O Cisne Negro da Família
A dor vinha como ondas incansáveis, cada uma mais cruel do que a anterior. Isadora estava deitada no chão frio da sala do trono, o vestido de seda vermelho agora encharcado com o sangue que escorria de seu peito. O cetro dourado que tantas vezes ela segurara ao lado do imperador estava agora nas mãos dele, ainda sujas do golpe que ele acabara de desferir.
— Você... prometeu... — A voz dela saiu fraca, mas carregada de uma incredulidade amarga.
Severiano, o homem que ela havia amado, protegendo-o contra conspirações e dedicando sua vida ao trono, olhava para ela com frieza. Seus olhos dourados, que um dia foram cheios de paixão, estavam agora vazios, refletindo apenas desprezo.
— Eu prometi muitas coisas, Isadora — disse ele, sua voz cortante como lâmina. — Mas nada que envolvesse poupar traidoras.
Ela tentou rir, mas tudo o que conseguiu foi um gemido enquanto o gosto metálico do sangue preenchia sua boca.
— Traidora... você sequer sabe o significado dessa palavra.
Severiano abaixou-se, trazendo o rosto para mais perto do dela. O sorriso dele era um misto de arrogância e satisfação.
— Sei, sim. É alguém que conspira contra o império... e contra mim.
— E minha dama de companhia? — Isadora sussurrou, seus olhos marejados agora fixos no rosto do homem que a havia condenado. — Onde está ela? Ela... conseguiu o que queria, não foi?
Severiano hesitou por um momento, um detalhe quase imperceptível que Isadora, mesmo à beira da morte, captou. A sombra da dúvida passou por sua expressão antes que ele a substituísse por frieza novamente.
— A culpa não é dela, Isadora. Você caiu porque não soube manter sua posição.
A dor física quase se tornou secundária à pontada no coração dela ao ouvir aquelas palavras. Ele acreditava. Ele realmente acreditava que ela era a culpada, e não sua irmã mais nova, Lauriana, que havia planejado cada detalhe para destruir sua reputação.
— Você... foi manipulado. Severiano. — A voz de Isadora falhou, mas ela forçou-se a continuar. — Lauriana... ela mentiu. Sempre mentiu. Ela queria o trono... queria você.
Ele riu, o som ecoando pela sala do trono vazia.
— Sempre culpando os outros, não é? Lauriana me contou tudo. Os venenos que você tentou usar contra ela. As cartas de conspiração que você escreveu. Você jogou este jogo e perdeu.
Os olhos de Isadora começaram a ficar pesados, mas ela se recusava a fechar as pálpebras. Ela não queria dar a ele a satisfação de vê-la desistir.
— E você... acreditou nela... tão facilmente.
Severiano inclinou-se ainda mais, aproximando os lábios do ouvido dela.
— A verdade é que sempre foi você a usurpadora. Eu devia ter me livrado de você anos atrás.
Aquelas palavras foram a última gota. O homem que ela amava estava disposto a matá-la por mentiras que Lauriana havia plantado. Isadora tentou erguer a mão para tocá-lo, mas não havia mais forças em seu corpo.
— Eu... juro — murmurou ela, os olhos fixos nos dele. — Se eu pudesse voltar...
— Você não pode — ele a interrompeu com brutalidade, levantando-se e olhando-a de cima.
O som dos passos dele ecoou enquanto ele se afastava, deixando-a sozinha para morrer. Seu mundo começou a escurecer, mas antes que tudo desaparecesse, uma última memória veio à tona: Lauriana sorrindo enquanto segurava uma carta lacrada com o selo do imperador.
“Eu nunca serei como você, Isadora”, Lauriana havia dito. “Mas isso não significa que eu não possa tomar seu lugar.”
Um sorriso amargo curvou os lábios de Isadora. Lauriana não precisava tomar seu lugar. Ela já havia vencido.
A morte veio rápido, mas a consciência, de alguma forma, permaneceu. Isadora sentiu-se flutuar em um vazio onde tempo e espaço não existiam. Vozes indistintas ecoavam ao longe, mas nenhuma fazia sentido.
Então, uma voz clara e nítida irrompeu no silêncio:
— Você realmente aceitaria sua morte assim?
Isadora tentou responder, mas não tinha boca, nem corpo, nem forma.
— Você foi traída. — A voz continuou, firme e quase calorosa. — E ainda assim, seu coração só lamenta o amor perdido.
— Quem... é você? — A pergunta não saiu em palavras, mas em intenção.
A resposta veio como um sopro de calor.
— Eu sou o que você deseja que eu seja. Uma segunda chance. Uma vingança.
De repente, Isadora sentiu um puxão, como se estivesse sendo arrastada por uma corrente violenta. O vazio desmoronou ao seu redor, substituído por luzes e sombras que piscavam como relâmpagos em sua mente.
Quando abriu os olhos novamente, o ar parecia mais frio, mais denso, e a sensação de algo sólido sob seu corpo era quase alienígena. Suas mãos tremiam enquanto as erguia na frente de seu rosto, observando-as com descrença.
— Isso não... é possível.
O quarto ao seu redor era familiar, mas absurdamente diferente. As tapeçarias nas paredes eram as que sua mãe escolhera quando ela era uma garota. O espelho de moldura dourada estava onde ela sempre o vira... antes de seu casamento com Severiano.
Ela correu até o espelho, seu coração disparado. Quando olhou para o reflexo, quase caiu para trás.
Era ela... mas não a Isadora de sua morte. Esta era a Isadora de quinze anos.
— Eu voltei... — sussurrou, tocando o reflexo como se precisasse confirmar que era real.
De repente, o som de passos do lado de fora do quarto a fez congelar. A porta abriu-se com um rangido, revelando a figura de sua mãe.
— Isadora? Por que está tão pálida?
A voz da mulher era familiar, mas cheia de preocupação, algo que Isadora não ouvira nos últimos anos de sua vida anterior.
— Mãe... — Ela não conseguiu conter o tremor em sua voz. — Eu...
Sua mãe franziu o cenho, aproximando-se para tocar seu rosto.
— Você parece assustada, minha querida. Foi só um pesadelo?
Um pesadelo. Sim, era isso que parecia. Mas Isadora sabia a verdade. Ela havia morrido. E agora, estava viva novamente.
Mas desta vez, ela não seria a vítima. Desta vez, ela seria o cisne negro que sua família nunca esperou.
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Atualizado até capítulo 101
Comments
Marili Lima
pôr que não matar todos os que fizeram vc sofrer /CoolGuy//Cleaver/👉🏻👈🏻
2025-01-05
1
Vanessa Iris
agora o bicho vai pegar
2025-01-03
1