Jessie...
— Você não faz isso por segurança, faz? — perguntou Olivia, baixando a voz e olhando ao redor, como se esperasse que alguém saísse das sombras do estacionamento.
Parei de andar e virei para encarar ela. Seus olhos estavam fixos nos meus, esperando uma resposta que não sabia se queria ouvir.
— Segurança? Por quê? Está preocupada com algo? — perguntei, arqueando uma sobrancelha. Meu tom era casual, mas meu coração começou a bater um pouco mais rápido.
— Não exatamente. É só que, você sabe... seus livros são bem... intensos. E o tipo de pessoas que lê algumas dessas histórias... Bom, não me leve a mal, Jessie, mas eles podem ser um pouco... obsessivos. — disse ela, encolhendo os ombros e tentando minimizar o peso das próprias palavras. Suspirei, soltando um riso curto e seco.
— Olivia, você tem assistido a muitos filmes. Ninguém está me perseguindo. E, mesmo que estivesse, eu sei cuidar de mim. O boxe é só uma forma de liberar o estresse. — menti, voltando a caminhar.
— Certo, mas... você nunca recebeu algo estranho? Uma carta esquisita? Uma mensagem? — insistiu, agora praticamente correndo para me acompanhar.
Hesitei por um momento. É claro que eu havia recebido coisas estranhas. Cartas sem remetente, e-mails criptografados, até uma ou duas mensagens estranhas. Mas nunca contei para ninguém. Por que não vi perigo.
— Olivia, a vida não é um thriller psicológico. As pessoas só querem se conectar com as histórias. É isso. — cortei, sem olhar para ela.
Chegamos ao meu carro, e eu destravei as portas com o controle. Olivia parecia querer dizer mais alguma coisa.
— Ah, você quer almoçar comigo?— perguntou Olivia. Eu ri, balançando a cabeça.
— Ia recusar, pra ser sincera. — admiti. — Mas vou aceitar. Aonde vamos? — perguntei, arqueando uma sobrancelha.
— Pensei que você não fosse aceitar! — disse ela, animada, quase pulando de empolgação enquanto caminhávamos até meu carro. — Mas conheço um lugar bem agradável.
— Mas... você vai comigo no meu carro?— perguntei, sem olhar para ela.
— Sim! — respondeu ela prontamente, abrindo a porta do passageiro antes mesmo de eu terminar a frase.
Ri e balancei a cabeça, achando engraçado como Olivia parecia sempre estar no controle, mesmo quando não estava. Ela é mais velha que eu, mas se comporta como se tivéssemos a mesma idade. Mais do que isso, me trata como se fosse sua amiga íntima. Às vezes aparece na minha casa do nada, dizendo que estava preocupada comigo. Apesar de me sentir acolhida por ela, às vezes tenho a sensação de que Olivia senti pena de mim. Talvez por eu estar quase sempre sozinha.
Ainda assim, ela tinha conquistado o crédito de um almoço comigo. Era o mínimo que eu podia fazer por alguém que me apoiava tanto nos lançamentos dos meus livros. Enquanto dirigia, Olivia descrevia o restaurante chamado Bloom, exaltando as qualidades do lugar como se fosse a coisa mais incrível do mundo.
— É um ambiente acolhedor, mas sofisticado. Você vai amar! — disse ela, enquanto eu abaixava o vidro da janela para deixar o vento fresco invadir o carro. Estava exausta e não havia dormido bem na noite anterior, então o ar leve me ajudava a despertar.
Ao chegarmos ao Bloom, fui imediatamente conquistada pelo lugar. O ambiente era acolhedor, com um toque de elegância que não intimidava. Uma música instrumental suave preenchia o espaço, e o aroma era uma mistura de ervas frescas, lavanda e flores. Fomos conduzidas a uma mesa perto de grandes janelas, em um canto mais afastado das outras mesas. Perfeito.
— Você tinha razão, Olivia. Este lugar é incrível. — confessei, deixando-me relaxar pela primeira vez no dia. Ela sorriu, satisfeita, e começamos a olhar o menu. Apesar de tudo, fiquei grata por Olivia. E, talvez, estar ali com ela fosse mais confortável do que eu imaginava.
