capítulo 20

 

Três dias se passaram e Kiara não aparecerá no serviço. Estava ficando preocupado, pois as notícias começaram a aparecer por ali e mesmo sabendo que aquilo iria ficar cada vez mais confuso e complicado de se resolver.  As pessoas começaram a olhar torto para ele,  e sabia que isso era pelo fato daquilo tudo não ser somente dele e a vontade de dizer que não poderia fazer nada sobre aquilo.

Kiara se recusava em compartilhar a herança com ele, pelo simples fato de ambos não serem o que o seu avó queria. Se dependesse dele, teria aceitado de boa se ela compartilhasse os negócios com ele, não iria querer ficar com algo que sabia que não merecia nem a metade dos negócios.

Mas estava disposto em manter o negócio até Kiara mudar de ideia e pegar o que é dela. Não iria se sujeitar em levar aquilo para o lado pessoal como ela estava fazendo. Sabia que sofria por causa do afastamento dela, e claro que ela só não estava ali por causa dele.

Aqueles dias estavam sendo cansativo e estressante, cansado de ouvir as pessoas falarem umas com as outras e depois olhavam para ele como se ele fosse o monstro da história. Não tinha culpa por tudo que estava havendo ali, a única coisa que tinha culpa foi ter se envolvido com Kiara, o que com certeza não se arrependia nem uma única vez. E se pudesse voltar atrás faria a mesma coisa.

Na quinta-feira ele chegou no serviço e teve que resolver as coisas que era para Kiara fazer, até que um funcionário veio até ele dizendo que estava fazendo errado, pois Kiara não fazia daquela forma. Acabou sendo grosseiro com o homem que acabou olhando torto para ele e quando se deu conta todos ali agora estavam olhando mais torto que de costume.

Voltou para o escritório e se trancou lá dentro. Não deveria ficar ali, sabia que nunca fora bem vindo naquele lugar. Precisava fazer alguma coisa para Kiara voltar e fazer o negócio ir para frente.

Passou a maior parte do tempo pensando e teve uma ideia, acabou chamando Marcello que acabou vindo até o escritório, que escutou o seu plano de fazê-la voltar, e pelo jeito a proposta era boa.

Mandou um e-mail para Kiara e como o pai dela já estava ciente da proposta se caso ela duvidasse de alguma coisa. Agora era só aguardar que ela aceitasse.

Passou o final de semana, e nada de Kiara der as caras por ali. No jantar de domingo sua mãe fez questão de convidar Marcello para a casa, quando viu que o homem estava ali quis voltar para o quarto, mas não podia ser mau educado.

- Como vão as coisas, Marcello?

- Vão bem.

- Kiara está bem? – Sua mãe perguntou ao dar uma olhada para ele.

Marcello hesitou e respondeu.

- Está muito bem.

- Está mais chata do que sempre foi. – A Annabel falou fazendo os demais rirem.

- Normal, irmãos mais velhos são chatos mesmo. – Júlia argumentou.

Chris fuzilou a irmã que fez careta e deu de ombros sem se importa com ele.

- Espero que ela volte ao trabalho. – Sua mãe falou. – Meu pai iria ficar decepcionado com isso.

- Uma hora ela acaba voltando. – Marcello disse. – Ela vai perceber que nem sempre as coisas são do jeito que deve ser.

- Chris, querido. Você já foi falar com ela?

- Não.

- Pois deveria...

- Eu não vou.

- Vocês jovens tem uma mania feia de colocar o orgulho na frente de tudo.

- Já enviei uma proposta há ela, estou esperando a resposta dela. E espero que aceite logo. – Chris disse fazendo questão de sair da mesa. – Eu nunca deveria ter vindo para cá.

 

No dia seguinte, ele foi trabalhar cedo. Mesmo sem disposição para ir até aquele lugar, foi assim mesmo. Sem falar com ninguém, entrou no escritório e ficou por lá. Pelo menos ali não escutaria ninguém falar que estava fazendo serviço errado e muito menos ouvir funcionário dizer que não deveria estar ali.

