Meu nome é Stella Montague. Não sou uma heroína. Nem uma vilã. Sou aquilo que o momento exige: uma caçadora de alvos. Meu trabalho é simples, elimino os que merecem, mas com uma condição: jamais toco em inocentes. Isso significa que, antes de cada trabalho, faço minha própria investigação. Não confio apenas nas palavras de quem contrata.
Eu tenho regras. A primeira: não me apegar. A segunda: não quebrar a primeira. Emoções tornam tudo mais complicado. No meu mundo, sentimentos são um luxo que não posso me permitir.
Naquela noite, a cidade estava banhada por um nevoeiro denso, abafando os sons e ocultando figuras nas sombras. O bar onde me encontrava era tão discreto quanto eu gostava. Um refúgio para almas perdidas e negócios escusos. Enquanto tomava um gole de uísque barato, percebi a entrada de dois homens.
Os dois estavam claramente deslocados. Ternos caros, sapatos impecáveis e um ar de autoridade que contrastava com os frequentadores habituais do lugar. Um deles, alto, bem apresentável, veio direto até mim.
— Stella Montague? — Sua voz era grave, o sotaque russo era inconfundível.
Levantei os olhos, encarando-o sem demonstrar nada.
— Quem quer saber?
Ele não sorriu, mas também não parecia intimidado pela minha frieza. Sentou-se à minha frente sem ser convidado, enquanto o outro homem ficou de pé, como um guarda-costas.
— Meu nome não importa, mas o que trago para você, sim. Nós precisamos de alguém com suas... habilidades.
Apoiei o copo na mesa com calma, sem desviar os olhos.
— Minha agenda está cheia. E eu não trabalho com quem não diz o nome.
Ele sorriu levemente.
— Estou aqui em nome da Bratva Solovyov, a facção que comanda boa parte da máfia russa fora do território principal.
A informação foi como um raio. A Bratva Solovyov era uma das mais conhecidas organizações criminosas, mas, até onde sabia, eles não costumavam contratar assassinos de fora.
— E o que a Bratva quer comigo?
O homem fez um sinal para o guarda-costas, que colocou um envelope grosso na mesa. Abri, revelando uma quantia de dinheiro impressionante, acompanhada de um dossiê. No topo, uma foto de um homem. Sua presença na imagem era tão poderosa quanto se ele estivesse ali, na minha frente: olhos glaciais, cabelos loiros, e um sorriso que parecia prometer caos.
Viktor Volkov.
— O Senhor da Noite — murmurei, reconhecendo o nome imediatamente. Viktor era o líder da facção rival, um homem tão letal quanto calculista.
— Ele é o câncer do nosso negócio — o homem grisalho continuou. — Viktor destrói tudo que toca. Até agora, ninguém conseguiu pará-lo. Mas você... você é diferente.
Fechei o dossiê e o empurrei de volta.
— Não aceito nada sem antes investigar. Não mato inocentes, mesmo que isso não signifique nada para vocês.
O homem riu, um som seco.
— Stella, garanto que Viktor Volkov é tudo menos inocente. Ele massacrou cidades inteiras na Rússia para conquistar território. Aqui, seu poder cresce a cada dia. Se ele não for parado, em breve seremos os próximos.
Inclinei-me levemente para a frente.
— Vocês são mafiosos, exatamente como ele. Por que deveria me importar?
Ele me encarou, sua expressão endurecendo.
— Porque a diferença entre nós e Viktor é simples: ele não tem limites. Mulheres, crianças, idosos... ninguém está a salvo com ele. Para você, ele é um alvo perfeito.
O silêncio entre nós se prolongou enquanto eu analisava as informações. Havia algo tentador naquela proposta, algo que atiçava meu instinto de caçadora.
— E o pagamento? — perguntei, gesticulando para o envelope.
— Quatro vezes mais do que você costuma cobrar. — Ele sorriu. — Metade agora. O resto quando ele estiver morto.
Suspirei, recostando-me na cadeira.
— Eu não trabalho com equipes. Se eu aceitar, vocês não se intrometem.
— É claro. — O homem se levantou, ajustando o paletó. — Vamos esperar sua resposta, mas seja rápida. Viktor não costuma esperar para atacar.
