellegrini.
Bufou desanimada ao ver que não estava a fim de vê-la nem pintada de ouro. Mais enfim, sabia que se não atendesse ela não iria embora.
- Eu já ia levar o papel. – ela disse assim que abriu a porta.
A mulher deu um suspiro, mas não deixou a pose de madame.
- Não vim por causa da sua demissão.
- Então, não temos o que conversar. – Kiara ia fechar a porta, mas aquela senhora foi ágil e a impediu.
- Por favor, preciso conversar com você.
Kiara hesitou, por fim deu passagem para ela entrar. Sabia que não deveria estar convidando aquela mulher que havia se atrevido em lhe dar um tapa na frente de todos que conhecia, mas reconheceu que ela parecia querer mesmo falar algo importante para ela.
- Em que posso ajudar? – indagou sentando-se e viu que a sra. Pellegrini acabo sentando-se no outro sofá.
- Primeiro queria lhe pedir desculpas por lhe dar o tapa. – disse calmamente.
- Tudo bem.
- Quero que saiba que estou aqui por causa do Chris. – Suspirou. – Ele anda triste e estressado, não anda falando comigo.
Kiara assentiu, mas não disse nada.
- Não sei o que houve entre vocês ou o que vocês sentem um pelo outro, mais quero que saiba que nunca quis atrapalhar... eu só estava com ciúmes de você com o Chris.
- Por quê?
Ela deu de ombros.
- Bem, você cresceu ao lado do meu pai e quando chego aqui, você tem o Chris também. – Ela contou meio que incomodada. – Sei que você e as outras pessoas pensam que fui embora daqui, mas não foi bem assim.
- Por que está me dizendo isso?
- Preciso que saiba disso. Quando eu conheci o Antony éramos assim que nem você e o Chris, sem escrúpulo nenhum. – Ela sorriu ao lembrar. – Meu pai não queria que eu namorasse um simples rapaz que ia apenas ajudar os pais na colheita..., mas não tem como não mandar no coração. Eu me apaixonei por esse cara e a única coisa que nós queríamos era ficar um com o outro. – Suspirou, e continuou. – Namoramos escondido por meses, algo que não quero que meus filhos façam, enfim, quando soube que estava gravida, meu pai me deu duas opções. Eu tinha que abortar ou ir embora.
- Você preferiu ir embora.
Ela assentiu sorrindo.
- Sim. Não me afastei do meu pai porque quis, fiz porque queria viver ao lado do amor da minha vida... e se eu não tivesse feito isso, meu Chris não existiria. – Ela segurava para não chorar, mas viu que foi impossível. – Não arrependo nem um minuto se quer por ter feito essa escolha.
Kiara levantou-se e se sentou ao lado dela, segurou na mão dela confortando- a.
- Sinto muito.
- Você conheceu uma outra parte de Marcus. Não fomos criadas pelo mesmo homem. – Ela disse. – Queria poder ter tido a chance de me despedir, e dizer há ele que as escolhas que ele tomava sobre a minha vida não foram em vão. Me tornei uma mulher com um sucesso enorme e tenho dois filhos maravilhosos que não me arrependo nem minuto se quer.
- Ele te amava.
- Nunca duvidei do amor que meu pai sentia por mim. Só acho que ele deveria ter aceitado as minhas escolhas... teriam sido mais fáceis.
-- Nem sempre as coisas são do jeito que queremos.
A Sra. Pellegrini fungou e sorriu.
- Não. Mas não devemos desistir, e acho que se você sente alguma coisa pelo meu filho não o deixe.
Kiara hesitou toda sem graça.
- Vou pensar sobre isso.
- Não faça as coisas por medo de não derem certo. Faça com o coração. – Ela disse abrindo a bolsa e tirar um envelope. – Encontrei isso no escritório do meu pai... acho que ele não conseguiu entregar ao advogado há tempo.
Kiara com as mãos trêmulas pegou o envelope e viu que já estava aberto, olhou para aquela mulher.
- Já estava aberto. – Ela contou se levantando. – Bem preciso ir, não quero tomar mais o seu tempo...
- Obrigada, Sra. Pellegrini.
- Francisca ou Francy... sem formalidades.