Depois de tudo o que havia feito e era assim que era agradecido. Havia melhorado em tudo, e mesmo assim não era reconhecido.

Depois do almoço estava dando uma olhada em alguns documentos quando ouviu uma conversação e ao sair da sala, se surpreendeu ao ver Kiara rodeada dos funcionários, sorriu ao ver que todos estavam realmente com saudade dela e ficava feliz por ver que ela estava ali, isso era um sinal que estava disposta a aceitar sua proposta.

Engoliu em seco quando seus olhares se encontraram. Prendeu a respiração e simplesmente teve vontade de sair correndo dali. Mas ninguém precisava saber o que sentia naquele momento.

Odiaria ter que mostrar que estava mesmo decidido em mudar tudo por ali. Mas não faria isso sozinho e Kiara sabia disso.

Por um impulso incontrolável de ir até ela, mas simplesmente se virou e entrou na sala novamente. Podia ouvir o barulho de todo mundo falando com ela, até que cessou. Não estava a fim de sair dali e ver o que estava acontecendo lá em baixo. Meia hora depois que já estava trancado ali, ouviu uma batida na porta e sem dizer nada, esperou que a pessoa se identificasse, mas não aconteceu. Viu a porta sendo aberta devagar e seu maior medo apareceu.

Kiara estava ali. Parecia mesmo bem, e teve que se controlar para não perder o controle de tudo que havia dentro dele.

- Oi.

- Oi.

- Tudo bem?

- Sim.

Ele não queria tirar os olhos do que estava fazendo, mas não conseguia se concentrar nas coisas com ela ali tão próxima dele depois de tanto tempo, e acabou olhando para ela.

- Recebi seu e-mail.

- Que bom.

- Será que podíamos conversar?

- Achei que estivesse aqui para isso mesmo.

- Chris...

Ele a encarou. E kiara parecia não saber o que dizer há ele, pois olhava para o chão e depois tentava olhar para ele e estava nervosa, pois ela tinha mania de ficar mexendo nos dedos como naquele momento.

- Eu sinto muito.

- Pelo o quê?

- Por tudo isso. Não imaginava que Marcus... havia deixado algo para mim.

- Você mereceu mais do que ninguém aqui.

Ela sorriu toda sem graça.

- Não quero que haja desavença entre nós de agora em diante. Quero ajudar com esse negócio. – ela disse. – Mas não quero ficar com a sua parte.

- Mas é justo. Você cresceu aqui, e tem todo direito em ficar com os negócios.

- Mas você fez esse lugar melhorar. Contribuiu em muita coisa e sei que podemos fazer isso juntos. – ela cogitou esperançosa.

Chris balançou a cabeça.

- Eu vou te ajudar. Mas não quero ficar com o lucro e nem com a parte disso.

- Eu não vou ficar com a sua parte. Seu avô deixou bem claro que isso é nosso. De nós dois.

- Mas ele não está aqui para discutir isso. – disse levantando-se. – Então aceite isso.

- Chris... por favor. Seja mais sensato... não pode deixar isso depois de tudo o que fez.

- Cai na real. Ninguém aqui me quer, inclusive você.

- Isso foi depois...

- Da gente ter tido algo. – ele esbravejou sarcástico. – Não sou idiota, Kiara. Se veio aqui falar de negócios comigo, ok. Mas falar sobre o que ouve com a gente é melhor não dizer nada, pois sei que vai acabar pior do que começou.

- Não vou conseguir trabalhar com você sem colocar todos os pingos no i.

- Nem precisa perder seu tempo com isso. Já deixou bem claro que acabou.

- Chris...

- Fico feliz que tenha voltado.

 

Kiara olhou para a porta que Chris acabava de fechar, deixando-a sozinha naquele escritório. Quando receberá o e-mail de Chris há alguns dias, não ficara muito feliz por ver que ele estava disposto em dar a parte dele dos negócios como se nada do que ele havia feito tivesse valido a pena. Pensara muito sobre o assunto, e estava disposta em fazê-lo mudar de ideia.

