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Montepulciano

Capítulo 1

...Capítulo 1...

 

Ao descer do táxi Christopher Pellegrini ainda estava meio que atordoado por tanta informação em tão pouco tempo. Ainda não havia caído a ficha de que estava realmente pisando em Montepulciano, Itália. Sabia que seus pais eram dali, mas não achou que iria conhecer o lugar de origem de seus pais um dia.

Em todos esses anos seus pais haviam escondido dele sobretudo. Sobre a família, sobre as intrigas que vinham enfrentado todos esses anos e sobre quem ele realmente era. Era curioso, o tanto que a única coisa que ele sabia era que vieram de uma cidadezinha da Itália para viverem melhor, mas sempre perceberá que seus pais não haviam contado a verdadeira história.

Há duas semanas havia recebido uma carta do advogado do seu avô que nem ele mesmo sabia que tinha um, e que só agora soube que nunca iria conhecê-lo já que havia falecido uma semana atrás da carta aparecer. No primeiro momento achou que fosse brincadeira, mas depois de ter perguntado há sua mãe sobre o pai dela, ela havia ficado em choque ao saber que o pai tinha falecido.

Tudo era novidade, saber que tinha algo mais do que a vida que levava era ótima demais. Seus pais haviam saído de Montepulciano para irem viverem em Londres, não era tão longe assim, mas já era o suficiente para se esconder da família.

Montepulciano é uma cidadezinha medieval erguida toda em pedra no alto da colina (uma das mais altas de toda a Toscana), com um belo centro histórico caracterizado por uma sucessão de vielas imperfeitas e fachadas irregulares, cercado por muralhas e fortalezas. Suba, desça, perca-se. E, na saída, uma parada estratégica no acostamento da estrada para dar uma espiada do alto da igreja Templo di San Biaggio, um belo exemplar da arquitetura renascentista, construído no século 16 no caminho que leva a Pienza.

Da estação ferroviária local saem poucos trens regionais. Muitas vezes, é melhor ir até Chiusi-Chianciano, a 18 quilômetros, de onde saem trens diretos para Florença e Roma. Há ônibus de meia em meia hora com destino à estação.

Ainda bem que o advogado tinha um escritório em Florença e não precisou alugar nenhum carro, o que era um alívio. Não poderia ficar muito tempo por ali, só estava ali porque havia um testamento do seu avô e claro que sua mãe estava furiosa com ele por ter aceitado em ir até ali para saber o que o seu avô havia deixado. Estava torcendo para que não fosse nenhuma dívida ou algo inusitado, afinal não sabia nada sobre o seu avô. Assim que conseguiu achar o escritório numa rua bem pequena e estreita sentiu-se mal por não ter se vestido tão apropriadamente para uma ocasião como aquela.

Havia optado por um look despojado, calça jogger preta, camiseta cinza e tênis. Tirou os óculos escuros assim que entrou no local e se deparou com uma senhora sentada atrás de uma mesinha.

Sorriu e se apresentou há ela em italiano, que simplesmente disse para aguardar que o Sr. De Santis iria atendê-lo logo. Pelo menos alguma coisa seus pais o ensinaram muito bem, a falar o italiano. E não demorou muito, quando um senhor gordo e de bigode engraçado apareceu, entrou na sala pequena e viu que não estaria sozinho com o Sr. De Santis. Tinha um senhor magro e pelo que percebeu o olhava da cabeça aos pés, sabia que não estava apropriadamente vestido para uma ocasião mais formal, mas o calor ali era grande, estava tão acostumado com o tempo de Londres que achou meio estranho.

- Esse é o Sr. Marcello Vasconcellos.

Christopher assentiu em cumprimento e sentou-se em seguida.

- Antes de começar, quero dizer que fico muito grato que tenha vindo até aqui. Seus pais e irmã não vieram por quê?

- Minha mãe não queria que eu viesse. Mas sei que não seria sensato deixar o senhor esperando. – Ele tentou usar um tom de brincadeira, mas viu que nenhum dos dois gostaram. – Bem, vim pela minha mãe e irmã se não se importar.

O Sr. De Santis assentiu e retirou um envelope de dentro da gaveta.

- Bem, então vamos ver. Pelo que estou vendo você nem sabia que tinha um avô.

- Não.