Kiara se despediu daquela mulher e ficou ali parada por alguns minutos, mas que pareceu uma eternidade. Ainda estava chocada com a verdadeira história. E pensar que ela tinha apenas ido embora para viver ao lado do amor da vida dela e não por ter sido expulsa de casa por estar grávida. Escutara a vida inteira de que aquela mulher era a vilã e na verdade Marcus tinha sido o vilão esse tempo todo, inacreditável.
Sentou -se no sofá e olhou para o papel em suas mãos. Não sabia se estava preparada para abrir aquilo e ver o que Marcus havia aprontado com ela. Por que ele não entregará nas mãos do advogado?
Com as mãos trêmulas abriu o envelope e conforme ia lendo, ficou chocada, era a letra de Marcus.
“ Querida Kiara...
Sei que você vai ler isso depois que eu já não estiver nesse mundo, mas quero que saiba que não vou esquecê-la nunca... você foi uma menina incrível todos esses anos, e quero que saiba que você preencheu o vazio que minha filha deixou. Enfim, deixei um testamento e sei que você vai ficar chateada por estar deixando tudo para o meu neto que neguei a minha vida inteira e para me redimir quero que vocês dois tomem conta do que foi de geração.
Kiara, a partir desse momento quero lhe deixar a metade dos negócios e espero que me perdoe por não ter deixado isso tão claro. Eu te amo minha querida, do seu Marcus velho rabugento.”
Kiara sorriu e sentiu lagrimas caindo pelo seu rosto. Como ele pode deixar isso passar? Era muito desconforto saber de algo assim só agora que tudo já estava indo para o caminho certo.
Havia xingado aquele velho por vários dias e só agora ela sabia que tinha parte dos negócios. Como ela iria conseguir encarar Chris depois de tudo o que havia acontecido e era tão constrangedor a mãe dele vir aqui e contar sua história e depois lhe dizer para não desistir do filho.
Será que Chris sentia algo por ela?
Confusa com aquela coisa toda, ficou ali parada e tentando pensar no que faria de agora em diante, quando o seu pai apareceu.
- Querida... tudo bem?
- Sim.
- Aconteceu alguma coisa?
Kiara o encarou e mostrou a carta, contou.
- A sra. Pellegrini veio me entregar isso. – Suspirou. – Marcus me deixou algo.
- Ohh...
- O senhor sabia de algo?
Seu pai deu de ombros e assentiu.
- Bem, Marcus havia comentado uma vez que iria deixar algo para você, mais aí saiu o testamento e achei que ele tivesse mentido.
- O senhor sabia e não me disse nada?
- Querida, o que foi que ele lhe deixou?
Kiara suspirou e respondeu.
- A metade dos negócios... ele diz aqui claramente que eu e o Chris devemos cuidar dos negócios da família. – Ela fez careta. – Não somos uma família.
- Não estão mais juntos?
- Pai...o senhor sabe que eu e o Chris não... vamos dar certo.
- Pensei que estivessem bem.
- Pois pensou errado. – Ela disse e virou-se para subir em seu quarto.
- O quê?
Chris indagou indignado com que acabara de escutar, sua mãe havia chamado o para conversar a dois dias e a única coisa que havia feito desde então foi evita-la, mas naquela tarde não tivera escapatória e claro que só agora ela resolverá se abrir há ele sobre a vida dela toda.
E pensar que ela tinha ido embora só para viver com o amor da vida dela, sua mãe fora uma mulher corajosa ao enfrentar o pai só para tê-lo e pensar que tinha perdido contato com o homem que pensou que poderia ter sido um bom avô. No entanto, Marcus tinha sido um bom avô, mais para Kiara e mais ninguém. Ele não merecia ter recebido aquela herança e sua mãe o tempo todo estava dizendo isso na sua cara e mesmo assim ele havia negado o tempo todo.
Havia sido um tolo em pensar que seu avô havia deixado algo para ele por consideração pelos anos perdidos por causa de sua mãe.
- Querido, sei que é muita coisa para você entender... mais saiba que fiz isso por nós. – Sua mãe falou olhando para o marido e depois voltou para ele. – Não me arrependo e faria novamente.
