O som da música ecoava pelo salão. Isadora estava ali, parada em meio a uma multidão, e por mais que tentasse parecer calma, a ansiedade corria em suas veias. Era o primeiro baile que ela participaria desde que "retornara à vida". A primeira vez em que se veria diante da corte, com todos os olhares a observando, como uma jovem princesa de 15 anos, mas com as cicatrizes de uma mulher que já vivera uma vida inteira. E todos aqueles ao seu redor seriam cegos ao que ela sabia. Eles veriam apenas a Isadora, que não passou de uma mera criança aos olhos deles.
Ela respirou fundo, tentando afastar os pensamentos que a atormentavam. Seus cabelos negros estavam soltos, ondulando suavemente até sua cintura, e seus olhos cinza, antes marcados pela dor, agora refletiam apenas a inquietação. Mas nada disso importava. Era a roupa que as pessoas notariam, o vestido que ela escolheu. Uma peça extravagante, sensual, de um vermelho profundo, adornado com bordados dourados que reluziam sob as velas. O decote ousado, o corte que delineava sua figura, tudo aquilo chamava a atenção. Ela sabia que muitos a julgariam. Ela sabia que a inveja e o desdém seriam visíveis, mas isso era algo que ela não podia evitar. Era o preço da sua segunda chance.
Ela desceu as escadas do grande salão com uma postura altiva, com passos decididos e um sorriso tranquilo, mas seu coração batia descompassado. A cada olhar que se voltava para ela, Isadora sentia o peso da observação. Ela não era mais uma jovem inocente. Sabia o que eles pensavam, sabia o que eles veriam. Mas também sabia o que queria: respeito.
A primeira pessoa a cruzar seu caminho foi a duquesa Alina, uma mulher conhecida por sua língua afiada e seu olhar crítico. Ela parecia aguardar exatamente aquela oportunidade para lançar um comentário venenoso.
— Isadora, minha querida — disse a duquesa, seu sorriso falso e os olhos estreitos de julgamento. — Eu não sabia que a nossa princesa tinha um gosto tão... ousado. O vestido é, sem dúvida, um escândalo. Não se importa de ser o centro das atenções, não é?
Isadora levantou uma sobrancelha e olhou diretamente nos olhos da duquesa, sem demonstrar a menor insegurança. Ela sabia que Alina estava tentando provocar, mas, ao invés de se curvar ao sarcasmo, respondeu com uma calma que até mesmo a duquesa não esperava.
— Sempre gostei de ser notada, Alina. Afinal, quem não gosta de ser vista?
A resposta foi curta, mas certeira. A duquesa apenas sorriu, mas seus olhos estavam frios. Ela não esperava que Isadora respondesse tão diretamente, sem se intimidar.
Isadora passou por ela, com os ombros firmes e a cabeça erguida. Não havia mais espaço para inseguranças em sua vida. O que ela tinha passado, o que ela sabia do futuro, a tornava imune aos julgamentos daqueles que viam sua aparência e não sua alma.
O baile continuava ao seu redor, e os murmúrios sobre ela não paravam. Ela sentia os olhares se arrastando por seu corpo, os sussurros atrás de sua costa. Muitos a viam como um enigma, uma jovem de uma beleza exótica, mas de um comportamento tão ousado quanto seu vestido. Os cabelos negros e os olhos cinza davam-lhe uma aura de mistério, algo que a sociedade não estava acostumada a ver em uma princesa. Eles queriam algo mais doce, mais pura, menos desafiante. Mas Isadora não tinha mais tempo para se adequar ao que os outros esperavam.
Ela foi até o centro da pista de dança, onde um pequeno grupo de jovens príncipes e duques se reunia. O olhar do príncipe Julian, um jovem encantador com o sorriso fácil, cruzou com o dela, e ele não conseguiu esconder o fascínio.
— Princesa Isadora, está absolutamente deslumbrante esta noite — disse ele, com um sorriso encantador e os olhos brilhando. Ele deu um passo à frente e estendeu a mão. — Gostaria de dançar comigo?
Isadora observou o príncipe com uma expressão suave. Ela sabia que ele era um bom partido, respeitado, desejado pelas mulheres da corte. Mas ela não se sentia atraída por ele. Sabia que sua presença ali era um simples reflexo das expectativas da sociedade, uma maneira de os homens da corte tentarem afirmar sua superioridade ao lado dela.
Ela olhou em volta, vendo os olhos de várias mulheres invejosas, e decidiu que essa noite, ela não seria passiva. Não seria mais uma mulher colocada em uma posição submissa. Ela aceitou a mão do príncipe, mas não sem um toque de desafio.
— Eu adoraria, príncipe Julian — respondeu com um sorriso que beirava a ironia.
Eles começaram a dançar, mas Isadora não podia deixar de sentir as tensões ao seu redor. O príncipe, apesar de seu charme, não era o que ela procurava. Ele era uma distração, uma peça no tabuleiro que ela sabia que tinha que jogar de forma estratégica. Não podia se entregar a essas pequenas tentações da corte. Ela sabia que Severiano ainda era uma sombra, prestes a entrar em sua vida novamente, e, para isso, ela precisava estar forte.
Enquanto dançavam, Isadora viu a expressão de desgosto no rosto da duquesa Alina, que observava de longe. O príncipe Julian era desejado por muitas, e ver Isadora aceitando sua companhia foi, sem dúvida, um golpe para seu ego. Mas Isadora se sentia estranhamente poderosa. O olhar da sociedade, o julgamento constante, tudo aquilo só a alimentava. Ela sabia que estava sendo observada, mas também sabia que não seria mais uma peça controlada.
Quando a dança terminou, o príncipe Julian a conduziu até a beirada da pista. As mãos de Isadora estavam ligeiramente suadas, não de nervosismo, mas de um tipo de antecipação. Ela sentia a pressão crescendo à medida que mais e mais pessoas observavam seus movimentos. Mas, em vez de se sentir insegura, ela sentia um poder nascente. Ela estava pronta para jogar o jogo deles, mas com suas próprias regras.
— Você é... interessante, princesa — disse o príncipe Julian, ainda tentando entender a jovem diante dele. Ele inclinou a cabeça, curioso. — Mas acho que você tem algo mais a oferecer do que apenas beleza.
Isadora sorriu de forma enigmática, sabendo que ele não compreendia completamente sua essência.
— O que posso oferecer é o que você escolher enxergar, príncipe. — Ela o olhou com um olhar direto. — Às vezes, a beleza é apenas a superfície.
Com essas palavras, ela deu uma breve despedida e se afastou dele, caminhando sozinha pelo salão. Ela sabia que seu destino estava sendo escrito ali, à medida que os olhares de curiosidade e desdém se voltavam para ela. Não se importava mais. O que mais poderia acontecer? Ela já estava pronta para enfrentar tudo, incluindo a traição de todos os que a cercavam. Era apenas o começo. Ela havia tomado uma decisão: seria vista e não se esconderia mais nas sombras.
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Atualizado até capítulo 101
Comments
Maria Lucia
por favor não demore para atualizar
2024-12-27
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Maria Lucia
adoro estas estórias,por favor
2024-12-27
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