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Além do Tempo Vol.1

Resplendor da juventude

“Depois de mais um dia de trabalho, aqui estou, tentando pôr minha

cabeça em ordem. Novidade. Mas, o dia hoje foi tão corrido que não tive tempo nem de ir ao

banheiro, isso é definitivamente ruim. Minha amiga, acabou de finalizar a ligação que durou uma hora e

meia, apenas jogando conversa fora. Agora, observando as luzes da cidade mais calmamente, sinto a

nostalgia que geralmente me abala hora ou outra, não sei de onde vem

ou como isso acontece, da mesma forma como não entendo a falta que

sinto de algo que não sei o que é e nunca tive. É algo incrivelmente

louco. Essa ponte em que estou tem história, se ela pudesse falar diria quantas vezes meu pai nos trouxe aqui, eram tempos favoráveis e

tranquilos. Lembro-me pouco, afinal tinha apenas sete anos. Esse número não me é agradável. Contudo, não pude deixar de vir para apreciar essa vista belíssima da

minha cidade. Depois da minha belezinha Black estacionada logo

atrás, esse local é o meu preferido. Poucas coisas na vida tomo como

algo prioritário, e essas duas coisas estão no ranking um pouco abaixo

do número um. Pois, lá se encontra uma jovem senhora chamada Rose, mais

conhecida como minha mãe. Dizem que sou a cara dela, mas a

personalidade é do meu pai sem dúvida. A começar por minha Black

que minha mãe odeia, mas fazer o que? Está no sangue. Me considero uma pessoa tranquila, na verdade sempre fui, eis o

motivo de orgulho para minha mãe durante o tempo colegial. Lembro-me

com muita nitidez dos tempos da escola, diferente da pouca

memória que tenho sobre aquele par de olhos vibrantes, escuros e

desafiadores. Faz quanto tempo? Alguns anos. Não entendi qual o mistério de uma

memória tão ruim, que não conseguiu guardar algo que foi tão intenso

naquele momento. Mas, o que fazer? Minha cabeça tem vida própria e

trabalha bem quando quer.”

Uma sensação de perda de repente a invade, fazendo com que seus

pensamentos sejam lançados para alguns anos atrás. “Faz três horas que estou aqui, melhor voltar” – com esse pensamento, sobe em sua moto e retorna para casa. Ao chegar em casa, por volta das nove horas da noite, Ana estaciona

na garagem e entra com cuidado, pois sua mãe deve estar no terceiro

sono essa hora.

- Demorou, mas chegou. – Rose diz, saindo das sombras de algum

lugar da casa, como se fosse enviada do além, vindo buscar sua alma.

- MÃE! – diz Ana tomando a cor da parede, quase translúcida.

- Assustada? Estava fazendo coisa errada? – diz semi cerrando os

olhos.

- Sério? Quem não se assustaria ao chegar em casa tarde, jurando que

todos estavam dormindo, quando de repente sai alguém vestido de branco

de um lugar que só tem a sombra da noite? Achei que minha

hora havia chegado!

Rose sorri disfarçadamente, negando com a cabeça, sobre a

peculiaridade de sua filha ter medo de espíritos, mas não ter medo

daquela invenção do capeta, chamada moto. A Black.

- Você poderia ao menos mandar uma mensagem, sabe que fico

preocupada. Consequentemente, não consigo dormir.

Compreendendo sua preocupação a jovem se aproxima, lhe dando um

abraço apertado.

- Certo, está bem, desculpe. Avisarei da próxima vez. Mas, não resisti

em ficar um pouco no nosso cantinho – sinal vermelho! Ela percebe

algo no olhar de sua mãe, que não consegue decifrar.

- Está bem – ela foi tão breve, para não dizer seca – Quer jantar?

- Eu me viro, vá descansar. Amanhã estou de folga, por volta das onze

horas vou na casa de Izabel, há dois dias combinamos de almoçar

juntas. – disse ainda tentando entender a mudança de humor repentina.

- Certo, faz tempo que não se veem. Seria bom para vocês. Ela diz com um sorriso carregado de... Tristeza? Para a percepção

Ana. Então resolve perguntar:

- Mãe, você está bem?

“Por favor não minta”

- Estou bem, apenas muito cansada.

“Sim, ela mentiu”

- Deve ser o trabalho, muitos anos de trabalho, o corpo vai cansando.

- Entendo, posso fazer um chá para melhorar.

- Não precisa, até amanhã filha - Ela diz, dando-lhe um beijo na testa e se afasta em direção ao seu

quarto.

Quando Rose se perde na escuridão do corredor, Ana vai para a

cozinha preparar algo rápido e leve para o jantar. Pensando que seria

melhor comer já de banho tomado e prontinha para dormir, se vê na

obrigação de largar o copo de macarrão instantâneo no micro-ondas e

ir ao banho. Depois termina isso.

