Além do Tempo Vol.1
“Depois de mais um dia de trabalho, aqui estou, tentando pôr minha
cabeça em ordem. Novidade. Mas, o dia hoje foi tão corrido que não tive tempo nem de ir ao
banheiro, isso é definitivamente ruim. Minha amiga, acabou de finalizar a ligação que durou uma hora e
meia, apenas jogando conversa fora. Agora, observando as luzes da cidade mais calmamente, sinto a
nostalgia que geralmente me abala hora ou outra, não sei de onde vem
ou como isso acontece, da mesma forma como não entendo a falta que
sinto de algo que não sei o que é e nunca tive. É algo incrivelmente
louco. Essa ponte em que estou tem história, se ela pudesse falar diria quantas vezes meu pai nos trouxe aqui, eram tempos favoráveis e
tranquilos. Lembro-me pouco, afinal tinha apenas sete anos. Esse número não me é agradável. Contudo, não pude deixar de vir para apreciar essa vista belíssima da
minha cidade. Depois da minha belezinha Black estacionada logo
atrás, esse local é o meu preferido. Poucas coisas na vida tomo como
algo prioritário, e essas duas coisas estão no ranking um pouco abaixo
do número um. Pois, lá se encontra uma jovem senhora chamada Rose, mais
conhecida como minha mãe. Dizem que sou a cara dela, mas a
personalidade é do meu pai sem dúvida. A começar por minha Black
que minha mãe odeia, mas fazer o que? Está no sangue. Me considero uma pessoa tranquila, na verdade sempre fui, eis o
motivo de orgulho para minha mãe durante o tempo colegial. Lembro-me
com muita nitidez dos tempos da escola, diferente da pouca
memória que tenho sobre aquele par de olhos vibrantes, escuros e
desafiadores. Faz quanto tempo? Alguns anos. Não entendi qual o mistério de uma
memória tão ruim, que não conseguiu guardar algo que foi tão intenso
naquele momento. Mas, o que fazer? Minha cabeça tem vida própria e
trabalha bem quando quer.”
Uma sensação de perda de repente a invade, fazendo com que seus
pensamentos sejam lançados para alguns anos atrás. “Faz três horas que estou aqui, melhor voltar” – com esse pensamento, sobe em sua moto e retorna para casa. Ao chegar em casa, por volta das nove horas da noite, Ana estaciona
na garagem e entra com cuidado, pois sua mãe deve estar no terceiro
sono essa hora.
- Demorou, mas chegou. – Rose diz, saindo das sombras de algum
lugar da casa, como se fosse enviada do além, vindo buscar sua alma.
- MÃE! – diz Ana tomando a cor da parede, quase translúcida.
- Assustada? Estava fazendo coisa errada? – diz semi cerrando os
olhos.
- Sério? Quem não se assustaria ao chegar em casa tarde, jurando que
todos estavam dormindo, quando de repente sai alguém vestido de branco
de um lugar que só tem a sombra da noite? Achei que minha
hora havia chegado!
Rose sorri disfarçadamente, negando com a cabeça, sobre a
peculiaridade de sua filha ter medo de espíritos, mas não ter medo
daquela invenção do capeta, chamada moto. A Black.
- Você poderia ao menos mandar uma mensagem, sabe que fico
preocupada. Consequentemente, não consigo dormir.
Compreendendo sua preocupação a jovem se aproxima, lhe dando um
abraço apertado.
- Certo, está bem, desculpe. Avisarei da próxima vez. Mas, não resisti
em ficar um pouco no nosso cantinho – sinal vermelho! Ela percebe
algo no olhar de sua mãe, que não consegue decifrar.
- Está bem – ela foi tão breve, para não dizer seca – Quer jantar?
- Eu me viro, vá descansar. Amanhã estou de folga, por volta das onze
horas vou na casa de Izabel, há dois dias combinamos de almoçar
juntas. – disse ainda tentando entender a mudança de humor repentina.
- Certo, faz tempo que não se veem. Seria bom para vocês. Ela diz com um sorriso carregado de... Tristeza? Para a percepção
Ana. Então resolve perguntar:
- Mãe, você está bem?
“Por favor não minta”
- Estou bem, apenas muito cansada.
“Sim, ela mentiu”
- Deve ser o trabalho, muitos anos de trabalho, o corpo vai cansando.
- Entendo, posso fazer um chá para melhorar.
- Não precisa, até amanhã filha - Ela diz, dando-lhe um beijo na testa e se afasta em direção ao seu
quarto.
Quando Rose se perde na escuridão do corredor, Ana vai para a
cozinha preparar algo rápido e leve para o jantar. Pensando que seria
melhor comer já de banho tomado e prontinha para dormir, se vê na
obrigação de largar o copo de macarrão instantâneo no micro-ondas e
ir ao banho. Depois termina isso.