Peguei o dossiê e guardei o envelope.
— Vou pensar.
Enquanto os homens se afastavam, voltei minha atenção para a foto de Viktor Volkov. Ele era perigoso, isso era óbvio. Mas havia algo nos olhos dele, algo que me deixou desconfortável. Um brilho de inteligência cruel, de alguém que sempre estava à frente.
"Se eu aceitar esse trabalho", pensei, "não haverá margem para erros."
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Os dias que se seguiram foram um jogo de paciência. Viktor Volkov não era qualquer alvo. Ele era metódico, frio e se movia como um fantasma, sempre um passo à frente dos inimigos. Se eu quisesse pegá-lo, precisava entender como ele pensava, e para isso, investiguei cada detalhe.
Nomes. Locais. Relatórios policiais. Informantes pagos. Cada peça de informação formava um mosaico que, no final, só me mostrava uma coisa: o Senhor da Noite era praticamente intocável. Mas eu gostava de desafios.
Naquela manhã, com o sol nascente tingindo o céu de vermelho, fui correr pelo calçamento de um parque tranquilo nos arredores da cidade. Eu não corria apenas para manter a forma. Corria para pensar, organizar minha mente. A trilha estava deserta, exceto por uma figura que eu sabia que viria.
Parei na beira do caminho, de frente para a vista. A cidade se estendia abaixo, silenciosa, envolta em uma neblina leve. Não precisei olhar para trás para saber que ele estava ali.
— Você é pontual, pelo menos — falei, sem virar o rosto.
— E você gosta de lugares estratégicos. Sempre à vista de tudo. — A voz do homem era firme, com o mesmo sotaque russo de antes. Ele estava ali para cobrar minha resposta.
— Isso é o básico. Se não sabe onde está, está perdido.
Ele se aproximou, parando ao meu lado.
— Viktor Volkov não vai esperar para sempre. Preciso da sua resposta.
Olhei para o horizonte, respirando fundo. Não era um trabalho qualquer. Viktor não era um alvo fácil, e algo nele me incomodava. Mas... uma caçadora não recua.
— Está confirmado. Metade agora, metade depois. E você mantém sua boca fechada e sua gente longe de mim.
— Fechado.
Ele colocou a mão no bolso e retirou uma pequena caixa, deslizando-a para mim. Peguei sem olhar, enfiando no bolso do moletom.
— Ele estará em um evento no fim de semana. Um leilão beneficente para lavar dinheiro, como sempre.
— Eu sei — interrompi. — Já estou acompanhando. Não preciso que você me diga como fazer meu trabalho.
Ele deu uma risada baixa, mas havia respeito em seu tom.
— Boa sorte, Stella. Você vai precisar.
Não respondi. Continuei olhando para a vista até que ele se afastou. Só quando fiquei sozinha novamente é que virei as costas e comecei a correr.
Uma Semana Depois
A noite do leilão chegou. Eu estava em um edifício a três quadras do local do evento, um prédio em construção que me dava a visão perfeita para o salão iluminado.
A arma que eu usava era uma Barrett M82, um rifle de precisão projetado para acertar alvos a longas distâncias. Era grande, pesada, mas letal. Montei o equipamento com cuidado, ajustando a mira enquanto o vento soprava levemente pelas janelas abertas.
O salão estava repleto de figuras importantes: políticos, empresários, criminosos disfarçados. E no centro, como o rei de um tabuleiro de xadrez, estava ele: Viktor Volkov. Vestia um terno preto impecável, uma taça de vinho na mão, e um sorriso calculado no rosto. Ele conversava com outros homens, mas eu sabia que, mesmo em meio à multidão, ele estava alerta.
"Relaxa, Stella", pensei, ajustando a respiração. "Ele não sabe que você está aqui."
Posicionei o rifle, ajustando a mira até que ele estivesse no centro. Minha mão estava firme. O dedo indicador tocou o gatilho.
— E é o fim do jogo, Volkov... — murmurei.
Mas, no segundo exato em que apertei o gatilho, ele se moveu. Não apenas isso: ele agarrou uma mulher ao lado dele e a puxou como escudo humano.
— Filho da puta!
