Desespero

Dois meses depois, em uma tarde chuvosa, Lucas recebe uma

mensagem de Regina lhe dizendo que precisa conversar sobre um

assunto sério, ao ver essa mensagem o coração de Lucas erra uma

batida e marca um encontro para mais tarde.

Assim que o expediente

termina, vai para o estacionamento e encontra Ana, ela o beija

rapidamente, mas nota que há algo errado com ele, o rapaz lhe diz o

motivo para o receio de Ana, ele a abraça e pede para não se

preocupar, coisa que ele mesmo não pode fazer.

- Não vamos nos precipitar, tudo bem? Voltarei logo.

Ele entra no carro e vai embora deixando Ana para trás com um

semblante triste e preocupado. Ao chegar no local, encontra Regina sentada em uma mesa da

cafeteria, ela o olha de cima abaixo para provocá-lo.

- Sempre que olho para você, cometo o pecado da luxúria. Não

gostaria de repetir a dose?

- Vá direto ao ponto.

- Está com pressa? Eu não estou.

- Vamos logo Regina, não tenho tempo a perder.

- Já que insiste... estou grávida.

- Como é que é?

- Não se faça de surpreso. Você sabe que o que fez.

- Não, eu não sei. Sequer lembro se realmente fizemos alguma coisa.

- Você é louco? Estávamos completamente sem roupas, eu estava toda

marcada e havia sêmen em todo o lençol. Você foi um selvagem.

- Pare de falar essas coisas, mulher asquerosa – Lucas está

literalmente perdendo a paciência.

- Você fica um fofo bravinho.

- ...

- Admita que sempre me quis e aproveitou o momento para me levar

para a cama.

- Eu nunca lhe quis. Admita que me drogou.

- Você é insano. Faz as coisas e não quer arcar com as consequências. Naquela noite, eu não sei o que deu em você, simplesmente me beijou, tirou minha roupa e teve dois ou três orgasmos, sem camisinha.

Ao ouvir isso, Lucas se sente um pouco frio e pede um copo de água

para a garçonete, ele bebe a água e puxa um pouco a gravata. Regina

para de falar para beber seu suco de abacaxi e continua falando.

- Pare de procurar desculpas e aceite os fatos. Você é homem, eu sou

mulher, a atração é natural. Não é o fim do mundo se quis transar

comigo. Sinal de que Ana não está dando conta do recado, não é?

- Eu não admito que pronuncie o nome de Ana.

- Me poupe. Enfim, fiz o exame de sangue há uma semana. Aqui está.

Ela lhe entrega o teste e Lucas fica sem chão, o que ele mais temia

aconteceu. O que será dele agora? O que será desse bebê? Como Ana

vai reagir a isso? Essas e mais perguntas passam por sua cabeça e ele

se vê sem rumo, levanta-se e sai dali para respirar um pouco, Regina

o segue e o agarra pelo braço.

- Lucas, agora é sério, eu preciso de sua ajuda. Chegou a hora de arcar

com a responsabilidade.

Ele a solta.

- Pare de tocar em mim, eu posso ser o pai dessa criança, não irá faltar

nada à ela. Mas, isso não significa ficar com você.

Regina começa a chorar e pessoas que passam por perto, os olham e

ele pede para que ela pare de fazer escândalo. Preocupado com o bebê

ele a leva para sentar em um banco, Regina se acalma.

- Uma gravidez requer muito cuidado Lucas, prometa que irá cuidar de mim, sim? Não tenho ninguém para fazer isso, além de que pode ser uma gravidez de risco. E eu sei que seu sonho é ser pai.

O rapaz que se encontra no ápice da tensão sentindo constantemente

suas mãos suarem frio, lhe diz que irá contratar alguém para lhe

ajudar.

- Contratar alguém? De jeito nenhum. Você colocou essa criança aqui, você vai me ajudar. Já basta o meu corpo que essa criança vai destruir.

Lucas ficou chocado com o caráter dessa mulher.

- Me leve para morar com você.

- Não, de jeito nenhum – sente que uma hora ou outra sua cabeça vai explodir.

- Lucas, se você não me levar...

- ...

- Eu aborto.

- VOCÊ É LOUCA?

- Você não imagina o quanto.

Ele finalmente sentiu que sua vida daria início ao fim, a partir de agora.

- Além disso, posso facilmente manchar sua pura imagem para toda a

sociedade. Basta que me dê um motivo. Imagine só, o namorado que não aceitou a gravidez de sua amada e a forçou a abortar, chegando à agressão. Daria uma bela manchete, não acha? Ainda mais com todas as marcas que encontrarão em meu corpo. Como você pode ser tão cruel Lucas?