Não queria ter aceito a proposta dele se não fosse seu pai. Estava a ponto de dar sua parte há ele, sem problema nenhum. Ate seu pai vir dizer que Chris e ela poderiam cuidar dos negócios juntos deixando o pessoal de lado, afinal todo mundo sabia que ela adorava trabalhar ali mais do que qualquer pessoa.

Sabia que não conseguiria trabalhar ao lado de Chris depois de tudo o que ouve, mas estava disposta em tentar. Mas ele não queria discutir sobre os acontecimentos, e claro que dava razão há ele. Ela mesma teria feito o mesmo.

O tempo corre, a vida passa depressa e não podemos perder tempo deixando de se entregar por um amor de verdade por ter medo do sentimento.

Dizem que os opostos se atraem, essa frase não poderia ser mais perfeita para o acontece com a gente. Mesmo com tantas ideias e vontades diferentes, não existe outra pessoa no mundo que eu queira ver, senão Chris. Essa vontade só cresce, pois contara os dias para ouvir sua voz e poder falar sobre o que estava havendo entre ambos.

 Inesperado. Essa é a palavra que define o modo como as coisas foram acontecendo entre a gente. Uma conversa amigável no barracão, uma troca de jantares , e outro encontro displicente. Quando dei por mim, estava começando a me apaixonar. Cada dia mais e mais.

Precisava agir rápido.  E mesmo que agora ela sabia que Chris só ficaria ali para ajudá-la nos negócios e nada mais. E a única chance que tinha era que poderia fazê-lo  mudar de ideia.

Aproveitou que estava ali, passou a fazer algumas coisas. Seu serviço estava meio que atrasado, apesar de não ter necessidade de fazer o que costumava fazer, afinal ela era chefe agora.

Achou estranho o pessoal todo vir tratá-la de outra maneira. Mas agiria da mesma forma que sempre fazia. Pedro veio falar com ela e ficou feliz de saber que Pedro agora havia deixado o orgulho de lado.

- Fico feliz por ter voltado.

- Só voltei por que Marcus queria isso.

- Ele foi generoso em lembrar de você. Mas do que merecido.

Ela sorriu constrangida.

- Ele foi justo, só isso. Mas Chris continua sendo o chefe por aqui.

- Mas você também.

- Serei a chefe de vocês quando ele não estiver.

- Hum... mas estou feliz que tenha voltado. Meu parabéns.

- Obrigada.

Assim que Pedro se afastou, viu que Chris a observava de longe e como sempre estava fumando. Sorriu, mas teve que tirar aquele sorriso logo, pois ele fez questão de se virar e mexer no celular.

Chris não estava muito bem, podia ver isso. Meu erro foi amar demais, me entregar de corpo e alma sem saber se o sentimento era recíproco. Te amar foi como suspiros em prantos, perdidos em noites solitárias. É como o ardor do fogo, como uma ferida aberta, intocável na alma… Chris me deixou perdida na solidão, implorando por um beijo de paixão.

 

O amor dói como uma ferida aberta em meu peito, que sangra, corrói, afeta o meu interior. Eu não sei mais como fugir desse sentimento que aperta o meu coração e me destrói aos poucos, cada dia mais sugando uma parte de mim. Kiara levou o meu juízo junto contigo.

Me decepcionei com o sentimento que eu acreditei que iria mudar a minha vida. O amor sempre foi o meu ponto de partida. Hoje eu ando no sentido contrário, só para não passar pelas mesmas dificuldades novamente. Sofri tanto que só desejo distância, e saber que ela voltará para o serviço, estava pronto para deixá-la em paz.

Estava em seu quarto, quando sua mãe apareceu para chama-lo para jantar e meio que ignorou a presença da sua mãe e continuo a fazer o que estava fazendo.

- Querido, o que aconteceu? – Ela indagou, confusa. – Porquê está fazendo as malas?