O tiro atravessou o ombro dela, o sangue espirrando no terno de Viktor. A mulher caiu nos braços de outro homem, gritando de dor, mas viva. Viktor olhou diretamente para a minha posição. Era como se ele soubesse desde o começo onde eu estava.
— Merda, merda, merda!
Desmontei o rifle em segundos, jogando tudo dentro da mochila. A adrenalina pulsava. Ele tinha me visto. Ele sabia.
O som de passos ecoava pelo prédio, guardas? Talvez até homens dele. Eu não podia ficar ali. Peguei a mochila e corri para a escada de incêndio, descendo pelos degraus com rapidez.
— Ele usou a mulher como escudo... Ele sabia que alguém ia tentar. Como caralhos ele sabia?
Enquanto fugia pela escuridão, algo dentro de mim mudou. Viktor Volkov não era apenas um alvo difícil. Ele era inteligente, manipulador, e, pior ainda, estava esperando por mim.
E agora, ele sabia que eu estava no jogo.
Meu nome é Viktor Volkov. Para muitos, sou o Senhor da Noite. Para outros, sou um demônio disfarçado de homem. Gosto de pensar que sou ambos. Não porque gosto de títulos ou de ostentar poder, mas porque o medo é a única moeda universal. E eu a possuo em abundância.
Minha família chegou à Rússia como ninguém. Pobres, irrelevantes, sobrevivendo às margens da sociedade. Mas sobrevivemos porque somos implacáveis. Primeiro meu pai, depois meu irmão mais velho, e então eu. Aos 27 anos, com as mãos sujas de sangue, eu assumi o comando da máfia Volkov. Hoje, aos 39, controlo um império que se estende por três continentes.
E o segredo do poder? Não confiar em ninguém. Especialmente na família.
Viktor volkov
A máfia é construída sobre laços de sangue, mas esses laços são os primeiros a serem cortados quando o trono está em jogo. Meus inimigos externos são óbvios, previsíveis até. Eles conspiram contra mim com contratos e armas, mas são amadores comparados aos inimigos que compartilham meu sobrenome.
Meu irmão mais novo, Vladimir, tenta esconder o ciúme que escorre pelos olhos. Ele nunca diria abertamente, mas quer o que eu tenho. Minha prima, Alina, é um gênio das finanças, mas sei que ela já desviou milhões para criar sua própria base de poder. Até mesmo minha mãe, uma mulher velha e religiosa, diz que reza por mim, mas eu sei que ela reza pela minha queda.
No fundo, estou sozinho. Sempre estive. Mas é assim que prefiro.
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Na noite do leilão, eu sabia que algo estava errado. É instinto. Quando você sobrevive por tanto tempo neste mundo, aprende a ler os sinais. A tensão no ar, os olhares hesitantes, o tipo de silêncio que precede o caos.
Enquanto bebia minha taça de vinho e conversava com um senador corrupto, senti o peso de olhos fixos em mim. Não do salão, mas de algum lugar acima, além do alcance imediato.
"Um atirador", pensei, sentindo o arrepio percorrer minha espinha. Não era a primeira vez, e certamente não seria a última.
Continuei sorrindo, mantendo a aparência de calma. Isso também é uma arma. Mas no instante em que percebi o brilho de um ponto distante — algo refletindo na janela do edifício em construção a algumas quadras dali —, soube que era o momento.
Quando o tiro veio, eu já estava em movimento. Agarrar a mulher ao meu lado foi uma decisão calculada, fria. Ela era irrelevante, uma peça descartável. O som do disparo preencheu o salão, seguido pelos gritos.
Enquanto ela caía, ferida mas viva, olhei diretamente para onde o atirador estava. Mesmo à distância, mesmo com a escuridão entre nós, senti que nossos olhos se cruzaram.
"Quem quer que você seja, acabou de cometer o maior erro da sua vida."
Depois do ataque, o caos se espalhou rapidamente pelo salão. Gente correndo, seguranças gritando, e eu? Apenas permaneci ali, firme, como uma rocha.
— Fechem o salão. Quero todos os convidados revistados antes de saírem — ordenei, minha voz cortando o barulho como uma lâmina.
Mikhail, meu braço direito, se aproximou com o rosto tenso.
— Viktor, já verificamos o ponto do disparo. Foi do prédio em construção na rua principal. O atirador fugiu.
