Por que sempre isso?

Jessie...

Eu não queria estar ali.

A District era barulhenta, cheia, e a ideia de dançar ou beber até cair estava longe de ser algo que me agradasse. Meu lugar era em casa, com uma taça de vinho e um bom livro, mas Olivia, sendo quem era, tinha outros planos. Ela apareceu de repente no meu apartamento, carregando uma sacola de compras e um sorriso animado.

— Jessie, você precisa viver um pouco! — ela disse, balançando a sacola como se fosse um prêmio.

— Estou viva, Olivia. Apenas tenho prioridades diferentes — respondi, cruzando os braços enquanto a via tirar de dentro da sacola um vestido vermelho cintilante.

— Isso vai ficar perfeito em você.— disse Olivia, com um olhar gentil.

— Vermelho?— perguntei, Franzi a testa.

— É sua cor favorita, né? — respondeu Olivia, revirou os olhos, sorrindo.

— Nunca disse isso a ninguém — retruquei, desconfiada. Ela deu de ombros.

— Não precisa. Sempre que vai à editora para algo importante, está com saltos ou bolsas vermelhas. E quando lança um livro? Um toque de vermelho sempre aparece. Eu só observei.

Suspirei, percebendo que ela tinha razão. Olivia sabia mais sobre mim do que eu admitiria, eu deveria me preocupar? Relutante, aceitei o vestido.

Agora, sentada em uma mesa afastada, com o vestido que chamava mais atenção do que eu gostaria, observava Olivia se divertir na pista. Ela parecia incansável, rindo, dançando e, de vez em quando, voltando para mim com um copo de alguma bebida colorida.

— Você não vai dançar? — ela perguntou, animada, antes de ser puxada de volta para a pista por alguém que acabara de conhecer.

Apoiei o queixo na mão, observando o ambiente. Não era meu lugar, mas eu sabia que Olivia estava apenas tentando me fazer sair da rotina. Minha atenção se desviou quando vi Ethan.

Ele estava atravessando a boate, sério, com um olhar atento que parecia à procura de algo. Estava diferente daquela primeira vez que nos encontramos. Não era só o traje casual que usava, mas sua postura e expressão. Ele estava concentrado, quase tenso, enquanto seguia para a saída.

Por um instante, me perguntei o que ele fazia ali. Mas logo afastei o pensamento. Era melhor não me envolver em mais nada naquela noite. Quando Olivia voltou à mesa, eu já estava decidida.

— Vamos embora — pedi.

— O quê? Já? — ela respondeu, visivelmente surpresa e ainda cheia de energia.

— Por favor, Olivia. Já dei o meu máximo.— Ela suspirou, mas, percebendo que eu não mudaria de ideia.

— Tudo bem. Mas da próxima vez, você vai dançar.—concordou, com um sorriso.

Sorri de canto, sem intenção de fazer qualquer promessa. Naquela noite, só queria voltar para casa e me conectar ao meu próprio mundo.

Dia seguinte...

A música alta parecia invadir cada canto do ambiente.

O ritmo vibrava no ar, abafando os sons ao redor. Eu estava no corredor, olhando para a porta fechada do quarto onde minha mãe havia entrado. De repente, ela se abriu com força, e cinco homens saíram às pressas. Eles estavam desnorteados, tropeçando nos próprios pés, com olhares furtivos e respiração pesada.

Eles me ignoraram completamente enquanto passavam, mas eu os segui com o olhar, meu coração começando a bater mais rápido. Algo estava errado.

Sem pensar, corri para dentro da sala. A luz baixa tornava tudo mais sombrio, enquanto as luzes coloridas giravam em padrões erráticos nas paredes. Minha respiração ficou descontrolada. No centro do cômodo, deitada em um sofá, estava minha mãe.

Parei imediatamente, incapaz de dar mais um passo. Minhas mãos começaram a suar, meu corpo tremia.

— Mãe? — minha voz saiu como um sussurro, quase inaudível.

Seu rosto estava pálido, sem vida. Havia espuma ao redor de sua boca, e seus olhos estavam fechados. Seu vestido estava rasgado e desgrenhado, pendendo em seu corpo de forma desajeitada.

Eu queria correr até ela, mas meus pés estavam congelados no chão. Meus olhos estavam arregalados, tentando entender o que estava acontecendo. Mas eu tinha apenas nove anos. A compreensão chegava lentamente, e cada segundo parecia uma eternidade.

Pessoas começaram a entrar no quarto, correndo e gritando. Alguém me empurrou para o lado sem perceber, e minha visão ficou turva. O som ao meu redor começou a desaparecer, e meu corpo perdeu a força. Cambaleei para trás, caí no chão, e tudo se tornou escuridão.

Acordei!

