Uma amiga, uma irmã

Cheguei!!!

Izabel de repente sente o ar lhe faltar.

- Preciso respirar – tenta desfazer o abraço, mas é tão pesada.

"O que ela é? Um urso?"

- Sentiu minha falta? Espero que sim.

“Só pode estar de brincadeira, estou quase morrendo”

- Respirar...

Ana percebe, e logo se afasta dando leves tapinhas nas costas da

amiga que tosse algumas vezes.

- Sempre me deixa fazer o que quero com você não é?! Deveria ter dito que

estava muito apertado, teria ido mais leve.

“Ela não mandou essa com minha mãe aqui, não é?!”

A feição de Izabel é indescritível. O sorriso sarcástico de Ana, sublime.

- Minha querida, que saudade. Venha, acabei de fazer o seu lanche

preferido. E minha amiga, como está? Izabel feche a porta e venha

lanchar também, o almoço vai demorar. – Verônica, mãe de Izabel, chega para recebê-la.

- Tia, também tenho muita saudade sua, ela está muito bem. E vocês, como estão? O tio está em casa?

- Bem, bem. Embora, os trabalhos ultimamente parecem ter se

multiplicado, seu tio está na empresa. Não vejo Rose há três semanas.

- Mas, você tem opção mãe, só trabalha porque não quer ficar em casa

entediada.

- Claro, não me vejo tendo que ficar nessa casa imensa sem ninguém

para conversar e literalmente nada para fazer. Até as receitas se

tornaram tediosas.

Nada contra, mas sinceramente, a vida de madame não se adequa à

Verônica, embora tenha um patrimônio para quatro gerações, não

viveria de fazer receitas diariamente, apenas para ter o que fazer. Ainda é jovem, cinquenta e seis anos. Está na flor da idade.

- Agora comam, eu vou terminar o almoço, faltam apenas alguns

temperos e esperar o cozimento. Este último é que demora.

- Vamos levar para o quarto, preciso te contar algo – diz Izabel

atiçando a curiosidade alheia. Enquanto sobem as escadas, Ana lembra da primeira vez que esteve

aqui.

Anos atrás...

Um dia indo embora para casa, Izabel, que estava no segundo ano

no ensino médio, encontrava-se distraída com uma música em seu fone

de ouvido e não percebeu que um carro vinha na sua direção em alta

velocidade enquanto atravessava a faixa de pedestres, ao olhar para o

lado não teve tempo de pensar, apenas paralisou, mas para sua sorte

alguém a puxou com tamanha força e velocidade salvando-a nesse

momento.

Izabel caiu e ligeiramente olhou para trás para ver quem a tinha

salvado e se surpreendeu que seu então anjo, era sua colega de classe

Ana. Ela a olhou confusa e espantada, ao se levantar estendeu a mão para

Ana, perguntando se ela estava bem e Ana gentilmente respondeu

positivamente, mas sua feição mostrava que sentia alguma dor, era seu

antebraço

que ao puxar a jovem, a mesma caiu sobre ele.

- Não devia ter feito isso, poderia ter se machucado ainda mais - diz

Izabel um pouco alterada e visivelmente preocupada com a garota à

sua frente que sutilmente sorriu por ver essa reação.

- Não se preocupe, estou bem.

- Não estou preocupada - diz secamente.

- Estou vendo – solta uma risada nasal.

- Pare de graça, isso é sério. Ana fica quieta sentindo a dor latejar.

Izabel insistiu para que Ana fosse ao hospital para ver se não era

grave, mas Ana recusou de imediato, até que com um pouco mais de

insistência, finalmente a convenceu. Então, Izabel ligou para sua mãe contando o que havia acontecido, Verônica assustada e aliviada, lhe disse que as encontraria no hospital.

Ao chegar no local, Ana foi avaliada, teve um pequeno inchaço e

alguns arranhões mas nada grave, ligou para sua mãe Rose, a qual

chegou em menos de quinze minutos e muitíssimo preocupada.

- Filha, o que aconteceu? Por que não ligou antes?

- calma mãe, está tudo bem. O médico me deu isso – algumas receitas

de analgésicos e pomada para hematomas.

- Desculpe, a culpa foi minha – Izabel falou de repente.

- Como assim?

- Mãe, a culpa não foi dela. Ela ia ser atropelada, eu a puxei em tempo.

- Olá senhora, eu sou Verônica, mãe de Izabel. Estou imensamente

agradecida por sua filha ter salvado a minha. Verônica estendeu a mão em sinal de respeito e agradecimento.