- Lembra quando disse que se não desse certo por aqui  era para mim ir embora? – ele perguntou sem parar de colocar suas roupas na mala.

- Sim, me lembro claramente.

- Então, está na hora de ir embora. – ele falou e olhou para sua mãe. – Não pertenço há esse lugar... e a senhora tinha toda razão.

- Chris...

- Não mãe. Eu já tomei minha decisão.

- Mas e a Kiara?

- Ela não precisa de mim.

- Tem certeza que essa é uma decisão correta a fazer?

- Absoluta. Não vou mudar de ideia. – ele disse decidido. – Já comprei minha passagem e seria bom vocês também fazerem o mesmo.

Chris tentou disfarçar de que tudo ficaria bem, mas sua mãe sabia o que acontecia com ele naquele momento. Sua mãe havia se aproximado e lhe deu um abraço mais do que maravilhoso e caloroso.

- Eu sinto muito, querido. – ela murmurou. – Entendo que queira se afastar, e acha que será melhor, mas uma coisa eu digo é bom se decepcionar às vezes.

- Eu não vou forçar ninguém a ficar comigo.

- Eu sei disso. E você está certo... se afastar é um bom começo para recomeçar uma nova vida. – ela passou a mão em seu rosto. – Eu te apoio em qualquer decisão que achar melhor.

Ele forçou um sorriso.

- Obrigada, mãe.

- Eu te amo, querido. E quero vê-lo feliz.

 

No dia seguinte, Chris aproveitou em levantar cedo para ir até o barracão, só para dar um verificada pela última vez. Havia mesmo comprado uma passagem para quarta-feira de manhã e mesmo sabendo que não teria a menor chance dele realmente mudar de ideia.

Fora muito difícil tomar essa decisão, por que sabia que lá no fundo gostaria muito de ficar e ajudar Kiara nos negócios, mas sabia também que se ficasse iria acabar surtando ou enlouquecendo de ver Kiara todos os dias e não poder fazer nada que a fizesse mudar de ideia.

Achou que o romance entre os dois teria levado ao outro nível, mas se enganou. Ela havia voltado ao trabalho apenas para pegar o que era dela e não por poder ficar com ele. Era apenas negócios que ela pensava.

Seus pais aproveitaram a carona para ir até o barracão e chegando lá viu Kiara que tinha acabado de chegar e estava falando com alguns funcionários.

Engoliu em seco ao ver que sua mãe olhava para ele que fez o possível para não demonstrar a sua decepção.

- Eu estou bem, mãe. – ele disse antes de acender um cigarro e ir em outra direção para que ninguém o visse, mas Kiara acabava de virar e vê-lo.

Sem se importa com os funcionários olhando torto para ele, foi até uma árvore e ficou por ali por um bom tempo. Precisava manter distância o mais rápido possível.

Seu celular tocou. Era Shelby, ela havia voltado para Londres alguns dias e agora estava ligando para ele que havia conseguido alguns clientes interessados em ver o vinho.

- Isso é ótimo. Mas infelizmente estou indo para Londres amanhã. – ele contou pelo celular. – Mas vou deixar o contato da outra pessoa que vai ficar no meu lugar... – ele suspirou ao lembrar de Kiara. – Mas fico feliz por me ajudar, obrigado Shelby.

Ao desligar o celular, não reparou que Kiara estava ali olhando para ele com os braços cruzados.

- Bom dia.

- Bom dia. Está pensando em ir embora?

Ele hesitou.

- Não estou pensando. Eu realmente vou voltar para Londres.

- Porquê?

- Eu não tenho mais nada para fazer aqui.

- Pensei que iria ficar e me ajudar.

- Você não precisa de mim. Sabe cuidar disso sozinha...

Kiara balançava a cabeça, inconformada.

- Seu avô queria isso, que a gente cuidasse dos negócios dele juntos.

- Meu avô está morto. Não vai fazer diferença nenhuma para mim... – ele falou andando de volta para o barracão.

