O portão da mansão se abriu lentamente, revelando a fachada imponente, iluminada como uma fortaleza. Desci do carro e contornei até o lado de Stella, mas ela já havia saído sozinha, sempre preferindo manter certa distância. Seu vestido vermelho destacava cada movimento preciso, e o brilho da lâmpada do jardim refletia nas curvas da arma oculta em sua coxa.
Quando nos aproximamos da entrada, os olhos dos guardas recaíram sobre ela. Não me incomodei em explicar muito. Ao entrar no salão principal, repleto de tapetes persas e lustres de cristal, os murmúrios começaram. Era o tipo de reação que eu esperava.
— Alina, Vladimir. — Cumprimentei, seco.
Minha prima, Alina, estava ao lado do marido, ambos estrategicamente posicionados perto da lareira. Vladimir, meu irmão mais novo, estava mais afastado, segurando uma taça de vinho com os dedos tensos demais para parecer relaxado. Ele estava com a esposa, um rosto sem grandes expressões, mais uma peça do tabuleiro que ele tentava manipular.
— Stella. — Apresentei-a, simples, deixando o nome pairar no ar. Não havia necessidade de explicações.
Os olhares curiosos e avaliativos recaíram sobre ela. Alina foi a primeira a falar, o tom sempre afiado.
— Uma amiga, Viktor? Não sabia que você fazia novas amizades.
— Você sabe, prima, eu sempre surpreendo.
Stella, impecável, manteve a postura firme. Apenas um leve movimento de cabeça como cumprimento, sem estender a mão para ninguém. Quando um dos amigos antigos do meu pai, Boris, tentou ser mais cordial, ela evitou o aperto de mão de forma sutil, mas firme, mantendo um pequeno sorriso educado que não chegava aos olhos.
Ela era um mistério, e todos no salão sentiram isso.
A sala de jantar era um campo de batalha mascarado por louças finas e uma garrafa de vinho caro no centro da mesa. Stella sentou ao meu lado, mantendo-se calada, apenas respondendo quando necessário, sempre com precisão e respeito calculados. Mas era impossível não notar os olhares. Os homens não podiam evitar admirar sua beleza perigosa, enquanto as mulheres avaliavam suas intenções.
Foi minha mãe quem quebrou o silêncio, com sua voz carregada de falsa suavidade:
— Viktor, meu querido, você sabe que há uma regra para ser líder desta família. E, ao que parece, continua fugindo de suas responsabilidades.
Seus olhos, pequenos e calculistas, me encararam por cima da taça de vinho. Eu não precisava que ela explicasse. Todos sabiam do que se tratava: casamento. Meu pai sempre deixou claro que, para ser o chefe, eu deveria formar uma família sólida. Mas a ideia de ceder a uma tradição ridícula como essa me enojava.
— Mãe, estou liderando perfeitamente sem distrações. — Respondi, minha voz firme, mas com um leve tom de desdém.
— Liderar? — Alina interveio, o sorriso venenoso. — Alguns diriam que sua posição está começando a ser questionada.
Eu me inclinei para frente, fixando meus olhos nos dela.
— E quem são esses "alguns", prima? Gostaria de conhecê-los.
O silêncio pesado na sala foi interrompido por Vladimir, que aproveitou a deixa:
— Viktor, não é pessoal. Mas a verdade é que há dúvidas sobre sua estabilidade. Sem um compromisso... duradouro, as coisas podem se complicar.
Eu já estava pronto para explodir, mas então tive uma ideia. Uma forma de encerrar essa conversa de uma vez.
Estiquei o braço e puxei a cadeira de Stella para mais perto, ignorando o olhar de alerta dela. Minha mão firmemente pousou em sua cintura, fazendo-a virar os olhos para mim, sua expressão cheia de desaprovação contida.
— Estão todos enganados. — Declarei, minha voz cortante. — Eu já estou noivo.
O impacto foi imediato. O ar saiu do ambiente como um soco no estômago coletivo. Minha mãe arregalou os olhos, Alina perdeu a compostura por um breve segundo, e Vladimir quase derrubou o vinho.
Stella inclinou a cabeça, aproximando-se do meu ouvido.
— Quando eu sair daqui, você é um homem morto, Volkov.
O arrepio na nuca foi inevitável, mas eu não demonstrei.
— Confie em mim, Stella. — Murmurei de volta, mantendo o sorriso no rosto.
Minha mãe se recuperou rapidamente, mas seu tom traiu o descontentamento.
— Noivo? E você não achou necessário nos contar antes?
— Vocês sabem como eu gosto de surpresas.
Os olhares desconfiados permaneciam. Boris, o velho amigo da família, se inclinou um pouco, com um sorriso falso.
— Bem, Viktor, devo dizer que essa é uma surpresa... intrigante.
Eu sabia que tinha despertado um caos. E adorava isso.