- Muito bem. Aqui seu avô está lhe deixando a casa dele, a propriedade toda na verdade. – Suspirou e o encarou. – É uma vinícola.

Será que havia escutado direito. Ele tinha uma vinícola e uma propriedade na Itália. E pensar que poderia ser uma dívida, isso se aquele negócio todo estivesse à beira da falência aí sim seria uma perda de tempo ter saído de Londres para ver um testamento.

- Ele me deixou uma vinícola?

- Sim.

- É da família a gerações. – O velho magro se intrometeu.

- Eu não faço ideia...

- É por isso que estou aqui.

Christopher franziu o cenho e assentiu.

- Ok. Tem mais alguma coisa?

- Sim. Nessa propriedade tem mais uma casa que é aonde o Sr. Vasconcellos mora com a família e de hipótese alguma você pode tirá-lo de lá a não ser que o senhor venda toda a propriedade.

- Entendi.

- Quer conhecer a propriedade?

- Seria ótimo você conhecer tudo antes de tomar qualquer decisão. – O advogado falou. – Depende do senhor agora.

- Não sei nada sobre vinhos.

- É por isso que terá o Sr. Vasconcellos como o seu braço direito.

Christopher olhou para o velho e forçou um sorriso.

- Estou aqui para isso, Sr. Pellegrini. Se quiser posso te levar até a propriedade, mostrar a plantação e a fábrica.

Christopher engoliu em seco e hesitou.

- Certo.

Se despediu do advogado e seguiu o velho magro até o lado de fora. Sua única mala estava no hotel onde estava hospedado assim que chegou naquela manhã e como já era quase três horas da tarde não iria ser um incômodo em ir até a sua herança e conhecer.

E o pior de tudo era que não tinha ideia do que iria fazer com tudo aquilo, não sabia absolutamente nada sobre como era a plantação de uvas e muito menos sobre a produção. Ele só conhecia os melhores vinhos para beber, já que no restaurante de seus pais era o que mais tinha.

Seus pais tinham conseguido se erguer sem ajuda de ninguém. Haviam trabalhado muito para chegarem onde estavam. Eram muito bem reconhecidos em Londres pelo restaurante Italiano que tinham, e nem sabia que tudo isso iria levá-lo até ali. Crescerá com o seu pai na cozinha e acabara seguindo os mesmos passos dele.

Há cinco anos que vinha ajudando o seu pai no restaurante. Era o braço direito do seu pai nos negócios. Amava demais estar dentro de uma cozinha e preparar maravilhosos pratos e agora teria que pensar sobre o que seria da sua vida com aquela herança surpresa. Nunca imaginaria que receberia algo daquele tipo, ele poderia ter deixado só a casa que já estava bom, não era ganancioso e nos seus vinte e nove anos ele já era bem-sucedido. Tinha um belo apartamento e um emprego mais do que maravilhoso, e com certeza não gostaria de deixar de lado.

Claro que teria que pensar muito sobre tudo aquilo que havia ganhado. Havia pessoas que precisavam do emprego e por mais que não soubesse de nada sobre aquele tipo de negócio, era algo que precisava pensar muito antes de tomar qualquer decisão.

Assim que o Sr. Vasconcellos parou em frente a uma caminhonete para lá de velha, ficou meio que indeciso sobre em ir até a sua herança.

- Quer busca suas coisas no hotel?

- Seria ótimo.

Não levou nem meia hora, e já estava dentro daquela caminhonete velha novamente.

- Sua mãe está bem?

- Sim.

- Me lembro bem dela, toda graciosa. Seu avô tinha um amor muito grande por ela, fazia tudo por ela. – Ele suspirou. – Espero em vê-la novamente um dia.

- Acho que seria meio que difícil. Ela não queria que eu viesse.

Marcello sorriu.

- Pelo jeito continua a mesma, era bem perspicaz e admiro muito isso nela. E sua irmã é mais nova que você?

‐ Sim. Ela está no último ano do colégio.

- E você tem namorada ou é casado?

- Nenhum e nem outro.

Marcello sorriu sem tirar os olhos da estrada.

- Eu tenho duas filhas, uma está também terminado o colégio e a outra trabalha no barracão, você vai conhecê-la.

- Hum, tem muita gente trabalhando nesse barracão?