- E assim que você pensa sobre isso? – Ela falou indo atrás dele. – Vai abandonar isso depois de tudo o que tem feito.

- Não enche.

- Christopher Pellegrini seu imbecil. – ela esbravejou quando chegaram no local e agora todo mundo estava vendo o que acontecia.

Chris virou-se para encara-la.

- Eu sou imbecil? Quem foi que se escondeu durante dias quando descobriu que tinha parte disso. – ele gritou. – Agora pode ficar feliz, isso tudo é seu. Desejo realizado.

- Não quero a sua parte.

- Dá pra alguém. Eu estou caindo fora. – ele falou.

- É assim que você faz. Quando tem problemas maiores você simplesmente pula fora.

- É. E não me enche mais o saco. – ele ia se virar, mais se arrependeu por isso. Kiara entrou na sua frente e parecia furiosa.

- Escuta. Não pode ir embora assim... – ela falou e apontava o dedo para ele. – Não vai chegar aqui nessa droga e fazer uma bagunça na vida das pessoas, e ir embora como se nada tivesse acontecido. – suspirou e arfou de cara arrasada.  – Que droga Christopher. Por que faz isso?

- Está sendo ridícula.

- Eu? Você não tem ideia de como me sinto. – ela gritou furiosa. – Pode ir, não precisa ficar aqui, eu dou conta disso tudo.

- Ótimo.

- O que faz aqui ainda? – ela perguntou com as lágrimas que caiam. – Vá logo, ninguém te quer aqui.

Chris engoliu em seco e olhou em volta. Todo mundo estava observando a briga dos dois, até mesmo seus pais e Marcello. Sem saber o que fazia em relação aquilo tudo e acabou concordando com a cabeça, mas estava se sentindo um miserável em ver a mulher que amava se desmoronar em sua frente te expulsando como se tudo o que havia acontecido entre ambos nada tinha válido a pena.

- Ok. Você venceu, Kiara. – Ele simplesmente se afastou e pode ouvi-la soluçar e gritar.

- Você estragou tudo, Christopher.

 

Era a segunda vez que dava uma olhada no telefone. Seus pais haviam lhe dito que iriam ligar para contar de como tinha sido a primeira expedição lá no barracão. E ficava feliz por saber que estava indo muito bem por lá.

No dia da discussão com Kiara tinha ido para casa e terminará de arrumar a mala e como havia dito partiu no dia seguinte. Não fora nada fácil em olhar para trás e deixar tudo. Mas Kiara tinha razão, ele havia estragado tudo e a única coisa que tinha que fazer era mesmo manter distância.

Já se fazia uma semana que tinha voltado para Londres. Seus pais decidiram  que iriam ficar em Montepulciano por um tempo, não gostará muito da ideia, mas lembrou que eles mereciam ficar mais na cidade natal deles. Prometeu há seus pais que cuidaria bem do restaurante e ficava grato por eles confiarem nele por fazer isso na ausência deles.

E estava indo muito bem, os funcionários do restaurante não eram como os funcionários do barracão, ali a turma era unida e aceitava-o como chefe.

Mas isso não era suficiente para ele. Sentia falta de algo e sabia o que era, só não queria acreditar que isso estava mesmo acontecendo.

Não conseguia acreditar que o amor existe. Como pode um sentimento nos machucar tanto a ponto de querer não sair da cama? Como pode me controlar de tal forma que eu não respondo mais por mim? Eu só quero minha liberdade novamente. Preciso encontrar o meu amor-próprio dentro de mim. Amar alguém não é uma tarefa fácil, principalmente quando esse amor não é correspondido ou quando existe uma desilusão amorosa no meio do caminho. A estrada para o coração de alguém pode ser florida ou cheia de espinhos. O jeito é saber reconhecer quando o seu amor dói mais do que te faz feliz.

Estava terminado de fazer um prato, quando o telefone tocou. Um funcionário atendeu e chamou-o dizendo que era a sua mãe.

- Oi. Como estão as coisas?