- Graças a Deus não aconteceu nada à nenhuma. Sua filha é belíssima, como se chama? – Rose pergunta à Izabel.

- Sou Izabel e obrigada.

- Tão educada.

“Não se iluda mãe” – pensa Ana, sentada na maca olhando seus pés.

- Quero convidá-las para um almoço em minha casa, o que acham?

Verônica pergunta surpreendendo a todas.

- Oh, seria um prazer. Estaremos lá. Apenas me informe o endereço, lhe darei o

meu contato.

- Será bom ter alguém conosco em um almoço, já que geralmente, somos

apenas nós duas.

Verônica sorri, olhando para Izabel que mantém sua feição séria. Enquanto

Rose se prepara para sair, entregando seu contato para Verônica.

- Bem, devemos ir, deixei a fábrica nas mãos de Louise, creio que está com

excesso de trabalho agora.

- Oh, você é a dona da fábrica Bolos Rose? Sempre gostei dos bolos dessa

marca.

- Jura? Sendo uma cliente, lhe enviarei alguns presentes.

- Obrigada Rose! Seus bolos são realmente muito deliciosos.

- Eu agradeço. Nos veremos em breve, sim?

- Com certeza.

Ambas se despedem e as duas adolescentes se entre olham desconcertadas. Mas, se despedem de maneira singela.

Uma semana depois, é chegada a hora do almoço na casa de Izabel. Não que

Ana não quisesse ir, mas sinceramente, o que ia fazer lá. Claramente Izabel se

incomodava com sua presença e insistência em ser sua amiga. Isso seria mais

proveitoso para suas mães do que para elas mesmas.

- Vamos Ana, você parece estar dormindo em pleno meio-dia.

- Ah, mãe. Na verdade, não quero ir.

- O que está dizendo? Fomos convidadas por Verônica, seria uma desfeita. Ainda mais, em cima da hora.

- Eu e Izabel nem somos próximas.

- Seria um bom momento para se tornarem.

- Você não a conhece mãe.

- E você? A conhece?

- Bem...

- Acho que vocês conhecem apenas aquilo que querem mostrar uma para a

outra, não exatamente o que são. Então, aproveite esse momento para de fato

se conhecerem.

Dito isso, Rose pega sua bolsa e sai em direção ao carro.

Depois de trinta minutos de trânsito, finalmente chegam na imensa casa de

Izabel. Ana se lembrava sobre algum comentário feito por estudantes, sobre a

riqueza de Izabel, mas não imaginava que seria tão exorbitante.

Isso não é uma casa, isso dá-se o nome de mansão.

"Quantos metros quadrados esse lugar tem?"

O jardim é imenso, cheio de flores e hastes espalhadas por cada canto. O

caminho até a porta de entrada da casa, é repleto de pedrinhas que Ana

considera a possibilidade de serem importadas, pois nunca viu algo parecido na

vida. O minimalismo e sofisticação de cores, ornamentações e vidraçarias, dão

um aspecto de nobreza.

- Certo, você sabia que sua amiga é tão rica assim?

- Certamente não. Ela não transmite nada do que vejo aqui.

- Do que está falando?

- Delicadeza e sofisticação.

- Ana.

- Que foi?

A porta abriu, mostrando uma elegante e sorridente Verônica, ela realmente

estava ansiosa por essa visita.

- Que bom que chegaram! Venham, entrem. espero que não tenha sido difícil

chegar aqui.

- Não, não. Apenas minha filha demorou mais do que o esperado.

- Mãe, não foi bem assim.

- Ah, não?

- Fiquem à vontade, vou chamar Izabel e já volto.

Alguns minutos depois, Verônica e Izabel aparecem na sala.

- Senhora, Ana. É um prazer recebê-las.

- Me chame de Rose. Você está linda Izabel.

- Obrigada.

Izabel sorri e olha para Ana. Até que ouve sua mãe dizer.

- Bem, vamos comer, acredito que todas nós estamos famintas.

Ao sentar à mesa, Izabel diz.

- Eu fiz sobremesas doces e salgadas, espero que gostem.

- Eu fico com a salgada -

Ana diz.

- Oh, Ana tem Diabetes desde muito pequena, mas ela gosta muito de salgados.

- Mesmo? Deve ser difícil, querida.

Verônica diz, afastando de Ana o refratário com o doce.

- Já estou acostumada, não se preocupe.

O almoço segue entre conversas e diálogos divertidos. Enquanto as duas

adolescentes, apenas respondem quando são questionadas e comem o quanto

podem.

Na varanda, após algumas horas, Verônica serve um chá com alguns biscoitos

para Rose, enquanto Ana e Izabel resolvem andar pelo jardim.

