Capítulo 15: Testando os Limites

Os jardins da propriedade dos duques do Norte eram vastos e cobertos por flores resistentes ao frio intenso. Isadora caminhava por eles ao lado de sua dama de companhia, Adeline, enquanto respirava o ar gelado e refletia sobre os desafios que enfrentaria. Desde que anunciara sua aliança com o Duque Theodore, a reação da sociedade havia sido avassaladora. Mas o peso maior vinha de sua própria família, que se recusava a aceitar sua decisão.

Naquela manhã, seus pais haviam chegado inesperadamente ao castelo, e Isadora sabia que enfrentaria uma tempestade. Ela não estava disposta a ceder, mas seria testada como nunca antes.

— Minha senhora, eles estão esperando no salão principal — informou Adeline, visivelmente preocupada. — Seu pai parecia... muito irritado.

Isadora parou de caminhar e respirou fundo. Seus olhos cinzentos estavam firmes.

— Ele terá que aprender que não sou mais uma menina obediente. Vamos.

Adeline assentiu e a seguiu até o salão principal, onde Imperador e Imperatriz estavam, os pais de Isadora, estavam aguardando. Ao vê-la entrar, Imperador levantou-se imediatamente, seu rosto vermelho de raiva.

— Isadora! Que tipo de loucura é essa? — gritou ele. — Você perdeu o juízo?

Imperatriz sentada ao lado do marido, parecia igualmente indignada.

— Uma aliança com o Duque Theodore? O que você estava pensando? Ele é um monstro, uma aberração! — acrescentou ela, com desprezo.

Isadora manteve a compostura, caminhando até o centro da sala com a cabeça erguida.

— Eu estava pensando na minha liberdade — respondeu ela, sua voz calma, mas carregada de determinação. — Algo que nunca me foi concedido enquanto vivi sob o controle de vocês.

Imperador deu um passo à frente, apontando o dedo para ela.

— Isso não é liberdade, Isadora! Isso é uma insubordinação! Você é nossa filha e deve obedecer às nossas ordens. Esse casamento é uma afronta à nossa família!

— Não, pai — retrucou Isadora, seu olhar frio. — A afronta à nossa família é a maneira como sempre me trataram. Como um peso, como uma moeda de troca. Vocês nunca se importaram comigo de verdade.

Imperatriz levantou-se, ajustando o vestido com um gesto tenso.

— Está sendo ingrata! Tudo o que fizemos foi para o seu bem. Colocar você no palácio do imperador do Leste, ao lado do imperador, era a maior honra que podíamos lhe conceder.

Isadora riu amargamente, cruzando os braços.

— Honra? Ser um peão no jogo político de vocês? Ser entregue a um homem como Severiano, que já deixou claro o que pensa de mulheres? Não, mãe. Isso não é honra. Isso é crueldade.

Imperador aproximou-se mais, seu tom ameaçador.

— Você vai cancelar esse casamento com o Duque Theodore. Vamos levá-la de volta para casa e encontrar uma solução adequada.

Isadora ergueu o queixo, encarando o pai sem medo.

— Não vou cancelar nada. Já tomei minha decisão, e vocês terão que aceitá-la.

— Você acha que pode nos desafiar assim? — Imperador gritou, a raiva transbordando.

— Acredito que posso — retrucou Isadora, firme. — Porque não sou mais aquela menina que vocês podiam controlar com ameaças e ordens. Eu escolhi o meu caminho, e vocês não têm poder sobre ele.

Imperatriz, que tentava manter a calma, interveio, com a voz cheia de desprezo.

— E o que você acha que vai conseguir com isso, Isadora? Vai se esconder no Norte com esse homem que todos temem? Você está destruindo sua reputação, seu futuro!

Isadora deu um passo à frente, aproximando-se de ambos.

— Meu futuro nunca foi de vocês para destruir ou controlar. Pela primeira vez, ele é meu. E, sim, vou me aliar ao Duque Theodore, porque ele me respeita mais do que vocês jamais respeitaram.

A sala ficou em silêncio por um momento. Imperador parecia prestes a explodir novamente, mas foi interrompido pela chegada de Theodore, que entrou no salão com passos firmes. Sua presença era imponente, e o olhar frio que lançou para os pais de Isadora os fez hesitar.

— Algum problema? — perguntou ele, sua voz grave ecoando pela sala.

Imperandor endireitou-se, tentando recuperar a postura.

— Isso não é da sua conta, Duque. Estamos discutindo assuntos familiares.

Theodore inclinou a cabeça levemente, mas sua expressão permaneceu séria.

— Isadora agora faz parte da minha casa. Qualquer assunto que diga respeito a ela também é da minha conta.

Imperatriz lançou um olhar de desprezo para Theodore.

— Você acha que pode simplesmente levá-la para o Norte e fazê-la sua esposa? Sem enfrentar as consequências?

Theodore deu um passo à frente, sua presença dominando a sala.

— Eu não acho. Eu sei. E se alguém tentar impedi-la, enfrentará as consequências.

Isadora olhou para Theodore, surpresa pela firmeza em sua defesa. Ela sorriu levemente, sabendo que havia encontrado um aliado verdadeiro.

— Como vê, pai, mãe — disse ela, voltando-se para os dois. — Eu não estou sozinha. E não vou ceder. Podem ameaçar, gritar, mas minha decisão está tomada.

Imperador respirou fundo, tentando controlar a raiva.

— Você está cometendo um erro, Isadora. Um erro que vai custar caro.

— O único erro que cometi foi não ter me defendido antes. — Isadora endireitou-se, seus olhos brilhando com determinação. — Agora, por favor, se terminamos, tenho muito a fazer.

Imperatriz levantou-se, puxando o braço do marido.

— Vamos, querido. Parece que nossa filha decidiu destruir a própria vida.

Os dois saíram, deixando Isadora e Theodore sozinhos no salão. Ela suspirou, sentindo o peso da conversa.

— Eles nunca aceitarão isso — disse ela, quase para si mesma.

Theodore aproximou-se, cruzando os braços.

— Eles não precisam aceitar. Só precisam entender que você não é mais propriedade deles.

Isadora olhou para ele, um brilho de gratidão em seus olhos.

— Obrigada, Theodore. Por me apoiar.

Ele assentiu, com um leve sorriso.

— Não é apoio. É respeito. Você merece ser ouvida, Isadora. E, enquanto estiver ao meu lado, ninguém a fará se sentir menos do que é.

Isadora sentiu um calor inexplicável ao ouvir aquelas palavras. Pela primeira vez em anos, sentiu-se verdadeiramente livre.

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