- Muito bem, querido. E foi tudo ótimo, Kiara... está fazendo um ótimo trabalho.

- Que bom.

- Conseguimos alguns compradores, e tivemos alguns visitantes hoje por aqui. – Sua mãe falava toda contente. – Estou orgulhosa de você, Chris. Pelo o que fez por aqui...

- Eu não fiz nada.

- Fez sim. E estamos muito feliz por isso... e aí como estão as coisas?

Chris olhou em volta e viu todo mundo trabalhando na correria da cozinha.

- Está tudo bem por aqui.

- Sei que você deve estar fazendo um bom trabalho.

- Obrigado.

Se despediu de sua mãe, pois tinha muito trabalho para fazer naquela noite. O restaurante estava indo bem, depois que ele havia voltado e tinha muito trabalho atrasado, estava enviando a parte administrativa para sua mãe por e-mail. E estava dando muito certo, pelo menos até agora sim e esperava que continuasse assim.

 

Não tinha certeza se estava mesmo no caminho certo. Havia dúvidas sobre o que estava mesmo fazendo, na verdade não sabia o que estava fazendo. Só estava seguindo os seus instintos e precisava fazer isso, era sua única chance. Ela merecia ser feliz, e não poderia deixar tudo o que conseguirá para trás.

Eu não sabia a diferença entre a paixão e o amor. A paixão vive fora do tempo, sem marcas ou preocupações. Já o amor deixa rastro, nos assola ou liberta. Com Chris, vivi o meu belo amor. As marcas deixadas ainda me fazem lembrar dele.

Reconheço que a saudade que me invade com a lembrança do amor que vivi, é constante. Sei que é impossível apreciar tempos tão antigos. Mas o que experimentei ali foi marcante e maravilhoso ao seu lado. É impossível esquecer. E já não é mais querer… É precisar. Precisar dos teus beijos, dos seus olhos. Precisar dos seus braços, da sua voz, do seu jeito. Precisar das suas piadas, das suas implicâncias, das suas brigas. Precisar do teu cheiro, da sua segurança. Precisar da sua respiração, do teu coração. É precisar do teu amor.

Nosso amor do passado tem o poder de se conectar com o futuro. Ele entende que, lá atrás, não poderíamos ter vivido plenamente, faltava algo. Mas agora há chances. Talvez, nunca saberemos sem tentar.

Há dias ela vinha pensando em fazer alguma coisa. Depois da briga entre os dois na frente de todo mundo havia ido para casa onde chorou até o dia seguinte. Seu coração havia quebrado no momento em que Chris disse que estava partindo.

Ele não lhe deu a chance de se redimir, de explicar que estava voltando ao trabalho com o propósito de ficarem juntos, de trabalharem como Marcus queria. Não estava querendo a herança, ela só queria o coração dele, e pôr fim a única coisa que ganhará foi um coração partido.

Conferiu mais uma vez o papel onde estava escrito exatamente aonde tinha que chegar. Havia saído bem cedo de Montepulciano para chegar até Londres, e seguirá exatamente as instruções da Sra. Pellegrini para conseguir chegar até Chris.

Aquela semana havia passado o tempo todo tentando esquecer o que havia feito para merecer isso. O amor existe e machuca, mas não imaginava que seria tão ruim assim ficar longe de alguém que era importante para ela.

A Sra. Pellegrini mantinha contato com Chris todos os dias e ela havia dito que ele estava tentando seguir com a vida normalmente, mas sabia que no fundo ele não estava muito bem. E só então se deu conta que estava sendo idiota em deixar o homem de sua vida em outra cidade, enquanto ela tentava esquece-lo, o que para ela não estava adiantando em nada.

Assim que o taxista parou o carro em frente ao restaurante, pagou e desceu olhando em volta. Londres era mesmo uma cidade grande e se não fosse a Sra. Pellegrini ela não teria ido tão longe assim, e ficava feliz por ter conseguido chegar até ali.