Enquanto termina sua refeição, Ana lembra que já faz muito tempo

que não encontra alguém de uma forma romântica. Para ser mais

exato, desde o tempo em que ela tinha dezenove anos, o dia no qual

estava voltando da casa de uma amiga, que tinha ido levar alguns

trabalhos de um curso preparatório que fizera em finanças, não

querendo ir com sua moto resolveu pegar a condução. No ponto de ônibus, enquanto ela esperava em meio às outras pessoas, notou um belo rapaz, com uma mochila, um boné verde-escuro e

roupas descoladas monocromáticas.

Como ele estava à sua frente, não

dava para ver muito bem sua feição, mas o que pôde observar, Ana se

encantou, e desejava chegar mais perto para ver melhor, porém ao dar

um passo, o ônibus do rapaz já estava perto e desde este dia, Ana nunca mais o viu. Às vezes, quando ia para aquele ponto de ônibus ficava na ânsia de

poder revê-lo, mas ele nunca aparecia, como acreditava em destino,

logo pensou que se não o encontrava novamente era porque ele não

estava em seu caminho e isso seria apenas uma forte atração, o que de

fato pode acontecer uma vez ou outra. Com o tempo ela foi esquecendo, pois cada vez mais se ocupava em

casa para ajudar sua mãe, nos estudos dava tudo de si para tirar uma

boa nota e logo após, conseguiu seu primeiro emprego na loja de

perfumes.

Sua rotina não era cansativa, consistia em acordar cedo, preparar o

café para ela e sua mãe que acordava pouco depois, ir para o trabalho

e abrir a loja, organizar tudo para a chegada dos clientes e logo após

sua chefa, Carolina, chegava no estabelecimento. No passado, a loja era pequena e tinha apenas ela como funcionária, mas a movimentação era grande, pois a loja é situada no centro da

cidade.

Após algum tempo, Ana começou a fazer faculdade em

administração o que contribuiu para o crescimento da loja que se

expandiu e foi aí que Ana se tornou gerente. Durante todo este tempo, Ana não se envolveu com ninguém, talvez

por falta de interesse, talvez por falta de tempo ou simplesmente por

seu inconsciente ter mantido a imagem de um jovem rapaz que Ana

havia se interessado há anos atrás.

Hoje é quinta-feira, foi um belo dia por sinal, tendo em nota que

amanhã é sua folga e terá o fim de semana para si. Isso é fantástico. Mas, o que fazer quando seu corpo já não tem disposição de quando

tinha vinte anos?

Tem quase o dobro disso. Ok, mentira. Mas, está quase lá. A noite é calma e fria – vinte graus com sensação de dezessete –

como quase todas as noites por aqui, acredita que não se acostumaria

em um lugar mais quente, exceto a casa do lago que pertencia ao seu

pai.

"Oh, lembrei disso. Péssima hora para recordar."

Já faz vinte anos e dói como o inferno, além desse maldito número

sete que a persegue.

Talvez precise de algo mais forte agora. Spirytus Stawisk - bebida extremamente quente. Enquanto descansa seu copo sobre a mesinha ao lado do sofá, envia

uma mensagem para sua amiga, perguntando sobre o almoço de

amanhã. Ilusão sua se pensa que ela irá responder às onze e quarenta

e cinco da noite. Mas, para a sua surpresa e total perplexidade, Izabel responde

que está tudo ok. Logo após, vê seu celular vibrar e o nome dela brilhando na tela.

- Então, espero que você não esteja perguntando para o caso de

desmarcar. Ela diz em um tom não tão doméstico.

- Oi pra você também. E não, não vou desmarcar.

- Hum, acho bom. Ultimamente você só tem tempo para o trabalho, acha que não estou vendo?

- Vendo o que? – toma um gole do veneno e faz uma careta.

- Que você está me abandonando?!

- Pelo amor de Deus, a essa hora? Eu disse que estava em uma semana

de promoções e eu cuido também do marketing da loja. Por isso, amo o meu salário.

- E não brigue comigo.

- Você está parecendo uma esposa carrancuda – elas riem e demoram

mais uma hora, entre assuntos sérios e banais. Até que

de repente a ligação fica muda, dando a entender que Izabel apagou.

Depois de um tempo, ao pensar em como as coisas se desenrolaram ao longo de

sua vida, sabe que tem a melhor pessoa para compartilhar todos os seus

momentos, Ana não pode deixar de pensar em Rose. De fato, elas nunca se

desgrudaram. E, ela não se importa que em seus plenos vinte e sete anos, ainda morem

sob o mesmo teto. Isso nunca foi um problema. Sua casa é divertida, vive com uma das pessoas mais animadas que

possa existir e com certeza Rose, sua mãe, é sua melhor companhia.

Uma amiga, uma irmã

Cheguei!!!

Izabel de repente sente o ar lhe faltar.

- Preciso respirar – tenta desfazer o abraço, mas é tão pesada.

"O que ela é? Um urso?"

- Sentiu minha falta? Espero que sim.

“Só pode estar de brincadeira, estou quase morrendo”

- Respirar...

Ana percebe, e logo se afasta dando leves tapinhas nas costas da

amiga que tosse algumas vezes.

