Isso foi um Flerte?

Jessie...

Acordei me sentindo estranhamente bem, como se o sono tivesse finalmente renovado algo dentro de mim. Sentei na cama, os lençóis ainda amassados ao meu redor, e passei as mãos pelos cabelos, tentando afastar os últimos vestígios de sonhos confusos. Depois de alguns minutos, levantei e fui direto para o banheiro.

A água quente no banho trouxe um alívio imediato. Fechei os olhos enquanto sentia o calor percorrer meu corpo, como se lavasse não apenas a sujeira, mas também parte das emoções que me assombram nos últimos dias.

Quando saí do banheiro, envolta no meu roupão, fui direto para a cozinha, com os cabelos ainda úmidos. A primeira coisa que notei foi o cheiro delicado de algo recém-preparado. Na mesa, uma tigela de sopa, ao lado de um bilhete dobrado.

Peguei o papel e li.

“Me desculpa não ter ficado mais tempo com você. Tive que correr para o trabalho. Fiz essa sopa, perguntei à Olivia qual tipo de comida ia fazer, e ela disse que uma sopa leve seria perfeita. Então, coma tudo. Tchau! Quando eu estiver livre, te mando uma mensagem. Mas, se precisar de ajuda, já sabe o que fazer.”

Dei uma risada leve, sem conseguir evitar. Ele realmente fez uma sopa só para mim? Sentei à mesa, ainda segurando o bilhete, e senti algo diferente. Ethan era tão inesperado. Tão genuíno.

O quanto estou interessada nele? Isso pode ser perigoso, me perguntei, suspirando ao perceber a resposta. Mas isso era algo que eu não queria admitir, nem para mim mesma.

Enquanto tomava a sopa que, devo admitir, estava muito boa, fiquei perdida em pensamentos. Ninguém nunca fez nada assim por mim. Correr até aqui só porque pedi ajuda... preparar algo para eu comer e ainda se desculpar por sair apressado. Ele parecia realmente se importar, mesmo sem me conhecer por completo.

E isso me assusta. Por que eu me sinto tão confortável perto dele? Por que é tão fácil dizer coisas que normalmente guardo para mim?

Peguei o bilhete novamente, meus olhos analisando as palavras simples, mas cheias de cuidado. Suspirei, deixando-o sobre a mesa e levando as mãos ao rosto.

O que vou fazer com esses sentimentos confusos? pensei, enquanto terminava a sopa. Talvez eu esteja indo longe demais. Ou talvez... talvez ele seja exatamente o que eu precisava, mesmo sem saber.

Depois que terminei de comer, fui procurar meu celular. Depois do dia que tive, parecia que o mundo estava um pouco mais organizado, mas ainda havia coisas para fazer. Encontrei o aparelho na mesinha de centro da sala e peguei-o, notando que já eram quase cinco horas da tarde. Preciso voltar a trabalhar, pensei.

Antes disso, dei uma geral pela casa. Limpei a cozinha, lavei a tigela da sopa que Ethan havia feito e ajeitei a sala. Depois, organizei meu quarto, dobrando os cobertores e deixando tudo no lugar. Finalmente, fui para meu escritório.

Abri o laptop sobre a mesa, pronta para começar a trabalhar, quando senti o celular vibrar novamente. Olhei para a tela e vi o nome de Olivia. A mensagem perguntava se eu estava melhor. Com certeza Ethan falou com ela, pensei. Ele devia ter pedido meu endereço para Olivia e provavelmente contou tudo o que aconteceu.

Por um instante, considerei ignorar, mas o celular continuava vibrando na mesa com novos pontos de interrogação que Olivia mandava. O som insistente começou a me irritar. Finalmente, peguei o celular e digitei uma resposta curta.

“Estou ótima.”

Mal enviei a mensagem, e outra chegou em segundos.

“Tem certeza? Está bem o suficiente para o final de semana?”

Suspirei, percebendo que ela não me deixaria em paz.

“Manda o local e a hora,” respondi.

