A Caçadora e o Senhor da Noite

A Caçadora e o Senhor da Noite

CAPÍTULO 1

Meu nome é Stella Montague. Não sou uma heroína. Nem uma vilã. Sou aquilo que o momento exige: uma caçadora de alvos. Meu trabalho é simples, elimino os que merecem, mas com uma condição: jamais toco em inocentes. Isso significa que, antes de cada trabalho, faço minha própria investigação. Não confio apenas nas palavras de quem contrata.

Eu tenho regras. A primeira: não me apegar. A segunda: não quebrar a primeira. Emoções tornam tudo mais complicado. No meu mundo, sentimentos são um luxo que não posso me permitir.

Naquela noite, a cidade estava banhada por um nevoeiro denso, abafando os sons e ocultando figuras nas sombras. O bar onde me encontrava era tão discreto quanto eu gostava. Um refúgio para almas perdidas e negócios escusos. Enquanto tomava um gole de uísque barato, percebi a entrada de dois homens.

Os dois estavam claramente deslocados. Ternos caros, sapatos impecáveis e um ar de autoridade que contrastava com os frequentadores habituais do lugar. Um deles, alto, bem apresentável, veio direto até mim.

— Stella Montague? — Sua voz era grave, o sotaque russo era inconfundível.

Levantei os olhos, encarando-o sem demonstrar nada.

— Quem quer saber?

Ele não sorriu, mas também não parecia intimidado pela minha frieza. Sentou-se à minha frente sem ser convidado, enquanto o outro homem ficou de pé, como um guarda-costas.

— Meu nome não importa, mas o que trago para você, sim. Nós precisamos de alguém com suas... habilidades.

Apoiei o copo na mesa com calma, sem desviar os olhos.

— Minha agenda está cheia. E eu não trabalho com quem não diz o nome.

Ele sorriu levemente.

— Estou aqui em nome da Bratva Solovyov, a facção que comanda boa parte da máfia russa fora do território principal.

A informação foi como um raio. A Bratva Solovyov era uma das mais conhecidas organizações criminosas, mas, até onde sabia, eles não costumavam contratar assassinos de fora.

— E o que a Bratva quer comigo?

O homem fez um sinal para o guarda-costas, que colocou um envelope grosso na mesa. Abri, revelando uma quantia de dinheiro impressionante, acompanhada de um dossiê. No topo, uma foto de um homem. Sua presença na imagem era tão poderosa quanto se ele estivesse ali, na minha frente: olhos glaciais, cabelos loiros, e um sorriso que parecia prometer caos.

Viktor Volkov.

— O Senhor da Noite — murmurei, reconhecendo o nome imediatamente. Viktor era o líder da facção rival, um homem tão letal quanto calculista.

— Ele é o câncer do nosso negócio — o homem grisalho continuou. — Viktor destrói tudo que toca. Até agora, ninguém conseguiu pará-lo. Mas você... você é diferente.

Fechei o dossiê e o empurrei de volta.

— Não aceito nada sem antes investigar. Não mato inocentes, mesmo que isso não signifique nada para vocês.

O homem riu, um som seco.

— Stella, garanto que Viktor Volkov é tudo menos inocente. Ele massacrou cidades inteiras na Rússia para conquistar território. Aqui, seu poder cresce a cada dia. Se ele não for parado, em breve seremos os próximos.

Inclinei-me levemente para a frente.

— Vocês são mafiosos, exatamente como ele. Por que deveria me importar?

Ele me encarou, sua expressão endurecendo.

— Porque a diferença entre nós e Viktor é simples: ele não tem limites. Mulheres, crianças, idosos... ninguém está a salvo com ele. Para você, ele é um alvo perfeito.

O silêncio entre nós se prolongou enquanto eu analisava as informações. Havia algo tentador naquela proposta, algo que atiçava meu instinto de caçadora.

— E o pagamento? — perguntei, gesticulando para o envelope.

— Quatro vezes mais do que você costuma cobrar. — Ele sorriu. — Metade agora. O resto quando ele estiver morto.

Suspirei, recostando-me na cadeira.

— Eu não trabalho com equipes. Se eu aceitar, vocês não se intrometem.

— É claro. — O homem se levantou, ajustando o paletó. — Vamos esperar sua resposta, mas seja rápida. Viktor não costuma esperar para atacar.

Peguei o dossiê e guardei o envelope.

— Vou pensar.

Enquanto os homens se afastavam, voltei minha atenção para a foto de Viktor Volkov. Ele era perigoso, isso era óbvio. Mas havia algo nos olhos dele, algo que me deixou desconfortável. Um brilho de inteligência cruel, de alguém que sempre estava à frente.

"Se eu aceitar esse trabalho", pensei, "não haverá margem para erros."

...----------------...

Os dias que se seguiram foram um jogo de paciência. Viktor Volkov não era qualquer alvo. Ele era metódico, frio e se movia como um fantasma, sempre um passo à frente dos inimigos. Se eu quisesse pegá-lo, precisava entender como ele pensava, e para isso, investiguei cada detalhe.

