Jessie...
Cheguei à editora poucos minutos antes do horário marcado. O clima no escritório era movimentado como sempre, com pessoas apressadas passando pelos corredores e pilhas de manuscritos espalhadas pelas mesas.
A reunião começou pontualmente. Sentada na grande sala de vidro, com editores ao meu redor, apresentei algumas ideias e discuti os próximos passos para o meu novo projeto. O ambiente era formal, mas tenso. Cada decisão parecia pesar mais do que a anterior. Depois de quase duas horas, saí de lá aliviada, mas exausta.
Ao chegar em casa, a primeira coisa que fiz foi jogar minha bolsa no aparador e me deixar cair no sofá. Tirei os sapatos e me encolhi ali por alguns minutos, absorvendo o silêncio. Meu corpo gritava por descanso, mas minha mente não desligava.
Estiquei a mão para o laptop, que estava na mesa de centro, e o liguei. Enquanto esperava ele carregar, corri até a cozinha e preparei um café rápido. Voltei para o sofá e me acomodei, o café ao alcance.
A caixa de entrada estava lotada. Suspirei enquanto começava a responder os e-mails. Alguns eram de trabalho, outros de leitores enviando mensagens carinhosas, que me fizeram sorrir por alguns segundos antes de voltar ao ritmo frenético de compromissos.
Por um momento, olhei pela janela. A noite já havia caído, e a vista da cidade iluminada parecia mais um convite ao descanso do que a qualquer outra coisa. Mas, com mais e-mails pendentes, não me permiti ceder.
Olhei para o relógio novamente, oito horas. A luz suave da luminária iluminava a sala, mas o silêncio preenchia o espaço de forma pesada. Encostei a cabeça no sofá, suspirando. Sentia-me só, mesmo com toda a pilha de trabalho que deveria me distrair.
O toque do celular quebrou o silêncio. Peguei o aparelho rapidamente, e ao ver o nome de Ethan na tela, um sorriso escapou, quase sem querer. Atendi e esperei ele dizer algo primeiro.
— Você comeu? — perguntou ele, direto, com aquele tom despreocupado que me fazia sentir mais leve.
— Ainda não. Acabei de terminar de trabalhar — respondi, fechando o laptop e relaxando um pouco mais no sofá.
— Sempre tão trabalhadora — ele brincou, com um tom divertido. — Mas você também precisa descansar, sabe?
— Já tive muito descanso no fim de semana — retruquei, um pouco na defensiva, mas sem perder o humor.
— Você está ocupada agora? — ele perguntou.
— Não. Por quê? — respondi, um pouco intrigada.
— Bom, estava pensando... Quer comer alguma coisa comigo?— perguntou ele, pausadamente.
Fiquei em silêncio por um segundo, tentando decidir. Acabei admitindo, meio relutante.
— Sim, mas eu queria um daqueles sanduíches que você faz.
Ele riu, e a gargalhada dele era contagiante, me arrancando uma risada também.
— Tudo bem, estou a caminho.
— Não, aqui em casa não tem nada. Vou para sua casa.— afirmei.
Ele ficou visivelmente animado, mesmo pelo telefone.
— Perfeito. Vou mandar o endereço.
— Certo. Até daqui a pouco.
Desliguei, sentindo uma leveza que não sentia há algum tempo. Talvez essa noite não fosse tão solitária quanto eu imaginava.
Entrei no banheiro e deixei a água morna cair sobre mim, tentando afastar o cansaço do dia. Tomei um banho rápido, mas suficiente para me sentir renovada. Saí, enxugando o cabelo com uma toalha, e fui até o closet. Escolhi uma blusa listrada com cores vibrantes que combinavam com o meu humor inesperadamente leve. Completei o visual com uma saia de couro rodada na cor vinho e uma jaqueta da mesma tonalidade para proteger do frio da noite.
Peguei meu celular e chequei a mensagem com o endereço que Ethan havia enviado. Estava tudo certo. Desliguei as luzes do apartamento, dei uma última olhada ao redor para me certificar de que não estava esquecendo nada e fechei a porta atrás de mim.
