A noite havia caído, e o baile, com seus brilhos e sorrisos forçados, começava a se dispersar. Isadora, em sua caminhada silenciosa pelos corredores do palácio, ainda refletia sobre a proposta do Duque do Norte. A conversa com Theodore a deixara pensativa, mas também curiosa. Quem, afinal, era o homem que havia se oferecido para uma aliança tão arriscada? Sabia-se que ele era poderoso, mas o que mais se escondia sob aquela fachada implacável?
Antes de poder aprofundar suas reflexões, uma figura surgiu no final do corredor. Era uma das damas de companhia do palácio, a jovem Helena, que se aproximou de Isadora com um olhar apreensivo. As palavras de Helena foram diretas, sem rodeios, como se já soubesse que a princesa estava pronta para ouvir o que estava por vir.
— Princesa Isadora — começou Helena, sua voz baixa e cuidadosa. — Há algo que talvez devesse saber sobre o Duque do Norte. Algo que poucos falam abertamente.
Isadora, curiosa, a observou atentamente. Não costumava dar ouvidos aos rumores, mas aquele tom sério e a expressão desconfortável de Helena a intrigaram.
— O que você quer dizer, Helena? — perguntou ela, suavemente, para que a dama não se sentisse constrangida. — O que há de tão importante sobre o Duque?
Helena hesitou por um momento, olhando em volta para se certificar de que ninguém os escutava. Então, com um suspiro, ela se inclinou mais perto de Isadora e sussurrou:
— Eles o chamam de... O "Monstro do Norte". E o que eu vou lhe contar não é para os ouvidos de todos. Há muitas histórias, lendas e até algumas que chegam a ser verdade. As pessoas temem muito mais a ele do que dizem.
Isadora franziu a testa, não deixando transparecer a surpresa em seu rosto. O nome Duque do Norte já era famoso, mas o título de “monstro” era algo que a pegava de surpresa. Não havia como ignorar o tom de medo e respeito que cercava o Duque. Contudo, ela sabia que, em seu papel de aliada, precisaria conhecer tudo o que pudesse sobre ele.
— Lendas? — repetiu Isadora, interessada. — Que tipo de lendas?
Helena olhou ao redor uma vez mais e então começou a falar, com a voz mais baixa, como se quisesse evitar que alguém escutasse.
— Algumas pessoas dizem que o Duque do Norte não é inteiramente humano. Que ele carrega uma maldição, algo que o transformou em uma criatura... algo além da compreensão humana. Falam que ele pode desaparecer nas sombras, se mover de forma sobrenatural, que seus olhos brilham em momentos de raiva, como se fossem fogo. Há quem diga que ele não sente dor e que já foi responsável pela morte de muitos de seus inimigos, sem remorso algum.
Isadora a observava atentamente, absorvendo cada palavra, embora soubesse que, em se tratando de rumores da corte, a verdade sempre era distorcida. Mas havia algo no olhar de Helena, algo de genuíno medo, que a fez considerar a possibilidade de que essas histórias tinham mais fundamento do que ela queria acreditar.
— Eu não sei o que é verdade, Princesa. — Helena continuou, baixando ainda mais a voz. — Mas a maior parte dos servos que o conhecem falam em sussurros. Dizem que ele faz tudo o que for necessário para proteger seu domínio. Ele é... implacável. E aqueles que falham em cumprir suas ordens, bem... as consequências são... terríveis.
Isadora sentiu um arrepio na espinha, mas não queria demonstrar qualquer fraqueza. Ela já havia tomado a decisão de que se casaria com alguém, e seria aliada do Duque do Norte, e não deixaria rumores infundados mudarem isso. Porém, a ideia de estar prestes a se unir a um homem com tal reputação a fazia questionar a profundidade desse “monstro” que ela estava prestes a conhecer melhor.
— E você acredita nesses rumores? — perguntou, com a voz firme, embora dentro dela algo estivesse começando a se agitar.
Helena deu um sorriso amargo, como se tivesse se acostumado com a ideia de que nada poderia mudar o que já estava enraizado na sociedade.
— Eu não sei, princesa. Mas posso lhe dizer que há uma razão pela qual ninguém ousa desafiá-lo. O Duque não é uma figura qualquer. Ele é... uma força que ninguém pode controlar. — Ela fez uma pausa, como se medisse as palavras que seguiram. — Eu ouvi falar de pessoas que o desafiaram. Eles nunca mais foram vistos. Alguns dizem que ele os levou para o Norte e... o resto é um mistério.
Isadora engoliu em seco, sentindo o peso dessas palavras se infiltrando em sua mente. Ela tinha conhecimento do poder de Theodore, mas agora parecia que ele estava imerso em algo muito mais obscuro, uma camada de sombras e mistério que a tornava ainda mais fascinante e, ao mesmo tempo, aterradora. Contudo, uma parte de Isadora se perguntava se essas lendas não eram uma maneira de as pessoas descreditarem quem ele realmente era, mantendo-o isolado e distante da sociedade.
— O que você acha que ele quer, Helena? — perguntou ela, olhando para a dama com mais intensidade. — Quero dizer, se ele é tão temido e respeitado, por que ele se ofereceu se meu aliado?
Helena hesitou, mas depois de uma pausa considerável, respondeu:
— Eu não posso falar pelos pensamentos do Duque, princesa. Mas sei que o Norte é muito mais do que parece. Ele não faz nada sem ter um motivo. Todos sabem que ele não se importa com a política da corte, mas ao mesmo tempo, ele está sempre observando, analisando, esperando pelo momento certo. Eu diria que ele não faz nada sem querer algo em troca. Algo que ninguém mais conseguiria alcançar.
Isadora sentiu seu coração bater mais rápido, agora com uma mistura de apreensão e curiosidade. Tudo o que ela sabia sobre Theodore até aquele momento parecia se transformar em uma incógnita ainda maior. O que ele realmente queria com ela? Seria possível que, por trás de sua fachada de "monstro", ele fosse apenas um homem que, assim como ela, estava apenas tentando se livrar de suas próprias correntes?
— Obrigada, Helena. — Isadora disse suavemente, tentando manter a compostura. — Você me deu muito em que pensar.
Helena fez uma reverência e se afastou, mas antes de virar o canto do corredor, Isadora a ouviu murmurar:
— Cuidado com o Duque, princesa. O Norte é implacável, mas suas lendas... são reais.
Ficando sozinha, Isadora olhou para o vazio do corredor, sentindo o peso das palavras de Helena sobre ela. Ela sabia que sua decisão não seria fácil. Aliança poderia ser sua única saída, mas agora, com as sombras da lenda pairando sobre ele, tudo parecia mais complicado. A dúvida começava a se infiltrar em seus pensamentos, mas uma coisa era certa: ela precisava se preparar para o que estava por vir, pois as lendas do Duque do Norte, Theodore, pareciam ser apenas o começo de um jogo muito mais perigoso.
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Atualizado até capítulo 101
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