Olhei para ele, sem esconder meu desagrado.
— "Fugiu"? Essa palavra não deveria existir no seu vocabulário, Mikhail.
— Faremos uma busca imediata. Ninguém que tente te matar escapa, senhor.
— Não se trata de quem tentou me matar. Se fosse um amador, estaria morto agora. Isso foi planejado. Inteligente. Frio. Profissional.
Enquanto ele processava o peso das minhas palavras, peguei meu celular e disquei um número.
— Yelena, quero um relatório sobre qualquer assassino de aluguel ativo na região. Foco em estrangeiros ou nomes desconhecidos. Preciso disso em uma hora.
Desliguei antes que ela pudesse responder.
— Quero homens vasculhando a cidade. Foco no perímetro ao redor do prédio. Roupas descartadas, veículos abandonados, câmeras. Quem quer que seja, eles não desapareceram sem deixar rastros.
Mikhail assentiu e saiu, deixando-me sozinho no salão quase vazio. Andei até o centro, onde o sangue da mulher ainda manchava o chão. Era um lembrete do quão perto eles haviam chegado.
"Mas perto não é suficiente."
Enquanto a noite se arrastava, sentei em meu escritório improvisado, analisando relatórios preliminares. O perfil estava claro: um profissional altamente qualificado. Eles sabiam onde eu estaria, esperaram pacientemente, e tiveram a precisão de um cirurgião.
Mas o erro foi achar que eu era uma presa fácil.
A porta se abriu, e Yelena entrou, sua expressão séria.
— Temos uma lista de três possíveis atiradores. Dois são locais, conhecidos por aceitar contratos contra grandes figuras. O terceiro...
— Continue.
— Stella Montague. — Ela colocou uma foto na mesa. Uma mulher de olhos sombrios, expressão calculista. — Uma assassina de aluguel famosa por seguir um código moral peculiar. Ela só aceita contratos contra alvos que ela mesma considera "culpados".
Peguei a foto, estudando cada detalhe. Stella Montague. O nome era familiar, mas distante, como um sussurro nas sombras.
— Então ela investigou antes de tentar me matar. Interessante.
Yelena hesitou.
— Viktor, se for mesmo ela, ela não vai parar. Stella é conhecida por terminar o que começa.
Sorri, um sorriso frio e sem humor.
— Nem eu, Yelena. Nem eu.
A caçada havia começado, mas, desta vez, eu seria o predador. Stella Montague queria brincar de caçadora? Então ela aprenderia que o Senhor da Noite é um alvo que morde de volta.
Sumir sem deixar rastros era uma das minhas especialidades. Eu não era uma mulher que corria riscos desnecessários. O fracasso no primeiro ataque me irritava, mas não me enfraquecia. Eu nunca deixava um serviço inacabado, e Viktor Volkov não seria o primeiro.
Minha casa era minha fortaleza, isolada do mundo. Uma ilha pequena, sem nome, afastada da agitação e cheia de armadilhas que tornariam quase impossível alguém me encontrar. Era onde eu podia pensar com clareza e planejar meu próximo movimento.
Naquela manhã, o cheiro do café amargo se espalhava pela sala enquanto eu analisava arquivos digitais enviados por Sasha Koval, a única pessoa em quem confiava. Sasha era uma hacker brilhante e a única que sabia o suficiente sobre mim para ser útil sem se tornar uma ameaça.
— Ele vai a uma boate chamada Noir com frequência. Um lugar de luxo, exclusivo para os figurões como ele — Sasha disse através da tela do notebook, a imagem dela iluminada pela luz fraca da minha sala. — E, Stella, você vai odiar essa parte...
— Fala logo, Sasha.
— Ele sempre reserva um dos quartos privados lá. Usa o “serviço especial” das garotas do lugar. Você sabe do que estou falando.
Fiz uma careta.
— Prostitutas. Claro que sim. Esses caras são previsíveis até na podridão.
— Se quer chegar perto dele rápido, você sabe o que fazer.
Suspirei, esfregando o rosto. Disfarces eram a parte que eu mais desprezava no meu trabalho, especialmente se envolviam contato físico. Eu odiava ser tocada, era como uma barreira invisível que eu precisava manter para não me perder. Mas odiar algo nunca me impediu de fazer o que precisava ser feito.