Deixei o celular de lado e me recostei na cadeira, olhando para o laptop aberto. Por mais que tentasse me concentrar, parte de mim ainda estava presa nas últimas 24 horas. Ethan, a sopa, a gentileza inesperada, Olivia agora perguntando sobre o final de semana...

— Preciso me concentrar no meu trabalho,— murmurei para mim mesma, tentando me convencer.— Foco, Jessie.

Depois de algumas horas de trabalho, o som familiar do celular vibrando me tirou da concentração. Olhei para a tela e vi uma mensagem de Chase. Ele raramente mandava mensagens fora das aulas, então isso chamou minha atenção.

“Por que você faltou na aula de boxe hoje?” a mensagem dizia. “Não mandei mensagem mais cedo porque estava muito ocupado, mas fiquei preocupado.”

Parei por um momento, pensando no que responder. Não queria entrar em detalhes sobre o dia que tive, então digitei algo simples.

“Estou bem, só tive alguns imprevistos no trabalho. Mas voltarei na segunda, com certeza.”

A resposta dele veio quase instantaneamente. “Fico aliviado em saber. Segunda-feira, então. Estou ansioso para vê-la.”

Chase era um cara bom, mas com a minha tendência a fechar-me para o mundo ele com certeza ficaria de fora. Enquanto bloqueava o celular e tentava voltar para o trabalho. Mas meu estômago roncou, fui até a geladeira e não tinha nada, como Ethan fez aquela sopa, será que ele comprou pronta.

— Droga! Preciso ir ao mercado,— murmurei.

Vesti um vestidinho branco de botões, calcei um tênis confortável e peguei meu celular antes de sair do apartamento. O mercado 24 horas ficava perto, e o ar fresco da noite parecia uma boa ideia para limpar minha mente.

Quando cheguei à porta do prédio, meu passo hesitou. Um rosto familiar estava saindo de um carro estacionado em frente. Ethan. Ele carregava algumas sacolas e, assim que me viu, abriu aquele sorriso descontraído que parecia sempre esconder algum tipo de felicidade genuína.

Fiquei ali parada, como se meus pés estivessem grudados no chão. Como ele consegue estar aqui justo agora? pensei. Será que ele tinha o poder de ler mentes? Ele se aproximou com seu típico ar casual, e, antes que eu pudesse dizer algo.

— Pelo visto, você está ótima.— falou Ethan. Olhei para ele, tentando manter a calma.

— Só fico doente uma vez no ano. E me recupero super rápido.— disse. Ethan deu uma risada baixa, balançando a cabeça.

— Sempre cheia de respostas. Está com fome?— perguntou ele. E de repente, senti meu estômago roncar como se quisesse responder por mim. Suspirei, rendida.

— Estou, na verdade. Estava indo comprar algo rápido para comer.

Antes que eu pudesse completar a frase, ele ergueu as sacolas com um olhar travesso.

— Parece que resolvi o seu problema. E já que estou aqui, posso entrar?— perguntou Ethan. Fiquei sem palavras por um segundo, surpresa com a naturalidade dele. Cruzei os braços, arqueando uma sobrancelha.

— Já que você insiste...

Ethan sorriu novamente, me acompanhando enquanto eu abria a porta do prédio e o deixava entrar. O que é que eu faço com esse homem? pensei, enquanto sentia aquela estranha mistura de irritação e conforto que só ele parecia causar.

O silêncio no elevador era quase palpável, mas os olhares de Ethan não passavam despercebidos. Ele olhava para mim, depois desviava, como se estivesse organizando as palavras na mente antes de dizer algo. Antes que ele pudesse falar, decidi me adiantar.

— Você é um agente do FBI, não é?

Ele ergueu as sobrancelhas, surpreso pela pergunta repentina, mas logo sorriu levemente.

— Sim, sou.

Cruzei os braços e continuei, tentando soar casualmente.

— Então, se estiver muito ocupado com o caso, não precisa passar tanto tempo comigo.

Ethan inclinou a cabeça levemente, um brilho divertido nos olhos.