Enquanto termina sua refeição, Ana lembra que já faz muito tempo
que não encontra alguém de uma forma romântica. Para ser mais
exato, desde o tempo em que ela tinha dezenove anos, o dia no qual
estava voltando da casa de uma amiga, que tinha ido levar alguns
trabalhos de um curso preparatório que fizera em finanças, não
querendo ir com sua moto resolveu pegar a condução. No ponto de ônibus, enquanto ela esperava em meio às outras pessoas, notou um belo rapaz, com uma mochila, um boné verde-escuro e
roupas descoladas monocromáticas.
Como ele estava à sua frente, não
dava para ver muito bem sua feição, mas o que pôde observar, Ana se
encantou, e desejava chegar mais perto para ver melhor, porém ao dar
um passo, o ônibus do rapaz já estava perto e desde este dia, Ana nunca mais o viu. Às vezes, quando ia para aquele ponto de ônibus ficava na ânsia de
poder revê-lo, mas ele nunca aparecia, como acreditava em destino,
logo pensou que se não o encontrava novamente era porque ele não
estava em seu caminho e isso seria apenas uma forte atração, o que de
fato pode acontecer uma vez ou outra. Com o tempo ela foi esquecendo, pois cada vez mais se ocupava em
casa para ajudar sua mãe, nos estudos dava tudo de si para tirar uma
boa nota e logo após, conseguiu seu primeiro emprego na loja de
perfumes.
Sua rotina não era cansativa, consistia em acordar cedo, preparar o
café para ela e sua mãe que acordava pouco depois, ir para o trabalho
e abrir a loja, organizar tudo para a chegada dos clientes e logo após
sua chefa, Carolina, chegava no estabelecimento. No passado, a loja era pequena e tinha apenas ela como funcionária, mas a movimentação era grande, pois a loja é situada no centro da
cidade.
Após algum tempo, Ana começou a fazer faculdade em
administração o que contribuiu para o crescimento da loja que se
expandiu e foi aí que Ana se tornou gerente. Durante todo este tempo, Ana não se envolveu com ninguém, talvez
por falta de interesse, talvez por falta de tempo ou simplesmente por
seu inconsciente ter mantido a imagem de um jovem rapaz que Ana
havia se interessado há anos atrás.
Hoje é quinta-feira, foi um belo dia por sinal, tendo em nota que
amanhã é sua folga e terá o fim de semana para si. Isso é fantástico. Mas, o que fazer quando seu corpo já não tem disposição de quando
tinha vinte anos?
Tem quase o dobro disso. Ok, mentira. Mas, está quase lá. A noite é calma e fria – vinte graus com sensação de dezessete –
como quase todas as noites por aqui, acredita que não se acostumaria
em um lugar mais quente, exceto a casa do lago que pertencia ao seu
pai.
"Oh, lembrei disso. Péssima hora para recordar."
Já faz vinte anos e dói como o inferno, além desse maldito número
sete que a persegue.
Talvez precise de algo mais forte agora. Spirytus Stawisk - bebida extremamente quente. Enquanto descansa seu copo sobre a mesinha ao lado do sofá, envia
uma mensagem para sua amiga, perguntando sobre o almoço de
amanhã. Ilusão sua se pensa que ela irá responder às onze e quarenta
e cinco da noite. Mas, para a sua surpresa e total perplexidade, Izabel responde
que está tudo ok. Logo após, vê seu celular vibrar e o nome dela brilhando na tela.
- Então, espero que você não esteja perguntando para o caso de
desmarcar. Ela diz em um tom não tão doméstico.
- Oi pra você também. E não, não vou desmarcar.
- Hum, acho bom. Ultimamente você só tem tempo para o trabalho, acha que não estou vendo?
- Vendo o que? – toma um gole do veneno e faz uma careta.
- Que você está me abandonando?!
- Pelo amor de Deus, a essa hora? Eu disse que estava em uma semana
de promoções e eu cuido também do marketing da loja. Por isso, amo o meu salário.
- E não brigue comigo.
- Você está parecendo uma esposa carrancuda – elas riem e demoram
mais uma hora, entre assuntos sérios e banais. Até que
de repente a ligação fica muda, dando a entender que Izabel apagou.
Depois de um tempo, ao pensar em como as coisas se desenrolaram ao longo de
sua vida, sabe que tem a melhor pessoa para compartilhar todos os seus
momentos, Ana não pode deixar de pensar em Rose. De fato, elas nunca se
desgrudaram. E, ela não se importa que em seus plenos vinte e sete anos, ainda morem
sob o mesmo teto. Isso nunca foi um problema. Sua casa é divertida, vive com uma das pessoas mais animadas que
possa existir e com certeza Rose, sua mãe, é sua melhor companhia.
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Atualizado até capítulo 27
Comments
Vania Benicio
Estou acompanhando o desenrolar da história!🤔
2024-10-27
1
bete 💗
interessante ❤️❤️❤️❤️❤️
2024-10-24
1