— Envia tudo o que tiver sobre a segurança do lugar. Horários, rotas, detalhes dos seguranças. Eu vou resolver isso.
Sasha sorriu de lado.
— Sabia que você não ia desistir. Boa sorte, Stella.
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A transformação levou mais tempo do que eu gostaria. Uma peruca loira, lentes de contato azuis, maquiagem pesada que destacava meus traços, e um vestido justo, ousado, que revelava mais do que eu estava confortável em mostrar. Em uma das meias-calças, escondi um pequeno punhal de cerâmica, indetectável em detectores de metal,e uma pistola SIG Sauer P365 modificada presa discretamente à coxa. Eu estava pronta.
A Noir era um espetáculo de decadência. Luzes néon pulsavam em vermelho e dourado, refletindo nos rostos de homens ricos e mulheres maquiadas demais. O cheiro de álcool, cigarro e perfume caro saturava o ar.
Passei pela entrada sem dificuldades, minha falsa identidade garantindo acesso. Caminhei até o bar, meus saltos ecoando no mármore brilhante. Pedi uma bebida, algo forte, mas que eu sabia que não beberia.
Enquanto segurava o copo, examinei o ambiente com cuidado, disfarçando minha análise com um sorriso misterioso. Meus olhos o encontraram antes que eu esperasse.
Viktor Volkov.
Ele estava sentado em um sofá de couro preto, cercado por seguranças e um pequeno grupo de homens e mulheres rindo alto. Seu terno impecável era escuro, como o olhar predador que lançou pelo salão.
Minha respiração permaneceu estável, mas por dentro, eu já começava a calcular os próximos passos. Para chegar até ele, eu precisaria de algo audacioso.
O palco central chamou minha atenção: um pole dance.
Eu hesitei. Detestava esse tipo de coisa, mas sabia que era o que atrairia os olhos de Viktor. Ele não era um homem que se deixava enganar facilmente, mas era um homem.
Engoli o orgulho e caminhei até o palco. As luzes me envolveram enquanto subia. O vestido já era justo o suficiente para chamar atenção; não precisaria de muito mais.
A música começou, lenta e hipnótica. Movi-me com precisão, cada gesto calculado para parecer natural. Segurei no poste, girando com sensualidade, deixando o vestido subir o suficiente para revelar as pernas.
O salão pareceu prender a respiração. Mas não era qualquer um que me importava.
Era ele.
Nossos olhos se encontraram, e Viktor inclinou o corpo para frente, interessado. Ele sorriu de lado, um sorriso perigoso, mas cheio de desejo. Era isso que eu precisava.
Continuei dançando, girando e arqueando o corpo com uma sensualidade que parecia fluir naturalmente. Cada movimento era um convite silencioso, um desafio.
Quando a música terminou, os olhos dele ainda estavam em mim. Ele não desviou o olhar. Com um simples gesto da mão, ele chamou um de seus homens.
Um segurança enorme se aproximou de mim assim que desci do palco.
— Senhor Volkov gostaria de falar com você. No quarto dele.
Fingi hesitar, mordendo o lábio como se estivesse nervosa, mas com interesse.
— Bem... acho que não posso recusar um convite assim, posso?
Ele não respondeu, apenas me guiou pelos corredores luxuosos até uma porta decorada em dourado.
O quarto era amplo, decorado com mármore negro e cortinas vermelhas. Viktor estava ali, servindo dois copos de um uísque caro. Ele virou-se lentamente quando entrei, os olhos me analisando da cabeça aos pés.
— Você tem um jeito interessante de chamar atenção — ele disse, a voz profunda carregada de diversão.
— E parece que funcionou — respondi com um sorriso sedutor, aproximando-me lentamente.
Ele entregou um dos copos, suas mãos tocando as minhas por um breve segundo.
— Como devo te chamar?
— Chame-me do que quiser esta noite. — Minha voz era baixa, mas cada palavra estava impregnada de confiança.
Ele riu, aproximando-se mais. Eu podia sentir a intensidade no olhar dele, o calor. Viktor Volkov era perigoso, mas não invencível.
Ele se inclinou, quase beijando meus lábios. Eu desviei discretamente, deixando que ele sentisse o gostinho da frustração.