Chris balançou a cabeça e concordou. Sua mãe se aproximou e pegou na sua mão e com a outra passou em seu rosto.
- Eu não tenho raiva do seu avô por ter me feito fazer essas escolhas, mas saiba que se não tivesse feito isso, eu não teria você. – disse. – Eu amava o meu pai, mas não pude deixá-lo tomar decisões por mim. Eu amo você e Júlia mais que tudo nessa vida.
- Mãe, por que não me disse isso antes?
- Tinha medo de você me odiar por não o deixar ter contato com o seu avô.
Chris hesitou e suspirou.
- Eu nunca iria odia-la por isso.
- E muito bom ouvir isso de você, querido. – Sorriu e o abraçou, acrescentou. – Deveria falar com a Kiara.
- O que tem ela?
Sua mãe o encarou.
- Eu fui pedir desculpas há ela sobre... aquilo. E acho que deveria falar com ela.
- Pensei que não me quisesse perto dela.
- No começo até pensava isso, mas é porque estava com ciúmes dela com você. Já bastava saber que ela teve o meu pai a vida toda, e aí você.
Chris sorriu zombeteiro.
- Mãe... isso não é competição.
- Eu sei..., mas ainda não acredito que meu filho já não é mais aquele menininho. – Sorriu, acrescentou. – Se sabe que pode contar sempre comigo, vou estar aqui quando você se magoar.
Chris beijou-a no rosto e sussurrou.
- Eu te amo, mãe. Meu avô ficaria orgulhoso de ver em quem a senhora se tornou.
- Com certeza.
- Bem, preciso ir falar com a kiara.
- Ah antes que você vá falar com ela, deveria ir preparado.
- Para quê?
Seus pais se entreolharam, mais foi sua mãe quem respondeu.
- Querido, eu encontrei uma carta do seu avô no escritório dele, e a carta era para Kiara.
- E você entregou há ela?
- Sim. E a carta dizia que a metade dos negócios do vinhedo era para ela... sinto muito querido.
Chris assentiu e sem dizer nada saiu dali.
Não levou nem dez minutos, e ele já estava na porta da casa de Kiara. Por que ela sabia disso e não aparecera no barracão?
Mesmo que aquilo fosse mesmo verdade, porque seu avô escrevera apenas uma carta e não entregara há um advogado. Muito estranho toda esta história. Bateu duas vezes na porta, quando Marcello apareceu, cumprimentou-o e deixou-o entrar.
- Quer alguma coisa?
- Quero falar com a Kiara. Ela está?
- Sim.
Marcello a chamou, em segundos ela desceu. Mas quando o viu, desanimou.
- Pai...
- Kiara, por favor... – ele a chamou ao ver que ia subir novamente a escada.
- Estou ocupada.
- Kiara... eu sei. Eu sei que meu avô lhe deixou algo.
Kiara o encarou e cruzou os braços.
- Você sabia?
- Minha mãe me contou. Por que não foi falar comigo?
- Sua mãe lhe contou?
- Sim.
Kiara balançou a cabeça.
- Não achei que deveria mexer em algo que já está tudo certo. Eu nunca fui alguém na vida do Marcus.
- Você merece isso mais do que eu.
- Não. Eu fui apenas a garota que substituiu a sua mãe.
- Kiara... podemos resolver isso juntos.
- Você não precisa de mim.
- Vai abrir mão disso?
Kiara assentiu.
- Querida... não faça isso. – O pai dela entrou na conversa. – Sei que está com raiva por só agora descobrir isso, mas veja. Marcus não esqueceu de você.
- Não mereço isso, ele só deixou uma carta.
- Kiara...
- Você não precisa de mim. Você deu conta de tudo sozinho até agora e sabemos que isso não daria certo... entre nós.
- Tive sua ajuda nisso tudo.
Ela balançou a cabeça.
- Não somos uma família, Chris. E é isso o que Marcus quer. – ela disse subindo a escada sem se importa com ninguém.
Chris olhou para Marcello que deu de ombros.
- Deveria falar com ela.
- É a decisão dela. Ela precisa de espaço para pensar melhor sobre isso tudo.
Ele balançou a cabeça e concordou.
- Ok.
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Atualizado até capítulo 20
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