- Sempre me deixa fazer o que quero com você não é?! Deveria ter dito que

estava muito apertado, teria ido mais leve.

“Ela não mandou essa com minha mãe aqui, não é?!”

A feição de Izabel é indescritível. O sorriso sarcástico de Ana, sublime.

- Minha querida, que saudade. Venha, acabei de fazer o seu lanche

preferido. E minha amiga, como está? Izabel feche a porta e venha

lanchar também, o almoço vai demorar. – Verônica, mãe de Izabel, chega para recebê-la.

- Tia, também tenho muita saudade sua, ela está muito bem. E vocês, como estão? O tio está em casa?

- Bem, bem. Embora, os trabalhos ultimamente parecem ter se

multiplicado, seu tio está na empresa. Não vejo Rose há três semanas.

- Mas, você tem opção mãe, só trabalha porque não quer ficar em casa

entediada.

- Claro, não me vejo tendo que ficar nessa casa imensa sem ninguém

para conversar e literalmente nada para fazer. Até as receitas se

tornaram tediosas.

Nada contra, mas sinceramente, a vida de madame não se adequa à

Verônica, embora tenha um patrimônio para quatro gerações, não

viveria de fazer receitas diariamente, apenas para ter o que fazer. Ainda é jovem, cinquenta e seis anos. Está na flor da idade.

- Agora comam, eu vou terminar o almoço, faltam apenas alguns

temperos e esperar o cozimento. Este último é que demora.

- Vamos levar para o quarto, preciso te contar algo – diz Izabel

atiçando a curiosidade alheia. Enquanto sobem as escadas, Ana lembra da primeira vez que esteve

aqui.

Anos atrás...

Um dia indo embora para casa, Izabel, que estava no segundo ano

no ensino médio, encontrava-se distraída com uma música em seu fone

de ouvido e não percebeu que um carro vinha na sua direção em alta

velocidade enquanto atravessava a faixa de pedestres, ao olhar para o

lado não teve tempo de pensar, apenas paralisou, mas para sua sorte

alguém a puxou com tamanha força e velocidade salvando-a nesse

momento.

Izabel caiu e ligeiramente olhou para trás para ver quem a tinha

salvado e se surpreendeu que seu então anjo, era sua colega de classe

Ana. Ela a olhou confusa e espantada, ao se levantar estendeu a mão para

Ana, perguntando se ela estava bem e Ana gentilmente respondeu

positivamente, mas sua feição mostrava que sentia alguma dor, era seu

antebraço

que ao puxar a jovem, a mesma caiu sobre ele.

- Não devia ter feito isso, poderia ter se machucado ainda mais - diz

Izabel um pouco alterada e visivelmente preocupada com a garota à

sua frente que sutilmente sorriu por ver essa reação.

- Não se preocupe, estou bem.

- Não estou preocupada - diz secamente.

- Estou vendo – solta uma risada nasal.

- Pare de graça, isso é sério. Ana fica quieta sentindo a dor latejar.

Izabel insistiu para que Ana fosse ao hospital para ver se não era

grave, mas Ana recusou de imediato, até que com um pouco mais de

insistência, finalmente a convenceu. Então, Izabel ligou para sua mãe contando o que havia acontecido, Verônica assustada e aliviada, lhe disse que as encontraria no hospital.

Ao chegar no local, Ana foi avaliada, teve um pequeno inchaço e

alguns arranhões mas nada grave, ligou para sua mãe Rose, a qual

chegou em menos de quinze minutos e muitíssimo preocupada.

- Filha, o que aconteceu? Por que não ligou antes?

- calma mãe, está tudo bem. O médico me deu isso – algumas receitas

de analgésicos e pomada para hematomas.

- Desculpe, a culpa foi minha – Izabel falou de repente.

- Como assim?

- Mãe, a culpa não foi dela. Ela ia ser atropelada, eu a puxei em tempo.

- Olá senhora, eu sou Verônica, mãe de Izabel. Estou imensamente

agradecida por sua filha ter salvado a minha. Verônica estendeu a mão em sinal de respeito e agradecimento.

- Graças a Deus não aconteceu nada à nenhuma. Sua filha é belíssima, como se chama? – Rose pergunta à Izabel.

- Sou Izabel e obrigada.

- Tão educada.

“Não se iluda mãe” – pensa Ana, sentada na maca olhando seus pés.

- Quero convidá-las para um almoço em minha casa, o que acham?

Verônica pergunta surpreendendo a todas.

- Oh, seria um prazer. Estaremos lá. Apenas me informe o endereço, lhe darei o

meu contato.

- Será bom ter alguém conosco em um almoço, já que geralmente, somos

apenas nós duas.

Verônica sorri, olhando para Izabel que mantém sua feição séria. Enquanto

Rose se prepara para sair, entregando seu contato para Verônica.

- Bem, devemos ir, deixei a fábrica nas mãos de Louise, creio que está com

excesso de trabalho agora.

- Oh, você é a dona da fábrica Bolos Rose? Sempre gostei dos bolos dessa

marca.

- Jura? Sendo uma cliente, lhe enviarei alguns presentes.