- Mais ou menos. Tem mais gente na colheita... minha filha ajudava muito o seu avô nos negócios.

- Eu não entendo disso.

- Você trabalha com quê?

- Sou cozinheiro. Meus pais têm um restaurante em Londres e ajudo o meu pai com os negócios.

- Uau! Espero que goste daqui, é um lugar bem sossegado.

- Acho que é cedo para planejar as coisas. Quero apenas conhecer o local primeiro antes de tomar qualquer decisão.

- Sim, com certeza. – Marcello disse entrando na estrada.

A viagem levou cerca de quase uma hora e meia e já estava cansado, não via hora de sair de dentro daquele carro.

– Já estamos chegando. Logo você vê a casa é bem mais para frente tem a plantação e o barracão.

- Tudo é feito aqui?

- Sim, seu avô gostava de estar a par de tudo. Ele não confiava em muitas pessoas, tem gente que trabalha aqui que com certeza lembra da sua mãe.

- O senhor sempre trabalhou aqui?

- Vim para cá quando tinha dezenove anos, seu avô me contratou para ser jardineiro apenas e acabei sendo seu braço direito. Sou grato há ele por tudo o que fez por mim e minha família. – Contou ao passarem por um portão e logo viu a casa. – Bem, chegamos. Isso tudo é seu agora.

Chris hesitou confuso. O acesso à propriedade é feito através de duas avenidas ladeadas por portão automático, localizado nos dois lados da colina. 

Marcello mostrou a casa e ficou encantado com o lugar. Para enriquecer a esplêndida propriedade, uma dependência com quarto, cozinha e banheiro. O edifício principal, medindo cerca de 300 m², tem dois andares acima do solo e é caracterizado por um grande pátio, usado como um gazebo na varanda, de onde há acesso direto ao forno a lenha. No térreo há um pequeno escritório, um quarto de casal, uma grande área de relaxamento, onde há uma escada para subir, uma grande sala de estar com área de estar com sofás e lareira; para completar os quartos do térreo há uma cozinha e banheiro, ao lado da sala de estar. No andar de cima, que pode ser acessado externamente através de uma escada externa, localizada na fachada sul do construtor de Pietra serena, e internamente através de uma escada de terracota. 

A chegada de ambas as escadas, no primeiro andar, está localizada em uma área de relaxamento, caracterizada por uma grande lareira; a partir daqui é possível acessar um corredor que leva aos cinco quartos e os dois banheiros no andar.

- Então, o que achou? – Marcello perguntou assim que voltaram para a sala de estar.

- É grande. Sua casa fica longe daqui?

- Não. É apenas um chalé.

Chris balançou a cabeça.

- Se quiser conhecer o resto da propriedade ainda dá tempo, o pessoal ainda não foi embora.

- Acho melhor deixar isso para amanhã.

- Certo.

Capítulo 2

Quando ficou sozinho na casa se sentiu à vontade. Explorou a casa toda sem ninguém olhando para ele como se fosse um idiota da cidade grande. Mesmo ainda não acreditando que aquela casa era dele, a única coisa agora era o que fazer com tudo aquilo. Não podia abandonar o que mais gostava de fazer e seu apartamento sentiria falta de tudo em Londres.

Vinte e nove anos, em todos esses anos seus pais nunca disseram nada há ele sobre a família. Não sabia o que tinha acontecido para eles saírem dali e viverem a vida como se só ambos importassem.  Estranho. Confuso e intrigante.

Estava olhando um quarto que gostou e aproveitou para olhar a propriedade da janela e pelo que viu era mesmo grande e maravilhoso. Foi quando seu celular tocou. Era sua mãe.

- Estou bem. – Ele respondeu assim que ela perguntou se havia chegado bem. – Só estou confuso.

- O que o meu pai lhe deixou?

Christopher suspirou.

- A propriedade toda e a vinícola.

- Sério?

- E sim mãe. Por que nunca me contou nada?

- Querido, eu só queria viver a minha vida e seu avô não estava aceitando minhas decisões.

- Mãe, eu não sei cuida disso.

- Então, volte para casa. Seu lugar é a aqui, querido.

- Eu não sei. Vou ficar alguns dias por aqui e conhecer um pouco, não posso abandonar assim. – suspirou. – Pessoas podem ficar desempregadas.