A caminhada foi silenciosa e entediante, do ponto de vista de Ana. Até que

puxou assunto.

- Então, o que você faz quando não está na escola?

- Fico em casa estudando piano ou vou ao escritório do meu pai

acompanhar o trabalho dele.

Ana ficou confusa, pensando em pra que ela iria acompanhar o

trabalho do seu pai. Izabel tendo visto a confusão em seu rosto disse:

- Você precisa esconder melhor suas emoções, tudo fica estampado no

seu rosto.

Ana se espanta por ter sido pega e pensa que realmente é muito fácil

de decifrar.

- Mas, respondendo sua pergunta, um dia terei que ficar no lugar do

meu pai na empresa. Então venho estudando muita coisa.

- Nossa, você parece ser muito inteligente.

- Obrigada.

- O que vai fazer na empresa? Se puder falar, claro.

- Não tem problema. A empresa é automotiva, importa e exporta

carros, peças e também tem sociedade com outras empresas e marcas

de luxo de outros segmentos para marketing.

- Você é podre de rica – Ana arregalou tanto os olhos, que mais um

pouco, não os teria mais.

- Basicamente.

- É por isso que não queria ser minha amiga?

Izabel parou por um momento, fazendo com que Ana a seguisse.

- Por que quer ser minha amiga?

- Bem... não há uma razão específica. Apenas gostaria de me

aproximar de você. Pra começar, saiba que eu nunca soube da sua

fortuna e mesmo se soubesse, eu e minha mãe somos da classe alta, ela tem sua própria empresa aqui. Assim como investimentos no

exterior.

- Eu sei. Apenas quero ter a certeza de que posso confiar em você. No olhar de Ana, aquilo foi triste.

- Talvez isso tenha haver com muito mais do que imagino, mas não

vou perguntar até que você se sinta à vontade para me falar. Mas, garanto que pode confiar em mim.

Izabel ficou em silêncio por alguns segundos, olhando fixamente para

Ana, até que retornou a andar, fazendo Ana acompanhá-la.

Dias atuais...

- Põe os pães aqui – diz Izabel tirando alguns livros da mesa no canto

do quarto.

- Você mudou a cor das paredes de novo?

- Estava enfadada com aquela cor.

- Tinha duas semanas de pintura.

- Não importa.

“Um psicólogo cairia bem” – pensa Ana.

- Eu não preciso de psicólogo.

- O que? Como soube? – que diabos.

- Você e mamãe sempre tiveram essa mesma opinião.

- Você poderia relevar.

- Não.

- Ok.

- Deixa eu falar. Sabe que além de trabalhar na empresa dou aulas em

uma faculdade particular, certo?

- Eu nunca entendi essa lógica. Você tem tempo sobrando.

- Eu sei, eu sei. O fato, é que tem um aluno do segundo semestre de marketing e

publicidade, que

anda me dando uns olhares um pouco quentes.

- Minha nossa, quantos anos ele tem?

- Dezenove, faz vinte daqui dois meses. Ele não parece ter essa idade, achei que tinha vinte três, pelo menos. Alto e forte, muito bonito não

posso negar. Soube que treina artes marciais e já participou de

campeonatos

- Aluno querendo devorar a professora gostosa é comum, mas e você?

Como se sente com isso?

- Não sei, faz tanto tempo que não encontro ninguém e quando

encontro é um aluno de dezenove anos.

- Que não parece ter dezenove.

- Muito engraçadinha.

- Sério, não vejo problema, apenas tenha certeza de que é ficha limpa.

- Importante.

Piadas à parte, mas a realidade é que Izabel está confusa, entre ceder

àquele olhar devorador e músculos grandes ou simplesmente ignorar e

fingir que não existe.

- Praticamente todas as garotas querem tê-lo.

- E ele quer você. Bingo. Você só arrasa.

- Você faz parecer tão fácil.

- Mas é, apenas viva e experimente coisas novas.

Que frase cheia essa.

- Isso foi mito específico.

As duas caem na gargalhada, quando ouvem Verônica chamando para

o almoço.

- Meninas, apreciem a refeição.

- Tia que delícia.

- Mamãe sempre arrasa.

- Vocês me deixam com vergonha, vamos comam.

Mesa boa é mesa farta, já dizia a avó de Izabel. E sua mãe fazia questão de mostrar isso.

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Comments

Vania Benicio

Vania Benicio

Verônica é muito carinhosa e receptiva!!!❤️❤️

2024-10-28

1

Mèo con

Mèo con

Despertou minha curiosidade!

2024-10-22

1

Ver todos

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