Isadora acordou mais uma vez naquele quarto, mas agora não havia mais a dúvida se estava sonhando ou não. Ela estava de volta à sua juventude, aos seus quinze anos, vivendo uma realidade que, para muitos, poderia ser vista como uma segunda chance. Mas para ela, tudo era um eco doloroso de sua morte. As memórias da violência que Severiano lhe infligiu, o momento final em que sua vida foi tirada, ainda estavam frescas em sua mente, como se sua alma ainda estivesse presa àquele momento.
Ela levantou-se da cama, o tecido do vestido roçando sua pele como se o peso daquilo tudo fosse real. Seus olhos se fixaram na janela, onde a luz suave da manhã iluminava o jardim. Mas, por mais lindo que fosse o cenário, sua mente só conseguia reviver o pesadelo da noite em que perdeu tudo. A dor do golpe, o som do cetro contra sua pele, a frieza no olhar de Severiano — tudo isso se repetia em sua cabeça, uma e outra vez, como se a morte não tivesse sido um fim, mas um ciclo interminável.
Com um suspiro pesado, ela se aproximou da penteadeira e olhou para seu reflexo no espelho. As mesmas feições suaves, o olhar jovem, mas dentro de si, a mulher que já foi imperatriz, que foi traída pela própria família, estava em guerra consigo mesma. Como ela poderia seguir em frente? Como ignorar o que havia acontecido? A dor da traição, a mentira de sua dama de companhia, Lauriana, ainda queimava em seu peito, e, acima de tudo, o homem que ela amara. Severiano, estava agora marcado como o responsável por sua queda.
— Isadora? — A voz de sua mãe ecoou do outro lado da porta, interrompendo seus pensamentos. Ela rapidamente limpou uma lágrima que teimava em escapar de seus olhos.
— Mãe? — Sua voz saiu mais fraca do que ela gostaria, e ela se virou para a porta, onde a figura de sua mãe apareceu. A mulher entrou, com um sorriso preocupado no rosto.
— Você está bem? Parece tão distante hoje. — A mãe caminhou até ela, colocando a mão sobre a dela, com um olhar de afeto. — Se precisar conversar, estarei aqui, querida.
Isadora sentiu o coração apertar no peito. Como ela poderia dizer à mãe que estava revivendo sua morte? Como explicar que, apesar de seu corpo ser jovem novamente, sua alma carregava o peso de uma vida inteira, marcada pela dor e pelo abandono? Ela não sabia. Não sabia se poderia confiar em ninguém. A sensação de estar presa em um pesadelo era avassaladora.
— Eu só... — Ela hesitou, olhando para as mãos trêmulas. — Só estou tentando entender o que está acontecendo comigo, mãe. É como se o tempo tivesse voltado, mas... ao mesmo tempo, eu sei o que vai acontecer.
Sua mãe a observou com atenção, franzindo o cenho.
— Eu sei que está passando por algo difícil, minha filha, mas confie em mim, tudo ficará bem. Você não está sozinha, Isadora.
As palavras, ditas com tanto carinho, só aumentaram o peso no peito dela. Isadora queria acreditar, mas como poderia? O que ela poderia fazer para evitar que o destino se repetisse? Ela ainda estava tentando aceitar que estava de volta à sua juventude, uma chance que, até então, parecia mais uma cruel brincadeira do destino.
A mãe de Isadora, percebendo a expressão perturbada da filha, tentou mudar de assunto.
— Você não quer vir até a sala comigo? O café da manhã já está pronto, e talvez uma boa refeição possa ajudá-la a se sentir melhor.
Isadora queria recusar, mas sabia que precisava manter as aparências. Ainda não estava pronta para revelar nada sobre o que estava acontecendo, então deu um sorriso forçado e seguiu sua mãe. Quando chegaram à sala de jantar, a luz suave da manhã entrava pelas janelas altas, iluminando o ambiente luxuoso, mas para Isadora, tudo parecia sombrio.
Os servos estavam arrumando a mesa, e sua mãe se sentou à cabeceira, com um sorriso sereno no rosto. Isadora se sentou, mas não conseguia se concentrar na comida. Suas mãos estavam tremendo novamente, e a imagem do imperador, de seu rosto tão frio e cruel, invadia sua mente. Ele nunca a amou. Ela havia sido uma peça em seu jogo, um troféu para ser exibido. E agora, ele estava distante, mas ainda presente em sua mente, um espectro que não a deixaria em paz.
— Está tudo bem, querida? — A voz da mãe de Isadora interrompeu seus pensamentos, e ela olhou para a mulher, tentando disfarçar a tempestade que se passava em sua mente.
— Sim, mãe. Só... não me sinto bem. Acho que estou um pouco cansada. — A mentira saiu facilmente, mas o peso da verdade a sufocava. Como ela poderia seguir em frente com sua vida, sabendo que a traição e a morte a aguardavam no futuro?
— Eu entendo. Se quiser descansar, fique à vontade. — A mãe sorriu suavemente e, depois de um momento de silêncio, acrescentou. — Mas lembre-se, Isadora, o tempo é um presente, e a vida pode ser bem diferente do que imaginamos.
Essas palavras pareciam simples, mas eram como uma flecha envenenada em sua mente. A vida poderia ser diferente, sim. Ela poderia mudar o curso do destino, mas a dor do passado ainda a assombrava. Ela não conseguia esquecer a dor da lâmina do cetro, a frieza no olhar de Severiano. A sensação de ser traída e abandonada por todos ainda estava fresca em sua memória, e a ideia de reviver tudo isso, com os mesmos personagens, as mesmas promessas quebradas, era insuportável.
Ela não podia deixar isso acontecer novamente. Não podia se entregar ao destino que a aguardava.
— Eu vou tentar, mãe — respondeu, forçando um sorriso que não atingia seus olhos. — Vou tentar encontrar meu caminho.
A mãe, feliz em ver sua filha aparentemente mais animada, se levantou da mesa, deixando Isadora sozinha com seus pensamentos. A jovem princesa olhou para a mesa à sua frente, os pratos de comida agora parecendo inúteis. Ela sabia o que tinha que fazer. A primeira coisa era evitar que o casamento com Severiano acontecesse. Mas como? Ele ainda era uma peça importante na corte. A ideia de ficar longe dele parecia impossível.
O que ela faria quando o imperador se aproximasse dela novamente? O que faria quando fosse forçada a se casar com ele, como já acontecera em sua vida anterior?
A angústia a consumiu. Ela estava vivendo, mas o peso do passado a impedia de viver plenamente. Mesmo com a segunda chance que o destino lhe dera, Isadora sabia que o maior inimigo dela era o próprio tempo. Ela não tinha muito. E, ao contrário do que todos pensavam, o futuro não estava em suas mãos. O passado ainda ditava suas ações, e, mais uma vez, ela se sentia uma prisioneira.
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Atualizado até capítulo 101
Comments
Maria Lucia
hoje 26 dezembro estou lendo a estória
2024-12-27
1
Frederica Ribeiro
fica longe do imperador, não vá ao encontro do destino, faça um desvio
2025-01-03
2