- Chris... você sabe que não precisa fazer isso. Você tem um excelente emprego, um ótimo apartamento e um na vida muito boa. Não precisa disso.

- Eu sei, mãe. Mas isso aqui agora é meu. Já decidi que vou ficar alguns dias por aqui, se não der certo eu volto para Londres.

Pode ouvir suspiros de sua mãe inconformada. Mas ele era adulto e sabia o que estava fazendo e não era sua mãe que o faria mudar de ideia.

- Mãe...

- Sim. Chris, só me prometa que não fará nada que não queira. – Ela disse. – Qualquer coisa você me liga se tiver algum problema, ok.

- Ok.

- Eu te amo, querido.

- Eu também te amo, mãe.

Se despediu de sua mãe e só então reparou que o Sr. Vasconcellos estava ali novamente e com uma moça, que presumiu ser a filha adolescente.

Desceu até o andar de baixo e mesmo que tudo fosse recente não gostaria de ninguém entrando na casa sem sua permissão.  Teria que conversa sobre aquilo com o Sr. Vasconcellos.

 Só agora descendo a escada reparou que havia quadros e fotos por todo lado, mas notou que tinha fotos, presumiu ser sua mãe quando criança, pois parecia muito com sua irmã.

Assim que o Sr. Vasconcellos o viu forçou um sorriso.

- Vim só perguntar se não quer jantar lá em casa essa noite, já que estará sozinho?

- Ah obrigado pelo convite.  Mas vou... descansar.

- Ah sim claro. Ei, quero lhe apresentar minha filha mais nova Annabel. – Sorriu. – Querida esse é o Sr. Christopher Pellegrini o neto de Marcus.

- Prazer em conhecê-lo, Sr. Pellegrini.

- Igualmente.

A moça era pequena, de pele branca e o cabelo preso num rabo de cavalo, parecia ter quase a mesma idade da sua irmã.

- Pai, eu já vou indo. Tenho que ajudar a fazer a janta... – Annabel beijou o pai no rosto e se despediu com um sorriso e saiu.

- Essa garota está crescendo muito rápido, desde que minha mulher morreu aprendeu a cuidar de si mesma. Só que quando chega nessa idade todas começam a dar trabalho, mas graças a Deus Kiara vem me ajudando.

Chris hesitou e mudou de assunto.

- Aproveitando que o senhor está aqui, amanhã eu gostaria de ir dar uma olhada lá na plantação e no barracão se for possível.

- Claro. Isso seria ótimo mesmo.

- Sabe quantas pessoas mais ou menos trabalha por lá?

- Não sei exatamente quantas, mas no barracão tem umas vinte e na plantação umas trinta, aí tem o químico, minha filha que vem fazendo o trabalho de Marcus e eu que venho colocando ordem até o senhor vim.

Ele forçou um sorriso.

- Certo. Vou precisar falar com a sua filha, mas antes preciso dar uma olhada no local.

- Vai ficar com a herança?

- Estou primeiro só analisando as coisas antes de tomar a decisão certa.

- Certo. Você se parece com sua mãe, exceto os olhos.

- É mesmo?

- Sim.

Christopher assentiu e só olhou no relógio de pulso.

- Bem, não quero incomodar. Mais já vou indo... amanhã eu passo aqui para lhe levar até o barracão.

- Ok.

 

- Será que dá para você falar um pouco menos Annabel. – pediu Kiara que tentava procurar o seu boné dentro do guarda-roupa bagunçado e resmungou consigo mesma. – Aí preciso dar um jeito nesse guarda roupa... achei!

Kiara virou-se para a irmã mais nova e sorriu colocando o boné na cabeça.

- Quando você voltar do colégio arrume a casa e se precisar de alguma coisa sabe onde me encontrar.

Annabel cruzou os braços toda seria.

- Não vou arrumar o seu quarto, Kiara. Não sou sua escrava.

- Não lembro de ter citado o meu quarto... enfim preciso trabalhar e me obedeça.