No corredor, apertei o botão do elevador e esperei enquanto ajeitava a jaqueta. O silêncio do prédio era quebrado apenas pelo leve som do mecanismo do elevador se aproximando. As portas abriram, entrei e desci até o estacionamento.
Dentro do carro, ajustei o GPS no celular para o endereço que ele havia me enviado. Liguei o motor e respirei fundo antes de sair. O brilho das luzes da cidade passava pelas janelas enquanto dirigia, uma mistura de ansiedade e antecipação se formando no meu peito. A noite parecia prometer mais do que eu havia planejado.
Cheguei ao apartamento de Ethan e, enquanto o elevador subia, senti meu coração acelerar como se estivesse em uma montanha-russa emocional. Nunca me senti assim antes. Já conheci muitos homens, mas nenhum conseguiu provocar esse misto de ansiedade e expectativa. Eu sabia que me apaixonar assim, tão repentinamente, poderia ser um erro, mas também sabia que não era de me arrepender das decisões que tomava. A vida me trouxe até aqui, trouxe ele. Decidi relaxar e aproveitar.
Parei em frente à porta e respirei fundo antes de bater. Não demorou muito até Ethan abrir com um sorriso que parecia iluminar o corredor.
— Sinceramente, estou muito feliz por você ter aceitado comer comigo. — disse ele, com um tom genuíno que me fez sorrir também.
— Eu não podia recusar. — respondi, entrando no apartamento ao seu convite.
Assim que dei os primeiros passos para dentro, o cheiro inconfundível de sanduíches frescos me envolveu. O ambiente era aconchegante, simples, mas com a personalidade descontraída de Ethan espalhada em cada detalhe. Na mesa da sala, notei uma garrafa de vinho aberta ao lado de copos, enquanto pratos com sanduíches perfeitamente montados aguardavam.
— Acabei de preparar os sanduíches. — disse ele, fechando a porta e se aproximando com um ar satisfeito. — E, claro, abri uma garrafa de vinho. Achei que seria perfeito para acompanhar.
— Parece maravilhoso. — respondi, me sentindo mais à vontade.
Enquanto ele puxava uma cadeira para mim na mesa, percebi como aquele momento era simples, mas cheio de significado. A sensação de estar ali, com ele, era surpreendentemente boa.
— Achei que você era organizado, mas é bem bagunceiro, não é? — provoquei Ethan, assim que me acomodei na cadeira, lançando um olhar divertido para a mesa que ele havia montado apressadamente.
Ele sorriu, sem nem tentar se justificar.
— Sim, não sou tão organizado quanto você. — respondeu, inclinando-se para servir minha taça de vinho. — Mas acho que um bagunceiro e uma mulher bem organizada dariam um ótimo casal. Você não acha, Jess?
Dei uma risada suave, tentando parecer despreocupada.
— Talvez... Quem sabe? — respondi, levando a taça aos lábios e sentindo o aroma do vinho antes de provar.
Enquanto comíamos, Ethan se mostrou exatamente como eu já imaginava, descontraído e cheio de energia. Ele começou a contar algumas piadas que, para ser sincera, eram um pouco sem graça. Mas, de alguma forma, eu ria mesmo assim. Talvez porque ele se esforçava para deixar o momento leve, ou talvez porque sua risada era contagiante.
— Sério, Ethan, de onde você tira essas piadas? — perguntei, tentando controlar o riso.
— Ah, você gostou, confesse! — disse ele, fingindo indignação. — Mas, sério, se não fosse bom em contar piadas, não estaria te vendo sorrir agora.
Não pude evitar mais um sorriso. Talvez ele tivesse razão. Naquele momento, eu não estava pensando no trabalho, nos pesadelos ou em qualquer outra coisa complicada. Apenas nele e na atmosfera calorosa que ele criava.
Ethan se levantou, pegou a garrafa de vinho e me chamou para sentar no sofá. Segui até lá, acomodando-me enquanto ele se sentava ao meu lado, deixando apenas uma pequena almofada entre nós. Ele serviu nossas taças novamente e colocou a garrafa no chão com cuidado, voltando a me olhar com aquele ar despreocupado que parecia ser natural nele.