- Obrigada Rose! Seus bolos são realmente muito deliciosos.

- Eu agradeço. Nos veremos em breve, sim?

- Com certeza.

Ambas se despedem e as duas adolescentes se entre olham desconcertadas. Mas, se despedem de maneira singela.

Uma semana depois, é chegada a hora do almoço na casa de Izabel. Não que

Ana não quisesse ir, mas sinceramente, o que ia fazer lá. Claramente Izabel se

incomodava com sua presença e insistência em ser sua amiga. Isso seria mais

proveitoso para suas mães do que para elas mesmas.

- Vamos Ana, você parece estar dormindo em pleno meio-dia.

- Ah, mãe. Na verdade, não quero ir.

- O que está dizendo? Fomos convidadas por Verônica, seria uma desfeita. Ainda mais, em cima da hora.

- Eu e Izabel nem somos próximas.

- Seria um bom momento para se tornarem.

- Você não a conhece mãe.

- E você? A conhece?

- Bem...

- Acho que vocês conhecem apenas aquilo que querem mostrar uma para a

outra, não exatamente o que são. Então, aproveite esse momento para de fato

se conhecerem.

Dito isso, Rose pega sua bolsa e sai em direção ao carro.

Depois de trinta minutos de trânsito, finalmente chegam na imensa casa de

Izabel. Ana se lembrava sobre algum comentário feito por estudantes, sobre a

riqueza de Izabel, mas não imaginava que seria tão exorbitante.

Isso não é uma casa, isso dá-se o nome de mansão.

"Quantos metros quadrados esse lugar tem?"

O jardim é imenso, cheio de flores e hastes espalhadas por cada canto. O

caminho até a porta de entrada da casa, é repleto de pedrinhas que Ana

considera a possibilidade de serem importadas, pois nunca viu algo parecido na

vida. O minimalismo e sofisticação de cores, ornamentações e vidraçarias, dão

um aspecto de nobreza.

- Certo, você sabia que sua amiga é tão rica assim?

- Certamente não. Ela não transmite nada do que vejo aqui.

- Do que está falando?

- Delicadeza e sofisticação.

- Ana.

- Que foi?

A porta abriu, mostrando uma elegante e sorridente Verônica, ela realmente

estava ansiosa por essa visita.

- Que bom que chegaram! Venham, entrem. espero que não tenha sido difícil

chegar aqui.

- Não, não. Apenas minha filha demorou mais do que o esperado.

- Mãe, não foi bem assim.

- Ah, não?

- Fiquem à vontade, vou chamar Izabel e já volto.

Alguns minutos depois, Verônica e Izabel aparecem na sala.

- Senhora, Ana. É um prazer recebê-las.

- Me chame de Rose. Você está linda Izabel.

- Obrigada.

Izabel sorri e olha para Ana. Até que ouve sua mãe dizer.

- Bem, vamos comer, acredito que todas nós estamos famintas.

Ao sentar à mesa, Izabel diz.

- Eu fiz sobremesas doces e salgadas, espero que gostem.

- Eu fico com a salgada -

Ana diz.

- Oh, Ana tem Diabetes desde muito pequena, mas ela gosta muito de salgados.

- Mesmo? Deve ser difícil, querida.

Verônica diz, afastando de Ana o refratário com o doce.

- Já estou acostumada, não se preocupe.

O almoço segue entre conversas e diálogos divertidos. Enquanto as duas

adolescentes, apenas respondem quando são questionadas e comem o quanto

podem.

Na varanda, após algumas horas, Verônica serve um chá com alguns biscoitos

para Rose, enquanto Ana e Izabel resolvem andar pelo jardim.

A caminhada foi silenciosa e entediante, do ponto de vista de Ana. Até que

puxou assunto.

- Então, o que você faz quando não está na escola?

- Fico em casa estudando piano ou vou ao escritório do meu pai

acompanhar o trabalho dele.

Ana ficou confusa, pensando em pra que ela iria acompanhar o

trabalho do seu pai. Izabel tendo visto a confusão em seu rosto disse:

- Você precisa esconder melhor suas emoções, tudo fica estampado no

seu rosto.

Ana se espanta por ter sido pega e pensa que realmente é muito fácil

de decifrar.

- Mas, respondendo sua pergunta, um dia terei que ficar no lugar do

meu pai na empresa. Então venho estudando muita coisa.

- Nossa, você parece ser muito inteligente.

- Obrigada.

- O que vai fazer na empresa? Se puder falar, claro.

- Não tem problema. A empresa é automotiva, importa e exporta

carros, peças e também tem sociedade com outras empresas e marcas

de luxo de outros segmentos para marketing.

- Você é podre de rica – Ana arregalou tanto os olhos, que mais um

pouco, não os teria mais.

- Basicamente.

- É por isso que não queria ser minha amiga?

Izabel parou por um momento, fazendo com que Ana a seguisse.

- Por que quer ser minha amiga?