Kiara sabia que estava sendo rígida com sua irmã mais nova, mas aquela garota não parava de falar sobre garotos e mesmo que quisesse o bem dela, a única coisa que sabia dizer era que ela deveria aproveitar a vida e não se enroscar a qualquer garoto por aí. Sabia que não seria fácil lidar com uma adolescente, pois ela mesma não fora tão fácil assim, apesar de ter sido forçada a amadurecer antes assim que sua mãe falecera e cuidará de Annabel desde que ela tinha cinco anos, então acabara se prendendo demais em casa e não teve muito tempo para festas e namorados quando tinha a idade de sua irmã.

Sentia falta de poder sair e se divertir, mas sabia que tinha responsabilidade para cumprir e seu pai precisava dela, pois não sabia lidar com aquilo tudo.

No momento, ela estava mais interessada em saber quem era o neto do Sr. Mancini que viera de Londres receber a herança. Seu pai havia falado dele o jantar todo e mesmo que não tivesse interessada em saber nada daquele homem, mas infelizmente teve que ouvir todo o blá blá blá do seu pai na noite anterior e agora estava nervosa por ir trabalhar e que com certeza iria conhecê-lo.

Não estava muito a fim de trabalhar naquele dia e sabia que surtaria a qualquer hora se acabasse não gostando do sujeito. Havia crescido com aquele velho e a única coisa que havia ganhado dele foi apenas mais trabalho, desde que o Sr. Mancini falecera ela vinha trabalhando bastante, tanto com a parte de venda quanto ali no barracão e plantação. Por mais que gostasse de fazer inúmeras tarefas, ela estava começando a ficar esgotada e claro que ficará decepcionada com a herança do velho.

Tinha sido uma neta para o velho em todos esses anos, havia escutado histórias perambulantes a vida toda, a filha do Sr. Mancini havia ido embora de casa por causa do namorado e nunca mais dera notícias para o pai, pelo menos era a única coisa que sabia por Marcus ter ficado tão deprimente e ela fora a única que deixará os dias dele se iluminar novamente, ele havia cuidado dela e a tratado como filha até os seus últimos dias de vida, para só então deixar tudo aquilo para alguém que nem ao menos conhecia.

Não era orgulhosa e muito menos gananciosa, mas pela alguma coisa ele deveria ter deixado para ela, nem que fosse uma pequena quantia em dinheiro para ela cair fora daquele lugar. A sua vida toda se prendera naquele lugar e gostaria muito de sair e conhecer o mundo. Mas sabia que a grana andava curta e o trabalho continuava intenso.

Conforme se aproximava do barracão andou devagar e estava cada vez nervosa cada vez que se aproximava mais. Sabia que não o aceitaria como patrão, mas precisava do emprego e não queria ter que ser mandada embora por não o querer ali. Seu pai já havia avisado que o tal sujeito parecia ser uma boa pessoa e que lembrava muito a filha do Sr. Mancini, o que para ela não era grande coisa, não conhecerá a mulher que fizera o seu querido velho morrer de desgosto.

Encontrou com Pedro conversando com o senhor que trazia a turma da plantação e assim que seus olhares se encontraram, ela sorriu e foi para o banheiro. Pedro era seu amigo de infância e claro seu primeiro caso adolescente, e mesmo que tenha tentado gostar dele de outra forma, só conseguia vê-lo como um grande amigo.

Havia se vestido como sempre, calça jeans muito velha, camiseta e uma blusa de moletom cinza, botas que se encontravam muito gastas, ajeitou o cabelo dentro do boné verde e saiu do banheiro.

Muito determinada para trabalhar naquele dia e foi procurar Pedro e encontrou-o se preparando para subir no trator.

- Bom dia, Pedro.

- Bom dia Kiara. Como está se sentindo hoje?

Só então lembrou que no dia anterior estivera com enxaqueca e nem trabalhará direito indo embora mais cedo que o normal.

- Bem. Pelo menos acho que estou bem. – Ela forçou um sorriso. – Será que poderia me dar uma carona?

Pedro sorriu.

- Claro.

- Soube da novidade? – Ela perguntou subindo no trator depois do amigo.

- Sim, então é verdade?

- Meu pai o trouxe.

- Já conheceu o sujeito?

- Não. Aposto que deve ser um cara chato e playboy... parece que veio de Londres.

