Quatro horas haviam passado. O ar estava insuportável, ela não
aguentou mais.
- Bem, temos que ir - diz Fernanda levantando-se em um salto.
- Temos? – Afonso diz enquanto toma uma taça de vinho.
- Sim, Leonardo tem que terminar seus projetos e eu devo fazer
algumas ligações pessoais.
- Verdade. Não irei dormir cedo hoje – Leonardo já tinha comido todas
as frutas adocicadas. Agora se delicia com os queijos.
- Certo. Irei levá-los.
Regina já tinha se recolhido alegando estar indisposta.
Lucas, os leva até o estacionamento e enquanto se aproximam do
carro, sua mãe lhe diz:
- Não suporto ver essa mulher. Filho, porque não dá um fim nisso?
Você poderá ter outros filhos, não há necessidade de passar por isso. Se for por alguma outra ameaça, a gente dá um jeito.
- Mãe – ele segura os ombros da mulher – eu não me sentiria bem
sabendo que meu filho foi abortado, isso eu definitivamente não
consigo. Além de que... Realmente há outra ameaça. Mas, o mais
importante aqui, é o meu filho.
Sua mãe o olhou com admiração e frustração. Ser uma pessoa de
caráter, tem seu preço. Ela lhe deu um abraço e alguns tapinhas em seus ombros e então disse
derrotada:
- Tudo bem, tudo bem. Eu entendo você. Espero que isso passe logo.
- Eu também mãe.
Leonardo não havia dito uma única palavra o caminho todo, a única
coisa que tinha adquirido como resposta foi “hum”.
- Vou subir e me preparar para dormir – diz Fernanda já subindo as
escadas.
- Não vai jantar? – Afonso é o primeiro a questionar.
- Durante essa tarde, toda a minha energia foi sugada por aquela
vampira. Perdi a fome. Até amanhã.
Com o jantar servido, Afonso inicia. - diga-me, é ela a pessoa que falamos naquele dia?
- Não sei do que está falando.
- Não me trate como um idiota. Você mudou da água para o vinho
depois que a viu.
Após um silêncio, Leonardo finalmente pronunciou.
- Sim, é ela.
- E o que mais?
- Não tem mais.
O barulho aguço de louças se chocando chamou a atenção do mais
novo, ele viu quando seu pai largou os talheres sobre o prato e o
olhava como certa fúria nos olhos.
- Eu estou tentando ter uma conversa de pai para filho e você
simplesmente não partilha suas coisas comigo.
- Pelo amor de Deus pai. Eu não quero falar sobre isso. É passado, já
foi.
- Pode ter passado, mas eu posso ver o quanto lhe afeta. Vai ficar
assim todas as vezes que a ver?
- Eu não pretendo mais vê-la.
- Oras, não seja estúpido. É o mesmo que dizer que não irá mais ver
seu irmão – ele respirou fundo – escute, você precisa se abrir com
alguém. Você sempre viveu sua vida como quis, eu nunca lhe impedi, sempre respeitei seu espaço. Mas agora, vejo que isso lhe afetou mais que o esperado, eu lhe conheço. Há mais coisas aí. Diga-me.
A moça que trabalha já há algum tempo na residência, estava pronta
para questioná-los se precisavam de mais alguma coisa, mas
imediatamente foi mandada de volta para a cozinha.
- Bem, eu conheci no shopping como ela disse. Depois disso, começamos a nos encontrar periodicamente, nos primeiros encontros, eu não estava interessado em muita coisa a não ser alguns momentos
com ela – ele faz uma pausa para respirar um pouco – mas, logo
comecei a desenvolver sentimentos e não percebi de imediato que
estava fazendo tudo o que pedia.
Seu pai já tinha alguma ideia do que estava por vir e isso fez com que, quase pudesse ouvir o seu coração. Leonardo continuou.
- Um dia, me convidaram para uma festa na praia, próximo ao
condomínio de Lucas, o mesmo que me chamou, me apresentou
Regina, pensando que ainda não a conhecia. Era um aniversário, havia uma quantidade boa de pessoas e bebida, naquele dia eu bebi um pouco além e como Regina não parava de
flertar comigo, pensamos em ir em um lugar mais perto. Foi quando
fomos para um motel próximo. Ela pagou o táxi, eu não estava ligando
pra nada, queria apenas curtir o momento.
Vendo minha empolgação e o quanto eu estava mais vulnerável que o
normal, ela sugeriu que fizéssemos sem preservativo.
- Ai meu Deus – seu pai apoiou os cotovelos na mesa e esfregou seus
olhos cansados.
Tudo aquilo era um emaranhado sem fim.
- De início, eu resisti, mas ela me convenceu. Dizendo que não estava
em seu período fértil. Pai, eu me arrependo, porque agora eu... Eu
não...
- Você não sabe se o filho é seu.
Isso não foi uma pergunta. A dúvida está estampada no rosto do mais
novo. Seu pai continuou.
- Bem, devemos fazer o exame de DNA. Isso vai libertar o seu irmão.
- Você não ouviu ele dizer? Ela o ameaça não só em abortar, mas de
outra forma. Ela conseguiu o que queria, usou esse idiota aqui e
finalmente tem o que quer.
A amargura em sua voz doeu no coração de seu pai. Afinal, Regina foi
a primeira mulher que seu filho mais novo, havia criado algum
sentimento. E agora, além de ferir seus sentimentos, está com seu
irmão. Isso foi realmente decepcionante.
Afonso se levantou e caminhou até parar ao lado de seu filho.
- Levante-se.
Assim que Leonardo se pôs de pé, o senhor lhe deu um abraço que
desde algum tempo, não lhe dava.
- O amor, às vezes, decepciona. Mas ele não é ruim, você apenas amou
a pessoa errada. Espero que supere o quanto antes.
- Me sinto um idiota pai.
- Tudo bem, você pode se sentir por agora. Mas não para sempre – ele
o afastou e perguntou – entendeu?
Leonardo apenas balançou a cabeça em confirmação.
- Vamos, suba e descanse. Ficarei um pouco mais.
Enquanto observa seu filho subir as escadas, Afonso pede para a mesa
ser limpa e senta-se em sua poltrona confortável, enquanto fuma o seu
charuto e bebe um pouco de whisky.
“Até que ponto alguém pode chegar e logo com meus filhos? A
história parece se repetir” – ele pensa, enquanto traga mais uma vez.
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Atualizado até capítulo 27
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