- Bem... não há uma razão específica. Apenas gostaria de me

aproximar de você. Pra começar, saiba que eu nunca soube da sua

fortuna e mesmo se soubesse, eu e minha mãe somos da classe alta, ela tem sua própria empresa aqui. Assim como investimentos no

exterior.

- Eu sei. Apenas quero ter a certeza de que posso confiar em você. No olhar de Ana, aquilo foi triste.

- Talvez isso tenha haver com muito mais do que imagino, mas não

vou perguntar até que você se sinta à vontade para me falar. Mas, garanto que pode confiar em mim.

Izabel ficou em silêncio por alguns segundos, olhando fixamente para

Ana, até que retornou a andar, fazendo Ana acompanhá-la.

Dias atuais...

- Põe os pães aqui – diz Izabel tirando alguns livros da mesa no canto

do quarto.

- Você mudou a cor das paredes de novo?

- Estava enfadada com aquela cor.

- Tinha duas semanas de pintura.

- Não importa.

“Um psicólogo cairia bem” – pensa Ana.

- Eu não preciso de psicólogo.

- O que? Como soube? – que diabos.

- Você e mamãe sempre tiveram essa mesma opinião.

- Você poderia relevar.

- Não.

- Ok.

- Deixa eu falar. Sabe que além de trabalhar na empresa dou aulas em

uma faculdade particular, certo?

- Eu nunca entendi essa lógica. Você tem tempo sobrando.

- Eu sei, eu sei. O fato, é que tem um aluno do segundo semestre de marketing e

publicidade, que

anda me dando uns olhares um pouco quentes.

- Minha nossa, quantos anos ele tem?

- Dezenove, faz vinte daqui dois meses. Ele não parece ter essa idade, achei que tinha vinte três, pelo menos. Alto e forte, muito bonito não

posso negar. Soube que treina artes marciais e já participou de

campeonatos

- Aluno querendo devorar a professora gostosa é comum, mas e você?

Como se sente com isso?

- Não sei, faz tanto tempo que não encontro ninguém e quando

encontro é um aluno de dezenove anos.

- Que não parece ter dezenove.

- Muito engraçadinha.

- Sério, não vejo problema, apenas tenha certeza de que é ficha limpa.

- Importante.

Piadas à parte, mas a realidade é que Izabel está confusa, entre ceder

àquele olhar devorador e músculos grandes ou simplesmente ignorar e

fingir que não existe.

- Praticamente todas as garotas querem tê-lo.

- E ele quer você. Bingo. Você só arrasa.

- Você faz parecer tão fácil.

- Mas é, apenas viva e experimente coisas novas.

Que frase cheia essa.

- Isso foi mito específico.

As duas caem na gargalhada, quando ouvem Verônica chamando para

o almoço.

- Meninas, apreciem a refeição.

- Tia que delícia.

- Mamãe sempre arrasa.

- Vocês me deixam com vergonha, vamos comam.

Mesa boa é mesa farta, já dizia a avó de Izabel. E sua mãe fazia questão de mostrar isso.

Grande dor

Rose aproveita o dia para limpar e organizar a casa, que não é grande, mas há móveis e objetos que requer um pouco mais de atenção. De

todas as coisas que foi renovando com o tempo, a única coisa que

jamais irá se desfazer são as cartas de George e o baú, que anos atrás

trouxe as mudas de roupas de ambos , quando se mudaram do Interior

para a cidade grande. Se pudesse voltar no temo, não pensaria duas vezes, apenas para ter

seu amado de volta. Ela nunca superou sua perda, viveu apenas por

Ana, pois no tempo era muito pequena.

Enquanto olha as cartas, lembra nitidamente de cada detalhe dos últimos dias de sua alegria.

Vinte anos atrás...

- Você está linda - ele diz para Rose, após ambos terem colocado Ana

em sua cama cor-de-rosa e muitos ursinhos de pelúcia ao redor.

- Eu estou tão feliz, você não tem ideia do quanto esperei por isso, toda essa mudança. Há oito meses que nos mudamos, mas parece

que faz mais tempo – ela se aconchega em seus braços, colocando-se

na ponta dos pés, enquanto ele envolve sua cintura com firmeza.

- Eu ainda vou te dar muito mais meu amor, eu te amo tanto. Quero

que tudo seja diferente do que já vivemos. Quero dar o melhor para

você nossa filha - e com um beijo sela essa afirmação.

Após recuperar o fôlego, Rose responde:

- Eu te amo muito – e seguem para o quarto, onde mais uma

vez os lençóis se tornam tão quentes quanto aquela noite de verão.

No dia seguinte, ele foi para o seu trabalho, no edifício de galerias no

centro. Conseguiu a vaga de serviços gerais no terceiro dia de sua

chegada na cidade. Era um bom emprego e sempre muito simpático, tanto que algumas

donas de casa ou suas filhas confundiam, por vezes, sua simpatia e

tentavam se aproximar à ele de alguma maneira.

Sendo um jovem muito bonito, alto e porte físico atlético, além de

um sorriso estonteante, claro que despertava o interesse de muitas, mas todas as tentativas eram em vão. Apesar do charme que exalavam

não poderiam se comparar, em hipótese alguma, ao de sua amada

esposa Rose, estavam longe de ter tal comparação.