Pedro riu. Kiara adorava ouvir a risada do amigo, era tão contagiante. Era uma pena não sentir nada por ele, Pedro era tão bonito, atraente quando estava bem arrumado, era alto, moreno, forte e muito divertido. Sabia que Pedro ainda gostava dela, mas não poderia ficar tirando aproveito de tudo por causa disso e já deixará claro que não haveria nada entre ambos.

Assim que chegaram ela desceu do trator e já foi logo andando e cumprimentando as pessoas que já estavam trabalhando. Nos últimos dois meses haviam sido difíceis, pois estava com o serviço atrasado lá no escritório, quando chegava em casa tentava fazer um pouco do serviço do escritório, mesmo que Marcus havia ensinado ela ainda apanhava um pouco com a parte de contabilidade, aliás não era formada nessas coisas.

Mesmo que não quisesse aquele cara por ali, e teria que aceitá-lo por causa do emprego, gostaria que as coisas de agora em diante melhorasse. Todos precisavam disso.

Capítulo 3

Na manhã seguinte de quinta-feira, Chris levantou-se e meio que confuso por notar que não estava em casa. Precisava lembrar de agora em diante que tudo iria ser diferente. Tomou banho, em seguida vestiu uma calça jeans, camisa pólo vermelha e tênis. Não precisava estar apresentável, afinal estava no campo e na certa lá no barracão não era nada agradável.

Desceu para o andar de baixo e quando entrou na cozinha encontrou com a empregada terminando de fazer o café da manhã.

- Bom dia!

Ela ficou toda nervosa e gaguejou.

- Bom dia senhor. Eu preparei... o café, tem pão caseiro e outras coisas... e só servir.

- Obrigado.

Ela forçou um sorriso envergonhada e antes que ela saísse, disse.

- É será que posso lhe perguntar uma coisa?

- Sim, senhor.

- Você faz o quê por aqui?

- Eu limpo e cozinho, senhor.

Ele assentiu.

- Certo. De agora em diante, a senhora só irá limpar e fazer o café da manhã. Vou usar essa cozinha no almoço e na janta.

- Claro, senhor.

Ela hesitou e antes de sair da cozinha, voltou e perguntou envergonhada.

- Posso saber por que está me dispensando nesses horários, senhor?

- É que eu cozinho. – respondeu calmo. – Sou cozinheiro e não quero perder minhas habilidades.

Sabia que era a pior desculpa que já havia dito há alguém, só não queria ficar recebendo mimos enquanto ficava por ali. Queria manter seu lado profissional todos os dias e com certeza sua mãe o mataria se soubesse que deixar outra pessoa que cozinhasse para ele era errado.

Assim que a empregada saiu, ele tomou o café que por sinal estava maravilhoso e aproveitando que estava comendo, mexeu no celular. Tinha várias mensagens da sua mãe e meio que ignorou todas elas.

O Sr. Vasconcellos chegou por volta das oito e pouco, e novamente teve que entrar naquela caminhonete velha. Meio que percebeu as olhadas que o velho dava para ele que por incrível que pareça estava usando os óculos escuros, afinal estava bem sol já de manhã.

- Dormiu bem?

- Sim. O pessoal começa a trabalhar que horas?

- Bem, o povo da plantação começa às  sete e o do barracão as oito.

Quando se aproximaram, viu que era um barracão grande. O Sr. Vasconcellos apresentou ele aos que passavam e claro que todos estavam nervosos por conhecer o neto desconhecido do Sr. Mancini.

Tirou o óculos escuros e andou ao lado do velho que mostrou há ele todo o local, pode ver como era produzido o vinho e aproveitou para contar quantas pessoas trabalhavam ali e notou que era pouco e precisava dar um jeito naquilo, as máquinas já não eram aquelas coisas, o escritório  era pequeno e bagunçado. Talvez a queda de ações tivesse caído quando seu avô falecera e aquilo não era nada bom para quem não sabia como cuidar daquele tipo de negócios.

Cada lugar que passava observava com atenção e pós a anotar em seu celular tudo que achava que seria bom fazer uma melhora, apesar dos olhares estranhos tanto do pessoal quanto do Sr. Vasconcellos.

Depois de olhar a produção, o Sr. Vasconcellos o convidou para dar uma volta pela plantação. No entanto, ficou se sentindo um intruso quando passava pelas pessoas que trabalhava colhendo as uvas e que não paravam de olhá-lo.