— Por que você ainda não me perguntou nada? — perguntei, quebrando o silêncio, enquanto girava levemente o vinho na taça.
Ele arqueou uma sobrancelha e deu um sorriso de canto antes de responder.
— Não queria te incomodar com minhas perguntas. Parecia que você estava precisando relaxar, então achei melhor não forçar.— respondeu ele.
Assenti, surpresa com a resposta, mas de alguma forma satisfeita.
— Parece que agora você realmente me entende bem, Ethan.— disse, sem olhar para ele.
Bebemos em silêncio por alguns instantes, mas então o celular dele começou a vibrar na mesa de centro. Ele olhou para mim, como se pedisse permissão para atender.
— Pode olhar, talvez seja importante. Não se preocupe comigo. — disse, gesticulando com a mão para que ele pegasse o aparelho.
Ethan assentiu, pegou o celular e mexeu nele por alguns minutos. Eu fingi que não estava curiosa, mas era impossível ignorar a expressão ligeiramente tensa que ele tentou disfarçar. No entanto, quando terminou, colocou o telefone de lado e voltou a direcionar toda a atenção para mim.
— Jess... — começou, com um tom mais sério. — Você quer jantar comigo amanhã?
Sua pergunta me pegou de surpresa, especialmente pelo jeito direto, como ele falou. Eu hesitei por um momento, tentando ler o que se passava em sua mente, mas acabei sorrindo levemente.
— Tá, pode ser.
Um brilho satisfeito surgiu nos olhos dele, e ele deu um sorriso genuíno.
— Então está combinado. Eu te busco e mando o horário amanhã.
Assenti, sem me preocupar em disfarçar minha curiosidade. A noite parecia ter acabado de ganhar um novo rumo, e pela primeira vez em muito tempo, senti que algo interessante estava prestes a acontecer.
A noite seguiu leve, e a garrafa de vinho foi esvaziada à medida que as conversas fluíam. Eu bebi mais do que de costume, permitindo que a sensação cálida da bebida e da companhia de Ethan suavizasse as pontas afiadas dos meus pensamentos.
No meio de uma conversa mais tranquila, Ethan me olhou com um semblante curioso, mas respeitoso.
— Posso te perguntar algo? Sobre sua família? — disse ele, cuidadoso.
Fiquei em silêncio por alguns segundos, encarando o fundo da minha taça como se pudesse encontrar a resposta ali. Soltei um suspiro antes de falar.
— Eu... não costumo falar sobre eles. É difícil. — Dei um pequeno gole no vinho, sentindo a garganta apertar. — Eu fui adotada.
Ethan apenas assentiu, sem interromper. Seus olhos não tinham nem sombra de julgamento, apenas compreensão.
— Meus pais biológicos já faleceram — continuei, com a voz um pouco mais baixa. — E isso torna ainda mais difícil falar sobre eles. Não é só a ausência... é o que fica.
Ele se inclinou levemente, como se suas palavras precisassem de mais proximidade para me alcançar.
— Não precisa falar nada que te machuque. E... sabe, o que importa mesmo é o que você viveu de bom, as pessoas que te amaram, que estiveram contigo.
Eu sorri de leve, sem conseguir evitar. As palavras dele eram simples, mas carregavam uma sinceridade rara. Talvez fosse o vinho, talvez fosse ele, mas a dor que sempre me acompanhava parecia menos pesada naquela noite.
Ethan, percebendo que o assunto estava ficando emocional demais, começou a falar sobre as coisas que gostava — música, filmes ruins que assistia repetidamente, e como tinha aprendido a cozinhar porque, segundo ele, odiava depender de fast food.
Aos poucos, a conversa foi se tornando um ruído confortável. Encostei a cabeça no sofá, relaxada, deixando a voz de Ethan ser um fundo reconfortante enquanto meus olhos ficaram pesados.
— Acho que você está dormindo... — ouvi ele dizer, quase em um sussurro, antes de minha mente ceder completamente ao cansaço e à paz momentânea daquela noite.
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Atualizado até capítulo 44
Comments
Andréa Karlla Silva Farias
Kkkkkk
Melhor falar logo que a piada é ruim kkk
2024-12-15
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