Sempre quando chega em casa, Rose e Ana o recebem calorosamente

com a mesa já posta exalando o cheiro mais gostoso que possa existir

naquele bairro.

Após o jantar, enquanto Ana brinca com algumas bonecas no tapete da

sala, George e Rose assistem algum programa de TV abraçados como

se houvesse um ímã entre os dois. Por vezes, ele dá beijinhos na nuca

de sua esposa e aperta um pouco seus fortes braços em volta de sua

cintura, até que Rose percebe que está um pouco forte demais e

chama sua atenção delicadamente.

- Amor, está tudo bem?

- Sim, está. - ele diz rapidamente.

Ela o olha profundamente e diz:

- Eu o conheço, me diz o que aconteceu.

Não podendo negar, ele diz quase como um sussurro.

Hoje, enquanto estive no trabalho, uma moça passou por mim e

tropeçou, fui ajudar, mas ela acabou se desequilibrando novamente e a

segurei firme para não cair. Ela agarrou-me pelo pescoço e tentou me

beijar, quando de repente, uma mulher apareceu e disse aos gritos que

eu estava agarrando sua filha menor de idade.

Ao ouvir aquilo, Rose sentiu seu sangue ferver e um aperto no peito

aumentar causado pelo ciúme, vendo seu estado, George segurou

firme sua cintura escondendo seu rosto no pescoço de sua amada e lhe

disse:

- Amor, aquela moça não conseguiu o que queria e havia testemunhas

a meu favor. Tudo ali foi esclarecido e eu posso denunciar por esta

acusação. Após respirar profundamente algumas vezes, Rose diz:

- Não suporto a ideia de outra mulher lhe tocando com intenções tão

sujas, em pensar na situação em que você se encontrou me deixa ainda

mais enojada.

George segura delicadamente seu queixo e faz com que Rose olhe

para si, dizendo-lhe:

- Jamais outra mulher irá me tocar como você me toca.

Dito isto, ele a beija apaixonadamente como na primeira vez, saboreando cada centímetro da boca de sua esposa. Ana que até agora

estava entretida com suas bonecas, olhou para eles e correu para sentar-se

no meio dos dois. Sentindo aquela movimentação estranha, os dois olham para baixo e

vê a pequena tentando sentar no sofá e com um bico quase formado

para iniciar um choro.

Ao ver aquela cena maravilhosa, eles riem e a

pega nos braços dando-lhe beijos por sua face inteira. Após algumas horas, Ana já está na cama enquanto o casal

apaixonado dá indícios de que não irão dormir essa noite, e o motivo

certamente não é Ana.

Passaram-se dois meses e meio, no fim do expediente, em um dia de

semana quando George voltava para casa, enquanto esperava no ponto

de ônibus aproximaram-se três rapazes para um assalto, George havia

comprado há dois dias um relógio caro, andava sempre bem vestido e

perfumado, e esta noite, seria a pior de suas vidas.

Rose notou a demora de George e resolveu ligar para o mesmo, mas

ele não atendeu. Fez isso de dez em dez minutos até completar trinta minutos, então

ligou para o edifício onde o esposo trabalha.

Alô, por favor poderia me dizer se o George ainda está aí? Aqui é a

esposa dele, Rose.

- Ah, olá, senhorita Rose! – o rapaz diz educadamente - ele já saiu faz

algum tempo, mas não se preocupe, deve ser apenas o trânsito.

- Tudo bem então, obrigada e bom trabalho!

- Por nada! Boa noite!

- Boa noite!

Ao desligar o telefone, Rose ainda sente uma sensação estranha, isso

aumentou ainda mais sua preocupação. Ela esperou, mas nenhum sinal

do rapaz, então preparou Ana, chamou um táxi e foi à procura de

George, já que sabia o trajeto que ele percorria todos os dias.

Ao se aproximar do local ainda dentro do táxi, Rose viu

algumas pessoas em volta de uma alguém que se encontrava estendida

no chão e logo sentiu um arrepio por todo o seu corpo, pensando na

possibilidade de...

- Por favor pare o carro.

Apressadamente, pagou e foi em direção ao ponto de ônibus que para sua

surpresa e tamanha

dor, viu que era seu esposo. Sua face mudou, sua pele empalideceu, suas mãos suavam e faziam ter a

sensação de ter caído em um lugar muito, muito frio. O tremor de seu corpo

veio acompanhado de seu pranto e desespero ao ver que seu amado se

encontrava

todo ensanguentado e aparentemente sem vida. Até então, ninguém

sabia ao certo se ele realmente estava morto.

- NÃO! NÃO! Por favor amor, fala comigo, fala comigo, isso não

pode estar acontecendo - ela tremia e chorava descontroladamente.

Pessoas ao redor olham e se compadecem, estranhos e alguns conhecidos ali

estavam observando o sofrimento de uma alma dilacerada, pela perda do

único e verdadeiro amor.