— Você é intrigante — murmurou ele, os olhos brilhando com algo mais profundo do que desejo.
Quando ele virou de costas para pegar algo na mesa, eu movi a mão para a arma presa à coxa. Minha respiração estava calma, meu coração, frio.
Mas, antes que eu pudesse agir, Viktor se virou rapidamente, como se já soubesse. Ele agarrou meu pulso, sua força me desequilibrando.
— Achei que você fosse boa, Stella.
O choque durou apenas um segundo.
— E eu achei que você fosse esperto o suficiente para não virar as costas.
Em um movimento rápido, girei o corpo para me soltar, usando o impulso para desferir um golpe com a perna. Ele bloqueou com o braço, um sorriso divertido se formando em seus lábios.
— Você luta bem, mas precisa ser melhor.
Respondi com um soco que ele desviou por pouco, mas consegui desferir um chute em seu abdômen, afastando-o alguns passos.
— Quer testar isso? — desafiei, puxando o punhal de cerâmica escondido na meia.
Viktor não parecia preocupado. Ele avançou, e nossa luta se tornou um frenesi de golpes rápidos e calculados. O punhal cortou o ar várias vezes, mas ele era ágil, desviando com precisão.
Quando ele conseguiu segurar meu braço, girei o corpo, usando o peso dele contra si, e o empurrei para a parede. Ele riu, mesmo preso.
— Impressionante. Pena que não é o suficiente.
Antes que eu pudesse reagir, ele inverteu a posição, pressionando-me contra a parede com o corpo. Seu peso era uma prisão quente e sufocante.
— Solte-me, Viktor, ou juro que vou te matar.
— Acha mesmo? — Sua voz estava carregada de provocação. Ele segurou meu punho, apertando apenas o suficiente para fazer a faca cair, mas sem me machucar. — Você é incrível, Stella. Mas não consegue fugir disso.
Tentei me soltar, mas ele manteve o controle, os olhos queimando nos meus. Seus dedos tocaram meu rosto, traçando uma linha pela minha mandíbula.
— Não gosta de ser tocada, não é? — murmurou, com um sorriso predador. — Que pena.
Avancei com a cabeça, quase o atingindo, mas ele desviou, rindo mais uma vez. Ele segurou meu rosto com firmeza, os lábios pairando tão próximos que eu podia sentir o calor deles.
— Você é um desafio. E eu adoro desafios.
A raiva queimava em mim. Aproveitei o momento para desferir um chute na lateral de sua perna, mas ele reagiu rapidamente, girando meu corpo e me prendendo novamente, desta vez de costas para ele.
— Acabou. — Sua voz era firme, mas havia algo mais ali. Admiração?
Respirando com dificuldade, relaxei os músculos, aceitando momentaneamente a derrota.
Ele finalmente recuou, deixando-me respirar. Apesar do calor da luta, meu coração permanecia frio, calculando cada detalhe. Viktor Volkov era um adversário formidável, mas havia algo nele que o tornava mais perigoso do que apenas força ou habilidade: o controle absoluto que ele exalava. Ele sabia exatamente o que estava fazendo e, pior, sabia como me desestabilizar.
— Você é uma peça rara, Stella — ele disse, o tom baixo e carregado de admiração, enquanto eu ajeitava o vestido e recolhia o punhal que ele havia me forçado a soltar. — Não tenho dúvidas de que poderia ter me matado se tivesse mais alguns segundos.
— E o que te faz pensar que não vou tentar de novo? — rebati, a voz fria como aço.
Ele sorriu. O tipo de sorriso que não alcança os olhos, mas carrega uma promessa de caos.
— Porque eu não quero você morta. Quero você do meu lado.
Parei. Aquilo era inesperado, embora não fosse exatamente surpreendente. Ele não parecia o tipo de homem que tomava medidas desesperadas. Se estava me oferecendo algo, era porque já tinha calculado os riscos.
— Que interessante. Viktor Volkov contratando uma assassina. Não deveria ser o contrário? — retruquei, cruzando os braços para esconder qualquer resquício de hesitação.
Ele deu de ombros, casual, como se estivéssemos discutindo o tempo.
