A Farsa Perfeita

A Farsa Perfeita

O Amanhecer

Jessie...

Jessie mal podia respirar enquanto se mantinha escondida atrás do balcão dentro da enorme boate. O seu coração pulsava num ritmo descontrolado, e a música ecoava nos seus ouvidos. Ela observou com olhos atentos quando a sua mãe entrou na sala, equilibrando uma bandeja cheia de garrafas.

O brilho fraco da luz do corredor refletia nas bebidas, mas Jessie notou outra coisa. Antes de sua mãe, cinco homens haviam entrado. Eles não disseram nada, apenas desapareceram atrás da porta pesada.

O tempo parecia congelar. Jessie não ousava se mexer, temendo que qualquer som a entregasse. Mas sua mente não parava de trabalhar. Por que sua mãe demorava tanto? O que aqueles homens faziam lá dentro? Dois minutos se transformaram em dez, depois de uma hora. Jessie começou a roer as unhas sem perceber sua ansiedade aumentando.

Após quase duas horas, a porta da sala se abriu abruptamente, e os homens saíram correndo. Jessie levantou rapidamente, o medo e a curiosidade consumindo. Dois deles estavam ao telefone, falando de maneira frenética. Os últimos dois, ao passarem por ela, olharam diretamente nos seus olhos. O brilho assustado nos rostos deles fez um calafrio percorrer sua espinha.

Jessie correu para a sala antes que pudesse pensar duas vezes. O cheiro de bebida forte e algo mais — algo metálico — atingiu seu nariz. Ela parou no instante em que viu sua mãe.

Sua mãe estava deitada num sofá redondo, o cabelo desgrenhado caindo pelo rosto. O vestido, rasgado em vários lugares, mostrava marcas pelo corpo que Jessie não conseguia entender. Espuma branca escorria de sua boca, e seu corpo estava imóvel. Era uma cena terrível, que Jessie sabia que jamais esqueceria.

Os olhos dela vagaram pelo ambiente, tentando processar o que via. No chão, perto do sofá, havia um pequeno caderno. Ela o pegou, suas mãos tremendo. Ao folhear rapidamente, viu alguns nomes rabiscados. Não entendeu o significado, mas instintivamente enfiou o caderno no bolso do vestido.

Foi quando ouviu vozes. O barulho crescente de passos e sirenes quebrava o silêncio assustador. Pessoas começaram a entrar na sala, falando com ela, mas Jessie não conseguia ouvir nada. Era como se estivesse presa em um pesadelo, os sons abafados, as imagens distorcidas.

Tudo girou ao seu redor. Ela tentou falar, mas nenhuma palavra saiu. O peso do horror finalmente a alcançou, e tudo ficou escuro.

Acordei!

Com a respiração descontrolada. Minhas mãos estavam suadas, sentada na cama, levei as mãos ao peito, tentando acalmar o caos interno. Fechei os olhos, forçando meu foco para o som da minha respiração. Contava mentalmente, um, dois... três...

Dois minutos se passaram até que o pânico recuasse. Meu coração ainda batia rápido, mas agora parecia mais controlado. Suspirei profundamente, o som ecoando no quarto silencioso. Por que isso continuava acontecendo? Não havia noite em que eu não fosse arrastada para o mesmo tormento, pesadelos que deixavam marcas invisíveis. Pensei.

Colocando as pernas para fora da cama, coloquei os pés descalços no chão frio e me levantei. Fui até a janela e afastei a cortina. O céu começava a mudar de tom, do preto profundo da noite para os primeiros tons alaranjados do amanhecer. Os raios de luz pintavam o horizonte com um toque suave.

Resolvi correr. Com o corpo em movimento, sempre consegue afastar o peso dos sonhos ruins. Caminhei até o closet, escolhendo uma roupa leve para a corrida. Vesti-me rapidamente, ajustei o relógio digital no pulso e calcei meus tênis. Cada gesto era automático, uma rotina que já fazia parte de mim.

Quando saí do apartamento, o ar fresco da manhã me envolveu, e comecei a correr. A cidade ainda estava adormecida, o sol nascente espalhava seus raios à frente. Continuei correndo, deixando para trás a sombra dos meus sonhos enquanto cada passo me fazia sobreviver.

Depois da corrida, fui direto para a academia de boxe que fica a algumas quadras do meu apartamento. Já faz seis meses que eu estava fazendo aulas de defesa pessoal ali.

Ao entrar, o aroma do café fresco me recebeu antes mesmo de avistar Chase, meu instrutor, que estava na pequena copa. Ele estava encostado na bancada, mexendo em uma cafeteira. Caminhei até ele, e sentei no balcão.

