Isadora não conseguia entender. Tudo ao seu redor parecia familiar, mas, ao mesmo tempo, distante, como se ela estivesse presa em um pesadelo. A sensação de estar de volta a um tempo que ela pensava ter superado era estranha, como se o passado tivesse se dobrado sobre si mesma, trazendo-a de volta sem aviso.
Ela estava em seu quarto, mas não o seu quarto de imperatriz. Era o quarto de quando ela tinha 15 anos, quando ainda era uma jovem princesa cheia de sonhos, antes de seu casamento arranjado com Severiano. As cortinas de seda lilás ainda estavam no lugar, as flores frescas em um vaso de cristal sobre a escrivaninha, o retrato de sua família na parede.
— Não... — sussurrou Isadora, levantando-se rapidamente da cama. O choque a fez tonta, e ela quase caiu de volta sobre o colchão. As mãos tremiam enquanto ela tentava se equilibrar.
O espelho de corpo inteiro, que sempre esteve em seu quarto, refletiu sua imagem. Seus olhos estavam mais jovens, sua pele mais suave e sua expressão, menos marcada pelas angústias que ela carregara na vida anterior. Era a Isadora de 15 anos, com os mesmos cabelos castanhos escuros, agora brilhando de maneira saudável, e os olhos, antes cansados e amargos, pareciam agora cheios de vida.
Ela tocou o reflexo com a ponta dos dedos, sua respiração ficando mais pesada. Não podia ser.
— Isso não pode ser real... — murmurou, sua voz rouca. Ela sentia o mesmo calor do passado, as mesmas emoções conflitantes, mas a verdade parecia impossível. O tempo não poderia ter voltado para trás.
— Isadora?
A voz suave de sua mãe soou do outro lado da porta. O coração de Isadora deu um salto. Ela não podia acreditar no que estava ouvindo. A porta se abriu, e a figura de sua mãe apareceu, com os cabelos dourados ondulando suavemente. Ela estava usando o vestido simples de manhã, com um sorriso caloroso no rosto.
— Querida, você está bem? — A expressão de sua mãe era preocupada, como se ela tivesse se assustado com o que quer que estivesse acontecendo.
Isadora deu um passo para trás, seu olhar fixo na mulher à sua frente.
— Mãe? — Sua voz falhou. Ela sentiu um nó na garganta. Era real. Sua mãe, que havia morrido pouco tempo depois do casamento de Isadora, estava ali, viva e bem.
A mulher entrou no quarto, aproximando-se com passos suaves.
— Você parece pálida, minha filha. Estava tendo um pesadelo? — perguntou, colocando a mão na testa de Isadora, como se verificasse a temperatura.
Isadora sentiu o toque e estremeceu. Tudo parecia tão real, mas o que estava acontecendo? Como ela poderia voltar no tempo? Ela não podia entender.
— Eu... não sei — respondeu, sua voz trêmula. Ela não sabia como explicar. Como contar à mãe que ela havia morrido nas mãos de Severiano e agora estava de volta a um tempo que parecia antes de tudo aquilo acontecer? Ela ainda estava processando a informação.
A mãe olhou-a atentamente, com um sorriso gentil.
— Está tudo bem. Se precisar de algo, estarei na sala. Acorde quando se sentir melhor.
Isadora assentiu automaticamente, ainda sem saber o que fazer. Quando sua mãe saiu, ela ficou sozinha novamente, suas mãos pressionadas contra a testa, tentando entender o que estava acontecendo.
— O que eu faço agora? — sussurrou para si mesma, olhando em volta, tentando encontrar alguma explicação lógica.
Ela se aproximou da janela e olhou para o jardim abaixo. O sol estava brilhando, as árvores balançando suavemente com a brisa matinal. A visão a fez sentir um frio na espinha. Estava tudo tão... normal. Tudo estava como antes. Como se o destino tivesse retrocedido.
— Se isso é um sonho... — começou, tentando controlar o pânico que ameaçava tomar conta dela. — Se isso for realmente um sonho, então eu preciso mudar o que aconteceu. Não posso deixar que o mesmo destino se repita.
Ela deu um passo para fora do quarto, decidida. Agora, o que a esperava era o passado. E ela não podia deixar que o futuro acontecesse como na vida anterior. Isadora sabia que sua morte estava próxima, mas ela não tinha intenção de permitir que isso se concretizasse novamente.
Ao descer as escadas, o ambiente do castelo parecia acolhedor, mas estranho. As conversas ao longe, os sons dos criados trabalhando, tudo parecia o mesmo, mas a sensação de ter voltado no tempo tornava tudo surreal.
Ela passou pela sala principal, onde alguns dos conselheiros do imperador estavam discutindo, e se dirigiu até o jardim. Isadora precisava pensar, precisava tomar decisões, mas o peso da realidade de sua morte anterior estava esmagando seu peito. Como ela poderia evitar isso?
Foi quando, ao atravessar o jardim, viu uma figura à distância.
— Isadora, minha princesa!
Era Lázaro, um dos cavalheiros mais próximos da corte. Na vida anterior, ele sempre havia sido amigável e até protetor com ela. No entanto, ela sabia que sua morte estava entrelaçada com a traição e manipulação de muitos ao seu redor. A curiosidade em seu olhar a fez parar.
— Lázaro — disse ela, tentando manter a calma, mas a surpresa era evidente em sua voz. — O que está fazendo aqui?
Lázaro sorriu.
— A princesa estava se sentindo mal. O que aconteceu?
Ele se aproximou com um semblante preocupado, e Isadora sentiu o coração apertar. Era tão fácil confiar nas pessoas que pareciam amá-la, mas a traição de todos a havia deixado cética.
— Não me sinto bem. Preciso... de um tempo. — Ela não sabia como lidar com as palavras. O que dizer? Como explicar o que estava acontecendo com ela?
Lázaro a olhou com desconfiança, notando sua expressão perturbada, mas não perguntou mais.
— Espero que melhore logo, minha princesa.
Isadora o observou se afastar, e ao fazer isso, ela sentiu um vazio dentro de si. Todos estavam lá, mas nada seria o mesmo. Ela não poderia permitir que o destino a pegasse de surpresa novamente.
Ela agora tinha uma oportunidade. Uma segunda chance. Mas o que fazer com ela? O peso da responsabilidade caía sobre seus ombros. O futuro já não era mais tão claro. Ela precisava ser mais astuta. Mais forte. Mais inteligente.
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Atualizado até capítulo 101
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