Kiara suspirou nervosa e ansiosa. Agora não podia voltar atrás, estava ali e faria o possível para Chris escutar o que ela tinha para dizer. Não podia continuar vivendo daquele jeito sem ao menos tentar o que precisava para continuar seguindo com a vida.

Mais uma vez ela deu uma olhada na frente do restaurante. Tinha uma boa aparência e placa com o nome do restaurante é que chamava atenção, era vermelho e amarelo. Sorriu, olhou para o relógio e já eram quase quatro e meia da tarde.

A Sra. Pellegrini havia dito para chegar mais ou menos esse horário, pois Chris já estava por lá com os demais funcionários.

Bateu na porta da frente mesmo, e esperou. O local estava fechado, e sabia que só abriria as seis, então ainda tinha algumas horas para conversar com Chris. Suas mãos tremeram de nervosa, e tinha medo de não ser bem recebida, mas não iria desistir agora.

Mais uma batida e segundo depois viu a sombra de alguém. Era de uma mulher, e quando a porta se abriu, uma moça loira apareceu, ela usava roupas brancas de cozinha e sorriu ao vê-la.

- Oi, em que posso ajuda-la?

- Eu... sou Kiara. Preciso falar com o dono do restaurante.

- Sinto muito. Mas os donos do restaurante foram viajar para Itália e não voltaram ainda.

Kiara sorriu.

- Eu sei. Quero falar com o filho  deles.

- Ah o Chris. – a moça sorriu e deu um passo para deixa-la entrar. – Quer entrar, eu vou chama-lo.

- Obrigada.

Kiara entrou e ficou ali próxima da porta. Não queria ser vista por mais gente. O ambiente era bem aconchegante, e como nunca tinha vindo a Londres e muito menos ter entrado num restaurante chique, ficou maravilhada em ver tudo isso.

Estava olhando para um quadro da bela Itália e sorriu ao lembrar do lugar. Só estava fora de casa por um dia e já sentia falta. Ouviu passos se aproximando e só então seus olhares se encontraram, quis correr para os braços dele, mas se conteve.

Parecia que haviam passados meses sem se ver, mas eram só apenas uma semana havia se passado e mesmo assim se sentia nervosa e exaltada. Tudo o que havia planejado em dizer agora estava fugindo de sua mente.

- Oi.

- Oi.

Ele a encarava e ficava difícil de pensar em outras coisas que não fosse abraça-lo.

- Como me encontrou? – ele perguntou séptico.

- Sua mãe me ajudou.

- O que veio fazer aqui?

- Vim conversar com você.

- Sério? Veio de tão longe para conversar?

Kiara engoliu em seco e assentiu.

- Sim.

- Perdeu seu tempo.

- Chris...

Ela o chamou vendo que ia se virar ignorando a sua presença. Por um segundo, ele realmente iria ignora-la, mas ao ouvir o som de sua voz desesperada chamando -o acabou parando sem olhar para ela.

- Por favor, não dê as costas para mim. – ela pediu. – Eu vim aqui para resolver algumas coisas e não vou sair daqui até me escutar.

- Já disse que não faço mais parte daquele lugar. – ele falou e virou-se encarando-a. – Você jogou suas frustações para cima de mim.

- Eu peço desculpas.

- Ah demorou uma semana para perceber isso.

- Chris... eu não sabia o que fazer. Você me fez acreditar que ficaria para me ajudar.

- Eu ia ficar. Mas não dava para ficar depois de tudo o que você me fez passar. – ele suspirou e só então viu que o pessoal da cozinha estava os observando. – Será que dá para vocês voltarem ao trabalho.

- Sim, senhor.

Sozinhos novamente. Chris balançou a cabeça e disse.

- Eu não ia te abandonar. Mas também não iria ficar num lugar que... sei que ninguém me queria lá. – Contou. – Mas você não ficou sozinha, meus pais estão te ajudando nos negócios... que pelo que soube andam indo bem.

- Graças a você. Foi você que fez tudo ir tão bem.