- Você é desprezível.

- E você está em minhas mãos, decida-se agora.

Visivelmente desequilibrada, Lucas teme pela vida do bebê que não

tem culpa nenhuma.

- Vá para casa e arrume suas coisas, lhe buscarei mais tarde.

- Muito sábia sua decisão.

Lucas estava prestes a se levantar, quando ela o puxou para mais perto.

- Tenho algumas condições.

Um frio subiu em todo o corpo do rapaz.

- Primeiro, você vai me levar em casa agora, eu não vou de táxi. Segundo, você vai me deixar fazer tudo o que eu quiser com você.

- Nem pensar – ele diz tentando se afastar.

- É isso ou diga adeus ao seu filho e sua reputação.

Nesse momento, Lucas se arrependeu amargamente de ser benevolente com tudo e todos. Em que situação sua bondade o levou. Se não tivesse permitido a entrada dessa mulher naquele sábado para ajudar, nada disso estaria acontecendo.

- Tudo bem.

Assim que terminou de falar, Regina o beija intensamente. Lucas, sentiu seu estômago embrulhar.

Uma gravidez requer cuidados e o sonho de Lucas sempre foi ser pai, por isso não poderia deixar seu filho correr riscos por mais que

despreze sua mãe. Há mensagens de Ana em seu telefone, mas lhe

falta coragem para respondê-la. Ele guarda o celular e vai tomar um

banho, fica alguns longos minutos embaixo do chuveiro e ao terminar

come alguns morangos, toma um copo de leite, escova os dentes e vai buscar Regina.

- Lar, doce lar – Regina entra e senta-se no sofá – gostaria de um copo

de água.

Lucas pega a água e vai guardar suas coisas no segundo quarto.

- O que está fazendo? Eu vou ficar no seu quarto.

- Tem outro quarto maior.

- Eu vou ficar no seu quarto.

Lucas respira fundo e leva para o seu quarto. Tudo arrumado, ele

volta-se para sair do quarto, quando vê Regina apenas de roupa íntima

na sua frente.

- Sabe, uma mulher grávida se torna muito carente – ela caminha em

sua direção tocando seus ombros – eu preciso de você.

- Eu já lhe aceitei aqui concordando a fazer suas vontades. Mas, me

deitar com você. Não.

Ele retira as mãos alheias de si e sai rapidamente. Esse quarto ficaria para ela, sem problemas.

No dia seguinte, Ana está ansiosa e seu gerente percebe sua agitação.

- Aconteceu algo? Está inquieta hoje.

- Oh, nada demais. Coisas de mulher.

Na verdade, está muito apreensiva, o ciclo de Ana não vem a dois

meses e em algumas manhãs chegou a pôr pra fora seu café que tinha

tomado. Tendo acabado de falar, corre para o banheiro sentindo-se

enjoada, demorando mais que o esperado.

Seu gerente aguarda seu retorno na sala e vê o quão pálida está, decide

ir em busca de água. Ao retornar, ele deixa de lado seu receio e lhe pergunta se está se

relacionando com Lucas, Ana pensa em negar, mas afirma.

- Não quero me meter em sua vida privada, mas, já fez um teste de

gravidez? Minha esposa ficou dessa forma antes de saber que estava

grávida.

Ana lembrou-se que desde aquela noite mais longa que tiveram, o

fizeram sem o uso de preservativo, logo põe sua mão sobre a barriga e

se questiona se realmente pode estar grávida. Decide fazer esse teste, no intervalo.

Ao chegar a hora do almoço, vai em uma farmácia próxima e compra

três testes de gravidez, entra no banheiro da empresa e faz os três. A espera a faz perceber o quão lento o tempo pode ser e inclusive ouvir o tic tac do relógio em seu pulso.

Ela

sai às lágrimas, já sentindo um amor incondicional por este ser que se

desenvolve em seu ventre. Enxugando seu rosto, sai do banheiro em direção à sua sala, abre a

marmita e come sua salada com carne grelhada sem fome alguma. No fim do expediente, envia uma mensagem para Lucas o qual responde que também precisa conversar, marcam para se encontrar

no quiosque próximo à empresa.

Ana pilota até o local e espera pelo

rapaz, ao vê-lo não resiste e o abraça forte.

- Estava com tantas saudades - diz ela.

- Eu também estava... – sente um nó se formando em sua garganta - venha, vamos sentar, você quer comer algo? – ele pergunta.

- Não, estou sem fome.

