Jessie...
Enquanto Ethan dirigia, o silêncio no carro era confortável, quase como se falássemos sem palavras. O som leve do motor preenchia o ambiente, e a brisa noturna entrou pela janela que eu abri, bagunçando um pouco meu cabelo.
— Para onde você está me levando? — perguntei, olhando de relance para ele.
Ethan desviou os olhos rapidamente da estrada, me lançando um sorriso descontraído.
— É um restaurante super legal. A Olívia recomendou.— respondeu ele, olhando para a estrada.
Levantei uma sobrancelha, já suspeitando.
— Se for o Bloom, a Olívia já me levou lá antes.
Ele soltou uma risada baixa e balançou a cabeça.
— Sério? Não acredito. Achei que fosse te impressionar.
Ri, me diverti com a expressão de falsa decepção dele.
— Relaxa. O Bloom é um lugar incrível. Então está ótimo, não se preocupe com isso.
Ele sorriu, aquele sorriso que parecia iluminar tudo ao redor.
— Então tudo bem. Só não quero que você pense que sou previsível.
— Ah, Ethan... — disse, cruzando os braços e fingindo pensar. — Você é cheio de surpresas.
— Isso foi um elogio?— perguntou ele, dando uma leve olhada para mim.
Dei de ombros, deixando o mistério no ar. Ele riu de novo, e o resto da viagem seguiu com aquela atmosfera leve, quase mágica, como se estivéssemos em um universo só nosso.
Enquanto Ethan dirigia, percebi algo diferente nele. Geralmente, ele usava sempre as mesmas roupas escuras — jaqueta de couro preta, camisa básica, aquele ar de mistério. Mas hoje, ele estava vestindo algo mais leve. A jaqueta jeans clara, combinada com uma camisa em tom pastel, destacava seus olhos de maneira impressionante. Eu me peguei olhando para ele por mais tempo do que deveria.
Ele estava concentrado na estrada, uma expressão tranquila, mas com a firmeza de quem sempre parecia no controle. Talvez fosse isso que me atraía nele — aquele equilíbrio entre seriedade e despreocupação.
Suspirei e desviei o olhar, focando na paisagem pela janela. A verdade era que hoje eu não estava bem. Não tinha contado isso a ninguém, mas o pesadelo que tive de manhã ainda pesava na minha mente. Não era minha mãe que estava lá dessa vez... era outra pessoa, alguém que eu não reconheci, mas cuja presença me causou um medo inexplicável.
Aquele sonho me deixou inquieta o dia todo. Talvez por isso eu quase tenha cancelado esse encontro. Mas, olhando para Ethan agora, dirigindo com tanta calma, senti que tinha feito a escolha certa em vir.
— Está tudo bem? — a voz dele quebrou o silêncio, suave, mas cheia de curiosidade.
Virei-me para ele, surpresa.
— Por que a pergunta?
Ele deu de ombros, sem tirar os olhos da estrada.
— Você parece um pouco distante.
Sorri, tentando aliviar a tensão que começava a crescer dentro de mim.
— Só estava pensando.
— Em algo bom?
Hesitei por um momento. Não sabia se estava pronta para dividir tudo o que passava pela minha mente, então apenas respondi.
— É algo complicado.
Ethan não pressionou. Ele apenas assentiu, respeitando meu espaço. Mas, de alguma forma, aquele pequeno gesto me fez querer confiar nele.
Depois de alguns minutos, chegamos ao restaurante. Que estava mais iluminado do que da última vez que estive ali, com luzes amareladas que criavam um ambiente aconchegante, mas sofisticado. Ethan foi direto até a recepcionista, trocou algumas palavras com ela, e logo estávamos sendo conduzidos até nossa mesa, estrategicamente posicionada em um canto mais reservado do salão.
Sentamos, e ele abriu o cardápio com um sorriso relaxado. Fizemos nossos pedidos, e Ethan, como de costume, pediu um vinho para acompanhar. Ele parecia à vontade, jogando comentários descontraídos sobre o ambiente e sugerindo pratos que, segundo ele, eu definitivamente precisava experimentar.
Apesar da leveza dele, eu sentia algo diferente. Meu coração estava inquieto, meu corpo em alerta, mesmo que minha mente não detectasse nenhum perigo evidente. Olhei ao redor, tentando identificar o que estava me incomodando, mas o restaurante parecia perfeitamente normal. Pessoas riam, brindavam, e conversavam em um burburinho suave que preenchia o ar.
É só coisa da sua cabeça, tentei me convencer, mas a sensação persistia.
Ethan percebeu minha distração em algum momento e soltou uma piada inesperada sobre o garçom, que parecia perdido ao equilibrar várias bandejas ao mesmo tempo. Não pude evitar rir, mesmo que de forma contida.
— Finalmente um sorriso — ele comentou, erguendo a taça em um pequeno brinde.
— Eu sempre sorrio — rebati, tentando parecer mais descontraída do que realmente me sentia.
