O vento frio cortava como lâminas naquela manhã, mas Isadora estava decidida. Vestida com um manto pesado que protegia seu corpo do clima implacável do Norte, ela atravessou os corredores gelados do castelo em direção ao salão de reuniões. Theodore, o Duque do Norte, havia solicitado uma conversa em particular.
Ao entrar no salão, encontrou Theodore sentado em uma poltrona próxima à lareira, o calor das chamas iluminando parcialmente seu rosto austero. Ele levantou os olhos de alguns documentos quando ela se aproximou.
— Isadora — disse ele, gesticulando para que ela se sentasse na poltrona em frente.
— Theodore — respondeu ela, mantendo o olhar firme.
Havia uma tensão no ar, mas também algo mais. Isadora não conseguia definir se era respeito ou um desafio tácito.
Theodore foi direto ao ponto.
— Eu pensei muito sobre sua proposta — começou ele, cruzando os braços. — Um casamento entre nós certamente beneficiaria ambos. Para você, é uma saída da corte do Sul. Para mim, uma aliança política poderosa com sua família.
Isadora inclinou-se levemente para frente, seus olhos fixos nos dele.
— Então aceita?
Ele sorriu, mas não era um sorriso completo.
— Aceito... com condições.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Que tipo de condições?
Theodore se levantou e começou a andar pelo salão, suas botas ecoando no chão de pedra.
— Em primeiro lugar, quero que saiba que este casamento será uma união de conveniência. Não espero amor nem afeto de sua parte, e você não deve esperar o mesmo de mim.
Isadora não desviou o olhar.
— Isso não será um problema.
— Ótimo — continuou ele. — Em segundo lugar, você deve entender que o Norte é meu território. As decisões finais sobre o que acontece aqui são minhas.
Ela assentiu.
— Eu não vim para usurpar sua autoridade, Theodore. Vim para fazer parte deste lugar.
Ele parou de andar e virou-se para encará-la.
— Veremos se isso se mantém verdadeiro.
Isadora percebeu que ele ainda não havia terminado.
— Há mais alguma coisa?
— Sim — respondeu Theodore, voltando a sentar-se. — O casamento acontecerá em meus termos. Isso significa que você terá que passar por um período de adaptação antes de nos casarmos oficialmente.
— Adaptação? — Ela franziu o cenho. — O que isso significa exatamente?
— Quero ver se você é capaz de viver no Norte, lidar com seus desafios e, mais importante, conquistar o respeito do meu povo. Se você falhar nisso, o casamento não acontecerá.
Isadora cruzou as pernas, mantendo a postura confiante.
— Entendido. E se eu passar por essa... adaptação?
Theodore inclinou-se levemente para frente, seus olhos cinzentos brilhando com intensidade.
— Então terá o meu apoio total. E não apenas como sua aliança política, mas como o homem que protegerá sua vida e sua posição acima de tudo.
Ela sentiu o peso daquelas palavras. Não era uma promessa feita levianamente.
— Aceito suas condições — disse ela, sem hesitar.
— Tem certeza? — Theodore estreitou os olhos. — Esta vida não será fácil, Isadora.
Ela ergueu o queixo.
— Nada na minha vida foi fácil, Theodore. Eu não espero menos do Norte.
Por um momento, ele pareceu estudá-la, como se tentasse desvendar algo que ela escondia. Então, finalmente, ele assentiu.
— Muito bem. Temos um acordo.
Antes que pudessem continuar, a porta se abriu, revelando um dos conselheiros do Duque. Ele entrou apressadamente, fazendo uma reverência curta.
— Desculpe a interrupção, Vossa Graça. Mas temos um problema na vila de Redmont.
Theodore franziu o cenho.
— Que tipo de problema?
— Um grupo de mercadores está se recusando a pagar os impostos devidos. Alegam que as condições da estrada tornaram o comércio inviável.
Ele suspirou e se levantou, já colocando seu manto sobre os ombros.
— Eu irei até lá imediatamente.
Isadora também se levantou.
— Eu vou com você.
O conselheiro olhou para ela, surpreso.
— Minha senhora, não acho que seja apropriado...
— Não importa o que você acha — interrompeu Theodore, olhando diretamente para Isadora. — Se ela quer ir, que vá. Mas espero que esteja preparada para lidar com o que encontrar.
Ela assentiu.
— Estou mais do que preparada.
A viagem até Redmont foi curta, mas desconfortável. O frio parecia ainda mais intenso fora das muralhas do castelo. Quando chegaram, encontraram um pequeno grupo de mercadores reunidos na praça principal, discutindo acaloradamente com os soldados do Duque.
Theodore desmontou de seu cavalo com a graça de um predador, sua presença imediatamente silenciando o grupo. Isadora desceu logo atrás, sentindo os olhares dos aldeões sobre si.
— Quem está no comando aqui? — perguntou Theodore, sua voz grave ecoando pelo espaço.
Um homem de meia-idade, com roupas simples mas bem cuidadas, deu um passo à frente.
— Sou eu, Vossa Graça. Meu nome é Garrick.
— Então explique por que você e seu grupo se recusam a pagar os impostos.
— Não é uma questão de recusa, senhor — disse Garrick, tentando manter a compostura. — É uma questão de sobrevivência. As estradas estão quase intransitáveis. Perdemos metade de nossas mercadorias na última viagem. Se pagarmos os impostos, não teremos como sustentar nossas famílias.
Theodore ficou em silêncio por um momento, avaliando a situação.
— E por que não trouxe isso à minha atenção antes?
— Tentamos, Vossa Graça, mas não conseguimos audiência.
Antes que Theodore pudesse responder, Isadora deu um passo à frente.
— Se as estradas são o problema, por que não organizaram um esforço coletivo para repará-las?
Garrick olhou para ela, surpreso.
— Não temos recursos, minha senhora.
— Talvez não recursos, mas têm mãos e força. E se a corte do Norte fornecesse materiais? Vocês poderiam trabalhar juntos para restaurar as estradas e retomar o comércio.
Houve um burburinho entre os mercadores, e até mesmo Theodore olhou para ela com interesse.
— Essa é uma solução prática — disse ele, finalmente. — Se vocês concordarem em colaborar, eu posso liberar os materiais necessários.
Garrick e os outros mercadores trocaram olhares antes de assentirem.
— Concordamos, Vossa Graça.
Theodore virou-se para Isadora, um leve sorriso tocando seus lábios.
— Parece que você tem um talento para lidar com pessoas.
Ela sorriu de volta, satisfeita.
— Apenas tento usar o bom senso.
Quando retornaram ao castelo, Theodore acompanhou Isadora até a entrada de seus aposentos.
— Você está se saindo melhor do que eu esperava, Isadora.
— E isso é um elogio, Duque? — brincou ela, provocando um sorriso genuíno em Theodore.
— Talvez seja.
Enquanto ele se afastava, Isadora sentiu que, aos poucos, estava conquistando algo mais do que a aprovação do Duque. Talvez estivesse ganhando o respeito dele também.
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Atualizado até capítulo 101
Comments
Glaucia Marques Gomes
Isadora, destemida, inteligente, trabalhadora, disposta a ajudar.... ansiosa por mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais mais
2024-12-29
3
Ingrid Ferreira Rodrigues
Que diacho de tanto acordo, já fizeram bem uns 50 nessa arrumação
2025-02-14
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