— O mundo está cheio de assassinos baratos. Mercenários sem princípios. Mas você... — Ele deu um passo à frente, os olhos queimando como carvão em brasa. — Você é diferente. Precisa de algo mais do que dinheiro para se mover.
Fiquei em silêncio, deixando-o falar. Quanto mais ele falava, mais eu entendia sobre ele. Viktor não era apenas poderoso; ele era manipulador. Cada palavra, cada movimento, era uma dança cuidadosamente ensaiada.
— Qual é o seu preço? — Ele perguntou finalmente, direto.
— Dez vezes o que qualquer um me paga. — Não hesitei, mantendo minha voz firme. — E um detalhe: eu escolho meus alvos. Não faço trabalho sujo para covardes ou tiranos.
Ele riu, mas era um som seco, sem humor.
— Já esperava algo assim. Você parece gostar de brincar com códigos de honra, Stella.
— Não é honra, Viktor. É lógica. Se meus alvos não merecem morrer, isso me torna igual a eles.
Ele assentiu lentamente, os olhos fixos nos meus, como se tentasse decifrar um enigma.
— Aceito suas condições. Você terá o que quiser, Stella: dinheiro, proteção, o mundo, se precisar. Mas há uma exigência minha.
— Claro que há. — Rolei os olhos, mas minha mente estava afiada, esperando o golpe.
— Trabalhe apenas para mim. Exclusividade.
Aquilo me fez rir. Não porque fosse absurdo, mas porque era exatamente o que eu esperava. Viktor queria controle, e isso significava me manter sob sua sombra.
— Parece que você ainda não me conhece. Eu trabalho para quem pagar mais, Volkov. Essa é minha única regra.
Ele se aproximou, rápido e silencioso, cortando a distância entre nós antes que eu pudesse recuar. Perto demais. O cheiro de uísque e algo amadeirado o cercava, tão intenso quanto a presença dele.
— E se eu prometer pagar mais do que qualquer um jamais ousaria oferecer? — murmurou, a voz quase um sussurro, carregada de algo entre desafio e provocação.
— Não basta dinheiro. — Levantei o queixo, forçando-me a não recuar. — E eu tenho mais uma regra: sem contato físico.
Ele parou, os olhos estreitando como se analisasse o limite que eu acabara de impor. Então, sorriu de lado.
— Sem contato físico? Difícil para uma mulher que gosta de jogar tão perto do fogo.
— Suas regras, suas condições. As minhas, as minhas. Sem exceções.
Ele deu um passo para trás, levantando as mãos em rendição fingida, mas ainda sorrindo.
— Justo. Mas prove seu valor antes de fecharmos o acordo.
— Já provei. Você ainda está vivo.
O sorriso dele se alargou, mas havia algo de sombrio por trás da expressão.
— Justamente por isso. Considere minha proposta um teste. Seu primeiro alvo será o homem que a contratou para me matar.
Ele se aproximou novamente, dessa vez sem pressa. Entregou-me um pedaço de papel com um nome escrito. Dmitri Orlov.
A ideia me pegou desprevenida, mas não deixei transparecer.
— Está me pedindo para matar meu cliente? Isso não é exatamente profissional.
— É o preço de trabalhar comigo. Ele me subestimou ao contratar você. Quero que o veja como um ensaio. E quero que entenda, Stella, que comigo, não há limites para o que podemos alcançar.
Havia algo na maneira como ele falava, na confiança quase sufocante de suas palavras, que fazia parecer que ele já tinha vencido.
Cruzei os braços, fingindo indiferença, mas minha mente trabalhava rápido. Aceitar significava dar a ele um controle parcial sobre meu trabalho, algo que eu evitava a todo custo. Por outro lado, Viktor não era o tipo de homem que aceitava um “não” sem consequências.
— Com uma condição. — Minha voz era firme, os olhos fixos nos dele. — Se eu aceitar isso, você não interfere no meu trabalho. Não quero que me diga como ou quando.
Ele assentiu, o sorriso agora quase cordial.
— Combinado.
— Então você tem um acordo, Volkov. Mas lembre-se: eu só trabalho para quem pagar mais. E, no momento, você está na liderança.
Ele ergueu o copo em um brinde silencioso, os olhos nunca deixando os meus.
— Que assim seja. Aos negócios.
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