Nomes. Locais. Relatórios policiais. Informantes pagos. Cada peça de informação formava um mosaico que, no final, só me mostrava uma coisa: o Senhor da Noite era praticamente intocável. Mas eu gostava de desafios.

Naquela manhã, com o sol nascente tingindo o céu de vermelho, fui correr pelo calçamento de um parque tranquilo nos arredores da cidade. Eu não corria apenas para manter a forma. Corria para pensar, organizar minha mente. A trilha estava deserta, exceto por uma figura que eu sabia que viria.

Parei na beira do caminho, de frente para a vista. A cidade se estendia abaixo, silenciosa, envolta em uma neblina leve. Não precisei olhar para trás para saber que ele estava ali.

— Você é pontual, pelo menos — falei, sem virar o rosto.

— E você gosta de lugares estratégicos. Sempre à vista de tudo. — A voz do homem era firme, com o mesmo sotaque russo de antes. Ele estava ali para cobrar minha resposta.

— Isso é o básico. Se não sabe onde está, está perdido.

Ele se aproximou, parando ao meu lado.

— Viktor Volkov não vai esperar para sempre. Preciso da sua resposta.

Olhei para o horizonte, respirando fundo. Não era um trabalho qualquer. Viktor não era um alvo fácil, e algo nele me incomodava. Mas... uma caçadora não recua.

— Está confirmado. Metade agora, metade depois. E você mantém sua boca fechada e sua gente longe de mim.

— Fechado.

Ele colocou a mão no bolso e retirou uma pequena caixa, deslizando-a para mim. Peguei sem olhar, enfiando no bolso do moletom.

— Ele estará em um evento no fim de semana. Um leilão beneficente para lavar dinheiro, como sempre.

— Eu sei — interrompi. — Já estou acompanhando. Não preciso que você me diga como fazer meu trabalho.

Ele deu uma risada baixa, mas havia respeito em seu tom.

— Boa sorte, Stella. Você vai precisar.

Não respondi. Continuei olhando para a vista até que ele se afastou. Só quando fiquei sozinha novamente é que virei as costas e comecei a correr.

Uma Semana Depois

A noite do leilão chegou. Eu estava em um edifício a três quadras do local do evento, um prédio em construção que me dava a visão perfeita para o salão iluminado.

A arma que eu usava era uma Barrett M82, um rifle de precisão projetado para acertar alvos a longas distâncias. Era grande, pesada, mas letal. Montei o equipamento com cuidado, ajustando a mira enquanto o vento soprava levemente pelas janelas abertas.

O salão estava repleto de figuras importantes: políticos, empresários, criminosos disfarçados. E no centro, como o rei de um tabuleiro de xadrez, estava ele: Viktor Volkov. Vestia um terno preto impecável, uma taça de vinho na mão, e um sorriso calculado no rosto. Ele conversava com outros homens, mas eu sabia que, mesmo em meio à multidão, ele estava alerta.

"Relaxa, Stella", pensei, ajustando a respiração. "Ele não sabe que você está aqui."

Posicionei o rifle, ajustando a mira até que ele estivesse no centro. Minha mão estava firme. O dedo indicador tocou o gatilho.

— E é o fim do jogo, Volkov... — murmurei.

Mas, no segundo exato em que apertei o gatilho, ele se moveu. Não apenas isso: ele agarrou uma mulher ao lado dele e a puxou como escudo humano.

— Filho da puta!

O tiro atravessou o ombro dela, o sangue espirrando no terno de Viktor. A mulher caiu nos braços de outro homem, gritando de dor, mas viva. Viktor olhou diretamente para a minha posição. Era como se ele soubesse desde o começo onde eu estava.

— Merda, merda, merda!

Desmontei o rifle em segundos, jogando tudo dentro da mochila. A adrenalina pulsava. Ele tinha me visto. Ele sabia.

O som de passos ecoava pelo prédio, guardas? Talvez até homens dele. Eu não podia ficar ali. Peguei a mochila e corri para a escada de incêndio, descendo pelos degraus com rapidez.

— Ele usou a mulher como escudo... Ele sabia que alguém ia tentar. Como caralhos ele sabia?

Enquanto fugia pela escuridão, algo dentro de mim mudou. Viktor Volkov não era apenas um alvo difícil. Ele era inteligente, manipulador, e, pior ainda, estava esperando por mim.

E agora, ele sabia que eu estava no jogo.

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Comments

GAMER W (TITANS BR)

GAMER W (TITANS BR)

que capítulo inicial fantástico, você sabe como construir uma estória premiada amei

2024-11-27

0

Gislaine Duarte

Gislaine Duarte

já adorei o início ☺️

2024-11-25

1

Anonymous

Anonymous

Esse primeiro capítulo, que espetáculo 😀

2024-11-27

0

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