— Está tudo bem. Não estou tão ocupado agora.— confessou ele. Eu o observei por um instante, sentindo algo entre curiosidade e provocação.

— Certo. Então você pesquisou sobre mim, não foi?— perguntei. Ele hesitou, mas então sorriu de canto.

— Talvez um pouco.

Era exatamente o que eu imaginava. Ele definitivamente assistiu à entrevista. Dei um passo à frente, inclinando levemente a cabeça.

— Ah, então você já sabe como eu sou incrível. Aposto que até comprou um dos meus livros.

Ele riu, aquele tipo de risada que vinha acompanhada de um leve balançar de cabeça.

— Comprei, sim.— confessou ele. Dei um sorriso de satisfação.

— Finalmente, alguém vai descobrir o quão brilhante eu sou.

Ethan riu novamente, sem conseguir formular uma resposta imediata. Antes que pudesse tentar, o “ding” do elevador sinalizou que havíamos chegado. As portas se abriram, e eu saí primeiro, lançando um olhar por cima do ombro.

— Bem, vamos ver se você é bom de leitura também, agente especial.

O som das risadas baixas dele ecoou enquanto ele me seguia. Entramos no apartamento, e Ethan imediatamente se dirigiu à cozinha com a confiança de quem parecia conhecer o espaço. Ele colocou as sacolas no balcão e, virando-se para mim com um sorriso fácil.

— Vou fazer uns sanduíches, e trouxe cerveja.— afirmou ele. Cruzei os braços, apoiando-me no batente da porta da cozinha.

— O sanduíche eu aceito, mas a cerveja… Acho que seria uma péssima ideia.

Ele riu baixinho, como se entendesse exatamente o que eu quis dizer, e continuou retirando as coisas das sacolas. Observei enquanto ele começava a organizar os ingredientes, pegando uma faca com familiaridade.

— Precisa de ajuda?— Perguntei, aproximando-me da mesa.

— Não, fica tranquila. Só senta aí e aproveita a vista.

Sorri, e obedeci, puxando uma cadeira na mesa enquanto ele se movia pela cozinha com naturalidade. Ele tirava itens das sacolas e os guardava na geladeira ou nos armários, como se já soubesse onde tudo estava. Minha mente não conseguiu ignorar o quão confortável ele parecia ali, como se aquela não fosse sua primeira vez no meu apartamento. Ele parecia… à vontade. Talvez até demais.

Fiquei observando em silêncio por um momento, os olhos acompanhando cada movimento seu. Ele era eficiente, preciso, e algo sobre a maneira como ele agia me deixou desconcertada. Talvez fosse a familiaridade inesperada, ou o fato de ele estar ali, entrando na minha vida de forma tão natural. Soltei um riso nervoso, quase imperceptível.

— Você parece conhecer essa casa melhor do que eu.

Ele olhou para mim com uma sobrancelha arqueada, o canto da boca erguido em um sorriso malicioso.

— Acho que sou bem esperto.

Isso me fez rir, mas por dentro eu sentia algo diferente. E se ele entrasse demais na minha vida? E se fosse tarde demais para impedir?

Ethan terminou de preparar os sanduíches e sentou à mesa, diretamente à minha frente. Começamos a comer em silêncio, ele bebendo sua cerveja com calma. Mas eu percebi que ele me observava de vez em quando, como se estivesse analisando algo. Depois de um tempo, ele finalmente quebrou o silêncio.

— Ontem, eu reparei que sua bochecha estava vermelha. Não quis perguntar na hora porque imaginei que você ficaria irritada, mas... por que estava assim?— perguntou Ethan, levantei os olhos do sanduíche, arqueando uma sobrancelha.

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Comments

Andréa Karlla Silva Farias

Andréa Karlla Silva Farias

Deixa eu te contar uma coisa: Jessie, ele já entrou na tua vida, tu só não aceitou ainda

2024-12-14

2

Andréa Karlla Silva Farias

Andréa Karlla Silva Farias

Será que é convencido ❓😂😂

2024-12-14

2

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