Estar naquele jantar era como atravessar um campo minado, cada segundo parecia uma explosão contida. Eu odiava cada um daqueles rostos falsos, cada olhar curioso e cheio de intenções ocultas. As conversas sussurradas, as alfinetadas camufladas em sorrisos... tudo me fazia querer sacar a arma que estava presa à minha coxa. Mas eu respirei fundo. Era o meu trabalho, e eu sempre concluía meu trabalho, não importava o quão desagradável fosse.
Até que Viktor soltou a bomba.
"Noiva?"
Minhas mãos apertaram os braços da cadeira tão forte que quase senti o tecido ceder. O sangue ferveu instantaneamente, e, ao mesmo tempo, uma sensação de vulnerabilidade – que eu odiava – se instalou no fundo do meu peito. O desgraçado havia me colocado em uma posição que eu não esperava e, definitivamente, não queria.
Eu precisava sair dali por um momento
Levantei-me com calma, mantendo a postura inabalável. Fiz um leve aceno para Viktor, sinalizando que iria ao banheiro. Ele não tentou me deter, mas seus olhos não saíram de mim enquanto eu caminhava pelo salão.
No banheiro, apoiei-me na pia, respirando fundo. Olhei para meu reflexo no espelho, o rosto ainda impecável, mas o caos dentro de mim era evidente para mim mesma.
Não demorou dois minutos.
A porta se abriu, e lá estava ele, com aquele maldito ar implacável, como se tudo estivesse sob controle. Ele se encostou no batente da porta, cruzando os braços.
— Que ideia ridícula foi essa agora? — Eu me virei para ele, sem esconder minha irritação.
Ele ergueu uma sobrancelha, parecendo quase divertido com a minha reação.
— Eu precisei falar isso, Stella. Ou você prefere que haja um banho de sangue nesse jantar?
— Ótimo, ótimo! E então agora eu sou sua noiva? — Cruzei os braços, mantendo o tom baixo, mas cada palavra saía como uma lâmina. — Deixe-me lembrá-lo de algo, Volkov. Eu sou uma assassina de aluguel, não uma noiva de aluguel ou... — Parei, encarando-o com os olhos semicerrados. — Muito menos sua puta de luxo.
Ele não perdeu o controle, claro.
— Não é pra tanto, Stella. — Sua voz era tão calma que só aumentava minha irritação. — Eu precisava de uma solução rápida. Foi isso.
— Ótimo, e agora? Vamos sair daqui de mãos dadas e eu sorrio como se estivesse apaixonada?
— Algo assim. — Ele deu de ombros. — Eu pagarei mais, está bem? Estamos resolvidos?
Eu o encarei, pensando na proposta. Ele me colocava contra a parede e, ainda assim, havia algo... hipnotizante na forma como controlava cada situação.
— Está bem. — Suspirei, mas aproximei-me dele, meu olhar firme. — Mas escute, Viktor... se colocar a mão na minha cintura de novo sem o meu consentimento, vou acabar com o seu teatrinho antes que tenha chance de piscar.
Ele sorriu, aquele maldito sorriso que fazia as pessoas esquecerem quem ele realmente era.
— Como quiser, Stella.
Antes que eu pudesse recuar, ele ofereceu o braço para mim, como se fosse natural. O movimento foi tão elegante que eu quase ri da ironia da situação. Quase.
Com relutância, passei o braço no dele, e saímos do banheiro.
Quando voltamos, todos os olhos estavam sobre nós. Alina lançou um olhar afiado, Vladimir apertava os lábios, claramente tentando disfarçar a inveja. Minha presença ao lado de Viktor como "noiva" parecia incomodar tanto quanto se eu tivesse tirado uma arma e declarado guerra ali mesmo.
Eu mantive a postura, o rosto inexpressivo, mas minha mente trabalhava rápido. Cada rosto naquela sala era um quebra-cabeça perigoso, e eu sabia que Viktor os conhecia bem.
— Está tudo bem? — Alina perguntou, o tom carregado de falsa preocupação.
— Claro. — Viktor respondeu antes que eu pudesse falar. — Stella só precisou de um momento.
Alina sorriu, mas seus olhos diziam outra coisa.
Sentamos novamente, e Viktor manteve a mão sobre a mesa, perto da minha, mas sem tocar. Um gesto sutil, mas que fazia parecer que ele me respeitava,uma boa jogada para o público.
O jantar continuou, as conversas voltando ao normal, mas eu sabia que não haveria paz para mim. Não naquela noite. Não enquanto eu estivesse ao lado de Viktor Volkov.
E, por mais que eu odiasse admitir, havia uma parte de mim que começava a gostava disso.
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Atualizado até capítulo 42
Comments
Arlete Fernandes
Hum ele é diabólico demais kkkk mas amei o que ele fez com o bando de lobos porque família isso não é nunca cruzes!!
2025-04-06
1
Vania Lucia
Kkkkk ele não dá ponto sem nó
2025-03-02
1
Maria Cruz
Cai na jogada dele e aproveita kkkkk
2025-03-26
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