Com meu corpo todo em alerta. Com a respiração descontrolada eu tentava sugar o ar para os pulmões. Minhas mãos estavam encharcadas de suor, tremendo enquanto eu as colocava sobre o peito, tentando controlar a respiração.

Olhei ao redor, reconhecendo o quarto em que estava. Era minha casa, meu presente. Mas o peso do pesadelo ainda me prendia, como correntes invisíveis.

Depois de dois minutos que pareceram uma eternidade, minha respiração começou a se estabilizar. Meu coração ainda estava acelerado, mas, pelo menos, eu estava calma o suficiente para me mover.

— Por que sempre isso? — gritei. Com a voz falha.

Os pesadelos eram frequentes, quase diários. Não importava o quanto eu tentasse evitar ou os ignorar, eles sempre voltavam, trazendo aquela noite terrível. Respirei fundo, afastando as cobertas. Levantei-me da cama, sentindo os pés tocarem o chão frio.

Eu sabia que seria mais uma longa noite, mas, por enquanto, estava aliviada por ter escapado da escuridão do sonho.

O som do café sendo coado preenchia o silêncio da madrugada. A cozinha estava escura, exceto pela luz suave do meu abajur na sala, onde o laptop já estava ligado. Coloquei a xícara ao meu lado na mesa e encarei a tela.

Hoje será produtivo, pensei, ignorando o cansaço que pesava nas pálpebras. Já estava quase amanhecendo, e decidi emendar o trabalho. Havia tanto a fazer, tantos detalhes para ajustar do meu novo projeto e outros textos para revisar.

O café forte aqueceu o meu corpo. Digitava incessantemente, ajustando notas, organizando ideias, até que o sol começou a entrar pela janela, pintando tudo com um tom dourado. Na hora do almoço, o som do celular tirou-me da concentração.

Era Olivia.

— Jessie! A entrevista foi um sucesso absoluto! — disse ela, com entusiasmo contagiante. — Tem vários comentários elogiando você e o seu trabalho.

— Sério? Obrigada, Olivia. Você que fez tudo isso acontecer, não sei como você faz isso parecer tão fácil.— Sorri.

— É o meu trabalho, mas também é um prazer! — respondeu ela. — Ah, e tem mais uma coisa. Uma jornalista famosa me procurou. Ela quer conversar com você sobre o seu novo projeto. — comentou Olivia, Meu sorriso vacilou por um instante.

— Olivia, eu não sei... Não quero me expor mais, sabe?

— Eu sei, Jessie, mas pensa com carinho. É uma boa oportunidade.— sugeriu Olivia.

— Certo, eu vou pensar — respondi, tentando não soar evasiva.

— Ótimo! Depois me avisa. E não esquece de comer algo, hein?— recomendou Olívia.

— Pode deixar. Obrigada por tudo, Olivia.

Depois de desligar, fiquei alguns minutos olhando para a tela do laptop, pensando sobre o que Olivia disse. A ideia de mais exposição me deixava inquieta, mas, ao mesmo tempo, sabia que o projeto precisava de visibilidade para fazer a diferença.

Decidi deixar os pensamentos de lado por enquanto e pedi sushi pelo aplicativo. Era minha forma de compensar a falta de pausas no trabalho. Enquanto esperava a comida chegar, voltei ao laptop, ajustando mais alguns detalhes. A rotina me distraía, mas eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, teria que tomar uma decisão.

Depois de horas de trabalho, meus olhos ardiam de encarar a tela do laptop. O clique do botão salvar parecia um alívio. Fechei o computador e olhei para o relógio— sete horas da noite.

— Já!— murmurei para mim mesma, surpresa com o tempo que havia passado.

Levantei-me lentamente, sentindo o peso do dia nos ombros. Um banho parecia a única solução para relaxar. Caminhei até o banheiro, liguei o chuveiro, e deixei a água morna levar embora a tensão acumulada.

Depois do banho, ainda enrolada na toalha, sentei na cama e peguei o celular. Passei alguns minutos respondendo mensagens e verificando notificações. Olívia tinha mandado uma mensagem que queria sair no fim de semana com migo, eu ainda não aceitei, e eu ri ao ver como ela parecia animada.

Troquei a toalha por roupas confortáveis, uma calça preta e uma camiseta preta. Coloquei um boné preto, peguei um blazer, calcei meus tênis brancos e peguei minha bolsa. Joguei dentro o celular, a carteira e algumas outras coisas que poderiam ser úteis.

Olhei para o espelho rapidamente. Nada extravagante, mas era o suficiente para uma saída discreta. Com um último ajuste no boné, saí do apartamento, trancando a porta atrás de mim— A noite estava apenas começando.

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Comments

Andréa Karlla Silva Farias

Andréa Karlla Silva Farias

Sem dúvidas, Jessie precisa com urgência encontrar e se entregar ao amor, só assim vai conseguir ocupar a mente

2024-12-14

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