— Bom dia! — cumprimentei, cruzando os braços sobre a bancada. Chase ergueu os olhos e sorriu levemente.

— Bom dia! Chegou cedo hoje. Algum motivo especial? — perguntou ele, estreitando os olhos como se tentasse ler minha mente.

— Acordei cedo, porque tenho um dia cheio pela frente. — respondi, apoiando o queixo na mão, tentando não parecer tão cansada quanto me sentia.

— Entendi. Café? — perguntou ele, já pegando uma xícara.

— Com certeza! — disse com um sorriso, que ele prontamente retribuiu. Ele me entregou uma xícara e se sentou ao meu lado. Tomei um gole, sentindo a bebida quente me despertar ainda mais.

— Então, vamos começar? — perguntei depois de terminar meu café, já me levantando.

— Claro.— Chase assentiu.— Hoje vou pegar leve com você... ou talvez não. — Ele riu enquanto me seguia até o ringue.

A sessão de treino foi intensa, como sempre.

Minhas mãos tremiam levemente enquanto tirava as luvas, mas era aquela tremedeira boa, de esforço. Chase me observava de perto, sua expressão mais séria do que o normal. Ele parecia estar lutando consigo mesmo, como se quisesse dizer algo. Enquanto bebia água, senti sua presença se aproximar. Ele parou ao meu lado, cruzando os braços.

— Você pode ser uma boxeadora e tanto se quiser. Não é fácil alguém me impressionar assim. — comentou ele, com um sorriso hesitante.

— Obrigada. Mas só estou tentando me manter em forma.— falei. Sorri de volta, ainda sem fôlego.

— É mais do que isso, Jessie. Você tem uma determinação rara. — disse ele, rindo baixo, mas nervoso.

— Determinação ou teimosia?— suspirei, limpando o suor com a toalha.

— Talvez os dois. — Ele deu um passo à frente, sua expressão mudando para algo mais intenso. — E é uma das coisas que me fazem querer te conhecer melhor.

Meu sorriso desapareceu. Olhei para ele, incrédula, e depois desviei o olhar, tentando processar suas palavras.

— Chase... você sabe que eu não estou interessada nesse tipo de relacionamento. — disse com firmeza, minha voz carregada de desconforto.

— Eu sei o que você diz. Mas, honestamente, Jessie, você nunca me deu uma chance. Nem pra saber quem eu realmente sou.— afirmou ele, e não recuou.

— E eu não preciso. Você é meu instrutor. Não quero complicar as coisas.— Respirei fundo, irritada.

— E se não for complicado? — Ele se inclinou levemente, sua voz ficando mais baixa. — E se tudo que eu quero for te fazer sorrir? Mostrar que eu vejo você... de verdade.

Senti o coração acelerar, não pelo que ele dizia, mas pela tensão no ar. Quando ele se aproximou mais, instintivamente coloquei a mão em seu peito, interrompendo o movimento.

— Não. — disse, firme.

— Não? — retrucou ele, surpreso, mas ainda esperançoso. Olhei diretamente para ele, tentando ser o mais claro possível.

— Não, Chase. Você é ótimo, mas... eu não sinto o mesmo. Não quero te dar esperanças, porque isso não vai acontecer.

Ele ficou parado, o silêncio entre nós carregado. Por fim, deu um passo para trás, sua expressão desmoronando lentamente.

— Tudo bem. Eu precisava tentar.

— E eu respeito isso. Mas... por favor, vamos manter isso profissional. É o melhor para nós dois.— Assenti, suavizando o tom da minha voz.

— Profissional. Entendido.— comentou Chase forçou um sorriso, claramente lutando contra a decepção.

Sem dizer mais nada, saí rapidamente, o ar da academia de repente se tornando sufocante. Não olhei para trás, mas podia sentir o peso do olhar dele enquanto eu deixava a sala.

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Comments

Roberta Santos

Roberta Santos

Nossa essa sena da mãe dela foi marcante sinceramente isso nunca esquece mas ela é uma mulher forte de vibrar sabe o que decidida ela tem tudo pra viver no mundo cheio de improquezia

2024-12-15

1

Andréa Karlla Silva Farias

Andréa Karlla Silva Farias

Kramba vai demorar muito pra esquecer essa cena, isso se um dia conseguir esquecer

2024-12-13

1

Andréa Karlla Silva Farias

Andréa Karlla Silva Farias

Hummmmm cheirinho de interesse na mulher, não na aluna 🖖

2024-12-13

1

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