Um silêncio permanece, até que...

- Regina está grávida. Por um instante, Ana paralisou. A informação não foi concluída.

- O que?

- Ela mostrou o exame de sangue. Está com oito semanas.

- Certo... já esperávamos, mais ou menos. Não é?

- Não é só isso - olhando em volta, Lucas tem a sensação de estar em um loop de sofrimento e melancolia intensos - Ela me ameaçou. Exigiu que eu mesmo cuide de sua gravidez ou irá

abortar e até mesmo... Me acusar de agressão por não aceitar essa criança.

Ana sente-se um pouco tonta.

- Onde ela está agora?

Lucas se recusa a responder.

- Lucas.

- ... Na minha casa.

A morte do corpo, não é mais dolorosa do que a morte da alma. Regina tanto fez que conseguiu o que queria.

“devo aplaudi-la?”

- Você vai ficar com ela?

- Não, Ana. Eu só me preocupo com a criança, posso desprezar a mãe, mas não vou me sentir bem se algo acontecer à essa criança.

- O seu sonho é ser pai – ela diz pensativa.

- Sim. E a única pessoa que eu quis para ser mãe dos meus filhos foi

você, é você. Isso não muda.

Ana não consegue mais segurar e chora. Ele a beija, diz que lhe ama, segurando seu rosto com as duas mãos e

suas testas coladas uma à outra. Seus olhos enchem de lágrimas e

novamente a abraça. Ana não sabe o que dizer, desequilibrada como Regina está, pode

acabar com a vida do bebê e de Lucas.

Estando na mesma situação, sabe o valor da vida que carrega. Tem em mente que se falar para

Lucas sobre sua gravidez ele certamente não vai dar ouvidos para a

mãe da criança e isso significa que a vida do pequeno pode estar em

risco, além de si mesmo. Ela jamais se perdoaria se algo acontecer a esta criança sabendo que

tem como evitar qualquer tragédia. Sempre ouviu sua mãe dizer que aquilo que não queremos não devemos dar aos outros, ela não iria

querer algum mal ao seu filho, certo?

Um pequeno ser que não pediu

para vir ao mundo, não tem culpa de nada, não pode simplesmente

jogar sua raiva nesse anjo. Ela engole seco e pede para que o rapaz continue, o que ele diz é o

mesmo que lhe tivesse cravado uma faca em seu coração.

- Terei que permanecer com ela durante esses meses, então para a sua segurança, é melhor nos afastarmos. Eu não sei mais do que ela pode ser capaz. Não quero que desconte sua raiva em você.

Ela ouve

tudo em silêncio e uma lágrima escorre de seus olhos, Lucas a enxuga

e não está diferente, seus olhos vermelhos chamam a atenção de Ana

que lhe toca o rosto e olha profundamente em seus olhos castanhos. Em voz baixa e suave, Ana diz:

- Essa é a melhor decisão, é a vida de seu filho que deve ser prioridade

agora.

Lucas a abraça e ficam assim por longos minutos. Até que a jovem decide ir embora. A noite não consegue ser mais fria do que um coração partido.

Ana chega em sua casa aos prantos e o que mais precisa agora é do

colo de sua mãe, a mesma não sabe como sua filha chegou sem sofrer

nada no caminho. Rose lhe questiona o motivo, mas o que ouve é um

choro ainda mais alto e vê sua filha caindo em seus braços como uma criança. Em meio aos prantos, ouve sobre a gravidez e Rose imediatamente

pede para que a filha se acalme, traz um copo de água e faz com que

respire fundo.

Apesar de estar contente com a vinda de seu neto, não entende o

motivo de tanta tristeza.

- Mãe, deixe-me descansar. Depois eu converso com você.

A única coisa que passa na mente de Rose, é que Lucas negou a paternidade. Mas como? Aquele rapaz não parece ser capaz disso, pelo contrário, o ouvia dizer que um dos seus sonhos é ser pai. Ficou sentada no sofá pensando nisso por alguns minutos até que

serviu o jantar, de início Ana se recusou, mas sua mãe a alertou sobre

a saúde do bebê, deve pensar nele agora.

- Vamos, pelo menos, algumas colheres e pode ir para o seu quarto.

O jantar seguiu em silêncio, Rose se segurou para não perguntar o que

houve e o semblante de Ana não melhorou. Ao terminar, ajudou sua

mãe com a louça mesmo que tivesse tentado impedi-la e subiu para o

seu quarto, Rose antes de dormir passou em seu quarto e lhe deu um

beijo cobrindo-a, para deixá-la mais quentinha.

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