A cena foi tão desconcertante, tão dolorosa, tão brutalmente chocante,

inclusive para Ana, que ninguém ousava chegar perto. O olhar de Rose

desesperado por ajuda e não ter alguma resposta, não ter alguém com poder

suficiente para trazer George de volta à consciência, a perturbava a cada

segundo.

Alguns minutos depois chegou a ambulância, levaram-no ao hospital

junto à Rose enquanto a pequena Ana chorava nos braços de um

conhecido da família que se encontrava no local.

Ela o chamava e

tentava ver algum sinal de vida, porém nada do que fazia era

correspondido. Chegando ao hospital George foi examinado, mas não teve muito o que fazer, ele já havia falecido. Rose se desmanchou em lágrimas e seus soluços podiam ser ouvidos a

distância, enquanto a pequena Ana era amparada por algumas pessoas

que acompanhavam o lamento de sua mãe por sua perda.

- Rose sinto muito – disse a esposa de um vizinho do bairro.

- Filha se acalme. Tragam água pra ela rápido – uma senhora que

estava por perto, tentou acalmar.

- George... eu quero meu esposo, por favor, por favor. Me diz que ele

está vivo, por favor...

Qual a dimensão da dor de uma perda?

Talvez, infinita.

Após Rose se acalmar, chamaram um táxi, ela e Ana se despediram do

homem e sua esposa que acompanhou o acontecido e entrando em

casa, que sentimento horrível.

Que desespero. Sentiu-se sozinha e

totalmente perdida pensando como seria sua vida sem o apoio de

George, com Ana ainda tão pequena sem ter a chance de ter seu pai

presente em seu desenvolvimento e escolhas que um dia teria que

fazer.

Tudo ainda parecia não fazer sentido, como um sonho aterrorizante

que não tinha fim. Ao cair de joelhos no chão, o som do seu choro assustou novamente

Ana que paralisou diante da mãe com os olhos cheios lágrimas e não

aguentando mais, seja por ver sua mãe nesse estado, seja por não

encontrar seu pai para ver o que está acontecendo, seja por estar

cansada. Ela chorou.

Rose conviveu com esse sentimento por mais ou menos dois meses, vivia aos prantos nos cantos da casa e sua filha sentia que sua mamãe não

estava bem, perguntando frequentemente por seu pai. Mas, não

tinha nenhuma resposta.

As vizinhas, que eram próximas, tentavam lhe animar e cuidavam de

Ana o máximo que podiam, muitas vezes tinham que se alimentar, pois

Rose não tinha forças para preparar a própria comida, por mais que soubesse

que sua pequena Ana estava com fome.

Devido à sua magreza, as

roupas sambaram no corpo de Rose.

- Mamãe – chama Ana aos prantos através da porta. Em seus sete

anos, se vê sozinha nessa casa enorme – Mamãe, estou com fome – o

choro ressoa pela casa.

As vizinhas já tinham ido embora faz um tempo, e agora se vê com

dois problemas que não faz ideia de como resolver: tirar sua mãe do

quarto e sanar sua fome, além do medo de estar só. Está tudo confuso

e sente uma dor no peito, que não sabe ao certo como surgiu. Talvez por quase não ver sua mãe nas últimas quatro semanas ou por não ter

visto mais seu pai. Afinal, para onde ele foi? Está com saudades. E por que sua mãe sempre chora?

Está assustada. Ela não tem mais ninguém, as vizinhas são boas, mas só vem pela

manhã. Sua mãe não responde e não fala nada para as vizinhas

também, sempre olha através da brecha da porta e a vê com seu costumeiro

pijama azul, seus cabelos antes arrumados, estão secos e sem vida, seu olhar está distante e parece estar com uma mancha escura

abaixo deles. O esforço que as vizinhas fazem para que ela tome o

único banho do dia e a única refeição, também fazem à si. Estavam perdendo peso e suas roupas já estavam folgadas. Em uma

tarde, Ana entrou no quarto de sua mãe a fim de falar algo com ela e

ter sua companhia, se sentia muito sozinha.

- Mamãe, você está acordada? – o silêncio a fez sentir um zumbido

forte e descobriu que pigarrear melhora a sensação, então fez isso

agora.

- Mamãe?

Ela se aproxima um pouco mais de sua cama e a vê derramar algumas

lágrimas. Ela não entendia o porque chorava tanto.

- Está com dor?

Finalmente ganhou seu olhar depois de muito tempo. Aquilo lhe deu

um alívio e felicidade que rapidamente se aproximou com medo de

perder.

- Filha – sua voz está extremamente rouca, como se tivesse gritado por

um longo tempo. Ana pega sua mão, magra, pálida e fria. Não diferente de seu rosto.

- Mamãe, precisa levantar. As vizinhas não estão mais aqui e eu estou

com medo de ficar só – o nó em sua garganta faz suas palavras serem difíceis

de expressar.

- Desculpe – ela respirou fundo – por ser.. uma mãe ruim.

- Você não é ruim mamãe – beija seu rosto – eu te amo, amo muito. Por favor mamãe, levante.