Ao chegar em casa, senti o peso do dia inteiro se acumulando em meus ombros. Deixei a bolsa e as chaves em cima da mesa, chutei os sapatos para um canto e me joguei no sofá, exausta. Nem percebi quando fechei os olhos, mas, quando acordei, o relógio já marcava sete da noite.
A fome me atingiu como um soco no estômago.
Levantei-me preguiçosamente e fui até a cozinha, abrindo os armários e a geladeira. Não havia muita coisa ali – a verdade era que eu raramente fazia compras ou cozinhava. Depois de revirar um pouco, encontrei ovos, pão e uma garrafa de vinho aberta. Isso vai ter que servir. Suspirei
Quebrei os ovos em uma tigela e os mexi rapidamente antes de jogar na frigideira quente. Enquanto os ovos cozinhavam, cortei algumas fatias de pão e as coloquei para aquecer levemente. Não era exatamente um banquete, mas era o suficiente para matar a fome. Peguei uma taça e servi o vinho, sentando-me à mesa com o prato simples à minha frente.
Enquanto comia, minha mente vagava. Eu sabia que precisava ajustar meu sono. Essa rotina de dormir em horários errados estava começando a pesar. Talvez fosse hora de voltar com os remédios para regular meu sono novamente. Amanhã precisaria acordar cedo – não havia outra escolha.
Depois de comer, lavei rapidamente os pratos, mais por obrigação do que por vontade. Não gostava de tarefas domésticas, mas também odiava bagunça. Mantinha tudo limpo durante dias até que, inevitavelmente, acabava pedindo comida para evitar passar mais tempo na cozinha. Ir ao mercado? Só em último caso.
Com tudo arrumado, sentei-me à escrivaninha com o meu portátil. Precisava começar a organizar e planejar o documentário. Cada detalhe precisava ser perfeito, sem margem para erros. Acendi uma vela para dar um pouco de conforto ao ambiente e mergulhei nas anotações, o cansaço dando lugar à concentração. Vamos lá, Jessie... murmurei, determinada. A noite já começava a avançar novamente, mas desta vez, eu sabia que precisava parar antes de perder a noção do tempo outra vez.
A insônia venceu mais uma vez. Já passava da meia-noite, e virar de um lado para o outro na cama não estava ajudando. Decidi subir até o terraço do prédio. Peguei um casaco leve, calcei os chinelos e caminhei até lá em silêncio, como se o barulho pudesse acordar as sombras do passado que sempre me assombram.
No terraço, a brisa da noite tocava meu rosto com suavidade, trazendo um alívio momentâneo. Sentei-me perto da borda, olhando para o céu. Ele sempre me dava esperança, mesmo nos momentos em que parecia não haver mais nada a que me agarrar. As estrelas me lembravam da minha mãe. Perder ela foi a maior tragédia da minha vida, uma ferida que nunca cicatrizou.
Suspirei, tentando afastar os pensamentos. Mas era impossível. As memórias daquela noite voltaram como um soco. O cheiro do hospital, o vazio sufocante que veio depois. Eu ainda tinha tantos pesadelos com isso que às vezes parecia que nunca acordava de verdade.
Fechei os olhos por um instante, deixando a brisa levar as lágrimas que ameaçavam cair. Ficar ali, sozinha, era reconfortante. Não precisava fingir que estava bem.
Depois de algum tempo, desci novamente para o apartamento. O silêncio do lugar parecia me envolver como um cobertor frio. Deitei-me na cama e, finalmente, o cansaço me venceu.
Consegui dormir, mas o descanso foi breve. Acordei cedo, com o coração disparado e a respiração pesada, mas um pesadelo me puxando para fora do sono. Permaneci sentada na cama por alguns minutos tentando recompor, antes de decidir a hora de enfrentar o dia.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Carla Santos
Jessie a escrita é maravilhosa mas vc precisa de algo mas forte avassalador algo que vc possa dormir uma noite e não ter um pesadelo dormi cansado do dia exausta e acorda leve sem pesadelo e cheia de exaustão tem quer acontecer algo inovador uma avalanche de verdade
2024-12-15
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Andréa Karlla Silva Farias
Jessie tá precisando de uma motivação pra acabar com esses pesadelos, só escrever não tá resolvendo, precisa de uma adrenalina de esquentar esse ❤️
2024-12-13
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Andréa Karlla Silva Farias
kkkkk a Olívia é a verdadeira colher de pau kkkkkkkkk
2024-12-13
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