— Ah, claro. Mas hoje você está um pouco mais... pensativa.— disse ele.
Sorri novamente, mas não respondi diretamente. Em vez disso, ergui minha taça, tentando seguir o ritmo dele. Ethan continuou a falar, compartilhando histórias engraçadas sobre seu trabalho e as situações bizarras que ele enfrentava.
Eu ri de verdade algumas vezes, mas meu corpo continuava em alerta. Aquela sensação de que algo estava fora do lugar não me abandonava. Talvez fosse só paranoia, ou o resquício do pesadelo que eu havia tido mais cedo.
Enquanto Ethan falava, olhei rapidamente ao redor novamente. Nada parecia errado. Mesmo assim, eu não conseguia me livrar do aperto no peito.
Relaxe, pensei, forçando-me a focar no momento. Ethan estava ali, tentando fazer da noite algo especial. Eu precisava retribuir.
Peguei um pedaço do pão que havíamos pedido de entrada, tentando me concentrar na conversa.
— Tudo bem? — ele perguntou, com os olhos claros me analisando.
— Sim, tudo ótimo — menti, soltando outro sorriso.
A noite continuava, e eu tentava ignorar a sensação de que, talvez, eu estivesse sendo observada.
Eu respirei fundo, deixando a tensão finalmente se dissipar enquanto observava Ethan brincar com a borda de sua taça de vinho. Ele me olhava com um sorriso divertido, claramente tentando encontrar as palavras certas. Eu decidi não prolongar mais o mistério.
— Então, qual é o motivo desse jantar em especial? — perguntei, inclinando-me ligeiramente sobre a mesa.
Ethan soltou uma risada nervosa, abaixando os olhos por um segundo antes de me encarar novamente.
— Não acredito que você já descobriu o porquê do jantar.
Nós dois rimos, e senti que o clima finalmente ficava mais leve.
— Você é péssimo em esconder suas verdadeiras intenções — provoquei, arqueando uma sobrancelha.
Ele deu um gole no vinho antes de responder, com um brilho travesso nos olhos.
— Ah, e você é péssima em deixar as coisas acontecerem. Sempre corta meu barato. Por que você é tão direta assim? — perguntou ele, inclinando a cabeça como se realmente esperasse uma resposta séria.
Dei de ombros, sorrindo com a provocação.
— Esse é meu jeitinho — respondi, descontraída, mas sem deixar de encarar ele. Ethan riu mais uma vez, relaxando contra a cadeira.
— Seu jeitinho é... complicado. Mas acho que gosto disso.
Não consegui evitar sorrir de verdade dessa vez. Algo no jeito como ele me olhava fazia parecer que ele estava falando mais do que só sobre o meu jeitinho. Por um instante, senti meu coração bater mais forte. Talvez, apenas talvez, essa noite realmente fosse especial.
Quando ele ia tentar dizer algo mais, o toque do telefone interrompeu. Ethan olhou para mim como se pedisse permissão. Assenti com a cabeça e dei um breve sorriso, tentando mostrar que não me incomodava. Ele pediu licença, levantou-se e saiu para atender a chamada.
Eu o observei se afastar, reparando em como ele parecia ficar automaticamente mais sério ao colocar o telefone no ouvido. Com certeza era algo relacionado ao caso em que estava trabalhando. Aproveitei para dar um gole no meu vinho, tentando me distrair com a música suave do restaurante e o movimento das outras mesas ao redor.
Depois de um minuto, talvez um pouco mais, ele voltou. O semblante que carregava agora era mais leve, quase animado. Ele se sentou novamente e soltou um suspiro antes de se desculpar.
— Me desculpa por ter te deixado sozinha.
Eu balancei a cabeça e sorri para ele.
— Está tudo bem. Foi algo importante, certo? — perguntei, inclinando-me ligeiramente para frente. — Era sobre o caso em que você está trabalhando?
Ethan pareceu hesitar por um momento, talvez ponderando o quanto poderia compartilhar, mas então respondeu.
— Sim, algo sobre uma pista nova. Nada concreto ainda, mas o suficiente para animar a equipe. — Ele relaxou na cadeira e sorriu, tentando suavizar o clima. — Mas prometo que a partir de agora minha atenção está toda aqui.
— Espero que esteja mesmo, agente Ethan — brinquei, tentando devolver o tom leve.
Ele riu, mas seus olhos carregavam algo mais profundo, algo que parecia mesclar o peso do trabalho com a leveza do momento que estávamos compartilhando. Por um instante, ele ficou em silêncio, apenas me olhando, antes de finalmente retomar a conversa.
Mas antes que ele pudesse aprofundar mais a conversa, uma voz familiar soou e o ar ao redor parecia mudar no mesmo instante.
— Quanto tempo, Jessie.— Meu corpo gelou, e antes mesmo de olhar, eu já sabia quem era. Virei lentamente, e lá estava ele, Ryun, meu ex-namorado, o homem que eu tinha jurado nunca mais ver na vida.
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Atualizado até capítulo 44
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