Pararam para conversarem com um rapaz que carregava as caixas que colocava no trator. Ambos foram apresentados pelo Sr. Vasconcellos, e notou que o rapaz olhava para ele o tempo todo.

Por acaso ele parecia ser um monstro?

Christopher ficou confuso quando o rapaz chamado Pedro comentou que precisava mostrar algo para o Sr. Vasconcellos, e para sua surpresa teve que ficar sozinho no meio daquelas ruas com um monte de pares de olhares.

Mau deu dois passos, ouviu gritos de mulher e não pode deixar isso passar. Tentou ver de onde vinha, andou pelo lugar até finalmente encontrá-la. Reconheceu a moça que parecia não se importa com a outra, era a filha mais nova do Sr. Vasconcellos, já a outra de boné é que gritava dando ordens sem se importar com as outras pessoas ao redor.

- Vá para casa. Você deveria estar no colégio...

- Você não manda em mim.

Ela estava a ponto de estrangular a garota quando ele resolveu interferir.

- Ei, com licença. Posso ajudar?

De repente seus olhos cruzaram com a moça de boné, eram olhos penetrantes, a boca era ousada e suculenta, o nariz perfeito, os cabelos eram pretos e por sinal iam até os ombros, se não fosse pela blusa de moletom e a calça jeans velha e suja de terra, ela deveria ser extremamente  atraente.

- Quem é você?

- Ah Christopher Pellegrini e...

- Não me interessa. Será que dá para se afastar, é assunto de família. – Ela fez careta e se virou. – Vá para casa, Anna.

- Já disse que você não manda em mim...

- Annabel... Kiara. – O Sr. Vasconcellos apareceu surpreso.

- Pai... eu vim falar com o senhor. Mas a Kiara fica sendo grosseira.

- Querida, não pode vir aqui. Não deveria estar no colégio?

- Eu fui dispensada e por isso estou aqui. – A garota respondeu envergonhada.

- Você foi dispensada. Estava fazendo o quê? – Kiara gritou e só de olhar para a outra, acrescentou. – Já disse para você não se meter nisso.

Christopher sorriu achando a conversa engraçada e bem descontraída. A garota tinha sido pega namorando e tinha sido dispensada da escola e a irmã estava a repreendendo. Só então notou que a filha mais velha do Sr. Vasconcellos o encarava.

- Está rindo de quê?

- Nada.

- Querida, não fale assim... – O velho falou com a filha. – Esse é o neto do Sr. Mancini.

- Eu não estou nem aí.

- Kiara, ele é seu patrão agora.

- Meu patrão era e sempre vai ser o Sr. Mancini. – Ela gritou e se afastou correndo.

Chris observou-a correr a elegância que a moça corria. Ela era muito abusada e aquilo o atraiu.

- O senhor me desculpe pela grosseria de minha filha.

- Ela é sua filha?

- Sim. Kiara não é assim, ela era muito apegada ao seu avô e sente falta dele...

- Entendo.

Christopher quis protestar, mas achou melhor não fazer aquilo. Não havia necessidade de falar para aquele velho que a filha dele o deixou realmente intrigado.

Depois daquele episódio ficou a manhã toda ao lado do Sr. Vasconcellos olhando e conversando com o pessoal. Na hora do almoço, resolveu ir para a casa e lá pode fazer alguma coisa para comer, por voltas das duas da tarde voltou ao barracão e estava vendo algo com o químico quando o celular tocou e era sua mãe  querendo saber das coisas, acabou contando algumas coisas mais sem muito detalhes pois sabia que iria surta se soubesse o que realmente estava acontecendo de verdade.

Assim que desligou o celular, acendeu um cigarro. Desde que chegará ali não tivera tempo para uns tragos e não sabia se o povo ali gostaria de fumantes por perto.

Quando terminou, foi até o rapaz do trator, já havia esquecido o nome do sujeito. Foi quando a filha do Sr. Vasconcellos passou por ele fuzilando e infelizmente parou para olhá-la e só então se deu conta que estava sendo observado.

- Ela tem algum problema de raiva? – perguntou ao rapaz do trator.

- Não. Kiara é tão mansa que não consegue matar uma barata.

- Sei. Como é seu nome mesmo?

- Pedro.

- Podemos conversa sobre... negócios?

- Claro.

 

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