- Eu não faço mais parte disso. – suspirou. – viajou tudo isso para falar de negócios?

- Não.

- Veio aqui para quê?

Kiara hesitou e suspirou antes de começar o que havia vindo ensaiando a viajem inteira.

- Desde que você cruzou o meu caminho, deu sentido à minha vida, colocou em ordem o caos que reinava antes da sua chegada. Por esses e outros tantos motivos, eu faria tudo pra não te perder. – disse receosa. -  Por favor, me perdoe pelos erros que cometi, me diga o que é preciso fazer e mudar para que a gente não destrua isso que estávamos construindo aos poucos.

Kiara mordeu os lábios inferior, enquanto Chris estava apenas parado no mesmo lugar e parecia ainda não ter caído a ficha.

- Quero que saiba que nunca desistirei de nós dois, do que construímos juntos e das nossas memórias. Nunca apagarei nada do que vivemos e do que dissemos um ao outro. Não me importo com o que está acontecendo ou com o quão difíceis as coisas possam estar agora, só quero que saiba disso: não desistirei. – ela falou esperançosa. – Eu nunca achei que diria isso, mas eu amo você Chris e não quero sair daqui sem dizer isso a você.

Ele sorriu balançando a cabeça, inconformado.

- Meus pais mandaram você aqui?

- Não.

Chris se aproximou sem tirar os olhos de cima dela e suspirou.

- Nunca imaginei você saindo de Montepulciano.

- Bem, a culpa é sua por ter saído de lá.

Ele sorriu.

- Sair da nossa área de conforto as vezes faz bem. – ele argumentou. – Está mesmo disposta a não desistir?

- Só se você não quiser.

- Eu desisti por que achei que era isso que você queria. Não queria  ser um fardo naquele lugar, e você tinha razão. Eu nunca mereci aquela herança... não conheci o meu avô como você o conhecia. – ele disse. – Achei mais do que justo você ter que ficar com tudo.

- Sua mãe não pensa assim.

- Andou conversando muito com a minha mãe. – ele foi sarcástico. – Vai acabar ficando igual a ela, neurótica.

Kiara sorriu sem graça.

- Ela é uma boa pessoa, depois que a gente conheci.

- Além de esquisita vai ficar neurótica.

- É assim que você recebe uma pessoa de longe. Saiba que posso desistir de tudo e...

Foi interrompida com um beijo surpresa. Foi então que percebeu que estavam entrando num caminho sem volta. Era um mundo só dos dois.

- Vamos viajar?

- Para onde?

- Não importa. Vamos juntos conquistar novos mundos, conhecer novos lugares, aprender novas culturas, discutir sobre a vida, conversar sobre o Cosmos, desabafar sobre como a vida parece mesquinha às vezes, mas também apreciar os momentos em que ela é maravilhosa. – ele falou. - Vamos juntos realizar nossos sonhos, dividir nossas frustrações e construir uma vida. Uma vida só nossa.

- Tem certeza de que quer isso?

- Sim.

Ela sorriu e assentiu.

- Então você quer...

- Sim. Eu não quero que desista de nós, vamos construir o que deixamos para trás. - beijou-a. – Mas antes...

Chris se afastou e pegou um pano que parecia um avental, entregou a ela e a puxou para o lado da cozinha.

- O que está fazendo?

- Antes da gente sair por aí conquistando o mundo, vamos trabalhar. – ele disse e quando viu já estavam dentro da cozinha e todo mundo agora olhava para ela. – Pessoal, conheçam nossa... Nova ajudante, Kiara.

Ela sorriu sem graça quando todos aplaudiam e alguns assobiaram.

- Chris... eu não...

- É só hoje. Rilassati ... tutto è meraviglioso con me! – ele disse lhe dando uma piscada e depois lhe deu um beijo sem se importa com os demais que agora estavam aplaudindo e assobiando.

 

 

 

 

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Comments

Neide Lima

Neide Lima

e o Povo dele e mais Alegre 🤔não e da Roça 🤭

2024-12-28

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