- Filha – ela começa a chorar e seu corpo frágil treme. Ana se

desespera e reflete o seu choro.

- Mamãe, onde está o papai? Ele vai nos ajudar. Eu irei chamar.

Oh, que lástima, pobre dessa menina. Pobre de sua inocência. Pobre

de sua pequenez. Como gostaria de ser maior e mais forte naquele

momento.

- Filha.. ele.. não vai voltar.

Aquilo a atingiu como um raio. Suas palavras foram suaves ao ponto

de achar que ouviu errado.

O que é isso? Travou seu maxilar e

repensou dez vezes se realmente gostaria de perguntar o porquê. Respirou fundo e então..

- Para onde foi?

O silêncio absoluto novamente fez seus ouvidos zumbirem. Quando

de repente, Rose olha para a pequena, esta que, quase pode ver a morte

através desses olhos. Sua mãe ainda está lá?

- Ele está morto.

Então, ela virou-se na cama e lhe deixou novamente sozinha.

Completamente e amargamente, sozinha.

Algumas semanas passaram e olhando ao redor de seu quarto escuro, como um estalo, Rose se

deu conta de que agora em

diante era apenas ela e sua pequena, que não podia viver daquela

maneira por muito tempo, Ana precisava de si, tinha sua casa para

cuidar e apesar de todo dinheiro que tinha guardado, Rose não poderia se dar

ao luxo de contar apenas com essa quantia, uma hora iria

acabar, precisava fazer algo para acrescentar sempre o que já tinha.

Pensando nisso, lembrou que sabia fazer bolos muito gostosos, sempre

quando fazia bolos para um chá da tarde ou até mesmo alguma

comemoração íntima, recebia muitos elogios. Após recuperar suas forças, deu

início às vendas de bolos e logo foi recebendo algumas poucas encomendas que

pessoas mais próximas faziam.

Comprou todos os materiais necessários para sua produção, com melhor

qualidade e agilidade. Começou a divulgar seu trabalho e como ela era uma

pessoa muito querida pela vizinhança, seus primeiros clientes surgiram dali e

foi se espalhando com o tempo, até que os pedidos eram tantos que foi

necessário contratar ajudantes para a produção, logo o espaço também já não

era o suficiente e abriu uma mini fábrica de bolos, a qual intitulou de

“Bolos Rosé”.

Enquanto a produção acontecia, Ana ia para a escolinha na parte da

manhã e à tarde Rose ia buscá-la, fazia seu almoço, brincavam e

terminavam sua atividade de casa. No final da tarde, Rose e Ana iam para a fábrica organizar e fechar, não era muito longe, apenas vinte minutos de distância um pouco

menos caso fosse com um veículo. Ao voltar para casa, enquanto Ana brinca com suas bonecas, Rose

revê as entradas e saídas da fábrica, prepara o jantar e no outro dia

tudo recomeça com muita alegria e entusiasmo. Afinal, seria impossível não acordar bem disposta tendo uma pequena pessoa lhe enchendo de beijos para acordar, seguidos por risadas

gostosas de ouvir.

Quando Ana completou dez anos teve algumas complicações em sua

saúde, devido aos sintomas repetitivos por um período de tempo

resolveu levá-la ao médico onde foi diagnosticada com diabetes. No início, foi muito complicado fazer com que uma criança de dez

anos compreendesse que seu problema estava ligado a uma das coisas

que ela mais gostava, os tão deliciosos bolos aos quais Ana comia

todos os dias, várias vezes ao longo do dia. Mas Rose, como sempre, com sua persistência e doçura com Ana, acabou fazendo com que ela entendesse o mais breve possível que

certos cortes em sua alimentação iria fazê-la se sentir melhor a cada

dia, e assim Ana conviveu com esse problema ao qual intitulou de

“dona atrevida”, pois seu verdadeiro nome a assustava, então resolveu pôr um

nome menos destrutivo à sua mente. Ana sempre foi uma criança comportada e atenciosa, muito gentil, praticamente todas as crianças gostavam de estar com ela e partilhava

sempre que via alguma delas sem a merenda. Sempre foi muito inteligente, sabia diferenciar as coisas e só guardava

o que realmente fosse bom. Eram realmente tempos favoráveis.

Dias atuais...

Depois de repassar parte de sua vida em sua mente, Rose se sente

cansada. Toma um banho, come algo leve e vai tirar um cochilo.

- Amiga, são quase seis horas, eu vou pra casa. Hoje sou eu quem

prepara o jantar.

- Ok. Obrigada por ter vindo, na próxima, sou eu quem vai.

- Está bem. Diz aos tios que mandei um abraço.

- Pode deixar.

Após se despedir, Ana retorna para casa e Izabel sobe para o seu

quarto.

“preciso organizar a documentação do contrato com aquela marca. Sem esquecer das provas para segunda”

E assim, passou quase a noite toda, organizando vários e vários

papéis. Quem acha que vida de rico é apenas luxo, se engana. Isso

requer muitas olheiras e dores de cabeça.

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